Controlarmos uma masmorra dá-nos um “Je ne sais quoi” de malvadez pronta a implementar nas nossas ações. No velhinho Dungeon Keeper de 1997, essa malignidade podia levar-nos a dar estalos aos nossos trabalhadores para que o nível de produtividade aumentasse, ou mesmo colocá-los numa sala e trancar a porta para vê-los cair até os corpos ficarem inanimados no chão. Em Naheulbeuk’s Dungeon Master, a gestão da nossa masmorra parece ter levado com alguns sindicatos à porta, retirando o poder malvado de outrora, mas implementando outros momentos bastante interessantes. Sentem-se ao balcão, relaxem e sejam bem-vindos a Naheul..qualquer coisa (não me obriguem a dizer este nome muitas vezes, por favor!).
Em Naheulbeuk’s Dungeon Master gerimos uma masmorra.
No modo campanha damos inicio a este desafio na pele de Reivax, um half-goblin no papel de fiel mordomo. Com apenas uma pequena
taverna e uma cozinha à nossa disposição, o nosso objetivo é, à medida que
avançamos no tutorial e completamos quests
e atingimos pequenas metas que nos são exigidas, ir construindo mais divisões e
contratando mais lacaios para as várias profissões/posições. Tudo isto para que o nível de
qualidade e a reputação da nossa masmorra cresça e ganhe prestigio entre outras
masmorras enquanto tentamos agradar o nosso dungeon
master, Zangdar.
Temos ainda o clássico modo de sandbox que possibilita abordagens diferentes ao jogo, oferencendo assim alguma rejogabilidade.
À medida que
vamos desbloqueando novas funcionalidades e novas divisões, o jogo vai ficando
cada vez mais difícil de gerir e a nossa atenção tem que se dividir cada vez
mais por entre as várias divisões e os vários andares da nossa masmorra à
medida que estes vão ficando disponíveis.
No entanto, o
ritmo a que isto acontece pareceu-me bastante aceitável e nada avassalador, ao
contrário do que acontece noutros jogos de gestão de bases ou cidades, dando
espaço para que cada novidade possa ser integrada no nosso jogo e na gestão da
nossa masmorra até se tornar algo natural ou intuitivo.
O conceito que
certamente se revelou o mais importante e relevante neste título desenvolvido
pela Artefacts Studio (e que
despertou mais interesse da minha parte), foi o sistema de receita constante por
parte da nossa taverna: Esta encontra-se aberta ao público para quem quiser desfrutar de uma boa
cerveja ou de um belo prato cozinhado pelos nossos chefs de cozinha (sejam eles humanos ou de qualquer outra raça!).
De entre raids planeadas
que dão para o torto, resultando na perda de staff, ou da defesa de incursões inimigas
na tentativa de esvaziar os nossos cofres onde temos todo o nosso dinheiro
guardado, incluindo o salário de cada funcionário, a taverna funciona como a principal
fonte de rendimento para Naheulbeuk.
A sempre presente
necessidade de melhorar e expandir esta divisão não é de todo entediante. Juntamente com o constante desbloquear de novas peças de mobília ou decorações para
atrair clientes e funcionários, esta característica trabalha muitíssimo bem a nossa criatividade e expõe
uma veia de designer de interiores
que achava não ter.
Aliado à taverna,
vem um sistema de rating isolado que funciona da mesma forma que funciona o
prestigio das restantes divisões da masmorra. A única diferença é o nome - Tripe Adviser – que facilmente associamos
ao conhecidíssimo TripAdvisor. Um detalhe bastante divertido!
Como é mencionado
na introdução desta análise, o poder que temos na gestão dos nossos lacaios tem
uma abordagem mais diplomática e ponderada quando comparando este título com o
seu antecessor espiritual. Por inúmeras vezes temos que ter em atenção as necessidades
básicas dos vários funcionários para que estes não entrem em protesto ou greve,
ou até mesmo que se despeçam! Por vezes, temos que ter mão firme e, prender um
deles para servir de exemplo ou até mesmo tomarmos nós a iniciativa de os
despedir para incutir algum receio nos restantes.
Mas nem sempre é
fácil… Com a variedade racial neste jogo, desde humanos, orcs, elfos, goblins
ou anões, temos que ter sempre
presente as diferentes ideologias e preferências de cada raça. Tudo isto, à medida que
vamos expandindo a masmorra e vamos tendo um maior número de staff, tornando-se exponencialmente cada vez mais complicado.
Chega mesmo ao
ponto de ser quase racista, quando nos apercebemos de que – por exemplo – os anões precisam de camas especiais ou do
seu próprio cantinho para comerem, isolados dos restantes e que ninguém gosta deles.
Visualmente, Naheulbeuk’s Dungeon Master não é propriamente uma obra de arte quando comparado com outros jogos da atualidade, mas o estilo da arte escolhido e a atenção ao detalhe tão notória funcionam muitíssimo bem em conjunto neste jogo. Tudo o que desbloqueamos e descobrimos, seja decorações ou mobília importante para o desenvolvimento da masmorra, parece ter uma história para contar com tanto detalhe interessante a nível visual.
Contrariamente ao que
se espera quando falamos de masmorras, em que é espectável ter vários níveis no
subsolo cheios de terra ao redor, neste título temos uma masmorra que fica acima
do nível do chão, quase como se de um castelo se tratasse, com uma paisagem
natural constante no fundo do ecrã.
O voice acting parece um bocado “pateta”
por vezes, com bastante uso de comédia. No modo de campanha principalmente, é
algo exagerado, mas talvez faça parte da experiência ao longo do tutorial que
pareceu não ter fim apesar das horas que passei neste título. De certeza que
haverá pessoal a achar mais piada a este registo mais goofy e descontraído nas falas do que outros, mas não deixa de ser
uma escolha algo acertada num simulador de gestão deste estilo. Tal registo
pode ainda ser notado em algumas das descrições de NPC’s ou de mobiliário por
escrito.
A música está
sempre dentro do tema de vilão, e podemos perceber isso desde os primeiros
segundos, logo no menu principal, ainda antes de começar a jogar. O que para
mim teve um bom efeito, pôs-me logo no mood
certo para encarar os meus lacaios numa era medieval.
Não há
propriamente muitos pontos negativos a apontar, mas nem tudo é um mar de rosas.
O que mais me
incomodou foi a fraca implementação do sistema de defesa contra incursões. Nem
com os mais de 50 ou 60 guardas que tinha a patrulhar os corredores da minha
masmorra ou com as várias galinhas espalhadas em pontos estratégicos a servir
de alarme contra a presença de inimigos, senti que estava realmente pronto a
defender a base. Aliado a isto, parece que cada vez que um inimigo passeia
pelos corredores e se cruza com um dos meus lacaios que não sejam guardas, está
sempre tudo bem! Não se pode gritar por ajuda ou socorro?! Não estamos numa
biblioteca, em que temos que ter atenção ao barulho. Algo estranho…
Para os mais
apaixonados pela organização e utilização de espaço nos vários andares da
masmorra, certamente que vão achar frustrante (tal como eu achei) haver vários
blocos de parede aleatoriamente posicionados que vão
tornar a construção bastante mais desafiante do que deveria ser, de forma
errada, tendo que construir com esses blocos em atenção.
Outro ponto
negativo, que possa estar relacionado com a falta de conhecimento da minha
parte, é ter alguns lacaios de
algumas raças a passar fome sem motivo aparente! Tenho, no mínimo, um
cozinheiro de cada raça para que as necessidades de todos sejam preenchidas e
tenho, também, uma cantina devidamente equipada para que todos possam comer à
vontade! Não entendo, ajudem-me…
Por último, e só um pequeno detalhe que pode incomodar, aconselho a que não encostem as secretárias às paredes no escritório de Reivax. Cada vez que este se vai sentar, caso a cadeira esteja encostada às paredes, fica meio embutido dentro delas. Um pequeno bug que pode retirar alguma da imersão enquanto gerimos a nossa masmorra.
Naheulbeuk’s Dungeon Master apresentou uma taxa de fotogramas constantes nos 60fps quando jogado com a qualidade em Alto numa resolução de 1440p, no meu computador com 32Gb de RAM, um i7-9700K e uma placa gráfica RTX 2070.
Conclusão
Apesar de Naheulbeuk’s Dungeon Master não transmitir exatamente a mesma ideia do seu antecessor espiritual, não quer dizer que lhe fique atrás. Este título oferece diversão para horas sem fim, com uma alusão à criatividade incrivelmente satisfatória e a possibilidade de rejogabilidade é sempre uma boa abordagem num jogo de gestão e construção.
O Melhor
- Ritmo a que o jogo desenvolve;
- Opções criativas;
- Todo o conceito envolvente na taverna.
O Pior
- Fraco AI em reação às invasões;
- Constante presença de comédia.
Pontuação do GameForces: 7/10
Título: Naheulbeuk’s Dungeon Master
Desenvolvedora: Artefacts Studio
Publicadora: Dear Villagers
Ano: 2023
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