Análise | BAKERU - Celebrar o Japão ao Som do Tambor

Embora seja comummente dito que os jogos Nintendo têm um "feel" específico, omisso nas propostas de outros criadores de jogos, a verdade é que muitos dos jogos publicados pela Nintendo não saem das mãos dos desenvolvedores da Nintendo. Uma boa parte das séries exclusivas da companhia são, na verdade, desenvolvidas atualmente por outras empresas; por exemplo, Luigi's Mansion passou para as mãos de Next Level Games, Super Smash Bros. é concebido numa parceria entre Sora Ltd. e Bandai Namco, e Metroid foi acolhido por MercurySteam e Retro Studios.

Com este conhecimento, torna-se intrigante conhecer o que estes estúdios parceiros criam quando esticam as asas e decidem construir um jogo multiplataforma, livre das amarras dos IPs e diretrizes da Nintendo. Assim nasceram experiências como HarmoKnight da GameFreak, Part-Time UFO da HAL Laboratory e, agora, BAKERU da Good-Feel, a desenvolvedora japonesa responsável por experiências como Yoshi's Crafted World e Princess Peach: Showtime!.

Sem as personagens icónicas da Nintendo, este platformer 3D introduz-nos a Bakeru: um Tanuki maroto com a missão de derrotar os espíritos malévolos que pretendem controlar o Japão através de um festival eterno. Esta missão é conduzida de prefeitura em prefeitura, com cada nível a corresponder a uma das grandes cidades do país. Esta conexão não se fica pela nomenclatura dos desafios: o próprio mapa do mundo corresponde à superfície do Japão, e os níveis aproveitam as cidades que os batizam na construção dos seus ambientes. Por exemplo, em Quioto participamos numa procissão de carros alegóricos do festival regional, enquanto em Nara visitamos o parque local recheado de veados e arquitetura antiga e em Gunma saltamos por plataformas sobre as suas famosas águas termais - numa direção que confere significado redobrado às áreas que atravessamos.

Toda esta inspiração e celebração da cultura japonesa é sobejamente impressionante graças aos belos visuais do título, com cores vibrantes e cativantes, um elevado nível de detalhe, animações primorosas, e um patamar de nitidez que é raro encontrar em jogos para a Nintendo Switch. Infelizmente, este estilo visual tem um custo: a taxa de fotogramas, que se mantém nos 60FPS nos momentos mais calmos, dá alguns mergulhos infelizes sempre que o ecrã fica mais preenchido de inimigos.

A maior parte dos níveis colocar-vos-á a correr e saltar por secções de platforming ou a explorar amplas áreas abertas encadeadas, mas também há o pontual nível em que temos de derrotar todos os inimigos para progredir, ou mesmo alguns desafios de corridas de carros ou dogfights no céu ao estilo de Star Fox! Diversidade não falta em BAKERU, e isso vê-se igualmente no combate: empunhando um tambor taiko, o jogador pode executar diferentes ataques corpo a corpo contra os diferentes inimigos, bem como desviar-se e contra-atacar as investidas dos adversários ou mesmo ricochetear os seus projéteis se se defender com timing perfeito. Não há nada de novo aqui, mas este sistema de combate complementa apropriadamente a exploração e mantém-se consistentemente empolgante; o jogo aposta não só numa boa variedade de oponentes, mas também no seu posicionamento inteligente para incitar uma estratégia de aproximação diferente a cada encontro.

Como se não bastasse, várias transformações são desbloqueadas à medida que progredimos. Cada uma faculta-nos novas opções de ataque, como golpes mais poderosos e ataques de longo alcance. Ao mesmo tempo, as formas extra do guaxinim acentuam o maior (e ainda assim pequeno) problema da jogabilidade de BAKERU: a ausência de lock-on. Quando realizamos ataques de longa distância em sucessão, temos pouco controlo sobre o nosso alvo; nestas situações, Bakeru regularmente preferiu atacar caixas de dinheiro inócuas na proximidade em vez dos diabólicos polvos distantes com a pontaria de John Wick. Mesmo quando estamos na forma normal da personagem, este problema faz-se sentir nalguns minibosses, que vão fugindo constantemente do nosso espaço de visão e tornando necessários ocasionais ajustes manuais da câmera no meio da ação. 

Ainda assim, esta questão raramente conduz a mortes injustas, pela baixa dificuldade global do título. Globalmente, a jogabilidade dos segmentos tradicionais segue a filosofia basilar dos outros jogos da empresa: a de proporcionar aventuras facílimas para que qualquer jogador as consiga terminar, mas com level design de qualidade e uma tonelada de itens coletáveis escondidos para manter a atenção dos mais experientes. Consequentemente, apesar de finalizar um nível ser divertido em si mesmo e de claramente existir uma modesta evolução da dificuldade ao longo da campanha, o verdadeiro apelo de BAKERU reside nos seus itens opcionais – o que aproxima bastante as cidades desta aventura das áreas jogáveis de Kirby and the Forgotten Land.


Cada prefeitura do Japão tem escondidos três souvenirs da região e cinco factos curiosos, que vão desde curiosidades biológicas do nosso corpo a informações peculiares sobre a arquitetura japonesa. Esta tipologia de objetivo opcional é genial: enquanto outros jogos de plataformas precisam de dar uma recompensa a quem encontra todos os seus segredos, BAKERU inclui colecionáveis recompensantes em si mesmo e individualmente! Existe ainda um terceiro segredo nalguns níveis, na forma de Tanukis escondidos: estes seres podem assumir a forma de uma decoração, como um guarda-sol ou um caixote do lixo, e temos de estar atentos às suas orelhas, cauda ou desenho da face para os conseguirmos detetar. Esta é uma subversão dos usuais colecionáveis que, em vez de estarem nos becos recônditos do mapa, estão escondidos à vista de todos, e obrigam-nos a desenvolver uma forma de atenção inovadora em relação ao que o resto do género nos ensinou!

Até o dinheiro que encontramos espalhado pelo mapa ou que recebemos dos inimigos derrotados é inquestionavelmente útil. Não só nos permite adquirir itens úteis para nos ajudar nos níveis, mas também é a chave para desbloquearmos o restante conteúdo facultativo da experiência. Fiquei agradavelmente surpreendido por, depois de comprar todas as máscaras cosméticas para o Bakeru e todas as melhorias possíveis, a minha carteira pesar tanto como uma pena de galinha – validando todo o tempo que dedicara a juntar um pé-de-meia na jornada e denotando uma economia melhor projetada do que a maioria dos jogos pelas eShops e Steams fora.

Tendo em conta o quão bem distribuídos e o quão valiosos são os colectáveis opcionais, só é pena que o caminho para os alcançar seja tão rígido. Entre as transformações e os ataques do nosso Tanuki, BAKERU oferece-nos algumas opções (limitadas) para movimentação expressiva que, em vez de serem devidamente capitalizadas como em Super Mario Odyssey, são absolutamente invalidadas pela praga das paredes invisíveis. Ações tão simples e prazerosas como saltar entre lances de escadas são impossíveis neste jogo, e a ilusão de que podemos alcançar uma plataforma distante torna-se especialmente amarga quando nos estatelamos contra uma barreira arbitrária e intransponível.




Conclusão

BAKERU é direto, é recheado de personalidade e, sobretudo, é divertido. O DNA na base de experiências como Yoshi’s Woolly World e Kirby’s Epic Yarn está em clara exibição neste memorável tour pelo Japão, originando um mundo que qualquer criança ou adulto apreciará superar e que os veteranos do gênero adorarão deslindar em busca dos seus segredos.

O melhor

  • Exploração e combate divertidos e bastante variados;
  • Itens opcionais satisfatórios de encontrar e de colecionar;
  • Apelativo para todas as faixas etárias;
  • Estilo visual colorido e apelativo;
  • Forte relação com a cultura japonesa.
O pior
  • Quedas frequentes da taxa de fotogramas;
  • Paredes invisíveis excessivas.

Nota do GameForces: 9.0


Título: BAKERU
Desenvolvedoras: Good-Feel
Publicadora: Spike Chunsoft
Ano: 2023-2024

Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a Nintendo Switch, através de um código gentilmente cedido pela Spike Chunsoft.

Autor da Análise: Tiago Sá


Análise | BAKERU - Celebrar o Japão ao Som do Tambor Análise | BAKERU - Celebrar o Japão ao Som do Tambor Reviewed by Tiago Sá on agosto 25, 2024 Rating: 5

Sem comentários:

Com tecnologia do Blogger.