Análise | Shin-Chan: Shiro and the Coal Town - Nostalgia Pura e Dura


“Sou um menino divertido, engraçado e extrovertido
Todos gosto de irritar
Shinnosuke nunca para 
Não te vai deixar em paz”

Este genérico faz-vos lembrar alguma coisa? Certamente se és um jovem adulto, assim como eu, de certeza que conheces o anime Shin-Chan, que conta as aventuras doídas de  Shinnosuke, uma criança de 5 anos que, apesar da educação rígida implementada pela mãe, tem uns comportamentos… digamos de uma criança de 5 anos. Se não és, provavelmente já viste por aí um excerto muito conhecido da sua versão portuguesa. 

Apesar de o anime se ter estreado em 1992, o mesmo continua a sair no Japão, com diversas alterações no enredo, no desenho e nas piadas em si. Contudo, nunca deixou de ter a sua imagem de marca, que é o seu protagonista incrível e engraçado que consegue fazer qualquer um perder a postura. Assim sendo, a H.a.n.d., produtora de diversos jogos como Kingdom Hearts Re:Coded e 358/2 Days e que ajudou na produção de Naruto X Boruto Ultimate Ninja Storm Connections, trouxe-nos um novo jogo baseado no anime Shin-Chan.



Se estão à espera de um jogo básico de anime no qual estamos constantemente à luta contra outros npcs com inúmeros poderes e acrobacias então podem tirar já essa ideia da cabeça pois este jogo é tudo menos violento, imersivo e stressante. Quer dizer, este último ponto se calhar até… mas isso fica para depois. Invés disso, é nos entregue um jogo de mundo aberto com diversas mecânicas de “grind” e muita coisa para “apanhar” e sítios onde ir.

O jogo divide-se por dois locais completamente distintas: uma aldeia em Akita e Coal Town. Ambas estão bastante bem ambientadas, repletas de vida e acima de tudo, bastante distintas uma da outra. Na aldeia, local onde o nosso jovem está a passar umas férias junto dos avós e pais, conseguimos encontrar uma biodiversidade enorme, com uma variedade de plantas que podemos apanhar ou cultivar (e mais tarde colher), insetos que podemos apanhar e peixes e mariscos que podemos pescar. Já em Coal Town podemos utilizar os legumes e peixes para fazer cozinhados, recolher minérios e pedras preciosas e fazer corridas com carrinhos das minas. Existe um grande contraste entre uma aldeia, que é mais focada para a natureza, repleta de paisagens, água e cor, e a cidade, que é muito fumarenta, cheia de máquinas industriais e com um ambiente mais pesado e sombrio, que, no meu ponto de vista, destoa demasiado da aldeia aprazível e da atmosfera deste universo.

Sendo este um jogo aberto, e assim como muitos outros deste mesmo género já nos habituaram, contém tanto missões principais que nos levam a progredir na história, como missões secundárias, que não são necessárias para acabar o jogo. Contudo, neste título as secundárias têm um papel muito importante para o avanço na narrativa. Digamos que é graças às missões secundárias que vamos conseguir adquirir as sementes de muitas das frutas que precisamos e que melhoramos alguns aspetos da nossa jornada, como a capacidade de guardar mais dinheiro (através de carteiras melhoradas e exclusivas destas missões) e um sistema de rega melhorado (que permite regar os 4 espaços de plantação ao mesmo tempo.

Mas agora vocês questionam: “Então mas se o jogo não contém violência alguma, as missões no seu todo, consistem no quê?” Ora, digamos que as missões são sempre a mesma coisa ao logo de todo o jogo. Uns 80% das missões do jogo consistem em apanhar algum tipo de produto ou minério ou, para oferecer a alguém, ou para se construir alguma coisa na cidade, ou ainda para se fazer algum cozinhado, o que muitas vezes me levou a ter que fazer um grind enorme, algo do género que se faz nos jogos do Pokémon onde andamos as voltas pelo mapa a procura do que precisamos para concluir a missão até ter as quantidades que precisamos. O que torna esta tarefa mais chata é o facto de algumas destas atividades nem sempre providenciarem o que queremos. Podemos ficar inúmeras horas a andar às voltas pelo mapa ou percar incontáveis vezes nos diversos lagos e podemos nunca encontrar o que pretendemos. Este aspeto faz também com que o jogo se torne repetitivo e maçante pois estas tarefas são muito recorrentes e, mais para a frente, a quantidade de itens que as personagens pedem começa a ser exagerada.

Outro aspeto que dificulta esta situação toda é o facto de ter um sistema de rotina, ou seja, o dia vai passando à medida que vamos jogando e quando chega a noite, o nosso pequeno Shin-Chan tem de ir dormir. Quando uma determinada altura do dia surge, o jogo teletransporta-nos para dentro de casa, algo que por vezes interrompe o que estamos a fazer. Por outro lado, este último aspeto é até bastante interessante pois graças a ele temos interações bastante carismáticas entre o nosso pequeno protagonista com os restantes membros da família ou com outros NPCs, o que me levou muitas vezes a gargalhadas. Por falar em personagens secundárias, o jogo apresenta uma quantidade razoável de habitantes a conhecer, todos com interações e personalidades bastante diferentes e com conversas com o Shinnosuke que vão além da conversa normal de “faz isto e preciso daquilo”.

Para nos acompanhar nesta aventura, contamos com a presença de Shiro (ou Floquito como é chamado em Portugal), o nosso fiel companheiro canino, que apesar de "apenas" encontrar itens ao longo do mapa muito esporadicamente, possui uma inteligência artificial bastante bem desenvolvida e polida e é sempre uma mais-valia na exploração. 

Quem tem assistido à evolução de Shin-Chan ao longo dos anos percebe que o design das personagens piorou bastante desde os anos 90 até aos dias atuais. Contudo, apesar de não serem os melhores gráficos de sempre, a produtora fez um excelente trabalho em colocar as personagens em 3D. As animações também estão muito bem desenvolvidas e fieis ao anime com imensas expressões faciais e poses que fazem referência ao material de base. Os efeitos sonoros e música estão excelentes e são um dos pontos muito positivos deste título: a música animada na aldeia que faz contraste com a mais pesada da cidade, as dobragens das personagens que estão bastante bem gravadas e todos os sons de água, vento etc estão bastante realistas e causam um bom ambiente ao mundo aberto.


Conclusão

Shin-Chan: Shiro and the Coal Town é uma viagem pelo tempo. Ao jogá-lo fez me lembrar os diversos episódios do anime que assistia com os meus pais e das gargalhadas que dava. O ambiente lindo com um mundo aberto repleto de vida, itens para apanhar, peixes para pescar e plantas para colher e semear fazem com que esta seja uma experiência agradável para quem pretende passar um bom bocado. Infelizmente esse bom bocado vira stress quando começamos a fazer as missões principais e secundárias que começam a ser demasiado repetitivas e a exigir demasiados itens iguais o que nos leva a ter que perder tempo às voltas pelo mapa horas e horas sem conta. 

O melhor:

- Um bom ambiente fiel ao anime;

- Ambientação e grafismos fieis ao anime, com a inclusão do 3D;

- Gameplay relaxante e bastante apelativa para quem quer jogar descontraído, contudo …

 

O pior

- …essa descontração termina quando as missões  começam a exigir demasiadas coisas;

- A necessidade de dar grind constantemente para encontrar os itens solicitados.

 

Nota do GameForces: 7.0/10


Título: Shin-Chan: Shiro and the Coal Town
Desenvolvedora: H.a.n.d.
Publicadora: Neos Corporation
Ano: 2024

Nota: Esta análise foi realizada com base na versão Steam do jogo, através de um código gentilmente cedido pela Neos Corporation. 


Autor da Análise: Carlos Cabrita
Análise | Shin-Chan: Shiro and the Coal Town - Nostalgia Pura e Dura Análise | Shin-Chan: Shiro and the Coal Town - Nostalgia Pura e Dura Reviewed by Carlos Cabrita on outubro 29, 2024 Rating: 5

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