Este tem sido um ano em grande para os fãs de RPGs. Desde Persona 3 Reload, passando por Final Fantasy Rebirth, até ao mais recente Dragon Age: The Veilguard, podemos afirmar que os fãs do género têm andado bem ocupados! Numa companhia de tão grande excelência, é complicado destacar um título que se demarque, mas a sensação com que fiquei ao acabar Metaphor: ReFantazio é que efetivamente estamos perante algo especial, novo e estimulante!
Certamente para os fãs da Atlus, e principalmente aqueles que acompanham os seus RPGs, irão encontrar nesta experiência diversos elementos reconhecíveis de outros títulos. Quer seja a a estrutura caracterizadora de Persona, a narrativa de Shin Megami Tensei ou algumas mecânicas de jogo de Soul Hackers, estamos perante um novo IP que mistura na perfeição diversos elementos.
Posto isto, poderíamos evocar que no fundo não cria nada de novo, certo? A verdade é que Metaphor: ReFantazio revela-se como mais do que a soma das partes. Todos as diversas componentes encaixam na perfeição e transmitem ao jogador uma sensação de felicidade e absorção nesta realidade extraordinária. Muito à semelhança de Persona, as mais de 80 horas de jogo passam a voar, deixando-nos a perguntar: Como passou o tempo tão rápido? Desta forma, será a resposta a esta mesma pergunta que procurarei dissertar nesta análise.
O primeiro elemento que de imediato nos captura é o "setting" e narrativa. Desde a primeira cena, passando por os primeiros momentos caracterizadores deste mundo, percebemos que estamos perante algo diferente, mais maduro do que muito jogos do mercado e que no fundo nos surpreende com as temáticas abordadas por uma arte, para todos os efeitos, tão animada! Particularizando para os pontos mais comuns de comparação com as grandes séries da Atlus (Persona e Shin Megami Tensei), acredito que é um dos inícios mais emblemáticos e que tornar-se-á algo de culto no futuro. Talvez ali bem perto do inicio memorável de Persona 3!
Efectivamente o primeiro impacto é importante em qualquer experiência, mas Metaphor: ReFantazio consegue ir mais além, pois apresenta uma estrutura que diverge em grande parte da recorrentemente associada a Persona. Quem já conhece essa série sabe que a narrativa pode tornar-se bastante repetitiva ao longo das horas de jogo, onde a estrutura “Dia de Evento Narrativo” – “Exploração de Masmorra” –“Dias em atividades sociais”, repete-se dezenas de vezes ao longo do jogo (bem, com a salva interrupção durante a viagem no período das férias escolares). Em Metaphor: ReFantazio esta estrutura não é fixa, onde eventos narrativos, exploração de masmorras, Eventos sociais ou períodos em viagem, não seguem uma estrutura tão repetitiva. Isto permite quebrar um pouco a monotonia que poderá assombrar alguns jogadores, permitindo que a experiência se mantenha sempre fresca ao longo das dezenas de horas que dura.
Mais importante que o aspecto anterior, ainda que este título contenha uma componente social que afeta as mecânicas de combate (muito à semelhança de Persona), esta vertente não é tão exigente como os jogos de Persona. Isto porque não existe a sensação (como depois vim a confirmar), de ter de acertar nas atividades certas, no dia certo, no período certo para poder maximizar as nossas conceções sociais. Aqui o jogador tem uma maior liberdade que Persona (ainda que com menos atividades extra para realizar), onde não sentimos a pressão de errar na nossa escolha, permitindo muito mais disfrutar daquilo que o jogo tem para nos oferecer. No final, não tive dificuldade em maximizar estas atividades e ligações sociais, sendo possível fazer todas as atividades secundárias com calma e sem receio de não ter tempo “ingame” para tudo o que ele me desafia a realizar.
Na sequência desta qualidade de Metaphor: ReFantazio, conseguimos facilmente aprofundar a caracterização com todas as personagens. Sim, as personagens deste título estão cuidadosamente caracterizadas e na sua generalidade bastante interessantes em termos de design artístico e de profundidade da sua história particular. A Atlus já é mestre em criar personagens que ficam por muito anos na nossa memória, mas acredito que as particularidades preparadas para estas são ainda mais profundas que o habitual. Claro que o conceito deste mundo, em misturar diversas raças e considerando as quezílias entre si, ajuda imenso a aprofundar este elemento tão importante para um RPG.
Como previamente mencionado, o “setting” deste mundo e narrativa associada é extraordinário. Em Metaphor: ReFantazio acompanhamos inicialmente a demanda de um grupo de pessoas que procura encontrar uma cura para um príncipe amaldiçoado, mas que rapidamente vemos os nossos planos virados do avesso com a morte do rei e despoletar do processo de escolha do novo monarca. Ponderei seriamente em abordar um pouco a história nesta análise, mas cheguei à conclusão os nossos leitores merecem experimentá-la na primeira pessoa e sem filtros. Desta forma, e em termos mais genéricos deixo somente a afirmação que se gostam das narrativas de Shin Megami Tensei (e em parte Persona), vão sentir-se bem em casa aqui! A sua história e narrativa permanecem-se intrigantes e cativantes, ainda que alguns elementos narrativos frequentemente observados noutros títulos sejam utilizados, não podemos deixar de ficar agarrados a esta experiência ao longo do jogo.
Ainda assim nem tudo são paralelismos com os outros títulos da Atlus, pois as mecânicas de evolução de personagem divergem significativamente das típicas dos seus títulos. Neste título, ao invés de colecionarmos e criarmos Personas/Demónios para utilizá-los durante as batalhas, as nossas personagens terão papeis mais fixos. Alguns serão mais vocacionados para danos físicos, outros para suporte, outros para magia. A forma de como são atribuídas estas funções a cada uma é através de uma personagem que nasce no seu interior denominada “Archetypes”… mas que aqui está associada à evolução do nosso link social com determinada personagem, ao invés de colecioná-los durante a exploração, batalhas ou criar através da união de disversas Personas.
O aspecto que torna esta mecânica mais atrativa é que podemos combinar diversos “Archetypes”, melhor dizendo, utilizar algumas das habilidades de um dado “Archetype”, noutro. Isto permite uma maior flexibilidade na caracterização do papel de dada personagem, não o limitando a determinado papel. Esta característica é algo novo, pois nos títulos de Persona somente era possível assumir diferentes papeis com a personagem principal, visto que as Personas dos outros elementos da equipam eram mais ou menos fixos ao longo do jogo. Exemplificando, podemos criar uma personagem cavaleira (com excelentes habilidades de defesa) com alguns elementos de mago (para ataque ao longe). Esta combinação permite ter uma personagem resistente ou denominada de tanque, mas que consegue ter alguma capacidade ofensiva. O facto de aprimorar ao detalhe estes aspectos, ao invés de estar a saltar de "Persona em Persona” com o evoluir dos níveis da personagem principal, permite uma maior associação do jogador às personagens e os respectivos papeis dentro da própria equipa.
No que se refere ao combate, estamos mais uma vez perante um RPG por turnos, muito á semelhança dos outros títulos da mesma editora. Nesta vertente não se notaram grandes diferenças. A possível pequena divergência mais notória passa pelos ataques combinados entre diversas personagens, que busca inspirações de Soul Hackers ou Tokyo Mirage Sessions... Mas que no fundo também não é nada de novo.
Por fim, resta abordar a componente sonora. Metaphor: ReFantazio apresenta uma banda sonora de luxo, que constantemente pauta o ritmo do jogo, dos combates ou da exploração. Não somente ajuda a aprofundar o ambiente, como consegue captar o jogador por si própria. Definitivamente um elemento de valor acrescentado que consegue englobar as diversas componentes desta experiência e criar uma experiência verdadeiramente memorável. Desafio a todos que procurei o tema de batalha no Spotify (Hint Hint)!
Conclusão
Metaphor: ReFantazio é um refinamento da fórmula de Persona com a simplicidade e virtude de outros títulos da Atlus. Ao simplificar a vertente social, sem descurar a sua importância na caracterização deste ambiente, permite ao jogador imergir neste mundo de uma forma mais intuitiva. A combinação de elementos de jogabilidade de Persona, com a Narrativa de Shin Megami Tensei, a par de uma banda sonora extraordinária fazem com que o jogador fique agarrado a esta aventura durante horas a fio. Com Metaphor: ReFantazio, a Atlus conseguiu criar um novo IP brilhante e capaz de evidenciar-se dentro do género, não somente para antigos, como novos fãs. O futuro é brilhante e tem um cheiro a Fantasia!
O melhor:
- A ambientação e profundidade da componente político-social deste mundo;
- A vertente social não pressiona o jogador a tomar a atitude certa;
- Sistema de Archetypes que permite uma maior profundidade da definição das nossas personagens;
- Banda sonora memorável e impactante;
O pior:
- Nada a apontar
Nota do GameForces: 10/10
Título: Metaphor: ReFantazio
Desenvolvedora: Atlus, Studio Zero
Editora: Sega
Ano: 2024
Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a PlayStation 5, através de uma cópia adquirida pelo redator.
Autor da Análise: Carlos Silva
Análise | Metaphor: ReFantazio - A Liberdade de uma Nova Fantasia
Reviewed by Carlos Silva
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novembro 08, 2024
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