Análise | Elden Ring: Shadow of the Erdtree – Divindade Encontrada


Está na hora de se levantarem novamente, Maculados! Quase dois anos e meio depois deste jogo se ter afirmado como um dos melhores de sempre, e de se apresentar como o apogeu de todos os anos de trabalho da FromSoftware e de Hidetaka Miyazaki, recebemos agora o irresistível convite de regressar ao universo de Elden Ring. No início de 2022, considerei o jogo base um dos “melhores jogos alguma vez desenhados”, que oferecia “uma experiência no limiar da perfeição.” Conseguirá Shadow of the Erdtree cimentar Elden Ring como uma experiência imaculada, ou revelar-se-á um pecado difícil de digerir?

É melhor descansar, sim, porque o que vou ter de andar para chegar até ali não vai ter graça nenhuma.

Bem, vou começar esta análise como comecei a do jogo base, e responder já à questão que coloco na introdução: Shadow of the Erdtree é uma expansão brilhante. Não só merece tantos louvores como Elden Ring recebeu quando foi originalmente lançado, como enaltece toda a experiência completa deste título. Se o jogo base já era um dos melhores videojogos de sempre, então não tenho dúvidas em afirmar que, aqui, estamos igualmente perante uma das melhores expansões de sempre.

Honestamente, não tenho nada a apontar a esta expansão como um verdadeiro defeito. Considerando tudo o que o jogo base ofereceu, Shadow of the Erdtree entrega uma experiência que roça as minhas expectativas mais elevadas, roça o melhor cenário possível que tinha na cabeça. E é também por isso que, ao longo desta análise, me irão ver sempre a referir a Shadow of the Erdtree como uma expansão, e não como um DLC. Porque esta oferta pega em tudo o que o jogo base faz de bom, e adiciona quantidade e qualidade a tudo – narrativa, jogabilidade, e até qualidade de vida.

Antes de entrar nos detalhes, olhemos para o enquadramento da narrativa desta expansão – com leves, mas inevitáveis spoilers ao barulho. Um dos filhos de Marika e de Radagon, o semideus Miquella o Bondoso, parece ter sido raptado e usado de forma brutalmente violenta num ritual de sangue por um dos seus meios-irmãos, Mohg, o Senhor do Sangue. No início desta expansão, passamos a saber que o resultado desse ritual foi a entrada do semideus nas Terras Sombrias. Estas tratam-se de um reino à parte das Terras Intermédias, no qual alguém pode ascender ao estatuto de deus deste mundo – caminho esse que Miquella está a escolher seguir. É aqui que entra o nosso Maculado: como novos senhores destas terras, somos compelidos a seguir Miquella e a desvendar todas as repercussões das suas ações e dos seus objetivos divinos, enquanto descobrimos mais sobre a sombria história de Marika e da sua família.

A Diplomacia funciona sempre! (Diplomacia foi o nome que dei à minha espada)

Quem está habituado ao estilo narrativo subtil e estilo puzzle ao qual a FromSoftware nos tem habituado, vai encontrar aqui uma bela surpresa. A narrativa de Miquella, Messmer e dos seguidores de ambos os semideuses, apresenta-se aqui muito mais linear e acessível do que em qualquer outro jogo desta produtora – a par, talvez, da de Sekiro. A leitura das descrições dos itens continua a dar imenso contexto para os acontecimentos, mas com o enredo a desenrolar-se em tempo real e com diversas personagens a reagirem ao mesmo, acompanhar a narrativa de Shadow of the Erdree torna-se bastante mais acessível do que o habitual.

Mas desengane-se quem achar que uma narrativa mais simples de seguir e exposta de forma mais clara significa que esta seja de qualidade inferior. Bem pelo contrário! Ainda que não seja tão expansivo como o do jogo base, a qualidade do enredo de Shadow of the Erdtree põe a um canto a vasta maioria das narrativas que encontramos em jogos completos. Com revelações fascinantes que esclarecem a maioria das dúvidas com que fiquei do jogo base, e com reviravoltas memoráveis que recontextualizam muito do que achava que sabia sobre este mundo, não hesito em afirmar que esta expansão oferece uma das melhores histórias que a FromSoft já produziu.

E com isto, não me estou apenas a referir aos fios narrativos ou ao aprofundamento da lore dos bosses e dos antagonistas deste enredo – estou também a incluir as pequenas histórias de NPCs ou de inimigos comuns. Há novos inimigos com histórias interessantes. Há NPCs com um percurso narrativo entusiasmante ou tocante. E há também inimigos espalhados pelas Terras Intermédias que marcam aqui o seu regresso, e que inicialmente me levaram a exclamar “Ah, adoro estes gajos!”, apenas para ficar a conhecer melhor o que se passa verdadeiramente com eles. Lembram-se dos interessantíssimos guerreiros em jarras? Preparem-se para chorar quando descobrirem aqui o que eles são.

Que coisa mais fofa, deve ser boa de abraçar durante o inverno!

Portanto, narrativamente, esta expansão oferece tudo o que eu esperava, e ainda mais. Felizmente, não se fica por aqui; em termos de jogabilidade, há aqui muito, muito sumo novo. Deixem-me começar pelo novo mapa, que – tal como mencionei com a narrativa - põe a vasta maioria dos jogos de mundo aberto com orçamentos estratosféricos a chorar de inveja. O novo mapa tem cerca de um terço do tamanho do de Elden Ring base – talvez até um pouco mais. À semelhança do jogo base, este mapa está recheado de áreas com identidades visuais muito distintas, cada qual repleta de segredos para desvendar, itens para descobrir e pequenas histórias para desvendar.

Este novo mapa distingue-se do jogo base por um motivo: o nível de verticalidade que existe para explorar. À primeira vista, as Terras Sombrias parecem uma pequena fração do mapa original, mas quando percebi que estas estão repletas de túneis, cavernas e labirintos que vão desembocar noutras áreas visualmente estonteantes que pareciam apenas ser decorações para vermos ao longe, percebi que esta expansão tinha conseguido o impensável: melhorar o design do mundo aberto. O espaço do mundo aberto está melhor preenchido, oferecendo sempre locais interessantes ou caminhos alternativos para explorar.

E há que referir que as novas masmorras que se encontram espalhadas por estas terras são muito mais apelativas também. Em Elden Ring, sentia que a maioria deste conteúdo secundário apresentava layouts repetitivos e com recompensas úteis, mas cuja aquisição resultava em entusiasmo que ia diminuindo com o passar das horas. Em Shadow of the Erdtree, os designs destas masmorras são muito mais variados, o conteúdo apresentado até ao fim da masmorra é muito mais rico em lore, e as recompensas são mais interessantes. Tudo isto faz-me sentir que vale (ainda mais) a pena fugir do caminho mais direto até ao fim e, simplesmente, perder-me pelo mundo.

Este cardio está a dar cabo dos meus quadríceps!

Já para não falar de que explorar cada recanto das Terras Sombrias também é útil para tornar a dificuldade desta expansão mais gerível – mas de um modo curiosamente diferente em relação ao jogo base. É que a escalada do poder da nossa personagem funciona de modo diferente em Shadow of the Erdtree. O nível da mesma e a quantidade de pontos que colocamos em cada atributo continua a ser importante, claro. Mas mais importante ainda passa a ser a quantidade de Scadutree Fragments e de Revered Spirit Ashes que encontramos. Estes itens permitem fortalecer o poder ofensivo e a robustez defensiva tanto da nossa personagem como das evocações que podemos realizar. Ou seja, explorar bem o mundo, encontrando e consumindo estes itens em grande quantidade é o que vai determinar o quão implacável e imperdoável a nossa aventura nas Terras Sombrias vai ser.

Esta opção de design pode parecer estranha à primeira vista, mas acaba por ser genial. Primeiro, porque com esta expansão a sair mais de dois anos depois do jogo base, tivemos mais do que tempo suficiente para nos tornarmos mais poderosos do que todos os deuses e semideuses juntos. Depois, porque este novo sistema aumenta exponencialmente o incentivo para explorar cada recanto do novo mundo aberto. O entusiasmo que sentia sempre que via um brilho arroxeado e recebia um destes itens era enorme e apenas reforçou a ideia de que todas as 40 horas que passei a virar as Terras Sombrias do avesso valeram muitíssimo a pena.

De resto, a jogabilidade não foge muito ao que se podia esperar de uma expansão de Elden Ring. Os combates voltam a ser exigentes, requerendo timings precisos para atacar, defender ou esquivar sendo, para tal, necessário analisar bem o que cada inimigo ou boss é capaz de fazer. Temos também ao nosso dispor uma miríade ainda maior de opções de armaduras, armas, feitiços e encantamentos, de espíritos evocáveis, e de equipáveis que conferem melhorias variadas. Há ainda que destacar várias novas tipologias de armas, como as artes de combate corpo a corpo, os escudos com pontas afiadas ou as garrafas de perfumes que passam a poder ser usados indefinidamente, entre outras. Tudo isto confere a Shadow of the Erdtree uma profundidade e variedade estratégicas ainda mais impressionantes, oferecendo um número aparentemente infindável de opções e abordagens.

Ok, fazer festas na barriga é um não-não-não. Anotado!

E como enaltecer o RPG de ação com a maior profundidade estratégica e a maior variedade de abordagens que eu já vi? Com a introdução de novos inimigos e bosses que levam as nossas capacidades ao limite, como é óbvio! Sim, leram bem, eu referi bosses e inimigos comuns. Há uma mão cheia de novos inimigos comuns perfeitamente capazes de nos arruinar o dia num ápice se os abordarmos com demasiada garimpa, convencidos de que somos a última coca-cola do deserto. E se acrescentarmos a estes a mão cheia de bosses verdadeiramente desafiantes, que nos obrigam a pensar de forma inovadora face ao que encontrámos no jogo base, e que levam genuinamente ao limite a nossa capacidade de adaptação e o nosso conhecimento de todos os sistemas do jogo – ah, podem crer que temos aqui um caldo de desafio e sensação de conquista quase incomparável!

A sério, para além do incrível contributo para a história de todo o universo de Elden Ring, em Shadow of the Erdtree cruzamo-nos com alguns dos bosses que mais trabalho nos dão em todo o catálogo da FromSoft. Há dois ou três com um repertório de ataques e de habilidades tão incrivelmente vasto que mesmo depois de um número de mortes assinalável, ainda estava a levar com algo que nunca tinha visto antes. Em particular, o último boss da expansão (que não vou spoilar quem é, porque é o momento mais alto de toda esta experiência) tem uma quantidade de opções ofensivas tão absurdamente vasta, que cada novo encontro com o mesmo oferece sempre algo diferente do anterior.

Nunca mais me vou questionar onde deixei as minhas garras, os meus cogumelos ou os meus machados.

Uma última melhoria notável e muito bem-vinda introduzida com esta expansão diz respeito à gestão do inventário. Trata-se da introdução de um separador que organiza os itens pela ordem em que os adquirimos. Desde armas a encantamentos, de consumíveis a materiais para gerar outros itens, ou até de armaduras a mapas, Elden Ring tem milhares, e milhares, e milhares de itens. Como tal, encontrar novos itens nos variadíssimos menus podia ser algo confuso, sobretudo quando pertencia a uma categoria inesperada (por exemplo, talismãs que contam como armas e não como equipáveis). Por isso, este novo separador vem melhorar significativamente estes momentos do jogo. E o melho é que esta melhoria não se aplica apenas a esta expansão, mas também ao jogo base, melhorando retroativamente a qualidade de vida do mesmo.

De facto, Shadow of the Erdtree volta a ser uma experiência exímia, com um design de mundo, de inimigos e de jogabilidade inacreditavelmente refinado. Volta também a ser uma experiência visualmente belíssima e desoladora em iguais medidas, e volta a apresentar um design sonoro fenomenal e uma banda sonora original que fica no ouvido durante muito, muito tempo.

Estou a ter genuínas dificuldades em encontrar defeitos a apontar a esta expansão. A única coisa menos boa que consigo referir – e isto é estar quase a ir ao limite da minha mesquinhez -, é o facto do novo separador de novos itens ter de ser ativado nas definições. É algo bizarro uma melhoria deste calibre não vir ativada à partida. Mas não passa disso, de uma bizarria, de uma escolha estranha, e quase me sinto picuinhas por estar sequer a mencionar isto como um defeito de uma expansão que é irrepreensível em tudo o resto.

Gosto muito desta árvore, está completamente babada por mim.

Conclusões
Elden Ring: Shadow of the Erdtree é uma das melhores expansões de sempre, e marca um regresso de enorme qualidade a uma das melhores experiências da atual geração de consolas. Com um novo mapa fenomenalmente desenhado, inimigos e bosses novos que são tão divertidos de enfrentar quanto são desafiantes, e até melhorias funcionais que aumentam retroativamente a qualidade da experiência base, estamos perante uma expansão obrigatória para todos os fãs de Elden Ring, e de souls-like em geral. É uma expansão no verdadeiro sentido do termo, e estabelece uma nova fasquia da qualidade que queremos ver neste tipo de lançamentos daqui para a frente.

O Melhor:
  • Novo e expansivo mapa recheado de áreas para explorar e segredos para descobrir;
  • Narrativa mais simples de seguir, mas recheada de revelações e reviravoltas fascinantes;
  • Apresenta alguns dos bosses mais desafiantes de todo o mundo Elden Ring;
  • Sistema de progressão introduzido está brilhantemente bem implementado;
  • Nova tab de itens mais recentes é uma excelente melhoria na qualidade de vida do jogo, mas…

O Pior:
  • … É estranha a decisão de esconder a ativação desta tab nas definições.

Pontuação do GameForces – 10/10

Título: Elden Ring: Shadow of the Erdtree
Desenvolvedoras: FromSoftware
Publicadora: Bandai Namco
Ano: 2024

Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a PlayStation 5, através de um código gentilmente cedido pela Bandai Namco.

Autor da Análise: Filipe Castro Mesquita
Análise | Elden Ring: Shadow of the Erdtree – Divindade Encontrada Análise | Elden Ring: Shadow of the Erdtree – Divindade Encontrada Reviewed by Filipe Castro Mesquita on agosto 15, 2024 Rating: 5

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