Em tempos, a escolha era canja. Super
Mario Party (SMP), com a sua quantidade anémica de minijogos face à imensidão
de modos, e os seus tabuleiros, regras e mecânicas tépidos, parecia um
infindável tutorial, um arcabouço de Mario Party sem alma no interior. Por isso, no
milésimo de segundo em que chegou ao mercado, Mario Party Superstars tornou-se
a experiência soberana por defeito. Pode ser pouco mais do que um remake de conteúdos da era dourada da
série, mas foi ele que recuperou o caos e imprevisibilidade que a série não tinha em mais de uma década. Porém, este reinado pode-se revelar tão
curto como o de D. Luís Filipe, porque Jamboree chegou para reivindicar este
lugar!
Não se deixem assustar pelo “Super” no nome do jogo; ao seu aparente predecessor temático, Jamboree só vai buscar ideias positivas, como a colossal lista de personagens e a diversidade de modos. Experimentem o imprescindível modo de tabuleiros, e ficarão logo mais descansados. Os pressupostos da jogabilidade não mudaram: 4 participantes, controlados por jogadores e/ou pelo computador, percorrem um tabuleiro e jogam minijogos, sagrando-se vencedor o que conseguir arrecadar mais estrelas. Em vez de reinventar esta base com jigajogas despropositadas, como Mario Party 9 e Star Rush, Jamboree opta por a progredir com sagacidade e cuidado: por mérito de uma economia equilibrada (apesar de ser relativamente fácil gerar fortunas confortáveis), um sistema de itens maduro e muito rico em opções, e um fino equilíbrio de eventos de sorte e azar, cada ronda de Jamboree possui uma chama e significância há muito ausente dos jogos originais da série. Até contamos com um Bowser Impostor gigante para provocar os momentos mais #&@%*$ do jogo!
A gama de minijogos divide-se entre clássicos de Mario Party anteriores e inclusões totalmente originais e, se a seleção dos veteranos foi criteriosa, as adições inéditas são simplesmente soberbas. Os minijogos estreantes são inesquecíveis por catapultarem a interação e picardia entre jogadores a novas alturas e darem trela a peripécias mirabolantes e burlescas, mas também por recorrerem mais frequentemente a personagens/gimmicks de outros jogos Mario. Montamos Plessie, fugimos de Magmaarghs, e ativamos blocos ON/OFF: vários desafios surgem firmemente integrados no restante universo do canalizador e propiciam um sentimento de coesão em que os jogos de festa não costumavam investir. Continuam a ser cometidos certos vícios dos predecessores, como a inclusão de minijogos de pura sorte demasiado demorados e de minijogos redundantes com conceitos sobreponíveis a outros, mas só um me faz torcer o nariz: a existência de minijogos com controlos por movimento extremamente imprecisos. Felizmente, estes contam-se pelos dedos de uma mão e, em todo o caso, podemos desativar todos os desafios com motion controls, uma opção que permite aos jogadores da Switch Lite marcar presença nas festas!
Mas a alma da festa é, sem dúvida, a seleção de tabuleiros. Mario’s Rainbow Castle e Western Land regressam de Mario Party 1 e 2, contando com algumas alterações inteligentes, e os outros cinco tabuleiros são completamente novos. Não só este conjunto oblitera os de SMP e Superstars em quantidade, mas também me deixa admirado com a sua qualidade. Esta é uma das melhores seleções de mapas da série: os seus percursos traçam-se por várias bifurcações emaranhadas, e são pontuados por todo o tipo de mecânicas dinâmicas e diversificadas, ora imprevisíveis ora antecipáveis ou controláveis por intermédio de itens. A quantidade de variáveis em jogo torna as partidas mais pulsantes do que nunca e dá azo a estratagemas construídos de cascatas de “se” em “se”, que podem culminar numa vitória estupenda e inesquecível ou ser desastrosamente deitados por terra por um lançamento de dado infeliz.
O melhor jogador da sala pode melhorar as suas odds vencendo os minijogos, usando itens no momento certo e planeando com astúcia a sua rota, mas tem sempre a plena consciência de que, a qualquer momento, uma criança de 6 anos a esmurrar o comando pode suplantá-lo com um golpe de sorte. Nesse sentido, Mario Party é um verdadeiro equalizador de oportunidades, garantindo chances de vitória a todos independentemente das diferenças de habilidades no grupo - algo ajudado pelos textos totalmente localizados em português do Brasil. Nenhuma vitória é certa e nenhuma derrota é irreversível, nestas partidas de infinitas possibilidades onde nunca sabemos o que (a ronda de) amanhã trará. A única certeza é gargalhadas, berros e ódio, só não se sabe por parte de quem. É Mario Party no seu melhor: O Homem planeia, Deus e o Bowser Impostor riem. Jamais perdoarei o encarecido compadre que, no fim da minha primeira jogatina, se apropriou de todo o meu espólio num evento "Hora da Verdade" e recebeu os aplausos e confetti que as Moiras destinaram para mim. Se estiveres a ler isto, eu sei onde é que tu moras, ai se eu te apanho!!! (jogamos outra vez prá semana, à mesma hora?)
Se quiserem defender o vosso orgulho ferido após um destes momentos clássicos Mario Party™, poderão desafiar os vossos amigos no novo Modo Pro. Ao aplicar um conjunto de regras especiais e eliminar os minijogos de sorte da equação, a habilidade individual torna-se no fator diferenciador. Antes de experimentar, julgava que Mario Party sem elementos de sorte seria tão entediante como Mario Kart sem itens. Muito me enganei: a sorte pode não ser tão dominante, mas existe na ponderação suficiente para manter as mãos de todos os jogadores quentinhas no pescoço uns dos outros!
A outra grande novidade é as Duplas Jamboree, que substituem os Allies de
SMP. Ocasionalmente, uma personagem convidada surge no tabuleiro.
Se a conseguirem recrutar, não só vão receber uma habilidade passiva, mas
também experienciarão em dobro certos eventos. Isso significa que poderão
comprar duas estrelas de uma vez, mas serão duplamente punidos nas
casas de azar e do Bowser. É uma ideia fantástica… não fosse o método de recrutamento.
Quando alguém alcança o aliado Jamboree, todos os jogadores participam num longo minijogo para o aliciar, como cavaleiros medievais
a pelejar pela mão de uma donzela. Durando vários minutos, estes desafios despejam
um balde de água fria no momentum da partida. Em certas circunstâncias, um Aliado Jamboree pode ser decisivo para os nossos planos mas, noutras situações, sou completamente indiferente ou mesmo adverso a esta "recompensa", o que torna dificílimo que me invista neste evento. Pior de tudo, o esforço pode afigurar-se completamente supérfluo, quando prevejo que outro jogador me vá ultrapassar no tabuleiro e, por causa dessa ação tão trivial, o meu Amigo da Onça Jamboree passe a acompanhá-lo.
Esta é genuinamente a maior crítica que consigo tecer ao
modo principal, e não vale mais do que um encolher de ombros. Se o
jogo fosse só Mario Party, já seria incrível; porém, ainda existem várias atividades
por conhecer! Desde logo, a Jornada das
Tarefas é uma ótima primeira paragem, consistindo num modo história em
que ajudamos nos preparativos para a festa. Não é nada do outro
mundo, mas é uma boa forma de conhecerem os minijogos, assistirem a interações
divertidas entre personagens e enfrentarem bosses ao estilo de Mario
Party 9.
Já Cozinha Rítmica, uma das nossas atrações favoritas, substitui Sound Stage de SMP como o desafio de ritmo. Desta vez, os jogadores
cooperam para confecionar iguarias ao som da música, em tarefas que nos deixam com
água na boca tanto pelos seus apetitosos pratos como por alimentarem o sonho de jogar um Rhythm Paradise na Switch com multiplayer! Bowserathlon é
outro ponto alto, colocando vinte jogadores (cada um na sua
consola) numa corrida até à meta, em que avançamos um
espaço no tabuleiro por cada moeda recolhida nos seus minijogos fenomenais. O mais ínfimo erro faz toda a diferença na classificação final, pelo que estas competições são extremamente acirradas!
Os restantes modos não ultrapassam a mesma fasquia: o Brigada Anti-Bowser, em que oito jogadores (cada um numa consola) cooperam para derrotar o Bowser impostor, passa de euforizante a repetitivo rapidamente. Por seu lado, os 30 bons puzzles de berlindes da Fábrica do Toad, para 1-4 jogadores, são para ser terminados e nunca mais visitados, e os submodos de Aventuras Aéreas, em que abanamos os braços para voar como em Bird's-Eye Bull's-Eye de Wii Fit Plus, perdem o seu apelo antes de terminarmos a primeira partida neles. Por fim, como manda a tradição, todos os minijogos podem ser treinados livremente na Marina dos Minijogos.
Também para aumentar a longevidade da experiência, a
Nintendo Cube incluiu um extenso rol de desbloqueáveis para obterem, entre músicas, reações, e personagens/fundos
para decorarem o vosso “cartão de perfil”. Tudo isto é-vos familiar se já
jogaram Superstars, e o mesmo pode ser dito do seu admirável repertório de funcionalidades modernas: as opções de personalização de partidas, a jogabilidade multiplayer online com amigos e/ou estranhos (nos modos Mario Party, Brigada anti-Bowser,
Bowserathlon e Marina dos Minijogos), a possibilidade de continuar uma
jogatina donde estávamos após um disconnect... está tudo aqui.
De facto, em relação a este predecessor, só vejo duas concessões: Jamboree pode ter 112 minijogos, o maior número da série, mas estes encontram-se diluídos pelos diferentes modos. Consequentemente, no modo Mario Party, só encontrarão 53, sem contar os minijogos situacionais e infrequentes de Itens, Duelos e Duplas Jamboree. Manter o conteúdo em gavetas separadas pode frisar a singularidade das atividades correspondentes, meio que tornando Jamboree num Kirby Super Star Ultra da era moderna com os seus 8-jogos-em-um; contudo, os 14 minijogos exclusivos de Bowserathlon (e os 10 da Brigada anti-Bowser, se ajustados para duelos todos contra todos ou 2v2) encaixariam como uma luva no modo principal e amplificariam o enlevo e estupefacção suscitados pela quantidade de conteúdo disponível.
O outro ponto negativo é uma picuinhice pessoal: o sistema de reações piorado. Pela sua interface com navegação piorada, e por vários dos efeitos sonoros serem mais contidos e muitas vezes inaudíveis sob a música, estas caretas expressivas já não são uma forma tão atrativa de comunicar com outros jogadores online, ou mesmo de atirar gasolina ao fogo quando sarcasticamente reagimos ao infortúnio dos nossos amigos. Ao menos, esta perda de charme é um toma lá, dá cá, porque a apresentação deu um grande salto. SMP e Superstars já eram jogos cativantes, mas Jamboree está noutro nível. Os visuais dos mapas são impressionantes, ainda para mais rodando a 60FPS inabaláveis, e a nova câmara dinâmica, ao entregar ângulos em permanente mudança destas localizações aprimoradas, traz à nossa atenção os infindáveis detalhes que compõem os seus cenários vívidos. Juntando isso à completa reinvenção da interface e transições com pompa e energia, temos um jogo que, mesmo ancorado aos padrões gráficos da consola híbrida, parece ter transitado de geração.
Conclusão
A Nintendo Switch já era a casa das experiências definitivas Mario Kart e Super Smash Bros., e agora pode dizer o mesmo sobre Mario Party. Super Mario Party Jamboree tem qualidades suficientes para validar dezenas de chavões de marketing: é o maior Mario Party e, em aspetos como a seleção de tabuleiros e modos, é o melhor Mario Party.
Mais do que admirar a qualidade, quantidade e o modernismo do seu conteúdo e funcionalidades, é louvável a diversão e montanha-russa de emoções que proporcionam, numa experiência obrigatória para multijogador local que deliciará gregos e troianos - sejam miúdos ou graúdos, sejam novatos da série ou fãs de longa data.
O melhor
- O maior número de minijogos e personagens num só Mario Party;
- Conjunto de peso de tabuleiros;
- Excelente variedade de modos;
- Funcionalidades online e opções de personalização modernas;
- Pertinente modo Pro;
- Novas mecânicas e eventos entusiasmantes…
O pior
- … Mas as Duplas Jamboree prejudicam a cadência das partidas;
- Problemas menores com a seleção de minijogos.
Nota do GameForces: 9.0/10
Desenvolvedora: Nintendo; Nintendo Cube;
Ano: 2024
Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a Nintendo Switch, através de um código gentilmente cedido pela editora.
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