Análise | Persona 3 Reload: Episode Aigis - Uma experiência pouco social


Conseguir criar conteúdo adicional de valor, para uma experiência que se revela uma referência dentro de um género, é uma tarefa hercúlea. Desde expansões, a sequelas... conseguir pegar na história, na narrativa, nas personagens, nas próprias mecânicas de jogo, revela sempre um desafio com uma dificuldade diretamente proporcional com a qualidade do conteúdo base. Particularizando para o caso do DLC de Persona 3 Reload, Episode Aigis, podemos afirmar que esta tarefa é particularmente complexa, tendo de fazer jus aos conteúdos clássicos em que se baseia e ao mesmo tempo cativar os jogadores de Reload.


Como poderão saber, Persona 3 (o originalmente publicado para a PlayStation 2), contou com uma edição completa, denominada Persona 3 FES (decorrente de um termo japonês para Festival). No fundo consagrava uma celebração de um título que veio revolucionar o género dos RPGs. Esta edição contava com dois jogos no seu interior: The Journey e The Answer. O primeiro era nada mais do que o título original de Persona 3. Já “The Answer” acompanhava as aventuras do grupo depois dos eventos do jogo principal, contando com cerca de mais 30 horas de jogo e um novo protagonista.



Em “Episode Aigis”, a Atlus desenvolveu um remake dessa mesma sequela, seguindo bem de perto a mesma linha narrativa do título original. Naturalmente algumas das mecânicas de jogo foram revistas para refrescar um pouco a experiência e ficarem mais em linha com o remake do título principal, lançado no início do ano:

  • Monad, as portas de desafio extra que vão surgindo nos diversos níveis, oferecem agora três portas à escolha do jogador. Portanto, o jogador pode decidir qual das três seguir com base nada dificuldade, porque cada uma terá Shadows mais fortes para derrotar (e por consequência recompensas maiores);
  • Os pedidos de Elisabeth foram personalizados à personagem de Aigis, dando recompensas mais alinhadas com a exploração da nova masmorra e fusão de personas;
  • A mecânica de emboscada recebe uma actualização de peso, pois durante a mesma a Aigis poderá equipar itens (normalmente adquiridos após derrotar alguns bosses ou secções do Abismo) que permitem ganhar habilidades;
  • Teletransportadores encontram-se espalhados mais frequentemente durante a exploração, permitindo uma maior facilidade em retornar a pontos de gravação ou para recuperar vida e energia.
  • O Relógio de Carta de Habilidade é uma nova adição ao DLC, permitindo que Aigis use Fragmentos do Crepúsculo para replicar cartas de habilidade que ela obtém após as batalhas.



Contudo, se quisermos indicar a principal diferença entre Episode Aigis e Persona 3 Reload (muito à semelhança entre o “The Journey” e o “The Answer”), a ausência da componente social é definitivamente o aspecto que temos de referir.

No jogo base Persona 3 Reload, é possível passar o tempo com muitos colegas, conhecidos ou amigos do nosso protagonista durante o seu tempo livre. Este estreitamento de relações nos chamados Links sociais, não só são intrigantes por si só, mas também permitem ganhar bônus na criação de Personas durante as secções de combate e exploração. Contudo, na DLC é diferente… O tempo não “passa” como no jogo base, onde o jogador tem alguns intervalos de tempo livres a cada dia – em Episode Aigis estaremos a repetir constantemente o dia 31 de março e confinados ao nosso dormitório. Desta forma, podemos caracterizar que o DLC é definitivamente pesado na vertente de combate e exploração…ao ponto de se tornar demasiado repetitivo.



Sim, Episode Aigis sofre do mesmo problema que “The Answer”: ele é extremamente repetitivo. A estrutura do jogo é constante ao longo de 30 horas de jogo, onde somente a reta final (talvez as últimas 5 horas) diverge um pouco daquilo que foi o jogo até ali. Isto faz com que passemos todo o tempo a realizar as mesmas ações ou utilizando a mesma tática de exploração e combate. O título tenta introduzir ligeiros eventos sociais, associados a itens que apanhamos durante a exploração do abismo, e que são de interesse para uma personagem específica do nosso grupo. Contudo são tão esporádicos e curtos que não chegam minimamente para quebrar a rotina imposta na outra vertente de mais ação.

Não podemos, portanto, deixar de afirmar que a Atlus perdeu uma oportunidade de ouro para criar algo melhor (ainda que mais divergente do “The Answer”), que fosse de encontro ao que os fãs da série reclamam durante anos.



Felizmente a caracterização das personagens e o enredo continuam excelentes. Em Episode Aigis, tal como mencionamos, continuamos as aventuras do nosso grupo de caçadores de Shadows. Desta vez com Aigis, a android que tinha como missão proteger o personagem principal, como protagonista. Mas aqui também teremos novidades, pois uma nova e cativante personagem surge logo no inicio do DLC: Metis. Metis, à semelhança de Aigis, é uma android cujo propósito passa por…proteger a protagonista do DLC (onde já ouvimos esta história?!).

Metis é uma personagem minuciosamente caracterizada, para que no fundo consiga efectivamente tomar o lugar de Aigis enquanto introespectiva e protetora da equipa (mas principalmente da própria Aigis). O crescimento de ambas é notório e revela-se como o ponto fulcral de todo o enredo deste DLC. Por outras palavras, Metis está intimamente ligada à história e, enquanto personagem jogável, permite ao jogador experimentar novas táticas durante os combates.



Falando em enredo, o título original apresentou um conceito genial denominado da “Hora negra”. Este conceito preconiza um período de tempo de uma hora, que ocorre todos os dias, ocorrendo à meia noite e durante o qual somente um grupo especial de pessoas consegue aceder e explorar. Sem querer entrar muito em detalhes, o próprio conceito da “Hora Negra” torna-se ainda mais extraordinário com o evoluir da história e à descoberta do que realmente este evento está associado.

Em “Episode Aigis” a Atlus tenta replicar este sucesso; contudo, o conceito apresentado fica um pouco aquém das expectativas. Neste DLC os nossos heróis encontram-se presentes num loop temporal do qual não conseguem sair. Primeiro, não é um conceito diferente do que já estamos habituados a ver noutros meios (sendo “O Feitiço do Tempo” o exemplo mais conhecido). Segundo, a sua introdução revela-se apressada e pouco contextualizada. Por fim e mais importante, a evolução da narrativa associada a este conceito é quase nula. Isto porque, ao longo da jornada de quase 30 horas, pouco vai sendo descoberto para explicar a existência deste loop temporal, que se manifesta no “Abismo do Tempo” e somente num frenesim no final é explicado o seu conceito e conclusão. Algo como que atirado de repente à cara do jogador.


Este ponto deixa, mais uma vez, um sentimento de oportunidade perdida. Pois os eventos finais, sem querer expor muito, encontram-se divididos em dois grandes actos, no qual o primeiro poderia facilmente ser introduzido ao longo do restante jogo. Possivelmente a Atlus procurou ter um final memorável e mais impactante para a história de Persona 3, mas aqui e ao contrario do que aconteceu no jogo principal, ficamos simplesmente com uma sensação de apressar do fecho das diversas linhas narrativas. Não me entendam mal: O enredo de  Persona 3 Episode Aigis é de louvar, mas simplesmente apresenta um pacing desastroso.

Por fim, resta-nos abordar um pouco a questão audiovisual. Persona 3 Reload apresenta uma arte e grafismo excelente, muito à semelhança de outros títulos da série. O seu DLC não diverge em nada deste aspecto: mais uma vez podem contar com uma arte conceitual de topo, com algumas sequências animadas que são verdadeiramente cativantes. De igual forma, a banda sonora continua suprema, ainda que não introduzindo muitas novidades.


Conclusão

Episode Aigis, o remake do famoso “The Answer” de Persona 3 FES, procurou cativar o jogador com o seu enredo, mecânicas e excelente caracterização de personagens. Contudo, a repetitividade continua a ser um problema sério e nem as pequenas atualizações de qualidade de vida e revisão de mecânicas foram suficientes para reduzir este sentimento. Em particular, a ausência (quase total) da vertente social que tão bem caracteriza a série Persona, revelou-se uma oportunidade falhada no que toca a reformular verdadeiramente o remake de “The Answer”.


O melhor

  • A caracterização das personagens;
  • Adição de diversas mecânicas de "qualidade de vida"
  • Banda Sonora;
  • Enredo cativante...

O pior

  • ... que apresenta um pacing desanimador;
  • Repetividade da exploração;
  • Vertente social pouco impactante no enredo.

Nota do GameForces: 7.0/10


Título: Persona 3 Reload: Episode Aigis;
Desenvolvedora: Atlus;
Publicadora: Sega;
Ano: 2024

Nota: Esta análise foi realizada com base numa licença dos conteúdos adicionais adquirida pelo autor.

Autor da Análise: Carlos Silva
Análise | Persona 3 Reload: Episode Aigis - Uma experiência pouco social Análise | Persona 3 Reload: Episode Aigis - Uma experiência pouco social Reviewed by Carlos Silva on outubro 04, 2024 Rating: 5

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