Análise | Persona 3 Reload – Um Clássico Intemporal ao Alcance de Todos

Ainda que não seja usual abordar a minha experiência pessoal no mundo dos videojogos, para esta análise em particular gostaria de começar a apresentação do título em análise referenciando que o seu título original (sim, estamos perante um remake!) foi o último jogo que joguei na consola melhor sucedida de todos os tempos: a PlayStation 2. Desta forma, podem adivinhar facilmente que a luta contra a nostalgia e melancolia foi um dos grande desafios que encontrei ao escrever estas palavras sobre um dos melhores RPGs da velhinha consola e possivelmente desde sempre.

Sim, estou a falar de Persona 3. Creio ser expectável a criação de discussões quando alguém menciona que certo jogo é o “melhor de todos os tempos”, mas estou preparado para essa discussão se necessário! Os argumentos são muitos. Desde ser a base para o estrondoso sucesso da série Persona (obtidos pelos títulos mais recentes), passando pela extraordinária caracterização das personagens e finalizando num enredo que é impossível deixar-nos indiferentes. Mas se estão a ler este artigo é porque terão um mínimo de interesse neste título em particular, por isso não necessito de me esforçar para “vender o peixe”, certo?

Como pode adivinhar, esta análise aborda a minha experiência com Persona 3 Reload (P3R). Após o estrondoso sucesso de Persona 5, a Atlus tem andado a procurar um novo rumo para os seus lançamentos, com algumas experimentações  melhores que outras. Desta feita, não contem com grandes divergências com o produto original.  Ainda assim, diversos aspectos foram melhorados e algumas melhorias de “Qualidade de Vida” foram introduzidas, facilitando o acesso de novos jogadores. Vamos por pontos então!

Sim, a estrutura é a mesma. Seguimos as aventuras de um grupo de amigos que durante o dia são estudantes (com todas as atividades associadas) e à noite exploraram uma masmorra que surge no instante entre um dia e o próximo. Portanto, existe a típica mistura de “Life Simulator” com “DungeonCrawler”, introduzido no seu formato mais conhecido pelo Persona 3 original. A terceira componente do jogo passa por colecionar Personas, cria-las, fundi-las, etc.  Estamos perante aquilo que observamos mais recentemente em Persona 5, e que apaixonou multidões.

A Atlus não arriscou muito, reservando-se somente a pegar no que existia e ajustar aos parâmetros do que existe hoje. A decisão é sensata e funciona, mas também é, infelizmente, aquilo que levanta o meu único problema com o jogo: Está demasiado dependente de ser um Remake para poder atingir aquilo que poderia ser.

O ponto mais fulcral é a exploração de Tartarus: A misteriosa torre que surge durante a Dark Hour (uma hora entre dois dias, onde somente os nossos heróis têm acesso). O título segue os passos do original, onde cada andar era gerado proceduralmente. Em P3R mantemos esta dinâmica...assim como o problema associado a ela: a repetitividade associada a este processo. Se no título original a sua principal crítica era tornar-se demasiado cansativo em ter de percorrer as literais centenas de andares, porque motivo não ajustaram este aspecto? Creio que podemos afirmar que as masmorras de Persona 5 são estupidamente cativante e viciantes de explorar, certo? Pois aqui teremos de percorrer diversas vezes o mesmo ambiente, sem grandes variações entre biomas (a cerca de cada 60 andares há uma temática nova, mas baseada nas mesmas mecânicas). A Atlus tentou introduzir alguns elementos diferenciadores perante o original, incluindo alguns caminhos secundários com bosses extra, mas nem assim se consegue safar da repetitividade deste processo. Se fosse a apresentar uma solução, preferia que existissem menos andares, mas maiores e com um design melhor trabalhado.

Ainda assim, estamos perante a situação de ser um problema num mar de excelência. Em particular destacamos o seu grafismo, enredo e banda sonora. Efectivamente, mais uma vez estamos perante um título com uma arte conceptual muito bem conseguida, onde é um prazer percorrer os seus diversos cenários. Ainda que não contemple o mesmo nível de detalhe que Persona 5, é compreensivel esta decisão, com vista a manter a fidelidade do título original.

Também é de destacar o design das diversas personagens e Personas. Para os fãs da série é sempre interessante confirmar a forma como são caracterizadas as mesmas Personas e aqui o título não desilude. Entretanto, já que estamos a abordar palarelismos com o original, existe outro de elevada importância: a banda sonora. Creio que um dos aspectos mais caracterizadores de Persona são as suas bandas sonoras. Em Persona 3 Reload poderão encontrar versões remasterizadas das faixas originais, assim como algumas novidades. Não sinto desconforto algum em afirmar que é uma banda sonora extremamente memorável e que daqui a décadas ainda estará na nossa memória!

Todos estes aspetos são importantes para caracterizar a experiência que assimilamos deste jogo e que suponho muitos dos leitores tenham interesse em saber, certo? Contudo, suponho que por esta altura já estejam a questionar-se sobre o principal tópico de um RPG: A sua história e enredo. Pois bem, é aqui que a minha “claim” de este ser um dos melhores jogos de sempre ganha suporte. Persona 3 apresenta uma temática, enredo e história do melhor que tenho memória. Não somente os temas abordados, como a forma que são introduzidos e desfecho final estão extremamente bem conseguidos. Estamos perante um título que nos deixa a ponderar sobre certos aspetos da nossa vida e cotidiano e quando isso acontece sabemos que algo está muito bem feito.

Efetivamente a sensação final é que Persona 3 Reload contempla tudo aquilo que original introduziu no mercado, e cresce  partir dai. Outro grande aspeto que notámos melhorias é na vertente de jogabilidade e mecânicas de jogo. Principalmente na navegação entre menus e gestão das Personas, tudo foi simplificado e tornado mais intuitivo. Também durante o combate agora conseguimos controlar todas as personagens (relembramos que dentre as diversas versões do original, somente o Persona 3  Portable, para a PlayStation Portable, contemplava esta opção). As informações sobre os adversários estão mais explicitas (incluindo as suas fraquezas e resistências), e a definição de ações a realizar para ir de acordo com esta informação é mais intuitiva.


 

Conclusão

Persona 3 Reload pegou na excelente experiência que o título original introduziu e reformulou-a para ir de encontro aos parâmetros mais recentes da indústria dos videojogos. Não somente refinou o que estava bem feito, como retificou a vasta maioria dos seus problemas. É notória a perda de uma oportunidade de melhoria ao não implementar mecânicas suficientes que evitem o problema da repetitivade  de exploração de Tartarus. Contudo é um ponto negativo, num mar de excelência. Se gostaram de Persona 5, então este é um título certamente para vocês. Adicionalmente, é uma excelente forma dos jogadores mais recentes poderem ter acesso a esta experiência.



O Melhor:

  • Enredo e história marcantes, assim como uma excelente caracterização das personagens;
  • Banda sonora e grafismo muito gratificantes;
  • Maior quantidade de atividades sociais a realizar;
  • Diversas mecânicas de qualidade de vida introduzidas, que facilitam as secções de combate e exploração.

 
O Pior:

  • Reformulação da exploração de Tartarus não conseguiu afastar-se do sentimento de repetividade.


Pontuação do GameForces – 9.0/10
 

Título: Persona 3 Reload
Desenvolvedora: Atllus
Publicadora: Sega
Ano: 2024

Análise | Persona 3 Reload – Um Clássico Intemporal ao Alcance de Todos Análise | Persona 3 Reload – Um Clássico Intemporal ao Alcance de Todos Reviewed by Carlos Silva on março 05, 2024 Rating: 5

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