Quando escrevemos uma análise de um jogo, tentamos que seja próxima da sua data de lançamento. Este timing permite-nos oferecer uma visão crítica e informada do produto no seu estado de disponibilização, ajudando potenciais jogadores a tomar decisões de compra no momento em que chegam ao mercado. Além disso, ao analisar o jogo logo após o seu lançamento, os nossos textos tendem a explorar e destacar aspetos que estão a gerar discussão na comunidade de jogadores, fornecendo uma perspetiva oportuna e pertinente sobre os seus assuntos mais controversos.
No entanto, devido à quantidade crescente de títulos lançados e à relativa juventude do GameForces, é impossível analisarmos todos os jogos nessa fase precoce. Seja por falta de tempo, por o nosso backlog já ser extenso ou porque alguns jogos escapam simplesmente ao nosso radar numa fase inicial, muitas vezes só avaliamos um jogo meses ou anos após o seu lançamento. É por isso que introduzimos o conceito "Fora d'horas".
Nos textos com este subtítulo, vamos analisar títulos que foram lançados há meses ou até anos. Assim, esta designação não traduz necessariamente uma alteração do intuito ou estrutura das nossas análises. Esta reflete e alerta para o desafasamento com que experienciamos o jogo, que poderá condicionar a nossa posição de múltiplas formas. Uma análise feita no lançamento pode ser completamente diferente da que o mesmo redator escreveria uns meses mais tarde, e isso pode tanto depender de alterações no jogo, como a adição de conteúdo ou correções de erros em atualizações e da introdução de sistemas de microtransações pós-lançamento, como depender do redator, como na evolução da sua perceção do status quo dos videojogos. Nalgumas instâncias, aproveitaremos mesmo para abordar algumas destas influências!
Assim, nestes textos mostraremos aos nossos leitores se determinados títulos ainda permanecem relevantes nos dias de hoje e que podem ter uma pérola (ou não) ainda por descobrir, mas com consciência das nuances que este distanciamento temporal pode implicar no nosso conteúdo.
Dito isto, falemos de Dragon's Dogma 2.
A Capcom tem no nome Dragon's Dogma a fasquia elevada. Não só pelo sucesso que foi o primeiro título em....2012 para a velhinha PlayStation 3, mas também pelas imagens e vídeos que ia revelando de Dragon's Dogma 2. Quando tive oportunidade de pegar finalmente neste novo título, as críticas já eram praticamente positivas, o que fazia crescer em mim a necessidade ainda maior de o jogar.
Com um enredo ambientado numa era medieval, o nosso personagem torna-se o Arisen desta geração ao batalhar um dragão que lhe retira o coração. A trama é rica em contornos políticos, entre traições e alianças, e enfrentamos sempre obstáculos na nossa demanda para ascender ao poder, posição de direito de um Arisen. No entanto, a narrativa é mal distribuída ao longo do jogo. Começa com um pico interessante, mas depois torna-se repetitiva e previsível durante grande parte do jogo, alcançando um clímax interessante somente na fase final. Além disso, praticamente todas as personagens são pouco emotivas, com um comportamento robótico e diálogos monótonos, criando uma desconexão entre o jogador e as personagens, amplificada pelo facto de termos que interagir com elas diversas vezes. Mesmo as missões secundárias, muitas vezes desprovidas de emoção, seguem um padrão repetitivo: encontrar um item, entregar e receber um agradecimento sem entusiasmo.
Infelizmente, esse sentimento de desconexão estende-se ao mundo de Dragon's Dogma 2. Apesar de ser vasto, o mundo oferece pouca variedade: temos cenários montanhosos e florestais, ou cidades e aldeias típicas da época. Passamos muito tempo a percorrer esses caminhos devido à escassez de opções de transporte. Existem objetos de teletransporte, mas são raros durante o jogo, deixando-nos com a opção de percorrer a pé ou viajar de carroça entre cidades. No entanto, as carroças são frequentemente atacadas por inimigos, obrigando-nos a percorrer o resto do caminho a pé. Apesar disso, a transição do dia para a noite traz uma nova dimensão a esses momentos, criando um suspense maior à noite, graças à iluminação limitada, mas bem executada.
E se até aqui não tive palavras simpáticas para este título, aproveito para fazer um plot twist e focar-me no que me fez investir cerca de 70 horas de jogo.
Comecemos pelas classes. Cada uma é realmente distinta das outras, quer queiramos ser um guerreiro com espada e escudo, um arqueiro ou um mago. Podemos sempre mudar de classe, claro, mas cada uma oferece uma jogabilidade única, incentivando-nos a explorar cada classe e suas evoluções. Ainda melhor, descobrimos que há classes adicionais que desbloqueamos à medida que avançamos na história. O sistema de evolução é adequado e interessante, sem dúvida.
Para nos ajudar nas batalhas, temos o nosso Pawn. Este aliado é criado pelo jogador e, em Dragon's Dogma 2, este NPC é realmente uma mais-valia nos combates, utilizando todas as suas funções para derrotar os inimigos. Podemos também alterar a classe do nosso Pawn, o que diversifica o sistema de combate. Para completar o nosso esquadrão, podemos adicionar mais dois Pawns criados por outros jogadores, permitindo-nos criar uma equipa equilibrada com as fraquezas e vantagens de cada classe. Um detalhe interessante é que, se os Pawns passarem por um tesouro secreto enquanto estão com o jogador original, eles guardam essa informação e indicam o local aos novos jogadores que os convocarem.
Todos esses pormenores têm o seu apogeu nos combates. Seja pela diversidade de inimigos ou pela quantidade que pode aparecer, cada confronto é interessante e frenético. Podemos estar a lutar contra um grupo de goblins e, de repente, um ciclope aparece, obrigando-nos a gerir a nossa equipa para definir quem ataca o quê.
Graficamente, o jogo passou por várias atualizações e, durante o tempo que investi em Dragon's Dogma 2 na PlayStation 5, rodou sempre sem quebras de frames, com efeitos de magias e feitiços bastante apelativos.
Conclusão
Enquanto RPG, Dragon's Dogma 2 falha em cativar os jogadores com suas personagens e enredo, ao contrário de títulos mais antigos como The Witcher 3, que nos envolve em uma época temporal semelhante. No entanto, a exploração das mecânicas de cada classe e a estratégia para derrotar os diversos inimigos são elementos que nos mantêm envolvidos por horas. Apesar das falhas narrativas e de design, a jogabilidade e os gráficos tornam o jogo envolvente e recompensador para jogadores dedicados. É um título que os fãs do género devem considerar investir o seu tempo.
Pontuação do GameForces – 7/10
Título: Dragon's Dogma 2
Desenvolvedora: Capcom
Publicadora: CapcomData de lançamento: 21 de março de 2024
Autor da Análise: Filipe Martins
Análise Fora d'Horas - Sobre Dragon's Dogma 2
Reviewed by Filipe Martins
on
agosto 30, 2024
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