Análise | Capes - Boas ideias estratégicas

 O mundo dos videojogos cresceu imenso nos últimos anos de forma inegável, seja  na quantidade de pessoas que abraçaram este universo ou nos abundantes e variados jogos que vão aparecendo no mercado. Enquanto alguns títulos ou géneros apelam mais às massas, existem outros que germinam em nichos. Entre esses, um género que pessoalmente aprecio são jogos de estratégia por turnos. Apesar de haver bastantes títulos para Pc, para as consolas é algo raro, e quando vão aparecendo, tento dar oportunidades a todos. E, assim, chegamos então a Capes.

 Mas será que este título apela somente aos apreciadores deste género ou poderá quebrar aqui uma ou outra barreira e invocar novos jogadores?

A desenvolvedora Spitfire Interactive pegou num tema de super-heróis e criou uma história sólida, obscura e bem estruturada. Numa cidade governada simplesmente pela The Company, uma empresa de super-vilões que implacavelmente proíbe o uso de superpoderes e impera com um clima de medo e pressão. Mas não poderiamos ter um mote destes sem que apareça um raio de luz, uma réstia de esperança para salvar a humanidade. E é aí que aparece a nossa equipa designada por Capes, com vários heróis com habilidades, personalidades e narrativas distintas. Ao longo do jogo vamos salvando outras personagens para assim robustecer esta resistência, liderada por um herói veterano que me parece ter sido bastante inspirado (bem como parte do enredo em boa verdade) na série The Boys (que desde já também recomendo).

É interessante perceber que o enredo vai evoluindo de uma forma bastante gradual e a par e passo com a jogabilidade, criando aqui um interesse ao jogador em avançar na história e perceber o quão diferente pode ser a próxima missão, seja usando novos heróis ou descobrindo a nova trama que nos espera. Um ponto positivo também é a variedade no género de missões que nos são apresentadas. Seja defender um humano, derrotar um boss, conduzir uma operação furtiva ou chegar a um ponto especifico, esta diversidade mantém-nos sempre expectantes como proceder na missão.

E se o enredo é complexo e interessante, a jogabilidade também não lhe fica um turno atrás. Como já mencionamos, Capes é um jogo de estratégia por turnos, com mecânicas muito próprias. Cada herói tem as suas próprias habilidades distintas dos demais, e teremos que cuidadosamente selecioná-las gastando os pontos de ação disponíveis para o personagem. Portanto, entre gastarmos os pontos de movimentos e os pontos de ação, olhando para quem irá ter o próximo turno (se um dos nossos heróis ou um inimigo), temos que planear uma série de jogadas para assim passarmos cada missão. Uma inclusão interessante neste título, é que se os nossos heróis estiverem relativamente perto uns dos outros no mapa, poderão usar habilidades combinadas, desafiando aqui o jogador a ponderar o posicionamento final dos personagens e criando uma sensação de cooperação da equipa.

Podemos também evoluir as nossos personagens de duas maneiras. A mais simples é fazer missões com elas, nas quais ganhamos pontos de experiencia automaticamente aquando da sua finalização. Neste ponto, tenho a referir que senti que esta evolução é um pouco abrupta, pois para evoluirmos do nível 2 para 3 basta algumas missões, já de nível 3 para 4, a quantidade de XP é absurda, obrigando-nos a repetir várias missões, o que se pode traduzir em ficarmos agastados com esta repetição.

A segunda maneira passa por usarmos pontos de habilidades, seja para melhorar as já existentes ou desbloquear novas, o que traz mais uma componente estratégica a este título. Estes pontos são conseguidos se completarmos objetivos secundários nas missões, como por exemplo vencer num determinado turno, não deixar nenhum dos nossos heróis ficar inanimado ou mesmo usar várias vezes uma determinada habilidade. É interessante perceber que cada super-herói tem as suas vantagens e fraquezas, e que nenhum é claramente superior a outro, havendo um equilíbrio bastante positivo onde novamente temos que ter uma capacidade de planeamento e execução afinada.

Já a curva de dificuldade demonstra aqui algumas falhas e é bastante desequilibrada. Apesar de podermos escolher o modo de dificuldade (casual, normal (aquele que usamos para completar o jogo) e hardcore), há certas missões que estão demasiado difíceis e são em seguida contrapostas por outras demasiado fáceis, o que no primeiro caso pode ser frustrante e manchar o progresso que deveria ser uma curva natural e no segundo pode se tornar aborrecido.

Em aspetos gráficos, Capes é nos presenteado com um grafismo cartoonesco no género de banda desenhada, com cores vibrantes que vão contrastando entre a fria e sinistra cidade e a aura positiva e alegre da nossa base, com animações fluidas e sem qualquer quebra de frames (durante o tempo que investi neste título). Senti somente alguma dificuldade em certos momentos nos quais a visibilidade do jogo estava condicionada na transição entre níveis verticais do mapa. Por exemplo, quando passava de um plano terrestre para o topo de um prédio, a câmara demorou alguns momentos a ajustar-se ao plano que pretendia. 

Já a ambientação sonora está bem delineada e ajuda a assegurar a envolvência do jogador no jogo, seja através de uma banda sonora baseada em musicas eletrónicas, através dos efeitos sonoros bem conseguidos ou mesmo da narração dada às vozes das personagens. 

Conclusão

Como referi no inicio, jogos de estratégia por turnos são poucos mas posso dizer: poucos mas bons e Capes entra nesta categoria. Aparece com uma identidade própria num tema que poderia se tornar desinspirado, e que se mune de várias estratégias bem conseguidas para se fincar neste cantinho de videojogos. Acredito que jogadores que se queiram embrenhar neste género poderão ter aqui o seu título de entrada.

O Melhor:

• Enredo interessante;
• Nível estratégico bem delineado e diversificado;
• Jogabilidade cativante;

O Pior:

• Curva de dificuldade com algumas falhas;
• Evolução de personagens díspar;
• Alguns problemas com a camara de visualização;

Pontuação do GameForces – 8/10

Título: Capes

Desenvolvedora: Spitfire Interactive

Publicadora: Daedalic Entertainment

Ano: 2024

Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a PlayStation 5, através de um código gentilmente cedido pela Daedalic Entertainment.

Autor da Análise: Filipe Martins