Há algum tempo, ao folhear um relatório fiscal da Nintendo, deti-me a olhar para um dos seus gráficos. Nele, dezenas de lançamentos para a Nintendo Switch surgem reunidos e agrupados por ano - resumindo sucintamente uma geração de 8 anos da geração e motivando-me a recapitulá-la, antes de entrar a pés juntos na azáfama da Switch 2.
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Não estou certamente a ser polémico ao dizer que, em 2017, ninguém adivinharia que a Nintendo Switch teria uma vida tão longa. Mas o que eu também não previa de todo era a cadência consistente dos lançamentos ao longo de todo este tempo! Com a sólida variedade dos títulos publicados ao longo dos anos, é natural que, se perguntarem a alguém qual foi o melhor ano da consola, obterão respostas muito diferentes, e nenhuma descabida.
Neste artigo, proponho-me a fazer este mesmo exercício: ordenar todos os anos (civis) da vida da consola do meu preterido ao meu preferido. Será um top notavelmente enviesado pela minha pespetiva pessoal, tanto pelo seu foco exclusivo em jogos publicados pela Nintendo, como por refletir a minha preferência em géneros e a minha condição incurável de utilizador de Wii U, e que se tornará datado se a Nintendo nos entregar um 2024 pulsante em lançamentos. Por isso, não levem a lista demasiado a sério: o artigo foi redigido com um espírito descontraído de galhofa e, mais do que motivar indignações, espero que vos instigue a fazer e partilhar nos comentários o vosso próprio ranking!

Ainda assim, um Super Smash Bros. novo, com a melhor jogabilidade da série e uma quantidade de lutadores e arenas sem comparação dentro dos jogos de luta, faz um mundo de diferença a colorir o espelho retrovisor com que recordo 2018. Não é, no entanto, suficiente para elevar 2018 sobre outros anos, nem mesmo sobre o ano de...

Sinto-me perante um 2018 reverso: o grande jogo do ano não me diz nada, mas os remasterzinhos e títulos experimentais em seu torno foram música para os meus ouvidos. As novas versões de Xenoblade Chronicles e Pokémon Mystery Dungeon (Blue/Red) Rescue Team são muito mais diligentes e inovadoras do que os comuns ports Wii U, enquanto Super Mario 3D All-Stars, apesar de ser fruto de uma colaboração entre o Mr. Krabs e o Procrastinador Implacável, deu-me a oportunidade de jogar Super Mario Sunshine e Super Mario Galaxy em hardware moderno e em HD. Falando em ports, Pikmin 3 Deluxe é uma evidência incontestável do viés deste ranking: já tinha jogado a sua versão base mas, tendo em conta a frequência com que o rejogo e o quanto aprecio Pikmin, uma edição com melhorias de qualidade de vida, um novo modo de dificuldade acrescida e uma panóplia de novas missões não foi nada menos do que uma estupenda adição à minha biblioteca Switch.
Outros jogos menores, como Clubhouse Games: 51 Worldwide Classics, Paper Mario: The Origami King e Hyrule Warriors: Age of Calamity, não reinventando a roda e nem sequer estando isentos de problemas notáveis, compuseram a frente de entretenimento da Nintendo Switch. Até Super Mario Bros. 35, um bonus temporário para os membros do Nintendo Switch Online, deixou-me grudado por varios meses e redobrou o meu interesse na minha ovelha negra dos Mario 2D principais. Mesmo sem lançamentos mais bombásticos, não faltou entretenimento em 2020.

Porém, ao relembrar os seus jogos mais a fundo, o meu entusiasmo foi adequadamente temperado. Os remakes dos Famicom Detective Club abriram-me as portas a uma nova série e faceta da Nintendo, mas a qualidade das suas histórias surge notavelmente condicionada pelo escopo e escolhas questionáveis de design das edições originais. Metroid Dread foi um bom regresso dos Metroid 2D, mas podia e devia ter sido mais ambicioso. Mario Party Superstars é um ótimo jogo de festa, mas o mérito é quase exclusivo do conteúdo clássico que recicla e moderniza. The Legend of Zelda: Skyward Sword HD entregou-nos a versão definitiva do jogo da Wii, mas pouco adicionou para além de um upscale para HD, um esquema de controlos mais convencional e melhorias de qualidade de vida. Estes e mais jogos são experiências sólidas que traçam um ano sólido; nada mais, nada menos.

Ora vejamos: esta lista foi redigida com base na minha perspetiva e preferências, e o meu jogo favorito do ano, The Legend of Zelda: Breath of the Wild, não me encaixa na cacholeta como um destaque pessoal na Switch. Acompanhei o seu marketing pelos longos anos em que era chamado Zelda Wii U, e eu joguei-o na Wii U; a única diferença na minha vida causada pelo seu lançamento na Switch é que passei a ter meia gaveta ocupada pelo mono da sua edição de colecionador. Já Super Mario Odyssey, o jogo que me fez comprar a Nintendo Switch... foi uma desilusão pessoal. De forma sintética, não aprecio a abundância desenfreada de Moons entulho, e muito menos a desvalorização de platforming promovida pelo seu world design. É um ótimo jogo, um collectathon bonzinho, e um Mario 3D medíocre.
Resta o meu verdadeiro destaque de 2017: Xenoblade Chronicles 2. Os constrangedores clichês anime dos primeiros capítulos e a relação intragável de Rex com Pyra e Mythra são mais do que compensados pelos temas maduros da história, o primor do seu world building, a qualidade dos antagonistas e a magnificência da sua banda sonora. Além disso, foi em 2017 que lançou o viciante Splatoon 2, que se viria a tornar o meu 2º jogo mais jogado de sempre, e outros razoáveis entretenimentos de dedos, como Mario + Rabbids: Kingdom Battle, ARMS e Snipperclips. Inclusivamente, os jogos de Wii U convertidos para a consola híbrida em 2017 foram jogos multijogador; por isso, os (pouco entusiasmantes) ports de Pokken Tournament e especialmente Mario Kart 8 cativaram-me por não só me permitirem jogar títulos imorriveis em qualquer lugar, mas também por me permitirem fazê-lo com amigos, algo que me veio mesmo a calhar com o advento da faculdade.

Porém, à medida que avançamos no calendário, fomos brindados com engenhosos títulos experimentais. Fomos surpreendidos por Emio - The Smiling Man: Famicom Detective Club, que redefiniu as minhas expectativas para uma história madura da Nintendo. Controlamos Zelda pela primeira vez numa aventura clássica topdown em The Legend of Zelda: Echoes of Wisdom, descobrindo um novo estilo de jogabilidade e um mundo que combina as estruturas linear e aberta dos predecessores. Experienciamos um Mario & Luigi inédito pela primeira vez em nove anos, agora em 3D e gozando da perspetiva refrescante de uma nova desenvolvedora. Até Super Mario Party Jamboree, um jogo de festa extremamente tradicional, obliterou as minhas expectativas pela colossal quantidade e qualidade do seu conteúdo e sagrou-se um dos meus jogos multiplayer favoritos de sempre.
Para uma consola de malas feitas, o seu 2024 não esteve nada mal... Nada mal mesmo!

Felizmente, os restantes jogos do ano mais do que compensam por este declínio marginal. A GameFreak chegou-se à frente com Pokémon Legends Arceus e Pokémon Scarlet / Violet, dois jogos que, apesar de problemas inescusáveis de performance, nos proporcionaram as experiências Pokémon mais refrescantes desde a era DS. Por seu lado, a Platinum Games finalmente serviu-nos o Bayonetta 3 que nos prometera em 2017, com excêntricos aprofundamentos da jogabilidade e do espetáculo visual das suas batalhas. Concluindo em grande, a HAL Laboratory deliciou-nos com Kirby and the Forgotten Land, o meu jogo do ano: uma campanha tão prazerosa e tão rica mecanicamente que nem parece ser o primeiro rodeo da personagem pela terceira dimensão (sem contar o spinoff Kirby's Blowout Blast).
Noutra consola, este podia muito bem ser o melhor ano de lançamentos - na Switch, apenas inaugura o top 3...

Contudo, o mesmo pode ser dito de 2022 - então, qual foi o elemento diferenciador? Não vos posso indicá-lo com precisão, até porque a disputa entre os dois anos é tão renhida que, se recriasse o ranking daqui a uma semana, talvez acabasse por trocar as suas posições. O grande responsável é capaz de ser o fator novidade: os títulos centrais do 3º ano da Switch partiram de séries que não estavam na consola, e foram executados em motores de jogo inéditos no hardware, vincando o salto em relação aos seus predecessores e firmando as nossas expectativas para o desempenho de um jogo Switch. Por isso, os jogos de 2022 não conseguiram replicar o espanto que senti ao ver Luigi's Mansion 3 com animações e detalhe gráfico evocativos de um filme animado, ou ao admirar o deslumbrante mundo diorama de Link's Awakening.
Porém, estaria a mentir a mim mesmo se não admitisse o provável contributo do favoritismo que dou a Super Mario Maker 2, o meu jogo mais jogado de sempre. Sou um fã fervoroso de jogos de plataforma 2D e, quando me foi dada a possibilidade de criar os meus próprios níveis e de experimentar criações de amigos que subvertem os cânones de level design da Nintendo, podem crer que a agarrei com unhas e dentes. Eu até já tinha vivenciado a fase lua de mel desta premissa com Super Mario Maker 1 na Wii U, mas a sequência adicionou tantas novidades que, até hoje, não a consegui largar de vez. Ainda existem níveis da comunidade a surpreender-me, ainda me vão surgindo ideias de desafios para colocar em prática. Quer esteja a criar ou a explorar níveis, há um calor humano patente em cada interação virtual e uma sensação de um infindo potencial inexplorado que me motivam a esgravatar ainda mais Super Mario Maker 2 em busca de toda a substância que esconde. (Também tenho de admitir vergonhosamente que New Super Mario Bros. U Deluxe deve ter influenciado a minha escolha. Bem sei, é um remaster preguiçoso de um dos Mario 2D menos inventivos, mas petiscar e repetiscar os seus níveis é um dos meus maiores guilty pleasures! Podem agendar o apedrejamento em praça pública, não há dúvidas de que mereço!)

E o melhor de tudo é que 2023 não se ficou por aqui: ainda neste ano, a máquina da Nintendo recebeu remasters caprichados de Metroid Prime e Kirby's Return to Dream Land, bem como um Fire Emblem inédito com um dos melhores sistemas de jogabilidade da série e um WarioWare focado em controlos por movimento que recaptura a excentricidade do melhor jogo da saga. E isto sem falar de outros jogos menores, como Advance Wars 1+2, Bayonetta Origins, Super Mario RPG...
Quando, em pleno 7º ano de vida da Switch, se esperava que a cadência de lançamentos arrefecesse (e Tears of the Kingdom tivesse um lançamento cross-gen com a sucessora da consola), a Nintendo defraudou todas as expectativas com doze meses de lançamentos bombásticos - como a máquina híbrida nunca teve antes, e não voltaria a ter depois.

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