Análise | Dragon Age: The Veilguard - O Regresso Controverso


O final de 2024 trouxe regressos de peso. No campo musical, bandas como Offspring e Linkin Park brindaram-nos com novos álbuns que recomendo explorarem. No mundo dos videojogos, também tivemos retornos memoráveis: Sonic X Shadow Generations e Call of Duty: Black Ops 6 trouxeram nostalgia com um toque de inovação. Mas, entre estes lançamentos de destaque, muitos fãs aguardavam há uma década por notícias nas terras de Thedas. Se o nome não vos soa familiar, falo de Dragon Age: The Veilguard.





A chegada deste novo título foi envolta em grandes expectativas, mas também alguma curiosidade sobre como a Bioware iria dar continuidade a uma série tão icónica. E, de facto, a narrativa de Veilguard marca uma mudança substancial face aos seus antecessores. Enquanto os jogos anteriores se caracterizavam por uma essência sombria e intrincada, com escolhas morais pesadas e um constante peso de tragédia iminente, aqui o tom muda para algo mais esperançoso. Paira uma aura de positividade e otimismo, uma sensação de que, independentemente das adversidades, tudo irá melhorar.

No entanto, esta mudança de tom pode não agradar a todos, especialmente aos fãs que cresceram com a densidade narrativa da série. E é precisamente neste equilíbrio que Veilguard enfrenta um dos seus maiores desafios. O início da história é particularmente "murcho". Há uma clara falha em transmitir o impacto emocional esperado no início, trazendo mesmo uma sensação de enfado, como se os elementos iniciais da narrativa fossem pouco coesos e sem o impacto que se espera de uma saga tão prestigiada. É verdade que, ao longo do tempo, a história começa a ganhar mais ritmo e coerência, culminando numa parte final bastante envolvente. No entanto, quando colocamos tudo na balança, o arranque desapontante deixa uma marca difícil de ignorar. Existe um sentimento de que, apesar da melhoria narrativa, o texto poderia ter sido mais polido, sem deixar a impressão de desleixo.

Este contraste entre as expectativas e o que é realmente entregue no início acaba por criar uma experiência que, embora rica em alguns momentos, tem o seu potencial comprometido pelas falhas estruturais iniciais. Apresentemos então alguns pontos.





Sem criar spoilers, o início desta jornada passa por reunir vários indivíduos para formar uma equipa sólida, com os elementos certos para enfrentar e erradicar o novo mal que ameaça este mundo. Contudo, este processo inicial acaba por parecer algo repetitivo e previsível, ainda que os membros da equipa se tornem progressivamente mais relevantes e impactantes à medida que o jogo avança. Este é um ponto a destacar em Veilguard: praticamente todas as missões de evolução dos nossos aliados estão interessantes, dando ao jogador um senso de ligação entre ele e as mesmas. Este crescimento é acompanhado por diálogos que, como é habitual na série, oferecem ao jogador a oportunidade de moldar o rumo da história e determinar a forma como é visto pelos seus companheiros.

Escolhas motivacionais podem agradar a alguns membros da equipa, enquanto respostas mais ríspidas ou até humorísticas podem gerar desagrado. Infelizmente, nota-se que o jogo não dá a devida ênfase a essas escolhas. Em vários momentos onde seria esperado um impacto emocional maior, respostas mais firmes ou significativas acabam por não ter o peso necessário, deixando a sensação de que as nossas decisões são irrelevantes para a narrativa. Esta falta de gravidade nas consequências reforça a ideia de que a execução poderia ter sido mais apurada.




O estilo gráfico de Dragon Age: Veilguard apresenta uma abordagem mais cartoonesca, com personagens e cenários estilizados que se assemelham a produções da Disney ou Pixar. A paleta de cores é vibrante, com tons saturados que destacam os elementos visuais de forma mais exagerada e menos realista em comparação a Dragon Age: Inquisition. Embora isso traga uma sensação de frescura, muitos jogadores podem sentir falta do nível de detalhe e da atmosfera mais sombria e realista que caracterizavam os títulos anteriores. Essa mudança pode dividir opiniões, já que os fãs que preferem a estética mais tradicional e detalhada da série podem sentir que o tom cartoonesco tira parte da gravidade e profundidade dos ambientes e personagens, o que não vem ajudar aos problemas mencionados anteriormente.

Mas existem mais mudanças. Apesar de Dragon Age: Inquisition ter reformulado o combate da série, adotando um sistema mais de ação e abandonando o modelo tático por turnos, Veilguard leva essa reformulação ainda mais longe com combates frenéticos e fluidos que se sentem muito mais intensos e dinâmicos. Embora tenhamos apenas 3 habilidades equipáveis simultaneamente, a classe Warrior que escolhi – deixando por explorar em novas runs, Mage e Rogue – mantém o combate sempre complexo e estratégico. A combinação entre habilidades, a runa que pode ser utilizada como um poder especial, e o uso de bloqueios e esquivas cria uma sensação de controle tático, mesmo no meio do caos. A própria árvore de evolução de personagem diversifica por 3 ramos dentro da classe procurando realmente dar a oportunidade ao jogador de escolher um estilo que mais lhe interesse.




Por exemplo, a habilidade do escudo, que funciona de maneira semelhante ao do Capitão América, foi um dos elementos mais divertidos e eficazes do combate. Adicionalmente, a interação com os dois companheiros que nos acompanham durante os combates adiciona uma camada extra de complexidade e variedade. Os momentos em que decidimos quando as habilidades dos companheiros são acionadas e se sincronizam com nossas ações proporcionam sempre pequenas oportunidades estratégicas empolgantes, elevando o combate a um ponto muito positivo deste título. No geral, mesmo com a limitação das 3 habilidades equipáveis, Veilguard mantém o combate fresco, envolvente e tecnicamente interessante. Apesar de haver 3 níveis de dificuldade, neste caso designados por Storyteller para o modo fácil, o modo Adventurer (Normal) e o modo Nightmare o equivalente ao modo difícil, fizemos a nossa aventura em modo Adventurer, não houve propriamente nenhum momento de dificuldade acrescida, pelo que sentimos que poderia haver um melhor equilíbrio neste modo de dificuldade.

E as novidades passam também pelo sistema de armamento. A evolução de itens em Dragon Age: Veilguard adiciona uma nova profundidade à experiência de jogo, combinando elementos clássicos de RPG com mecânicas modernas de personalização. O título implementa o tradicional sistema de raridade baseado em cores, uma abordagem amplamente reconhecida em jogos de loot, onde itens comuns começam como cinzentos, evoluem para verdes (incomuns), azuis (raros), roxos (épicos) e atingem o ápice na raridade dourada ou laranja, representando os itens lendários. Este sistema não apenas categoriza os itens, mas também confere uma sensação de progressão contínua e recompensa pela exploração e dedicação Exemplificando, ao apanharmos (ou comprarmos nos vários vendedores espalhados pelas diferentes zonas do jogo) um item verde, quando já tínhamos o mesmo item com a mesma raridade, ele funde-se automaticamente para a raridade a seguir, neste caso a azul. E assim sucessivamente até à raridade máxima.




Além do sistema de raridades, a grande inovação de Veilguard está na sua base central, o Caretaker's Forge, onde armas e armaduras podem ser evoluídas com o uso de mementos e outros recursos encontrados ao longo da jornada. Podendo melhorar os seus atributos de + 1 até ao +10 desde que o jogador tenha os materiais necessários e invista no desenvolvimento da oficina.

A progressão dos itens também é enriquecida com encantamentos, que adicionam buffs ou efeitos especiais às armas e armaduras. Esta funcionalidade permite uma grande personalização, incentivando os jogadores a adaptar o seu equipamento às estratégias de combate e ao tipo de inimigos enfrentados. Além disso, a raridade e eficácia dos itens não dependem apenas do loot encontrado, mas também do grau de exploração e do nível da oficina. Jogadores que investem em missões secundárias, exploração de áreas remotas e interação com as facções podem desbloquear mementos raros, necessários para upgrades mais avançados.




Além deste itens e da sua raridade, ainda encontramos os itens únicos (destacando-se com a cor vermelha) que representam o ponto alto do sistema de loot, com propriedades únicas que não só ampliam o poder do jogador, mas também alteram a dinâmica de combate de forma significativa. Estes itens são encontrados principalmente em missões de alto risco, baús escondidos em locais secretos ou como recompensas de chefes. Este sistema incentiva uma busca contínua por melhorias e recompensa os jogadores mais dedicados com equipamentos que transformam a experiência de jogo.

Apesar disso, não podemos deixar de notar que este sistema torna-se demasiado repetitivo, e onde a meio da nossa aventura simplesmente deixamos de nos interessar por todos os itens e as suas raridades, só nos preocupando em atualizar o nosso equipamento e comparando com os novos itens evoluídos quase só de missão em missão de tantas vezes que estes itens aparecem no mapa.




Mas há outro ponto alto a destacar em Dragon Age The Veilguard. A performance gráfica está praticamente perfeita. Com as opções gráficas habituais de modo qualidade e modo performance, no modo performance, sentimos que não houve qualquer quebra de frames, mesmo em momentos de grande ação a acontecer e apresentando detalhes gráficos fenomenais, enriquecendo bastante esta experiencia. Neste departamento e para pôr a cereja no topo do bolo, a componente sonora está fantástica, destacando a banda sonora criada pelos famosos Hans Zimmer e Lorne Balfe em momentos mais dramáticos e mediáticos.


Conclusão

Dragon Age: Veilguard é uma entrada marcante na série, com mudanças arrojadas na narrativa, gráficos e jogabilidade. Apesar de algumas escolhas divisivas, como o tom mais leve e o sistema de loot algo repetitivo, o jogo compensa com combates bem elaborados, um sistema de progressão envolvente e uma performance audiovisual de excelência.
É uma experiência que pode dividir os jogadores; principalmente os fãs da saga poderão sentir algum desconforto com tantas mudanças implementadas e o inicio da aventura menos envolvente. Inovar numa saga tão icónica é uma tarefa monumental e, embora nem todas as novidades sejam bem-sucedidas, esta é uma boa experiência que abre portas a novos jogadores e desafia os fãs de longa data a explorar uma nova faceta de Thedas.

 

O melhor

  • Sistema de combate bem elaborado;
  • Quests dos membros das equipas envolventes;
  • Banda sonora fantástica e cativante;


 

O pior

  • Enredo inicial moroso;
  • Sistema de evolução de armamento repetitivo;
  • Escolha do jogador nos diálogos pouco expressiva/ representativa da seleção;


 

Nota do GameForces: 7/10


Título: Dragon Age The Veilguard
Desenvolvedora: BioWare;
Editora: Electronic Arts;
Ano: 2024.

Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a PlayStation 5, através de um código gentilmente cedido pela editora.

Autor da Análise: Filipe Martins
Análise | Dragon Age: The Veilguard - O Regresso Controverso  Análise | Dragon Age: The Veilguard - O Regresso Controverso Reviewed by Filipe Martins on dezembro 16, 2024 Rating: 5

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