“Atinja o topo da alta sociedade à base da chapada!”. É esta a proposta que inaugura a página de Rose and Camellia Collection na Nintendo eShop, e também o e-mail que continha o código para análise desta inusitada coleção. Tal como a troca do nosso quarto de hotel por uma suite sem custos acrescidos ou a adição de ananás extra na pizza, esta é daquelas ofertas que apenas um lunático recusaria. Num vácuo, a história das mulheres da família aristocrata japonesa Tsubakikoji e decorrentes conflitos de poder, contada ao longo de 2 cenários antigos lançados originalmente em Flash e duas continuações inéditas, bem como o episódio extra independente a girar em torno da protagonista de La-Mulana, normalmente não seriam suficientes para me fazer morder o isco do código, mesmo com os distintivos e memoráveis estilos artísticos e musicais em que são apresentados. Foram as lapadas secas que selaram o meu interesse: com pancadaria à mistura, podem convidar-me para assistir futebol, solitário ou ver pão a descongelar no microondas, e eu garanto-vos que estarei tão perto quanto possível da ação a abanar vigorosamente cachecóis, bandeiras e tudo o que mais me couber nas mãos!
Rose and Camellia Collection sustenta a lucidez inerente a este salto de fé, porque as lutas não desiludem. Cada confronto funciona como uma espécie de Punch Out por turnos: durante a sua ronda, o jogador tenta acertar no adversário, falhando se não o golpear até ao final do tempo ou se o atacar enquanto ele se esquiva; na ronda do oponente, o jogador procura esquivar-se e, se conseguir enganar o oponente, estilhaçar os seus incisivos com um contra-ataque.
É um sistema extremamente simples, mas eficaz e absorvente, com uma jogabilidade por movimentos e por toque surpreendentemente responsiva em que as mecânicas de esquivas e falsos murros convertem cada batalha num jogo mental – tanto que, nesta experiência basilar, apenas posso dirigir uma crítica mais incisiva à escassez/brevidade de animações, um problema inócuo nos menus mas comprometedor da nossa capacidade de reação nos duelos, ao obrigar-nos a engolir uma ou duas investidas do oponente antes de decifrarmos o timing certo para o deixar a estalar o vento.
Na realidade, o grande problema da jogabilidade consiste no que não está nela: um aprofundamento mecânico faria milagres pela diversidade e memorabilidade da experiência, seja através da introdução de telltales menos convencionais aos oponentes (numa reinterpretação mais agilizada do sistema Perceive de Apollo Justice: Ace Attorney), seja pela expansão do nosso rol de ações, ambas ideias que o jogo experimenta mas com pinças e tremeliques.
Também podia trucidar o funcionamento do combate por não ser suficientemente inovador ou refrescante face às suas inspirações mas, quando a iniciei, não tencionava escrutinar esta coleção como um mágico de um só truque, mas sim julgar o combate em função da outra face da moeda: o drama da mui nobre família Tsubakikoji. Com base na descrição de Rose & Camellia, antecipava uma distribuição de tempo de jogo similar à de AI: The Somnium Files, em que os momentos de jogabilidade mais envolvida pontuam uma trama complexa, arrebatadora, suficiente séria e longa – numa direção que capitalizaria na perfeição a ironia e ridículo que me tinham conquistado na frase de abertura. O que de facto encontrei foi um argumento básico que não passa de um prelúdio para os combates. Há algumas tentativas bem conseguidas de inserir algum humor nos diálogos e capitalizar o ridículo da premissa mas, no final do dia, é difícil valorizar esta história cujo resumo se confundiria com uma sinopse.
Deixando de lado a história, algo que farão rapidamente visto que uma hora e pouco é suficiente para deslindar a completude dos cinco episódios narrativos, ainda vos resta um motivo final para permanecer nesta coleção: o modo Versus. Se tiverem um amigo disposto a empunhar um segundo Joy-Con, podem andar à batatada na pele das mais de 25 personagens de Rose & Camilla Collection. A virtual homogeneidade funcional das personagens e a diminuta complexidade mecânica podem limitar a longevidade do modo, mas o tempo que efetivamente dedicarem a estes frente a frente estará carregado da intensidade, diversão e interação que títulos como (Everybody) 1-2 Switch tanto ambicionavam, e tão longe ficaram.
Conclusão
Onde se podia ver uma genuína e entusiástica recomendação, acabamos por encontrar “apenas” uma sólida opção para despender duas ou três horas. Com um enredo prosaico e um combate divertido mas básico, Rose & Collection é um “diamante em bruto”, uma base sólida de estalar e chorar por mais, que nos deixa numa reflexão agridoce sobre o número de direções possíveis para levar o potencial narrativo, irónico e mecânico além da já competente meia-légua em exibição.
- Jogabilidade divertida e surpreendentemente responsiva.
- Empolgante modo VS. que expande a longevidade da experiência.
O pior
- Escasso aprofundamento dos sistemas de combate.
- História banal e praticamente negligenciável.
Nota do GameForces: 6.5
Desenvolvedora: NIGORO/WayForward
Ano: 2007-2024
Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a Nintendo Switch, através de um código gentilmente cedido pela WayForward.
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