Análise | WarioWare: Move It! - A Felicidade em Fazer Figuras Tristes

Para este redator, o anúncio de WarioWare: Move It! foi completamente inesperado. Não é todos os dias que a Nintendo aposta num jogo totalmente baseado em controlos por movimento, especialmente após o lançamento da Nintendo Switch Lite. Esta foi, ainda assim, uma proposta que recebi de braços abertos: tudo indicava que seria uma sequência direta de WarioWare: Smooth Moves, um dos títulos de lançamento da velha Wii, que incentivava o jogador a utilizar o Wii Remote de formas estapafúrdias para vencer uma miríade de desafios bizarros em escassos segundos (os ditos “microjogos” nos quais a série WarioWare se centra). Com um método de controlo então inédito e potencial infindo, esta entrada da série rapidamente se tornou na minha experiência favorita da série. 

Nesse sentido, o novo Move It! não desiludiu. Nos mais de 200 microjogos do novo título, usamos não um, mas dois Joy-Con, o que dá azo a um novo mar de possibilidades. A cada missão da campanha, descobrirão novas poses e ver-se-ão a estender os braços como se fossem uma balança analógica, a pousar e mexer nos comandos no chão, a apontar o sensor IR de um Joy-Con para uma mão ou a imitar uma galinha, entre muitas outras posições, para cumprirem uma série de objetivos imprevisíveis, muito variados e criativos. Cada microjogo tem um estilo visual, funcionamento e enquadramento espacial singulares, sendo mais uma vez impressionante a quantidade de trabalho colocada em secções que duram no máximo uma dúzia de segundos. É frenético, é mirabolante, é hilariante: é WarioWare no seu melhor, e uma experiência fascinante não só de se jogar, mas também de se assistir!

Apenas posso apontar um defeito à jogabilidade: a imprecisão da deteção dos controlos em alguns microjogos específicos, que origina alguma irritação que é geralmente empurrada para debaixo do tapete quando o desafio seguinte chega. Existe ainda outro entrave à apreciação de Move It!: como o jogo não está localizado em português, apenas serão capazes de compreender o comando verbal que inicia cada microjogo se souberem inglês ou outra das línguas suportadas pelo título. Numa experiência em que a rapidez de reação é fulcral, este será um problema – especialmente se quiserem experienciar a aventura a dois com alguém menos versado em videojogos.

Se não fosse por este ponto, esta seria uma das experiências mais intuitivas e apelativas para multijogador com os mais novos e os mais veIhos, raramente precisando de quaIquer botão. Salvo esta restrição, avançar por esta experiência a dois é uma excelente forma de experienciar a aventura. O ritmo da ação pode arrefecer um pouco, visto que uma boa porção dos microjogos é concretizado à vez, mas não tem preço tentar ajudar a outra pessoa a perceber o que tem de fazer ou tentarmos desesperadamente entrar em sintonia em escassos segundos nos microjogos adaptados para multijogador!

Embora os microjogos sejam irrepreensíveis, não posso tecer o mesmo louvor à historia e cinemáticas em que surgem embrulhados na campanha. Neste título, Wario e companhia ganham uma estadia numa ilha paradisíaca e as peripécias de cada personagem são pouquíssimo excêntricas e inesperadas face às dos jogos anteriores e ao conteúdo dos seus próprios minijogos.

Adicionalmente, cada posição que assumimos nos microjogos é introduzida com uma cinemática simples, em que é narrado e exibido um curto texto explicando a pose e dando-lhe um significado humorístico. Em WarioWare: Smooth Moves o mesmo acontece; porém, enquanto adoro estas cinemáticas no jogo da Wii, abomino-as no da Switch. Por um lado, o narrador presente em Smooth Moves tem uma voz calma e tranquilizante e é acompanhado por notas ténues de piano e sons relaxantes, estabelecendo um contraste tão profundo com a jogabilidade que de certa forma alimenta a bizarria da experiência. Por outro lado, o narrador de Move It! tem uma cadência lenta e um tom entusiasmado que apenas posso descrever como “Padre Américo Aguiar em modo autoelogio” . É profundamente irritante, e não ajuda nada que cada um dos seus comunicados seja iniciado com a mesma frase e que o seu conteúdo seja menos engraçado do que o do predecessor. Este é um pequeno detalhe que talvez não merecesse 207 palavras deste texto, mas, quando tenho de presenciar estes momentos mais de 15 vezes em menos de 2 horas, é apenas natural que eu revire os olhos e imite em tom de desdém cada “thE voICe FroM aBoVE SPEAKS” que sou obrigado a aguentar.

Porquê “2 horas”? Porque, tal como é usual na série, a campanha tem esta curta duração. Para espremerem mais tempo de jogo de Move It!, precisarão de caçar pontuações máximas em cada um dos níveis do jogo e nos modos extra e minijogos estilo árcade… e realmente trazer amigos para a sala de estar – não só porque não existem quaisquer funcionalidades online, mas também porque uma série de modos apenas pode ser desfrutada com um total de 2 a 4 jogadores.

Estes modos alteram o contexto em que jogamos os microjogos: por exemplo, em Galactic Conquest estes são usados para determinar quem rola o dado num jogo de tabuleiro, em Listen to the Doctor! estes devem ser executados enquanto fazemos outras tarefas, como miar ou abanar a retaguarda, e em Switching Gears um jogador faz um movimento repetitivo para manter a janela de jogo visível para o seu colega vencer o microjogo, à vez. Porém, ao continuarem a ser centrados em microjogos, não contribuem tanto quanto deveriam para a variedade e rejogabilidade do título como os minijogos de Smooth Moves e os modos multijogador de Game & Wario.

Para terminar, não podia deixar de tecer uma nota sobre o desempenho de Kevin Afghani, que substituiu Charles Martinet como Wario. Ao contrário do que se verifica em Super Mario Bros. Wonder, os diálogos de WarioWare estão completamente dobrados em inglês. Talvez esta diferença seja mais desafiante para o ator, visto que ocasionalmente sinto estar a ouvir uma imitação de Wario em vez da irreverente personagem. Felizmente, a diferença não é profunda o suficiente para me abstrair dos acontecimentos, e acredito que será uma questão de tempo até Afghani se acostumar e dominar a cadência e timbre de Wario.

Agora, a sua performance na pele de Mario no microjogo referente a Super Mario 64… oh boy.


Conclusão

O valor de um WarioWare mede-se pela excentricidade e diversão dos seus videojogos e, nesse aspeto, WarioWare: Move It! sai no topo. Nos vários níveis desta entrada da série, ver-se-ão a trocar constantemente de posições e a contorcer-se para realizar imensos objetivos tão imprevisíveis quanto hilariantes, numa experiência altamente recomendável a todos os que estiverem dispostos a espremer bem o sumo deste título. Todavia, a cola narrativa que interliga e justifica os minijogos não espelha esta inventividade, e o conteúdo extra não possui a diversidade e apelo do dos predecessores.


O melhor 

- Experiência frenética e divertidíssima, tanto a solo como no modo cooperativo;

- Uma das melhores, senão a melhor, seleção de microjogos da série;

- Muita variedade de posições, sem repisar as ideias de WarioWare: Smooth Moves;

- Modos extra que complementam a campanha…


O pior

- …mas que estão longe de proporcionar uma lufada de ar fresco em relação ao resto da experiência;

- Valor de rejogabilidade mais dependente do que nunca da caça de recordes;

- Alguma imprecisão no controlo de certos microjogos;

- Inexistência de localização para português.


Nota do GameForces: 8.0

 

Título: WarioWare: Move It!
Desenvolvedora: Nintendo
Publicadora: Nintendo
Ano: 2023

Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a Nintendo Switch, através de um código gentilmente cedido pela Nintendo Portugal.

Autor da Análise: Tiago Sá
Análise | WarioWare: Move It! - A Felicidade em Fazer Figuras Tristes Análise | WarioWare: Move It! - A Felicidade em Fazer Figuras Tristes Reviewed by Tiago Sá on dezembro 19, 2023 Rating: 5

Sem comentários:

Com tecnologia do Blogger.