Análise | Horizon Zero Dawn Remastered – Engrenagens Brilhantes e Bem Oleadas


Está quase aí o décimo aniversário de um anúncio que me marcou na passada geração de consolas. Sim, foi na edição de 2015 da já defunta E3 (paz à sua alma) que um trailer atraiu a atenção e levou este vosso redator a largar o importantíssimo relatório que estava a escrever para terminar o seu curso superior. Falo do trailer de Horizon Zero Dawn. Nunca tive bem a oportunidade de falar deste título aqui no GameForces, mas foi um dos jogos que mais me marcou na era da PlayStation 4.

O setting era tão único e original de tudo o que andava a jogar na altura, o mundo para o qual me convidava era tão vibrante, e a narrativa subjacente era tão cativante, que este jogo acabou por ficar numa das posições de destaque no meu top da geração passada. E também no top de exclusivos PS4 de toda a equipa aqui! Mas agora, numa nova geração, conseguirá Horizon Zero Dawn Remastered voltar a conquistar o nosso coração, ou deixar-nos-á agora a sentir frios, que nem máquinas?


Em Horizon Zero Dawn Remastered, entramos num mundo onde a humanidade está dividida em tribos e a maioria do mundo é habitada por diversas máquinas que assumem a forma de animais ferozes e criaturas jurássicas e triássicas. Neste mundo, assumimos o papel de Aloy, uma jovem proveniente de uma tribo matriarcal da qual foi escorraçada à nascença por ter, aparentemente, nascido sem mãe. A única maneira de ser reconhecida como membro da tribo é passar uma prova de guerreiros, para a qual treina durante toda a sua vida.

Ao passar essa prova, Aloy é aceite na tribo, mas encontra-se mais sozinha do que nunca, partindo na perigosa missão de perceber e pôr fim a uma ameaça que coloca em perigo toda a existência na Terra. Pelo caminho, vai percebendo quais as suas verdadeiras origens e a relação deste perigo com o antigo mundo de metal. Esta versão do jogo inclui ainda a expansão The Frozen Wilds, na qual Aloy viaja para a região mais a norte deste mundo para enfrentar o que está a ser apelidado de “demónio” que está a levar as máquinas da região a atacar selvaticamente a tribo local.

Tratando-se de uma remasterização, naturalmente que a narrativa se apresenta aqui inalterada. Mas isso não é um defeito, bem longe disso. A narrativa de Horizon Zero Dawn continua a ser uma das mais fascinantes dos últimos tempos. Ir desvendando os segredos da origem deste mundo ou encontrando pistas acerca de quem é realmente Aloy à medida que vamos explorando ruínas e recolhendo artefactos que perduraram séculos é sempre recompensante e envolvente. E quando o puzzle fica finalmente montado e percebemos as implicações de tudo o que se passa, é difícil não admirar a minúcia e a qualidade com que toda a narrativa foi desenhada. Apenas fico a desejar que as personagens não fossem tão insossas. Toda a história seria ainda mais memorável se a maioria das personagens (incluindo Aloy, sim) tivesse traços de personalidade mais vincados, mas acaba por ser um defeito que perde dimensão face à enorme qualidade narrativa de tudo o resto que o jogo oferece.
 

Falando de vertentes do jogo que são iguais, mas cuja preservação é mais uma vantagem do que uma desvantagem, olhemos para a jogabilidade. Horizon Zero Dawn Remastered é um jogo de aventura e ação com elementos de progressão inspirados em RPGs. No início, temos apenas à nossa disposição um arco e flecha para fazer frente às imponentes máquinas e aos inimigos humano que se vão opondo à nossa nobre missão. Mas à medida que vamos avançando na nossa demanda, vamos desbloqueando novas opções – uma maior variedade de flechas que infligem danos elementais ou status effects, fisgas, armadilhas, armas de fogo, minas, entre outros. É sempre divertido usar a grande maioria destas opções, bem como experimentar o quão eficazes são diferentes combinações das mesmas, o que faz com que o combate vá ficando cada vez mais apelativo à medida que as horas de jogo se acumulam.

De facto, a sensação de progresso que o jogo transmite é uma das suas melhores qualidades. Sempre que a história dá um passo significativo em frente, ficamos com mais equipamento à nossa disposição, dando-nos mais ferramentas com as quais enfrentar as variadíssimas situações e inimigos. Isto para não falar das diferentes árvores de habilidades, nas quais podemos ir investindo pontos de experiência de modo a munir Aloy de novas opções de combate, de furtividade ou até de recolha e utilização de recursos. O jogo não pára de nos oferecer melhorias e novas possibilidades de jogabilidade, o que me fez sentir sempre que valia a pena explorar tudo muito bem e desviar-me da narrativa principal para cumprir missões ou tarefas secundárias.


Até aqui, apenas tenho aproveitado para falar de tudo o que já gostava em Horizon Zero Dawn, e certamente alguns estarão a perguntar-se, afinal, o que mudou nesta versão remasterizada. A verdade é que não muito, mas as alterações implementadas estão muito bem conseguidas ou são muito bem-vindas. Comecemos por uma bem simples, mas que tornam tudo bem mais fluido.

Ao contrário do que acontecia no original, agora é possível desligar as irritantes animações de ações banais da Aloy. Antes, sempre que se apanhava ramos, plantas ou outros recursos largados por inimigos caídos, a protagonista perdia algum tempo a realizar as respetivas animações repetitivas uma, e outra, e outra vez. Cada animação não chega a durar meio segundo, mas ao longo de 50 horas de jogo, todo esse tempo acaba por se acumular de forma bem aborrecida. Isto para não falar do quanto essas animações quebravam o ritmo de jogo, travando as nossas movimentações ou sprints em direção ao nosso próximo objetivo.

Outra melhoria notória diz respeito aos tempos de carregamento. Sempre que entramos ou saímos de uma nova área, sempre que uma sequência cinemática inicia ou termina, ou sempre que carregamos o jogo numa nova sessão ou após levarmos uma tareia de um Thunderjaw que nos apanhou a olhar para ontem, voltamos ao comando de Aloy muito mais rapidamente do que antes. Claro que passados quatros anos da chegada da PlayStation 5, dificilmente olhamos para esta melhoria como fantástica, mas comparando as diferenças entre esta versão e a original para a PS4 revela uma melhoria que não podia deixar de ressalvar. Sobretudo quando aliamos isto a outra nova opção de entrar no jogo sem ser preciso pressionar botões adicionais – outra definição irritante no original que dá para desligar nesta remasterização.


De resto, e como se poderia adivinhar, as restantes melhorias dizem sobretudo respeito à vertente gráfica desta experiência. Tudo está visualmente muito mais apelativo. A sério, é surpreendente o quão mais belo este mundo e todos os seus elementos se apresentam aqui. Para os padrões de hoje, o Horizon Zero Dawn original ainda é um jogo belíssimo, mas esta remasterização consegui dar um grande passo em frente em quase todos os aspetos. Os cenários estão ainda mais realistas, com paisagens lindíssimas e dignas de fotografar. Cada planta, animal, rocha e riacho apresentam uma fidelidade visual praticamente sem paralelo.

Mas a joia desta coroa vai para a melhoria visual aplicada às máquinas. Isto não só pelo quão mais nítidas e realistas os modelos das mesmas se apresentam, mas também pela implementação de melhorias no sistema de luz. A luz natural torna cada superfície e aresta das criaturas robóticas muitíssimo mais resplandecente e nítida, fazendo mesmo parecer que estas poderiam perfeitamente ser encontradas na vida real. Para além disso, todas as luzes que são produzidas por estas criaturas fazem-nas parecer muitíssimo mais imponentes quando nos cruzamos com elas de noite. Nesta remasterização, os scans luminosos dos Watchers, por exemplo, tornam o encontro com estas criaturas muito mais tensos, fazendo com que até o robô mais frágil do jogo seja sentido como uma ameaça.

Por fim, a outra grande melhoria na qual reparei prende-se com a qualidade das animações durante diálogos. No original, os diálogos decorriam de forma algo estática. A câmara focava-se em Aloy ou nas personagens com as quais interagia consoante quem estava a falar no momento, e, nestes momentos, os comportamentos eram sempre bastante rígidos, quase robóticos. Agora, Aloy, Varl, Erend, Sylens, e tantas outras personagens que participam em diálogos apresentam comportamentos corporais e faciais muito mais condizentes com o tom da conversa, reagindo de forma mais natural ao desenrolar dos diálogos – até mesmo umas quantas personagens secundárias que apenas aparecem durante uma qualquer missão secundária.


Mas isto remete-me para o primeiro grande e irritante problema de Horizon Zero Dawn Remastered, e que, infelizmente, prejudica a melhoria que acabei de referir. Refiro-me ao facto de as falas apresentarem vários problemas de sincronização durante os diálogos. Não com as animações, mas entre as próprias falas. Foi muitíssimo comum ir passando para a fala seguinte antes da que está a decorrer terminar (por ler a legenda mais depressa do que a fala era dita), apenas ter ambas as falas a serem ditas ao mesmo tempo, sobrepondo-se. Pode parecer uma queixa minuciosa e fruto da minha maneira de jogar estes RPGs ricos em diálogos, mas é um problema que nunca encontrei antes, nem na versão original deste jogo.

Outro problema que, tanto quanto me consegui aperceber, surge aqui exacerbado face à versão original é o da interação de Aloy com elementos ambientais. O sistema de física na versão original não era perfeito, e levava a momentos estranhos quando corria sobre uma rocha ou no momento em que precisava de mergulhar por ficar sem pé num lago ou rio. Mas nesta versão remasterizada, este sistema parece mais problemático. Foi bastante comum ver uma corrida de Aloy travada porque se cruzava com um calhau que mal tinha a altura do seu calcanhar. Para além de algo irritante, este é outra categoria de bugs que limita um pouco uma das melhorias desta versão do jogo – aquela da opção de simplificar as animações das ações recorrentes no mundo aberto.


Derradeiramente, estes problemas são maçadores e perturbam a experiência em vários momentos, mas acabam por ser manchas relativamente pequenas tendo em conta a qualidade global e as melhorias notórias aqui apresentadas. Até porque fora isto, o jogo corre de forma impecável e consistente a 60 fotogramas por segundo no modo de desempenho, e a 30 FPS no modo de fidelidade. Nunca notei qualquer quebra de performance, nem quando enfrentava as criaturas mais imponentes e misturava ataques elementais que resultavam em explosões de cores e partículas.

Apenas tenho mais a ressalvar um lamento de design que, a meu ver, poderia ter sido resolvido nesta remasterização. Algo que sempre me incomodou nesta franquia é o facto de o sistema de fast travel exigir a utilização de itens consumíveis. Ou seja, é perfeitamente possível encontrarmo-nos numa situação em que estamos numa área já completamente explorada e precisamos de ir até a outra ponta do mapa para, por exemplo, dar uma missão por terminada e não o podermos fazer sem perder imenso tempo por não termos esse consumível connosco. Bem sei que há um item que permite realizar viagens ilimitadas, mas apenas o conseguimos obter no último terço do jogo. Tratando-se de uma remasterização que, certamente, procura convidar de volta jogadores que já tenham pisado este mundo antes, resolver esta decisão de design chata teria caído bastante bem.

Não obstante a existência de problemas, esta é um jogo de qualidade elevadíssima e que, certamente, agradará a uma grande maioria de jogadores que tenham interesse nos géneros sobre os quais Horizon Zero Dawn Remastered assenta. Se vale a pena um jogador retornado voltar a passar por exta experiência de várias dezenas de horas, creio que depende do critério de cada um. Mas para aqueles que nunca experimentaram um Horizon, têm aqui, na minha opinião, uma oportunidade extramente cativante de mergulhar num dos mundos mais cativantes que a indústria dos videojogos tem para oferecer. E apresentando esta versão melhorias francamente surpreendentes, é difícil de não recomendar a novos jogadores que lhe deem uma chance.


Conclusões
Em 2024, Horizon Zero Dawn continua a ser uma experiência muitíssimo recomendável. Dentro do que encontramos na história recente da indústria, a narrativa continua a ser uma das mais fascinantes e o mundo continua a ser um dos mais interessantes de explorar. E esta remasterização faz um trabalho impressionante em tornar tudo notavelmente mais belo, envolvente e resplandecente, pese embora apresente alguns bugs cujas presenças são tão estranhas quanto são irritantes. Para quem já vivenciou as aventuras de Aloy, talvez não valha a pena voltar a pisar estes terrenos. Mas quem nunca enfrentou estas criaturas metálicas jurássicas antes, está perante um lançamento obrigatório.

O Melhor:
  • Upgrade visual notável e impressionante
  • Algumas melhorias de qualidade de vida bem-vindas
  • Um mundo fascinante e com uma história riquíssima para (re)explorar
  • Jogabilidade variada que se vai desenvolvendo bem com o progredir no jogo
  • Design sonoro do melhor que há, mas…

O Pior:
  • … Apresenta alguns bugs no encadeamento das falas nos momentos de diálogo
  • Há também alguns bugs de física na interação com elementos do mundo
  • Sistema de fast travel continua a ser problemático

Pontuação do GameForces – 8.5/10

Título: Horizon Zero Dawn Remastered
Desenvolvedoras: Guerrilla Games, Nixxes Software
Publicadora: PlayStation Studios
Ano: 2024

Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a PlayStation 5, através de um código gentilmente cedido pela editora.

Autor da Análise: Filipe Castro Mesquita
Análise | Horizon Zero Dawn Remastered – Engrenagens Brilhantes e Bem Oleadas Análise | Horizon Zero Dawn Remastered – Engrenagens Brilhantes e Bem Oleadas Reviewed by Filipe Castro Mesquita on dezembro 04, 2024 Rating: 5

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