Ou
seja, é uma jogabilidade rica e criativa, que à primeira vista não parece muito
complexa. E se usarmos cada habilidade por si só, uma de cada vez, de facto não
é. Mas muito rapidamente começamos a sentir dificuldades em atravessar os
níveis sãos e salvos, em tempos satisfatórios ou até em encontrar os
colecionáveis e em cumprir as missões secundárias que os cidadãos deste mundo
nos vão pedido à medida que vamos passando pelos níveis. E assim, começamos a
sentir alguma estranheza. Porque estamos a usar as nossas habilidades todas, e
mesmo assim, temos a sensação de que não estamos a jogar eficazmente. Ainda
para mais, quando o analógico direito não controla a câmara – esta mexe-se
sempre automaticamente, apontando-nos o(s) caminho(s) -, mas antes faz com que
lancemos Yo-Yo na direção para a qual desviamos o mesmo.
Sim,
a primeira impressão é positiva, mas fica-se com a pulga atrás da orelha,
sempre com a sensação de que algo não está bem, que algo está em falta. Mas à
medida que vamos jogando, vamos percebendo melhor algo que o jogo não nos
explica (não muito bem, pelo menos) – o segredo está no encadeamento das
habilidades de Penny e Yo-Yo. Chega uma altura em que começamos a perceber o
sistema de física de impulso, como este afeta a transição entre o baloiçar e o
montar Yo-Yo, e vice-versa. E nessa altura começamos a perceber a utilidade do
analógico direito e de como a câmara automática acaba por nos dar muita mais
liberdade do que a que nos retira. Aqui, começamos a dominar o jogo, e a
perceber que estamos perante uma experiência muitíssimo divertida e de grande
qualidade. Aqui, começamos a entranhar Penny’s Big Breakaway.
Algo
que ajuda a entranhar toda esta experiência, é também o design de níveis
exímio. Cada nível é composto por enormes áreas abertas decoradas consoante a
temática do nível – os típicos cenários de gelo, riachos, magma, por aí fora.
Nestas áreas, há um caminho até ao palco final, e temos de ir observando como
variadíssimos obstáculos e perigos estão colocados e como se comportam no
ambiente, de modo a percebermos como podemos chegar ao fim. A diversidade de
perigos é enorme, tal como as combinações destes que vamos encontrando ao longo
dos níveis. Mas mais do que isso, a liberdade de podermos usar e encadear as
nossas habilidades em qualquer momento permite-nos explorar imensos recantos e
encontrar caminhos alternativos ao que a câmara nos mostra.
Há
poucas coisas mais prazerosas do que sentir que somos perspicazes ao ponto de
ignorar o óbvio para encontrar caminhos alternativos para resolver os problemas
que o jogo coloca perante nós. E Penny’s Big Breakaway é um título
perito em dar-nos essa sensação, tanto pelo facto de ser necessário dominar bem
as mecânicas para o fazer, como pelo facto de ser necessário superiorizarmo-nos
à câmara automática e incontrolável. É aqui que esta câmara se torna
potenciadora de diversão, e não inibidora da mesma. Caso queiramos despachar o
nível, sabemos sempre para onde ir. Mas caso queiramos brincar com as mecânicas
e deixarmo-nos levar pela curiosidade do que cada nível tem escondido,
sentimo-nos competentes e perspicazes por conseguir dar a volta à câmara. O mais
interessante, é que nem é preciso haver grande recompensa à nossa espera, não
tem de haver um colecionável, ou sequer uma quantas moedas à nossa espera. A
sensação de conquista do jogo é motivadora e gratificante o suficiente para nos
fazer querer transformar esta experiência de 7 ou 8 horas, numa de 15 horas ou
mais.
Para
atingir essa marca dos dois dígitos de horas de jogo, também ajuda o facto de
haver uma boa quantidade de conteúdo adicional dentro e para além da campanha.
Dentro dos níveis, temos os tais colecionáveis e missões secundárias referidas
acima. As segundas, podem varia entre atravessar rapidamente uma secção do
nível, recolher itens espalhados, entregar um item importante sem sofrer dano
pelo caminho, ou encadear habilidades de modo a acumular uma certa quantia de
pontos. Para além da campanha, temos uma série de níveis especiais que são
desafios de plataformas mais puros, e que podemos desbloquear gastando os
colecionáveis que recolhemos nos níveis base. E temos também modos de Time
Trial e de desafio de Speedrun, que nos obrigam mesmo a demonstrar todo o
domínio das mecânicas de jogo. Há muito para explorar e há imensos incentivos à
rejogabilidade – incentivos esses que nos compelem a ficar mais umas quantas
horas neste mundo de ioiôs mágicos e exércitos de pinguins.
Mas
nem tudo é belo e maravilhoso em Penny’s Big Breakaway. Por muito
entusiasmante que seja dar o clique e dominar as mecânicas, há algumas falhas
que são exacerbadas quando isto acontece. A primeira, e mais óbvia, é a falta
de escalar de dificuldade entre níveis. Toda a curva de aprendizagem do jogo
está dependente do quão rápido ou eficazes somos a dominar e a encadear as
habilidades de Penny e Yo-Yo. A partir desse momento, todos os níveis parecem
ter o mesmo nível de dificuldade. Um nível do nono mundo, não é mais difícil do
que um no terceiro, ou do quinto. Não sentimos que a dificuldade vá aumentando
ao longo da campanha, ficando a sensação de que os produtores receavam alienar
os jogadores que demorassem mais tempo a dominar as mecânicas. Ou seja, a dada
altura, deixámos de nos sentir desafiados pelos níveis do jogo. Foram sempre
divertidos de explorar e conquistar, mas gostaríamos de ter sido mais
desafiados.
De
resto, o jogo apresenta demasiados bugs, inconsistências e problemas técnicos. Estes
problemas dizem sobretudo respeito à quebra acentuada na taxa de fotogramas
sempre que chegamos a uma área mais ampla e recheada de água, ou sempre que o
jogo começa a carregar demasiados elementos cénicos no pano de fundo. Como
seria de esperar, num jogo de plataformas que exige bastante precisão em todas
as ações, movimentos, e afins, isto é um problema que causa um incómodo
notório. Nunca morremos por causa de uma destas desacelerações, mas perturba a
fluidez do jogo.
Já
os bugs, dizem todos respeito à interação de Penny com elementos ambientais.
Nomeadamente, no quão presos podem ficar nestes. Perdemos genuinamente a conta
das vezes em que Penny devia ter aterrado numa plataforma e ou ter lá
permanecido ou escorregado por ela abaixo. Mas não, foram imensas as vezes – imensas
mesmo – em que vimos Penny simplesmente ficar presa na borda de uma plataforma,
às cambalhotas no lugar, até que finalmente, passados uns quantos segundos,
escorregava por essa borda abaixo e caía para a sua morte. As caixas de
contacto com as bordas das plataformas são muito inconsistentes, e leva a este
bug extremamente recorrente que nos faz perder imenso tempo e paciência.
O
problema das caixas de contacto inconsistentes é um problema que temos, de facto,
de lamentar profundamente. Não só pelo que descrevemos no parágrafo anterior,
mas também pelo facto de prejudicarem muito a diversão das batalhas boss de Penny’s
Big Breakaway. Estas batalhas deviam reenquadrar as mecânicas de jogo e
colocar-nos diante de desafios diferentes e que mexem com a fórmula. E até
certo ponto, conseguem fazer exatamente isto, com os confrontos a serem uma
lufada de ar fresco criativa e divertida, até certo ponto. Mais concretamente,
até ao ponto em que as caixas de contacto se apresentam como um problema
relativamente danoso.
É
muito, muito difícil prever se a vasta maioria dos ataques do elenco de bosses
deste jogo nos vai atingir ou não quando estamos a correr pelas arenas de
combate a tentar esquivarmo-nos dos mesmos. Em alguns casos, também é difícil prever
se um ataque nosso com Yo-Yo vai atingir ou não o nosso oponente. As caixas de
contacto nestes confrontos são muito irregulares, havendo demasiadas situações
em que temos claramente a sensação de que um ataque inimigo não nos devia ter
danificado, mas nas quais vemos a nossa barra de energia a diminuir.
Olhando
a outras vertentes mais técnicas, não podemos ignorar a bizarra direção
artística de Penny’s Big Breakaway. Todos os ambientes são coloridos e
cheios de vida, e todas as personagens estão muito bem caracterizadas através
de excelentes animações que lhes dão uma vivacidade e uma personalidade marcantes,
enquanto evocam sensações nostálgicas acolhedoras. Mas os designs das
personagens são… únicos. Honestamente, vai depender imenso de pessoa para
pessoa o quão bonito ou feio vão achar o elenco de personagens. Por aqui,
achamos que são geralmente feios, e definitivamente a pior parte de toda a vertente
artística, mas conseguimos ver muita gente que cresceu a jogar tantos dos
títulos de plataformas presentes em consolas clássicas da SEGA a conseguir
entranhar esta estranheza particular do jogo.
Mas
vamos lá terminar em beleza. A banda sonora de Penny’s Big Breakaway é
sublime. Um misto perfeito de cativante, divertido e nostálgico. Cada trilha
confere a cada secção deste mundo uma sensação única. Ao ponto de uma das
melhores partes do progresso para um novo mundo ser o de poder desvendar um
pouco mais da banda sonora tão, tão boa. É genuinamente um dos pontos altos de
toda esta experiência, e éramos perfeitamente capazes de ficar parados no
início de um nível enquanto íamos fazer uma tarefa doméstica qualquer só para
ser a respetiva trilha sonora a tocar enquanto resolvíamos os nossos afazeres.
E juntando a isto uma panóplia de efeitos sonoros também bastante cativantes e
nostálgicos, só temos coisas muito boas a dizer de toda a vertente sonora deste
jogo.
Conclusão
Penny’s Big Breakaway é um jogo no qual se aplica na perfeição a expressão idiomática “primeiro estranha-se, depois entranha-se.” O primeiro impacto causa alguma estranheza e confusão às sensibilidades de jogo mais modernas, mas à medida que vamos avançando e dominando melhor as mecânicas, encontramos uma verdadeira pérola nesta experiência. Não será ainda um marco dentro do género de plataformas em 3D, sobretudo devido a algumas inconsistências e a alguns problemas técnicos que perturbam a experiência, mas é um jogo que nos deixa com água na boca, e a rezar para que Penny acabe por partir em mais aventuras no futuro.
Penny’s Big Breakaway é um jogo no qual se aplica na perfeição a expressão idiomática “primeiro estranha-se, depois entranha-se.” O primeiro impacto causa alguma estranheza e confusão às sensibilidades de jogo mais modernas, mas à medida que vamos avançando e dominando melhor as mecânicas, encontramos uma verdadeira pérola nesta experiência. Não será ainda um marco dentro do género de plataformas em 3D, sobretudo devido a algumas inconsistências e a alguns problemas técnicos que perturbam a experiência, mas é um jogo que nos deixa com água na boca, e a rezar para que Penny acabe por partir em mais aventuras no futuro.
- Jogabilidade incrivelmente divertida e entusiasmante depois de dominada
- Design de níveis extremamente bem conseguido, com muitos segredos e desafios para descobrir
- Imenso valor de rejogabilidade e conteúdo secundário para desbloquear
- Banda sonora estupendamente viciante e evocadora de nostalgia
- Sensação de progresso quase inexistente depois de se dominar a jogabilidade
- Caixas de contacto de ambientes e inimigos (sobretudo bosses) algo inconsistentes
- Alguns bugs e problemas de desempenho recorrentes que perturbam a experiência
Pontuação
do GameForces – 7.5/10
Desenvolvedora: Evening Star
Publicadora: Private Division
Ano: 2024
Análise | Penny’s Big Breakaway – Revivalismo Que Se Estranha e Se Entranha
Reviewed by Filipe Castro Mesquita
on
março 22, 2024
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