Retrospetiva | Pokémon Gold, Silver & Crystal – Sequela Quase “Mais Que Perfeita”


Eu sei, eu sei. Depois de um breve interregno com Jak & Daxter, estou já a voltar para o mundo dos Pokémon? Podem crer que sim. Quando no artigo de Red, Blue & Yellow disse que me tinha sentido motivado a passar por todas as aventuras deste franchise, não estava a brincar. Depois de ganhar balanço com esses primeiros jogos, tenho de admitir que é com bastante entusiasmo que mergulho na segunda geração e no mundo de Johto. Até porque a impressão que tenho desta geração e a de ser a melhor até à data, é de ser uma sequela a roçar a perfeição. Estará a minha memória correta? Vamos descobrir isso e, mais importante ainda, vamos descobrir como é jogar estes jogos mais de 20 anos depois dos seus lançamentos originais.


História Pessoal – Aprendizagem da Palavra Sequela


Quando ouvi falar em Pokémon Gold & Silver pela primeira vez, já sabia ler, e até já me safava bastante bem (para a idade) tanto com a língua portuguesa como com a inglesa. Mas havia uma palavra que eu desconhecia completamente em ambas as línguas, e que aprendi quando ouvi falar destes jogos: sequela. Tenho a vaga memória de pensar algo do género “Como assim um novo jogo que pega no que foi feito pelo anterior, e vai tentar ser maior e melhor?” E foi assim, que um pequeno Filipe, ainda sem grandes noções de como funciona a arte, a cultura ou o entretenimento, aprendeu uma nova palavra. E caso os meus pais estejam a ler isto: estão a ver como sempre aprendia qualquer coisa com videojogos?

Voltando ao assunto, creio que podem imaginar como é que um rapazote de 8 ou 9 anos, obcecado por Charizard’s e Alakazam’s (mas nunca por Pikachu’s), se sentiu quando percebeu que vinha aí mais Pokémon, com mais monstros, mais crachás e toda uma nova região para explorar. Podem crer que houve guinchos estridentes. Depois disso, foram horas, e horas, e horas a capturar todos os novos Pokémon, a experimentar com diferentes equipas, e até a enfrentar amigos e colegas de escola em batalhas infindáveis. Posso genuinamente dizer que foi com estes jogos que passei alguns dos meus melhores momentos em idade escolar, e é com grande prazer que agora regresso a Pokémon Crystal para este artigo.


O Bom – Melhorias em Quase Tudo


Ora bem, por onde hei de começar? Pokémon Gold, Silver & Crystal são superiores aos jogos que os antecederam em quase, quase tudo. Os designs dos monstros estão muito mais próximos daquilo que conhecemos hoje – embora ainda haja uma imperfeição estranha aqui e ali. As várias tipologias de Pokémon estão muito melhor representadas, tanto pelos monstros em si, como pelos ataques que estes podem aprender e usar em batalha. Para além disso, a introdução de duas novas tipologias – Steel e Dark – acrescenta muitíssimo à profundidade estratégica e colmata os problemas de equilíbrio que havia apontado nos jogos da primeira geração. A estatística de Special foi desdobrada para distinguir ataque e defesa, ajudando a clarificar um aspeto confuso e difícil de gerir nos primeiros jogos. E a mochila de itens passa a estar dividida em diferentes secções (uma para bolas, outra para berries, por aí em diante), tornando a gestão dos mesmos muitíssimo, muitíssimo melhor.

Mas não somente foram consideradas melhorias, pois esta geração introduz uma série de novidades. Para além de 100 novos monstros e dezenas de novos ataques, é a partir desta geração que passa a ser possível dar itens para os Pokémon segurarem, o que também aumenta o leque de opções estratégias ao nosso dispor. É a partir daqui que passa a haver um sistema de dia e de noite, que influencia os monstros selvagens que podemos encontrar ou que podemos evoluir. Introduz ainda a possibilidade de procriar e de chocar ovos de Pokémon, novas bolas especializadas, novos métodos de evolução (com destaque para a estatística invisível da amizade, que ainda hoje se mantém fulcral para muitos aspetos destes jogos), e ainda eventos diários ou semanais. Honestamente, é um salto qualitativo e quantitativo gigante em relação à primeira geração, e uma lição de mestre em como uma sequela deve ser pensada e executada.


O Mau – Só de Passagem Por Kanto


Ah, isto foi um golpe pelo qual eu não esperava. Nas minhas memórias, o pós-jogo desta geração era a cereja no topo do bolo de uma experiência fenomenal. E não me interpretem mal, o regresso a Kanto é algo que ainda hoje me entusiasma e que experiencio com enorme prazer sempre que a segunda geração de Pokémon me vem parar às mãos. Mas desta vez, ao vasculhar esta secção do jogo com um olhar mais crítico, tenho de admitir que não é tudo aquilo que eu me lembrava.

Tirando os óculos cor-de-rosa da nostalgia, apercebo-me que este regresso a Kanto passa a correr, com o jogo a incentivar-me a conquistar os 8 ginásios e seus crachás a despachar. Desatracar em Vermilion City, ginásio; subir para Saffron, ginásio; desviar-me para Celadon City, ginásio. Apenas encontramos side quests que dão um pouco mais de sumo a esta parte do jogo para o ginásio de Cerulean City e para adquirir o passe de comboio que confere mais uma opção de viagem entre ambas as regiões deste jogo. No fim de contas, isto acaba por saber a pouco.

Continua a ser espetacular voltar a pisar terras familiares, e ver como os três anos que se passaram desde que capturamos Mewtwo na pele de Red afetaram e mudaram esta região e a sua população. Mas gostava que houvesse aqui algo mais. Algo que me ligasse mais à aventura anterior para além de conhecer Oak e enfrentar Blue, Red e companhia em batalhas. Algo que piscasse mais o olho aos conflitos com Team Rocket, ou que criasse um maior paralelismo entre a nossa nova personagem e o protagonista anterior. Enfim, este regresso a Kanto não é mau, longe disso. Mas em 2024, senti que a forma como o jogo quer que despachemos este “regresso a casa” o é.


O Velho – Picos de Dificuldade Inconsistentes


Bem, e lá terei de ser repetitivo face ao artigo que escrevi para os primeiros jogos deste franchise. Sim, o que de mais velho aqui encontro prende-se com os picos de dificuldade. Não são tão graves nem tão danosos para o prazer da experiência como os que acontecem em Pokémon Red, Blue & Yellow, mas são dignos de registo por chocarem de frente com o resto do jogo. É que esta segunda geração de Pokémon é tão… fácil. A grande maioria do jogo é um passeio completo, quase nunca sentindo qualquer necessidade de “farmar” experiência ou de “grind” de qualquer natureza. A não ser em dois momentos de toda esta viagem por duas regiões: a grande e climática batalha final contra Red e contra Whitney, a líder do ginásio do terceiro crachá de Johto.

Quanto à batalha contra Red, o único problema é o facto de não haver um único sítio em Kanto ou em Johto que me permita treinar Feraligatr e companhia ao ponto de preparar a minha equipa para uma das batalhas mais desafiantes de toda a história deste franchise. Mesmo a caverna onde Red se encontra apresenta monstros entre 30 e 40 níveis abaixo da equipa do desafiante treinador, o que torna este processo bastante penoso. Já quanto a Whitney, tenho apenas duas palavras a dizer: Miltank e Rollout. Se não sentiram um calafrio na espinha, das duas uma: ou não jogaram estes jogos quando eram mais novos, ou recalcaram imenso essas memórias. É um obstáculo exageradamente elevado e que, ainda nos dias de hoje, pode perfeitamente apanhar um jogador menos experiente desprevenido, e custa-me a entender a existência deste pico de dificuldade tão súbito.


Conclusão

Foi bom confirmar que a minha impressão acerca da segunda geração de Pokémon estava maioritariamente correta: o pacote de Pokémon Gold, Silver & Crystal é uma sequela fenomenal. Maior e melhor em tudo quando comparada com a primeira geração, esta viagem por Johto continua a ser o meu exemplo de uma sequela a roçar a perfeição. Surpreendentemente, apenas me senti desiludido pelo regresso a Kanto, que sendo parte do melhor pós-jogo de que tenho memória, passa demasiado a correr e coloca-nos perante desafios muito pouco variados. É certo que há versões mais apelativas destes jogos por aí (e prometo que lá chegaremos um dia), mas é com imenso agrado que ainda posso dizer que a segunda geração continua a ser o auge de toda a série.

Retro-Pontuação GameForces: 9/10

Títulos: Pokémon Gold, Silver & Crystal
Desenvolvedora: Game Freak
Publicadora: Nintendo
Anos de Lançamento Originais: 2001 (G&S) & 2002 (C)
Disponibilidade em Plataformas Modernas: Indisponíveis

Autor da Retrospetiva: Filipe Castro Mesquita
Retrospetiva | Pokémon Gold, Silver & Crystal – Sequela Quase “Mais Que Perfeita” Retrospetiva | Pokémon Gold, Silver & Crystal – Sequela Quase “Mais Que Perfeita” Reviewed by Filipe Castro Mesquita on maio 29, 2024 Rating: 5

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