Entre 2022 e 2024, apreciamos as Partes 1, 2, 3, 4, 5 e 6 do Passe de pistas adicionais de Mario Kart 8 Deluxe, apresentando e apreciando as pistas incluídas e partilhando alguns detalhes e opinionetas em relação ao trabalho de remasterização. Caso pretendam conhecer todos estes conteúdos a fundo, recomendamos que leiam os artigos individuais através dos links acima; nesta análise, iremos avaliar o Passe como um todo e discutir a evolução da qualidade do pacote!
Por 5 longos anos, sentia-me à
vontade para desconsiderar todo e qualquer rumor ou esperança de uma DLC para
Mario Kart 8 Deluxe. Pois bem, em pleno 2022, a Nintendo calou pseudoanalistas
de mercado como eu, com o anúncio do Passe de pistas adicionais. Com este passe
de conteúdos extra, os compradores ganhariam acesso a 48 pistas remasterizadas
do passado da série, que seriam lançadas em clusters de oito ao longo de seis ondas
de conteúdo, até ao final de 2023.
O timing podia parecer
bizarro, mas o pseudoanalista humilhado dentro de mim tentou recuperar um resquício de dignidade com uma possível justificação: não só esta DLC poderia tornar o Nintendo Switch Online + Pack de expansão mais apelativo
(visto que os membros desta subscrição receberam acesso aos novos conteúdos de
Mario Kart 8 Deluxe sem custos adicionais), mas também o trabalho necessário para remasterizar os mapas seria
relativamente económico para a Nintendo, que podia e estava essencialmente a
retocar as pistas de Mario Kart Tour (o título Mario Kart para Android e iOS).
De facto, todas as pistas incluídas
no Passe de pistas adicionais têm uma equivalente em Mario Kart Tour, mas não é
apenas por esta associação estatística que eu (e toda a Internet) cheguei a esta
conclusão. Se as pistas de base de Mario Kart 8 Deluxe apresentavam um salto
monumental em fidelidade gráfica em relação a Mario Kart Wii e 7, a série rebobinou neste progresso com os trajetos DLC para nos entregar “Mario
Kart Tour com upscale”, num estilo que regressa à apresentação mais
cartunesca dos predecessores e que a exagera com cores saturadas e modelos
simplificados.
Comparar lado a lado pistas como Circuito do Toad e Prado Mu Mu, ou Jardim Celeste e Via Nublada, mostra o quão radical e deprimente a mudança de direção é. E, como se esta nova direção não fosse péssima o suficiente, os trajetos da Parte 1 da DLC deixavam muito a desejar mecanicamente. Neles, apenas encontramos modernizações simples das rotas e panos de fundo das pistas clássicas, sem a ambição de pistas retro como Ribbon Road ou Cheeseland. Antigravidade nem vê-la e, nalguns casos, nem sequer as mecânicas originais das pistas marcaram presença: os carros imóveis no estacionamento de Centro Comercial Coco que o digam.
Foi neste registo de deceção que redigimos as nossas Primeiras Impressões da DLC. Felizmente, o padrão de qualidade dos conteúdos do Passe revelou-se extremamente inconsistente – no sentido positivo. A cada onda de novidades, o trabalho colocado nas pistas foi sendo mais evidente e laudável: a integridade mecânica das pistas foi sendo mais respeitada (tanto que os halfpipes de Mario Kart Wii foram implementados no jogo da Switch na Parte 3!), e os modelos e texturas cozinhados para os trajetos foram-se aproximando cada vez mais da qualidade dos do jogo base - mesmo que raramente a atingissem. Seja porque pistas mais recentes como Estádio Waluigi, Estrada de Árvores e Lago Bu tinham terrenos equiparáveis aos do jogo base, ou porque localizações como Ilha do Yoshi e Estrada Arco-Íris Wii são estilizadas por defeito, o choque de estilos foi-se tornando menos evidente e incomodativo. Os desenvolvedores até foram retocando mapas como o Centro Comercial Coco para corrigir as omissões mecânicas do seu lançamento original!
E, regra geral, os circuitos
continuaram sem pretensões de desafiar a ambição das pistas retro originais de
Mario Kart 8 Deluxe, mas ainda assim a originalidade dos desenvolvedores ia dando ares da
sua graça: por exemplo, a segunda e terceira voltas de Kalimari Desert foram
reformuladas para nos transportar para os trilhos do comboio, Waluigi Stadium recebeu
novas rotas opcionais na dependência do uso engenhoso de halfpipes, e a
terceira volta de Jardim da Peach passou a contemplar um trajeto original em que nos deslocamos no
sentido contrário ao das voltas prévias! Além disso, algumas pistas “inéditas”
(leia-se: inéditas de Tour) foram introduzidas, como Mansão Ninja, Ilha do Yoshi e Percurso Sanitário, que rapidamente se firmaram como três dos melhores circuitos da série!
Ainda assim, continuaram a surgir várias nódoas gritantes nas ondas de conteúdo mais tardias, como o Deserto Crepúsculo sem Crepúsculo, o Circuito do Mario 3 asqueroso ou o Cabo Koopa encurtado e sem a atmosfera da versão Wii - mas, oportunamente, deixaram de ser a norma para se tornarem na exceção. Adicionalmente, afastando a lupa das pistas individuais e analisando o panorama geral, a seleção de pistas escolhidas é questionável. Não seria razoável esperar ou desejar que o Passe apenas incluísse os percursos mais populares de Mario Kart, mas a seleção encontra-se extremamente enviesada, especialmente com a sobrerrepresentação dos infames trajetos originários de Mario Kart Tour.
Mais de 1 em cada 4 pistas corresponde a um circuito citadino da 9ª entrada da série, e nada ajuda que estes mapas sejam globalmente pouco interessantes, entusiasmantes e memoráveis para os padrões Mario Kart. A sério, podem ter ficado dessensibilizados a este abuso de confiança se já estiverem a jogar o Passe desde 2022, mas, com a DLC, Mario Kart 8 Deluxe tem 25 pistas de Mario Kart 8 e 20 de Mario Kart Tour. Ficamos a 5 pistas de ter tanto de Mario Kart 8 como de um Mario Kart Tour Remastered!
No artigo de primeiras impressões
da DLC, levantei a hipótese de este foco exagerado nas pistas citadinas
consistir uma tentativa de garantir a preservação dos trajetos de Mario Kart
Tour após os servidores do jogo mobile serem encerrados. Tais suposições foram
travadas por um carocinho na minha garganta, intitulado Piranha Plant Pipeline. Este é o único percurso inédito de
Mario Kart Tour que ficou de fora, e é tão exasperante ver a Nintendo a morrer na praia com a preservação de Tour como ver o logo "DVD" a bater ao ladinho do canto do ecrã no screensaver.
Enquanto Tour, o filhinho favorito da DLC, foi recebendo quase todas as guloseimas que poderia querer, alguns dos seus irmãos mais velhos ficaram a definhar no seu quarto. Falo, em particular, de Mario Kart DS, e Mario Kart: Double Dash!!, que tiveram direito a 4 e 3 pistas no Passe, respetivamente. (E se vierem reclamar porque Super Mario Kart e Mario Kart 64, dois dos jogos mais simples da série, apenas participaram com duas pistas, vou tapar os ouvidos e cacarejar). De resto, a gama de pistas escolhida é sólida: a inclusão de Circuito do Mario 3 pode ser indefensável e a omissão de Fortaleza Voadora, Toad Factory e de Castelos do Bowser (para além do 3 da SNES) poderá manter-me acordado de noite, mas a restante seleção está recheada de excelentes e icónicos percursos de Mario Kart Wii e das já referidas pistas inéditas e incríveis de Mario Kart Tour (a não ser confundidas com as citadinas!), em adição a uma seleção bastante variada de trajetos do resto da saga.
Ponderando todos estes prós e contras, percebemos que o Passe de pistas adicionais teve uma trajetória no sentido oposto do de muitos outros jogos/DLCs com suporte continuado: é um produto com uma estreia controversa e desapontante, que foi concluído com um nível de qualidade e de conteúdos inesperadamente superior, numa forma de crescimento raramente presenciada na indústria – especialmente porque, sem que nada o fizesse prever, a Nintendo decidiu adicionar personagens e fatos Mii nas últimas 3 Partes!
Ao todo, 8 personagens (Birdo, Kamek, Wiggler, Petey Piranha, Pauline, Peachette, Diddy Kong e Funky Kong) e 17 trajes
para Mii foram adicionados, e foram o suficiente para transformar o roster
jogável de Mario Kart 8 Deluxe de um repertório sólido de pilotos para o melhor de toda a saga. Não há muito a dizer aqui; é um bónus muito bem-vindo, executado com o nível de competência e aprimoramento expectável, que aumenta a robustez do pacote
irresistível que é Mario Kart 8 Deluxe.
Falando em bónus, há um aspeto comummente
negligenciado que é para mim a mais irrepreensível componente da DLC: a banda sonora. Se os
gráficos, ambição, mecânicas etc. deixam a desejar, as músicas que acompanham
as corridas são gloriosas como no jogo base, graças ao formato big
band. Este conjunto já valeu cada centavo pelas horas incontáveis que passei
a ouvir Deserto Kalimari, Volta em Sydney, Ilha do Yoshi, e muitas, muitas outras
composições nos meus tempos livres. Genuinamente, não sei como um futuro Mario
Kart superará a banda orquestrada de Mario Kart 8 Deluxe na sua abordagem das pistas retro, e só vejo 2 caminhos possíveis:
ou um estilo de música muito diferente, ou música dinâmica - sendo que a OST de
MK8D já contempla variações das suas faixas em mapas como Autoestrada ao Luar e Lagoa do Golfinho.
Agora, a questão que se impõe: vale a pena comprar esta DLC? O meu primeiro instinto quando confrontado com esta questão é compará-la com a DLC de Mario Kart 8 para a Wii U: nesta última, com 6 euros, recebíamos oito pistas, que não só tinham a mesma qualidade das oriundas do título base mas também incluíam alguns trajetos criados de raiz para o jogo de corridas, bem como quatro veículos e três personagens jogáveis; na versão Switch, com 4,2 euros ganhamos acesso a oito pistas de qualidade inferior, (aproximadamente) 1 personagem e 3 fatos para Mii.
Não fossem as adições surpresa de personagens, penderia para o lado Wii U da questão. Porém, perante o estado final do Passe, serão as vossas preferências e
prioridades a ditar qual proposta sai por cima nesta comparação. Há uma adição que a Nintendo poderia ter feito e que me faria decretar o Passe de pistas adicionais o vencedor indisputado, e que eu ainda estou estupefacto por não ter acontecido: a implementação de novas arenas para batalhas. A grande novidade estampada no marketing de Mario Kart 8 Deluxe era o Modo Batalha reformulado e, após a conclusão do Passe de pistas adicionais, o jogo possui 12 pistas de corrida por cada mapa de batalha. É uma diferença descomunal, e a adição das 5 arenas de batalha de Tour poderia ter diminuído um pouco a dimensão deste descalabro. E, já agora, podia vir uma rodada das pistas dos Mario Kart para arcade, fáxavor!!
Contudo, sinto que esta discussão, se interessante, na prática é fútil: por 25 euros, o maior Mario Kart de sempre, um dos jogos multijogador mais plenos de apelo e longevidade, vê-se com o dobro do conteúdo. É mais Mario Kart, aliás, é mais do melhor Mario Kart; mesmo que não apresente a qualidade que esperávamos para o futuro da série, é preciso ter muita força de vontade para dizer não a este conjunto de peso.
Conclusão
O Passe de pistas adicionais dá-me demasiado combustível para reclamações: a apresentação das pistas é aberrante em relação ao estilo das pistas anteriores de Mario Kart 8 Deluxe, a remasterização dos percursos é geralmente conservadora, as danadas pistas de Mario Kart Tour são uma peste a colonizar mais de 1/4 das 48 vagas para pistas...
Porém, sinto que todos à minha volta iriam encolher os ombros perante os meus lamentos e, eventualmente, até eu deixaria de fazer caso das minhas próprias palavras. Mesmo com um padrão de qualidade e de ambição substancialmente aquém dos do jogo base, estes conteúdos extra essencialmente duplicam o conteúdo de Mario Kart 8 Deluxe, por um preço convidativo. É uma DLC imperdível para um jogo imperdível; é uma aquisição que, mais do que recomendável, é inevitável.
O melhor
- 48 pistas extra para corridas;
- 8 personagens e 17 fatos para Mii extra;
- Arranjos big band incríveis dos temas originais das pistas;
- Alguns picos de originalidade ocasionais;
- Relação preço/quantidade convidativa;
- O regresso de muitos trajetos icónicos da série...
O pior
- ..pese embora a inclusão excessiva de mapas desinteressantes de Mario Kart Tour...
- ...que preenche as vagas que podiam usadas para ainda mais pistas apetecíveis...
- ...sem sequer garantir a preservação de todas as pistas originais do jogo para smartphones.
- Fidelidade gráfica aquém da das pistas do jogo base;
- Deserto Crepúsculo e outras pistas surgem nas suas piores versões;
- Sem arenas de batalha.
Nota do GameForces: 8.5
Publicadora: Nintendo
Ano: 2022-2023
Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a Nintendo Switch, através de um código gentilmente cedido pela Nintendo Portugal.
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