Já
quanto ao combate, tenho de admitir que não me encheu as medidas. Não é mau de
todo, longe disso. Mas estabelece uma base e não foge muito disso. Zau tem duas
máscaras na sua posse: uma alusiva à lua, e outra ao sol. A primeira confere ao
protagonista a habilidade de realizar ataques de longo alcance, disparando
flechas de energia e, eventualmente, de gelo; já a segunda permite realizar
fortes ataque corpo a corpo e, eventualmente, desferir golpes de fogo. Para
cada máscara, há um ataque base, um ataque forte e um ataque especial mais
devastador.
Adicionalmente,
cada máscara tem a sua própria linha de melhorias, que vão tornando os nossos
ataques mais potentes ou mais frequentes, acrescentando apenas uma nova
habilidade ou duas. No fim de contas, estas linhas de melhorias acrescentam
muito, muito pouco à jogabilidade de combate, fazendo com que estes momentos
sejam muito repetitivos. Combater no início do jogo, ou no fim do jogo é quase
a mesma coisa, difere apenas o dano que desferimos ou as habilidades dos
inimigos que enfrentamos.
Felizmente,
mesmo com esta repetibilidade, enfrentar os bosses do jogo é sempre um momento
alto da experiência. Estes apresentam-se sempre como os desafios mais
distintivos de toda a experiência, colocando-nos dificuldades únicas que não
encontramos em mais nenhum confronto do jogo. Atacar estes bosses ou inimigos
comuns não é muito diferente, mas o mero facto de serem adversários muito mais
imponentes, com um leque de ataques com uma área de efeito mais ampla, faz com
que a nossa margem de manobra seja mais apertada, e obriga a movimentações e
variações defensivas e ofensivas bastante distintas.
Não
obstante a simplicidade e repetibilidade excessivas do sistema de combate serem
algo que acho que podia ser melhorado, há dois problemas de maior importância e
relevância que Tales of Kenzera: Tau apresenta – e são ambos bugs
irritantes que perturbam a experiência. O primeiro, e o mais óbvio, é o bug do
fecho do mapa. Num metroidvania, há uma ação que qualquer jogador
realiza tantas vezes quanto o salto – a abertura do mapa. Naturalmente, neste
jogo isso não é exceção. Foram centenas as vezes que abri o mapa para ver qual
o melhor caminho a seguir, ou para estudar o percurso que tinha imediatamente à
minha frente.
O
problema aqui é que, ao fechar o mapa, a movimentação de Zau é travada. Ou
seja, se fechamos o mapa com Zau em movimento, este para no lugar onde está.
Mais, se fechamos o mapa e carregamos imediatamente no botão direcional ou no
analógico, este não funciona e Zau permanece no sítio onde está até pararmos o
comando de movimento e o retomarmos. Isto é muitíssimo problemático para a
fluidez do jogo. Perdi a conta à quantidade de vezes que fechei o mapa apenas
para me deparar com Zau ali especado à espera de um comando… que eu lhe estava
a dar, mas o jogo não lia.
O
segundo bug não só perturba a fluidez do jogo, como leva a uma boa dose de
mortes perfeitamente desnecessárias e frustrantes. Zau tem uma habilidade de
esquiva que funciona tanto no ar como em terra, e a dada altura adquire uma
habilidade que torna esta esquiva mais poderosa, para poder partir algumas
paredes. O problema é que ambas as esquivas interagem de forma bizarra com as
paredes, chãos e tetos dos ambientes que atravessamos. Se estivermos agarrados
a uma parede, a esquiva na direção oposta é impossível. E mesmo no chão ou no
ar, se a esquiva implicar um ligeiro raspão numa qualquer superfície, Zau cai
imediatamente a seguir ao mesmo. Foram tantas, tantas as vezes que vi Zau cair
para a sua morte após uma esquiva durante a qual um pixel raspou num teto. E
garanto que cada morte assim era mais frustrante que a anterior.
A
boa notícia é que, fora estes dois bugs, Tales of Kenzera: Zau é um jogo
que se porta muitíssimo bem do ponto de vista técnico. O jogo corre
consistentemente a 60 fotogramas por segundo, sem quebras notáveis quer durante
as sequências de plataformas recheadas de efeitos de partículas no ambiente,
quer durante os momentos de combate em que enfrentamos mãos cheias de inimigos
que nos atacam ao mesmo tempo. O tempo de regresso ao jogo depois de uma morte
também é rapidíssimo, o que atenua um pouco (não totalmente) a irritação
causada pelo bug que mencionei no parágrafo anterior.
Como
até já tinha aludido antes, a direção artística deste jogo é absolutamente
sublime. As cores do mundo são sempre fortes, vívidas e extremamente
apelativas. Os designs de criaturas são sempre interessantes e bastante
diferentes daquilo que costumo ver em videojogos. As animações de Zau, dos seus
ataques e de todas as criaturas que enfrentamos são também muito, muito boas. Apenas
achei bizarros os modelos das personagens humanas. As proporções e os olhares
gélidos são estranhos, e destoam bastante da vivacidade de tudo o resto que o
jogo tem para nos regalar a vista.
Uma
última palavra de apreço também para todo o design sonoro de Tales of
Kenzera: Zau. A banda sonora é toda muito boa, e está bastante bem
implementada com os momentos mais impactantes do jogo, acentuando tudo o que
Zau vai sentindo enquanto luta contra os demónios, sejam eles exteriores ou
interiores. Os efeitos sonoros são um pouco menos memoráveis, mas são
competentes, acompanhando com qualidade suficiente as ações que vamos
desempenhando e o impacto que estas têm no mundo.
Conclusão
Tales of Kenzara: Zau é um metroidvania tocante, emocionante e emocional que retrata muitíssimo bem literal e metaforicamente a dor de uma perda e o subsequente processo de luto. A narrativa é fortíssima e o seu mundo é um deleite de descobrir e de explorar, faltando apenas um sistema de combate mais robusto e a resolução de alguns problemas para ser uma experiência que nos leve ao céu. Ainda assim, não tenho dúvidas de que os fãs deste género encontrarão aqui uma experiência absolutamente cativante e marcante.
O
Melhor:
O
Pior:
Título:
Tales of Kenzera: Zau
Desenvolvedora: Surgent Studios
Publicadora: EA Originals
Ano: 2024
Nota: Esta análise foi realizada
com base na versão digital do jogo para PC, através de um código gentilmente
cedido pela Electronic Arts
Autor
da Análise: Filipe Castro Mesquita
Tales of Kenzara: Zau é um metroidvania tocante, emocionante e emocional que retrata muitíssimo bem literal e metaforicamente a dor de uma perda e o subsequente processo de luto. A narrativa é fortíssima e o seu mundo é um deleite de descobrir e de explorar, faltando apenas um sistema de combate mais robusto e a resolução de alguns problemas para ser uma experiência que nos leve ao céu. Ainda assim, não tenho dúvidas de que os fãs deste género encontrarão aqui uma experiência absolutamente cativante e marcante.
- História profundamente tocante sobre perda e luto
- Mapa amplo, variado e repleto de segredos para descobrir
- Inspiração em mitologia africana oferece um contexto apelativo e diferente
- Direção artística atrativa, com cenários coloridos e vibrantes, mas…
- … Os modelos das personagens são algo bizarros
- Combate demasiado simples e repetitivo
- Dois bugs problemáticos que atrapalham a experiência
Pontuação
do GameForces – 8/10
Desenvolvedora: Surgent Studios
Publicadora: EA Originals
Ano: 2024
Análise | Tales of Kenzera: Zau – A Vã Luta Contra o Luto
Reviewed by Filipe Castro Mesquita
on
maio 03, 2024
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