Se há pouco pusemos a nossa memória auditiva a funcionar, está na hora de recorrer à memória visual. Olhando, quase literalmente, para parte visual da palavra "audiovisual," temos de esclarecer que quando nos referimos à Direção Artística, não estamos a falar da resolução de imagem da qual usufruímos quando estamos com um comando (ou teclado e rato) nas mãos. Estamos a falar da utilização de um estilo artístico coerente, da beleza dos cenários de fundo, da fluidez das animações quando mandamos os nossos protagonistas atacar com uma espada, lançar um feitiço ou saltar em cima de uma tartaruga, da utilização de cores, de efeitos luminosos, entre vários outros aspetos.
De facto, com o avançar dos anos e com o progresso tecnológico, os produtores e os diretores visuais têm cada vez mais possibilidades por onde envergar. Um pouco como o buffet de delícias visuais que os nossos redatores têm à frente por onde escolher um vencedor para este prémio! Entre momentos entusiasmantes de jogabilidade e sequências cinemáticas, não há dúvida de que, este ano, há muito por onde escolher. E em estilos bem diferentes, também: mais realistas, mais animados, misto de realismo com fantasia, ou com terror. Cada vez mais, os videojogos são um meio visualmente delirante, e com a riqueza de 2023, quais serão os vencedores escolhidos?
Filipe Mesquita - Super Mario Bros. Wonder
Wahoo! Finalmente vou poder falar do jogo que mais me encantou visualmente este ano - Super Mario Bros. Wonder! Ok, oiçam-me... leiam-me? Não interessa. Eu bem sei que a Switch é, por esta altura, uma máquina bastante ultrapassada em termos de hardware. Mas ainda assim, os magos da Nintendo conseguem tirar dela o impensável. Claro que não tem gráficos em 32K e a 360FPS, nem gráficos tão realistas que nos levam a questionar se a própria realidade é que é uma simulação virtual. Mas o que a gigante japonesa consegue criar é muito mais do que isso: é alegria pura em forma de pixéis.
E alegria pura é exatamente isso que sinto quando insiro o cartucho de Super Mario Bros. Wonder e lanço o jogo. As cores, os contrastes, as animações, os efeitos luminosos, e até as transformações visuais que cada nível sofre sempre que tocamos numa Wonder Flower. As transformações, novas e velhas, os inimigos de longa data, os novos inimigos, os perigos ambientais que já ultrapassámos milhares de vezes, e os novos perigos que nos fazem perder uma vida pela primeiríssima vez. Está tudo tão bem desenhado, tudo tão belo, tudo tão cheio de vida. Só de estar a lembrar-me da arte do jogo enquanto escrevo estas palavras, já estou com um sorriso parvo e jovial nos lábios.
Carlos Cabrita - Hogwarts Legacy
Hogwarts Legacy foi daqueles que deixou um pequeno gosto amargo na minha boca. Não foi, e não é, um jogo mau. Antes pelo contrário, é até dos melhores jogos deste ano, na minha opinião. Mas sei lá... esperava um pouco mais.
Contudo, tenho de salientar que a sua apresentação é brilhante. Tanto quando estamos numa gruta escura e somente usamos a luz proporcionada pelos nossos feitiços, como quando vemos todas as cores dos feitiços lançados contra os inimigos que nos rodeiam, e, acima de tudo, sem esquecer toda a escola e o enorme mundo aberto que temos ao redor de Hogwarts. Por isso, este prémio vai, sem sombra de dúvidas, para Hogwarts Legacy.
Tiago Sá - Super Mario Bros. Wonder
Não é só quanto aos videojogos que sou uma eterna criança. Embora assista a um pouco de tudo, continuo a acompanhar casualmente os filmes de animação. Pode-se dizer que, desde a introdução de renderização 3D em animação, esta técnica encontrou-se unicamente num longo processo de refinamento, que culminou na concretização do fotorrealismo em filmes como Toy Story 4. Eventualmente, este percurso de crescimento estagnou, e o futuro deste meio foi apontado pelo revolucionário Spiderman: Into the Spider-Verse. Os filmes de animação podem ser muito mais do que um filme live-action e, mais do que tentar imitar o mundo real, é interessante tentar excedê-lo e ultrapassar os seus limites naturais através da estilização e da hiperbolização de cada movimento e objeto - uma tendência que já está a ser seguida por produções deslumbrantes como o incrível Puss in Boots: The Last Wish e Teenage Mutant Ninja Turtles: Mutant Mayhem.
Esta crise de ambição e subsequente resposta pode ser transposta para os videojogos e Super Mario Bros. Wonder tem o potencial para ser o Spider-Verse deste meio de entretenimento. Nintendo sabia que o caminho para um novo Mario 2D não era superar os New Super Mario Bros. em fidelidade, mas sim fazer algo diferente. Esta diferença foi alcançada com uma enchente de animações expressivas, energéticas e cartunescas, modelos de personagens que descuram a lógica em prol do enriquecimento do ponto de vista lateral do jogador, inimigos que reagem exageradamente aos movimentos de Mario à sua volta, e panos de fundo com imensas camadas em movimento, cores saturadas e objetos idílicos que pintam o mundo Mario mais vivo e charmoso de que há memória. Isto para não falar da quantidade colossal de novos inimigos com designs apelativos e funcionais, ou dos efeitos Wonder, que vão ao ponto de alterar completamente os parâmetros de apresentação dos níveis. Se quiserem saber um pouco de como esta maravilha ganhou vida, não há nada melhor do que ler a reveladora entrevista com os desenvolvedores que a Nintendo partilhou.
Não posso afirmar que esta expressividade e estilização não existiam nos videojogos; aliás, até me questiono se não deveria ter distinguido Pizza Tower, o indie de estreia da Tour de Pizza, cujo estilo gráfico que parece proveniente do MS Paint é extremamente exagerado, vivo e, de tão rudimentar que parece, dá uma pirueta de 360º sobre si mesmo e torna-se num dos mundos mais fora da caixa e atrativos que alguma vez visitei num videojogo. Porém, Super Mario Bros. Wonder é laudável por ser, tanto quanto sei, o primeiro AAA e adotar e quiçá popularizar a potencial expressividade dos videojogos que há muito persiste nos indie, e este passo merece ser comemorado.
Filipe Martins - Marvel's Spider-Man 2
Se há algo que me trouxe um dissabor com a aquisição da PlayStation 5, foi que com ela, quase todos os jogos têm agora a opção gráfica entre performance/qualidade. Enquanto a primeira privilegia os fotogramas por segundo, a outra foca-se mais em detalhes gráficos. Em praticamente todas as análises que redigi onde os jogos em questão tinham esta opção, optei sempre por dar mais enfase á opção performance, logo talvez tenha “perdido” um pouco em alguns detalhes gráficos em certos jogos.
Mas mesmo no modo performance um jogo destacou-se de longe. Marvel’s Spider-Man 2. É realmente arrebatador passar por todos os bairros de Nova Iorque, onde cada detalhe está belissimamente implementado.
Ricardo Neves - Alan Wake 2
Este ano, Alan Wake 2 leva a taça. Apesar de não ter tido a oportunidade de jogar, passei algumas horas a ver streams e consegui desde logo identificar a beleza na sua arte. Um título que, aliado ao enorme estilo realista, consegue trabalhar cada cena como se fosse uma autêntica peça de teatro ou de televisão. Parece que estamos a ver um filme que apela às nossas emoções de forma tão fácil! E "aquela" sequência genial que junta ação e música como eu nunca vi… Vai ser falada durante anos!
Carlos Silva - Marvel's Spider-Man 2
Aqui a grande luta, dos que joguei este ano, foi entre Final Fantasy XVI e Marvel’s Spider-Man 2. Para esta categoria irei escolher as aventuras dos nossos dois aranhiços preferidos. Ainda que Final Fantasy XVI seja um espetáculo visual, a categoria indica “Direção Artística” e isso leva-me a ponderar outras características para além das mais técnicas.
Acredito que Marvel's Spider-Man 2 apresenta o balanço perfeito entre qualidade e efeitos visuais, enquanto apresenta diversos momentos verdadeiramente arrebatadores e cativantes. A atenção ao detalhe é eximia e navegar em Nova Iorque nunca foi tão prazeroso.
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Digam-nos de vossa justiça! Concordam com as escolhas dos nossos redatores? Há alguma história que, na vossa opinião, mereça destaque e que não tenhamos referido ao longo deste artigo? Partilhem connosco as vossas opiniões, e enriqueçam esta discussão!
Introdução e Edição do Texto por Filipe Castro Mesquita
Thumbnail e Imagens de Texto por Carlos Cabrita
GameForces Awards 2023 - Melhor Direção Artística do Ano
Reviewed by Filipe Castro Mesquita
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dezembro 28, 2023
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