A década de 90 foi particularmente rica em jogos que atingiram o estatuto de experiências de culto. De entre do mar de títulos existentes gostaríamos de particularizar os jogos de plataformas 2D com elementos de puzzle solving. O mais reconhecido conta com as aventuras de um certo príncipe da pérsia, mas houveram outros… mais virados para a ficção cientifica: Um desses foi “Flash Back”. Publicado em 1992 pela Delphine Software sob a tutela de Paul Cuisset, rapidamente obteve o reconhecimento generalizado da indústria, pelo seu grafismo, animação rotoscópica e um interessante level design.
Ainda que tenha sido publicada uma sequela direta do jogo, intitulada “Fade to Black” agora numa perspetiva 3D, essa nunca recebeu o devido reconhecimento e caiu no esquecimento generalizado. Por isso, foi com empolgante entusiasmo que recebemos a notícia de que “FlashBack 2” estaria a caminho. Ainda mais quando o Produtor original estaria envolvido!
A questões eram muitas. Principalmente sobre como o novo título se encaixava na narrativa, e que tipo de jogabilidade seria considerada. As primeiras impressões pareciam evocar que estaríamos de volta ao género de plataformas. Por um lado isso verificou-se no produto final, com um senão: Para além de controlar a movimentação da personagem ao longo do ecrã, também é necessário controlar a sua profundidade. Ou seja, ao usar o analógico para cima/baixo, a personagem vai mais para o fundo ou mais perto do jogador. Isto levanta problemas de jogabilidade, com a necessidade constante de acertar a posição certa da personagem, por exemplo a subir uma plataforma ou dar um salto no lugar correto.
Efetivamente existe um grave problema de controle da personagem, onde a coordenação da nossa mira com o analógico direito não ajuda. Basicamente a mecânica passa por apontamos para a área aproximada onde está o nosso alvo e rezarmos que ele faça lock-on no que pretendemos. Este problema somente se agrava quando a personagem insiste em não disparar como pretendido, sempre que os alvos estão muito próximos. Nestas ocasiões este, automaticamente, dará um pontapé que em nada ajuda a resolver a situação. Perdemos a conta das vezes que, estando rodeado de inimigos, ele simplesmente punha-se a dar pontapés que demoravam uma eternidade na sua animação…o que consequentemente levou-nos a morrer ou perder mais vida que o necessário.
Todos estes aspetos poderiam ser melhorados, inclusive os recorrentes bugs notados no controlo da personagem, contudo e infelizmente, estes não seriam os únicos a surgir. Também a nível gráfico denotamos sérios problemas. Quer seja pelo fraco controlo da camara em determinadas secções do jogo, bugs de sobreposição de modelos, personagens presas em cenários, quedas da personagem e inimigos para debaixo do cenário ou massivas quebras da taxa de fotogramas por segundo, inúmeros são os problemas notados. Inclusive, em diversas ocasiões, as personagens que deviam surgir não aparecem, bloqueando a progressão do jogo. Tivemos de, em diversas ocasiões, carregar um save bastante anterior para conseguir despoletar o evento que continuava a aventura. É pena que uma experiência, com cenários tão cuidadosamente caracterizados e uma ambientação excelente sofra de tantos problemas de cariz técnico.
Efetivamente Flash Back 2 apresenta um setting remanescente do título original, denotando uma cuidada caracterização do cenários e personagens. A narrativa em si, não se afasta muito do primeiro, que por motivos de spoliers não vamos abordar muito. Contudo é seguro afirmar que podem contar com mais aventuras de Conrad, na sua luta contra os seres denominados de “Morph”. Estes são alienígenas que conseguem assumir a forma humana e pretendem escravizar toda a população do nosso planeta. A forma de como é incluída na história original é interessante, revertendo para um momento final cativante que faz apelo à nossa veia nostálgica relativa aos dois títulos anteriores. Contudo, também nesta fase notamos problemas: O jogo contempla diversos finais e necessitámos de os passar diversas vezes, não para os ver a todos, mas simplesmente para os conseguir visualizar. Sim, os vídeos das sequências finais ficavam em preto, somente com o som a dar no ecrã…
Todos estes aspetos em conjunto, traduzem-se num crescimento da sensação de “necessitar mais tempo no forno”. Efetivamente o jogo contém inúmeros problemas graves a nível de mecânicas de jogo e prestação/modelação gráfica, levando-nos inclusive a diversas situações de pura frustração. Uma das mais críticas passa pela mecânica de autosave. Ainda que tudo no jogo demore um excessivamente longo tempo na gestão dos saves (só para aparecer este menu dos saves, demora cerca de 15 segundos…fora carregar o save!), os autosaves são quase instantâneos… para o segundo anterior a morrermos! Ou seja, quando somos sobrelotados com uma onda de inimigos em cima de nós, é frequente morrermos, somente para surgirmos novamente e morrer no segundo a seguir. Isto faz com que tenhamos de lidar com um “Slow-motion” de mortes até conseguirmos sair do meio da confusão.
O jogo apresenta alguns pontos a favor, nomeadamente a inclusão de algumas mecânicas de condução e puzzle solving, mas que no global não conseguem reverter a avalanche de problemas técnicos e de jogabilidade que o assolam. Adicionalmente, nem a própria banda sonora consegue se impor (ainda que os efeitos sonoros estejam bastante competentes).
Conclusão
Flashback 2 necessitava de passar mais uns meses a limar as suas arestas. Não há outra forma de expor isto. Quer seja pela quantidade significativa de problemas gráficos, problemas em despoletar eventos, passando pelas suas mecânicas de jogo desajustadas, são demasiadas as situações onde tivemos de recorrer a toda a nossa paciência para conseguir o completar. A sua premissa base é interessante e a sua origem entusiasmante, mas é certamente uma experiência que beneficiaria de um refinamento.
O melhor:
- Setting dos Cenários;
- Prestação dos Actores de Voz;
- História e forma de como encaixa na narrativa dos títulos anteriores.
O Pior:
- Inúmeros bugs gráficos;
- Quedas frequentes da taxa de fotogramas;
- Problemas de controlo de personagem;
- Banda sonora insípida.
Pontuação do GameForces - 3.5/10
Título: FlashBack 2
Desenvolvedora: Paul Cuisset, Microids Studio Paris
Publicadora: Microids
Ano: 2023
Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a PlayStation 5, através de um código gentilmente cedido pela Microids.
Análise | Flash Back 2 - Um Regresso Inglório ao Passado
Reviewed by Carlos Silva
on
novembro 23, 2023
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