Dragon Age: The Veilguard vs. Mass Effect – Dois Mundos, Uma Missão em Comum





Há uma espécie de magia em certos jogos da BioWare. Um tipo de encantamento que não vive apenas nos feitiços do mundo de Thedas ou nas tecnologias do universo de Mass Effect, mas que se encontra no centro da experiência: personagens que parecem reais, decisões que pesam, e mundos que nos acolhem ou nos desafiam. "Dragon Age: The Veilguard" é a mais recente tentativa da BioWare de reacender essa centelha, mas ao fazê-lo, inevitavelmente convida a comparação com a sua outra grande obra: a saga "Mass Effect". 

Se forem como eu, certamente sentiram traços de Mass Effect em Veilguard, como que uma orquestra tocando de fundo e levando a experiencia por uma mar de velhas sensações. Ambos os universos partem de premissas distintas. Um é medieval e mágico, onde guardiões combatem magos e dragões sobrevoam montanhas ancestrais. O outro projeta-nos para um futuro onde raças alienígenas coexistem numa galáxia fraturada por guerra e diplomacia. No entanto, apesar das diferenças temáticas e estéticas, há algo de profundamente semelhante na forma como ambas as séries nos colocam no centro de uma história que moldamos com cada escolha.


Em "The Veilguard", tal como em "Mass Effect", não somos meros espectadores. Somos líderes. Criamos laços com aliados, tomamos decisões morais, enfrentamos dilemas que raramente têm uma resposta simples. Mas se "Mass Effect" nos colocava numa posição quase militar, com a missão clara de salvar a galáxia da aniquilação, "The Veilguard" opta por um percurso mais introspectivo e pessoal. Aqui, a ameaça é mais espiritual, quase filosófica, centrada na natureza do véu que separa o mundo dos vivos do mundo mágico. É um conflito menos tangível, mas não menos impactante.

Curiosamente, o novo estilo adotado por "The Veilguard" aproxima-o ainda mais de "Mass Effect". A ação em tempo real, a dinamização do combate, o foco mais direto nas relações entre companheiros e a gestão de equipa lembram bastante as missões da Normandy. Há um ritmo mais constante, mais fluido, talvez mais cinemático. Mas isso tem um custo: a perda de parte da tática e mais pausada que definia os primeiros jogos de Dragon Age.


Na Normandy, cada compaheiro tinha um lugar, uma história, um papel no tabuleiro intergaláctico. Em "The Veilguard", vemos essa estrutura replicada. As missões de companheiros são fundamentais para o desenvolvimento do grupo, com momentos de grande carga emocional. A diferença está no tom. Onde Mass Effect era um épico de sacrifícios e coragem fria, "Veilguard" aposta num registo mais caloroso, mais esperançoso. Há mais cor, tanto no aspeto visual como na emoção. A direção artística lembra animações modernas, mais leves, quase joviais. É uma rutura com o passado, sim, mas também uma tentativa de redefinir o tom da série para algo que não depende apenas da nostalgia.

Mas a comparação entre os dois universos não fica apenas nos sistemas de jogo ou na estética. Ambos levantam questões sobre identidade, livre-arbítrio, e o peso das escolhas. Shepard e o protagonista de "Veilguard" enfrentam dilemas morais que espelham os nossos. Devemos salvar uma vida mesmo que isso condene centenas? Será a paz possível quando todos têm razões para desconfiar? Estes momentos, quando bem escritos, transcendem o ecrã e tornam-se pessoais.


No entanto, nem tudo é equivalente. Mass Effect, mesmo com as suas falhas (sobretudo o final divisivo de ME3), mantinha uma coerência narrativa e um crescendo emocional que envolvia, desde o primeiro momento, até ao último sacrifício. "Veilguard" ainda procura esse equilíbrio. O início abrupto, a exposição apressada de personagens e a menor gravidade nas decisões iniciais tornam mais difícil a imersão imediata. Há brilho, mas também hesitação.

E por falar em hesitação, é impossível ignorar o peso das expectativas. Mass Effect teve o privilégio de surgir quase do zero, moldando a sua identidade com cada novo capítulo. Dragon Age carrega um legado mais pesado, e "Veilguard" sente essa pressão. Ao tentar agradar a novos jogadores e aos veteranos, o jogo por vezes perde o foco. Ainda assim, consegue oferecer uma experiência digna, que brilha especialmente nas relações interpessoais e no desenvolvimento emocional dos seus personagens.


 

Talvez o ponto mais relevante da comparação esteja na sensação de pertença. Em ambos os jogos, não estamos apenas a completar missões. Estamos a construir uma família disfuncional, um grupo de aliados que se torna essencial. A BioWare continua mestre nesse aspeto. Se a galáxia tinha Garrus, Liara e Tali, Thedas agora tem Bellara, Harding e Neve. São diferentes, sim, mas deixam a sua marca.

No fim, "Dragon Age: The Veilguard" e "Mass Effect" contam histórias diferentes com ferramentas semelhantes. Um olha para o futuro, o outro para um passado místico. Mas ambos pedem o mesmo ao jogador: empatia, responsabilidade e coragem. Não importa se enfrentamos Reapers ou entidades do Véu, o que conta é a jornada, quem nos acompanha, e como nos transformamos pelo caminho.


A verdade é  que Dragon Age: The Veilguard introduz várias novidades que podem moldar o futuro de Mass Effect, a começar pela centralização da experiência nos companheiros. Esta ênfase na equipa como núcleo emocional e narrativo poderá ser transposta para o próximo Mass Effect, aprofundando a ligação com a tripulação e tornando cada personagem mais relevante para a progressão da história.

Por fim gostaria de ver uma integração de hubs sociais mais vivos, com atividades paralelas, exploração mais orgânica e decisões visuais que refletem a personalidade do protagonista. Estes também podem ser elementos aproveitados para dar nova vida à próxima missão da galáxia.

Agora resta aguardar a "cenas dos próximos capítulos" e ver em como a Bioware consegue evoluir estes dois universos tão eximios e cativantes. Nós, enquanto fãs, cá estaremos a aguardar com expectativa!

 
Artigo por: Carlos Silva
Dragon Age: The Veilguard vs. Mass Effect – Dois Mundos, Uma Missão em Comum Dragon Age: The Veilguard vs. Mass Effect – Dois Mundos, Uma Missão em Comum Reviewed by Carlos Silva on abril 15, 2025 Rating: 5

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