Retrospetiva | Pokémon Red, Blue & Yellow – Início Mais que Imperfeito de Uma Série Lendária


Olá. Como estão? Tudo bem? Bem-vindos a uma “nova” rubrica por estes cantos da cobertura online de videojogos. Não é bem nova porque já nos tínhamos aventurado pela retro-análise de clássicos antes (naquela grande semana que dedicámos a Paper Mario, por exemplo). Mas é nova porque agora estamos a tomar a iniciativa de tornar esta rubrica um pouco mais recorrente e com um formato específico. E claro que tudo isto tinha de começar com o Pokémon… e pelo teclado no nosso fanático por Pokémon aqui residente. Sim, chegou aquela altura em que este vosso ilustre redator se sentiu novamente motivado para rejogar todos os jogos Pokémon. E sim, tinha de começar pelos primórdios de todo o franchise. Assim, fiquem aqui com um olhar moderno sobre a primeiríssima geração de Pokémon, para perceber se esta ainda me encanta, ou se a passagem do tempo foi cruel para com estes jogos.


História Pessoal – Fanático Desde o Primeiro Dia

 
Creio que referi isto em todos os artigos e todas as análises que já escrevi sobre os jogos Pokémon, mas para quem cá não andava ainda, volto a repetir: eu sou fã destes jogos praticamente desde o primeiro dia em que chegaram a Portugal. Tinha eu 6 aninhos, mal sabia ler, quanto mais em inglês, e nem fazia ideia de como a indústria dos jogos funcionava. Mas os meus pais viam que eu era vidrado pelo meu GameBoy, e, portanto, prestaram mais atenção aos zunzuns e descobriram um par de jogos que iriam mudar a minha vida para sempre: Pokémon Red & Blue. Sendo eu mais fã de dragões do que de tartarugas (mesmo aquelas que empunham canhões), optei pela versão Red, e dei início a uma viagem que perdura até hoje. E precisamente por isso, é que me vou deixar levar pelo sentimentalismo e optar por rejogar esta mesma versão para este artigo.

E não foi só pelos jogos que fiquei imediatamente cativado. Mais ou menos nessa mesma altura, estava a série animada a estrear-se na televisão portuguesa, começavam a sair as cartas colecionáveis e, se bem me lembro, começavam também a sair, muito pouco depois, os famosos tazos que encontrávamos em pacotes de batatas fritas ou de aperitivos. Sim, eu mergulhei, desde muito cedo, em tudo o que havia sobre Pokémon. Pese embora agora, já na casa dos 30, tenha ultrapassado muito do que o enorme franchise de Pokémon produz e coloca no mercado, o amor pelos jogos, por onde tudo começou, permanece forte mais de um quarto de século depois.


O Bom – 151 Motivos Para Amar


Para qualquer fã de Pokémon, será muito fácil enunciar o que de bom estes jogos fizeram. Apresentaram 151 das criaturas mais icónicas do mundo, tanto em videojogos, como na cultura popular em geral. O sistema de “pedra-papel-tesoura” entre 15 tipologias diferentes de criaturas é, também, impressionante, levando a uma profundidade tática muito boa. De resto, há sempre que louvar alguns elementos da história, como a presença do melhor rival de toda a série até ao momento, e uma das equipas maléficas mais bem conseguidas (se não mesmo a mais bem conseguida) até agora, muito devido ao seu líder Giovanni. Embora acabe por ver como uma espécie de faca de dois gumes – e já lá vamos ao porquê – a dificuldade do jogo é também louvável. O caminho de um ginásio para o próximo está sempre repleto de desafios, e esses confrontos pelos crachás são alguns dos mais complicados de toda a série. Estes obrigam até jogadores tão experientes quanto eu a ter de planear muito bem o que fazer em cada momento, enaltecendo a diversão deste sistema de combate por turnos.

De facto, estes jogos, estes monstros e toda a região de Kanto continuam a ser tremendamente icónicos até hoje. E embora muito disso possa ser atribuído a uma nostalgia quase sem paralelo – basta procurarem pelo termo “genwunner” para verem o pico desta nostalgia -, não podemos descurar muita da qualidade do que é aqui apresentado. O mapa está muitíssimo bem desenhado, as pequenas quests para as quais o jogo nos atira são provocadoras, as reviravoltas são cativantes, e até o pós-jogo foi algo bastante incomum para a altura. Juntando a isto uma banda sonora de topo para o Game Boy e uma arte de píxeis (maioritariamente) muito boa, e dá para perceber o enorme impacto que estes primeiros jogos tiveram nas crianças de várias gerações, bem como na cultura popular em geral.


O Mau – (Quase) 151 Problemas a Acompanhar


Para quem já não pega nestes jogos há muito tempo – o que é natural, dada a existência de dois remakes diferentes -, pode não se lembrar que esta primeira geração de Pokémon está repleta de problemas. Os mais clamorosos são os problemas relacionados com as tipologias dos monstros e dos ataques. Vamos por partes, começando pelo facto de haver uma tipologia claramente mais poderosas que as outras: Psychic. Isto porque todos os ataques que exploram a fraqueza destes Pokémon – de Bug e de Ghost – são fraquíssimos, sendo praticamente inúteis. Para acrescentar à festa, todos os Pokémon dessas tipologias acabam por ser fracos contra uma série de ataques do tipo Psychic, e mesmo os que não são, não aprendem estes ataques mais eficazes. E nem me venham falar do tipo Dragon, para o qual apenas há três monstros, e cujo único ataque da mesma tipologia desfere dano fixo.

Há, portanto, falhas fundamentais no sistema de batalha e de forças/fraquezas das várias tipologias. Mas não acabam aqui os problemas desta natureza. Há uma série de ataques que prendem literalmente os adversários (como é o caso de Wrap ou Fire Spin), deixando-os incapazes de fazerem seja o que for, a não ser serem substituídos… correndo o risco de continuarem presos. Pior, há um ataque (Rage) que deixa o nosso Pokémon preso num loop de ataque contínuo e que, caso comece a falhar ataques por algum motivo, ficamos totalmente incapazes de fazer seja o que for. Estes são apenas alguns exemplos de problemas graves do sistema de batalha, havendo muitos mais por referir. Mas ilustra bem que, apesar de inovador e envolvente, há falhas gravíssimas no design destes jogos.

Outro problema grande é a existência de dois saltos de dificuldade enormes. Do quarto para o quinto ginásio e do último crachá para a Pokémon League. Se no segundo caso até se pode “desculpar” em parte o salto súbito de dificuldade por ser o derradeiro desafio do jogo, o primeiro é um salto bizarro. Há muito para fazer entre a primeira e a segunda metade dos ginásios, mas tudo isso apenas nos coloca perante Pokémon e treinadores com equipas na casa do nível 20. E esse ginásio apresenta Pokémon em níveis na casa dos 40. É um salto enorme de níveis para o qual é impossível de preparamo-nos sem uma quantidade substancial de grind, sobretudo se já tivermos a nossa equipa de seis monstros completa.


O Velho – Falta de Qualidade de Vida Retira Muito Ar


Para surpresa de (quase) ninguém, há alguns aspetos nos quais estes jogos da primeira geração de Pokémon. A começar precisamente pelo seu aspeto. Embora tenha elogiado uma boa parte da arte por pixéis destes jogos, há que criticar os designs dos monstros que estão na base de todo o franchise. Mesmo para a altura, era bizarro comparar o aspeto de tantas das 151 criaturas destes jogos com as que víamos no anime ou nas cartas. Era como passar da noite para o dia, com o que víamos (e vemos) nos jogos a sair a perder por larga margem. Mas se olhar para Geodude, Sandslash ou Golbat de frente era um choque, nem sei como comparar com a vista “de trás,” do ponto de vista do treinador. Charizard e Mewtwo, para usar dois dos Pokémon mais populares como exemplo, parecem reduzidos aos seus esqueletos, e mesmo alguns dos que até parecem manter uma forma mais saudável, estão tão incrivelmente pixelizados que mal dá para perceber que estamos a olhar para algo mais do que uma mancha.

Mas a grande medalha de latão de toda esta experiência vai para a falta de qualidade de vida destes primeiros jogos. Desde uma mochila capaz de armazenar apenas uma dúzia de itens diferentes, obrigando a uma aborrecida gestão de inventário, à falta de diferenciação da estatística de “Special” entre defesa e ataque (já para não falar da falta de clareza quanto à tipologia de ataques afetados por essa stat), e ainda pela falta de clareza dos efeitos de cada ataque dos nossos monstros (o que torna a gestão dos HMs ainda mais indutora de pesadelos do que devia). Enfim, estas são algumas das vertentes destes jogos cujo envelhecimento mais choca de frente com o que encontramos em jogos com design mais moderno, e que mais podem ferir as sensibilidades dos jogadores mais novos ou que estejam a pegar nestes jogos pela primeira vez, mas haveria ainda mais por onde pegar.


Conclusão

É interessante voltar onde tudo começou tantos anos mais tarde e com tantos mais jogos completados na minha vida. Pokémon Red, Blue & Yellow continuam a ser um começo competente de uma das mais míticas séries de jogos e de entretenimento de sempre, mas há, objetivamente falando, muito por onde criticar. Ainda que tenham sido a rampa de lançamento de jogos tão amados, e que nos tenham introduzido a algumas das criaturas mais icónicas e a algumas das personagens mais memoráveis de todo o franchise, há entradas bem mais solarengas deste ponto no tempo para a frente. Regressar a Kanto vale sempre a pena, mas ficarão melhor servidos se o fizerem com os remakes que saíram uns quantos anos mais tarde.

Retro-Pontuação GameForces: 6/10

Títulos: Pokémon Red, Blue & Yellow
Desenvolvedora: Game Freak
Publicadora: Nintendo
Anos de Lançamento Originais: 1999 (R&B), 2000 (Y)
Disponibilidade em Plataformas Modernas: Indisponíveis

Autor da Análise: Filipe Castro Mesquita
Retrospetiva | Pokémon Red, Blue & Yellow – Início Mais que Imperfeito de Uma Série Lendária Retrospetiva | Pokémon Red, Blue & Yellow – Início Mais que Imperfeito de Uma Série Lendária Reviewed by Filipe Castro Mesquita on maio 15, 2024 Rating: 5

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