O único aspeto
do “jogo jogado” que se apresenta notoriamente pior é o sistema de faltas.
Qualquer toque no botão de desarme ou de carrinho que não resulte
exclusivamente em contacto com a bola dá falta. Por outro lado, se eu levar
Rúben Dias a correr contra a bola ou contra o jogador adversário que tem a sua
posse sem clicar em nada e ganhar no físico, nunca é falta. Isto resulta em
mecânicas de defesa pouco intuitivas e caóticas, e em cenários ridículos
de jogadores a serem completamente abalroados sem que a bola seja tida nem achada, mas como não se carregou num botão de desarme, segue jogo.
Como já acontecia com estes jogos quando
tinham outro nome, EA Sports FC 24 oferece-nos uma quantidade e
variedade enorme de modos de jogo nos quais podemos simular jogar o
desporto-rei. E claro, terei de começar pelo modo que mais horas de consome
todos os anos, o modo de carreira. Mas permitam-me um curto desabafo:
continuarem a inspirar-se em Football Manager não é uma boa ideia. Se
todos louvámos a introdução de mecânicas de desenvolvimento personalizadas
ou a possibilidade de mudar a posição de um jogador neste modo, agora a EA
Sports levou as coisas um pouco longe demais com as três principais mudanças deste ano.
A introdução de estratégias de equipa não
parece impactar em nada o modo como a o nosso 11 se comporta em campo. A
contratação de staff de treino é uma chatice, porque nunca dá para contratar em
número ou qualidade o suficiente de modo a potenciar ao máximo o
desenvolvimento dos nossos jogadores. E os planos de treino também não produzem
efeitos visíveis, para além da enxurrada de e-mails a dizer-me para estar
constantemente a trocar de plano para este jogador e aquele. Estas são as três
mudanças neste modo face ao jogo do ano passado, e são todas más: a primeira é
inócua, a segunda piora uma vertente deste modo que era bastante divertida, e a
terceira é só irritante pelo spam de mensagens que causa. Salva-se uma quarta mudança, que consiste na introdução de novas cenas cinemáticas durante o intervalo (vendo os jogadores regressar ao balneário e receber indicações) e as cenas cinemáticas de cerimónias de prémios, onde vemos jogadores ou treinadores da nossa equipa a participar em entregas de prémios. Adições que acrescentam pouco, sim, mas que são giras.
Felizmente, parece que alguns dos maiores
bugs e problemas do modo de carreira do ano passado não estão presentes este
ano, mas isso não significa que esteja tudo resolvido. As conferências de
imprensa antes e depois das partidas continuam repetitivas e cheias de
perguntas e respostas que não fazem sentido. Há vários comentários que não
fazem sentido, como um hilariante que me dava as boas-vindas à final da
Champions no início do primeiro jogo da fase de grupos contra o Radomiak Radom.
Continua a haver transferências que acontecem em todos os modos de carreira,
sem falta. E claro, os ocasionais bugs gráficos ou textos de placeholder
que surgem aleatoriamente. Mas pelo menos, o jogo parece não correr o risco de
bloquear nas transições entre as sequências de negociação de transferências e
os menus do modo de carreira, como acontecia no ano passado tantas vezes.
Passando rapidamente por alguns dos
outros modos, o modo VOLTA continua essencialmente o mesmo. Apresenta uma boa
variedade de jogos mais rápidos e curtos que se aproximam do que era FIFA
Street (mas nunca capturando aquela magia), e um sistema de criação e
personalização do nosso jogador profundo. No entanto, fico com a impressão que
este modo também piorou face ao ano passado em dois aspetos: a nova interface
torna mais difícil distinguir quem são os elementos da nossa equipa, e a aposta
em microtransações parece ser mais agressiva do que antes – são precisos
imensos créditos para comprar itens de personalização, e os que ganhamos a
jogar casualmente nunca são em número suficiente para ir fazendo compras a um
ritmo gratificante.
Também foi neste modo que encontrei os
únicos problemas técnicos do jogo. Não consegui jogar uma única partida online,
dando erro sempre que tentei. E mesmo o modo offline funcionou bastante mal, bloqueando-me
o jogo mais do que uma vez. Como se isso não bastasse, o jogo registou-me como
tendo entrado e desistido do jogo, resultando em várias derrotas por 3-0
inevitáveis. O modo VOLTA já não era uma vertente onde investisse muito tempo, e depois
do que vi aqui, assim continuará.
Felizmente, o modo Ulitmate Team não
sofre dos mesmos problemas de acesso às partidas, tendo eu experimentado vários tipos
de jogo online e offline que funcionaram sempre sem problema. Mas sofre também
de problemas de microtransações excessivas e agressivas – que continuam a
tornar este um modo pay-to-win, convém referir -, e é incrivelmente
penalizado pela nova interface de utilizador que torna os menus demasiado confusos.
Antes de descobrir como raio podia jogar uma partida normal de Divisões online,
devo ter perdido uns bons 10 minutos a navegar o pior sistema de menus de que
tenho memória num videojogo.
Mas é também no Ultimate Team que encontramos
a melhor novidade, se não mesmo a única adição verdadeiramente positiva de EA Sports FC 24: a
inclusão de jogadoras de futebol feminino. Sim, a partir deste ano passa a ser
possível calhar-nos jogadoras nos pacotes de cartas virtuais e criar equipas
que misturam atletas masculinos e femininas no mesmo 11. Para além de dar aos
jogadores que adoram este modo um leque ainda maior de atletas para experimentar
quando estiverem a montar as suas equipas, este é um passo em frente enorme e
bastante louvável por parte da EA Sports na promoção do futebol feminino.
Mas esta promoção não se fica por aqui, havendo
mais modos de jogo para equipas de futebol feminino e ainda mais clubes e
jogadoras presentes no jogo. E sim, os adeptos e as adeptas portuguesas podem orgulhar-se
de ter um clube luso no elenco de novas equipas, uma vez que a equipa feminina
do Benfica pode ser escolhida para disputar diversos troféus, incluindo a
Champions League. E é possível levar Kika Nazareth e companhia a levantar o troféu
da maior competição de clubes enquanto apreciamos contadores e grafismos oficiais
que podemos ver na televisão na vida real.
Nota-se que muita mais atenção foi dada aos
modos de futebol feminino, e há que elogiar esse trabalho. Agora quero que
incluam um modo de carreira mais completo, com transferências malucas e
sistemas de academias e desenvolvimento de jogadoras jovens. E adicionem o
Sporting, de modo que eu não tenha de usar o Arsenal na Champions League
feminina do próximo jogo.
Conclusões
Não vos vou mentir, EA Sports FC 24 tem sido algo desapontante até agora. As mudanças não são assim tão grandes face ao ano passado, mas há modos a funcionar pior, novidades que irritam mais do que divertem, erros com anos de existência que continuam a não ser resolvidos e uma nova interface de utilizador feia e confusa. Nem tudo é mau, já que, se descontarmos o sistema de faltas, a jogabilidade continua a ser divertida e a melhor do mercado. Portanto, se os simuladores da EA Sports já vos cativavam antes, este também cativará. Se não, ou se estão fatigados da fórmula, então é provável que façam como eu e não esperem pelo apito final para sair do estádio.
Não vos vou mentir, EA Sports FC 24 tem sido algo desapontante até agora. As mudanças não são assim tão grandes face ao ano passado, mas há modos a funcionar pior, novidades que irritam mais do que divertem, erros com anos de existência que continuam a não ser resolvidos e uma nova interface de utilizador feia e confusa. Nem tudo é mau, já que, se descontarmos o sistema de faltas, a jogabilidade continua a ser divertida e a melhor do mercado. Portanto, se os simuladores da EA Sports já vos cativavam antes, este também cativará. Se não, ou se estão fatigados da fórmula, então é provável que façam como eu e não esperem pelo apito final para sair do estádio.
O Melhor:
- Jogabilidade base continua a ser bastante divertida
- Novas estatísticas interativas em tempo real são muito boas
- Miríade de modos de jogo e de formas de personalizar partidas com amigos
- Inclusão de atletas das ligas femininas no Ultimate Team
- Interface e menus feios e até confusos
- Grande discrepância entre jogadores com e sem atributos de ouro
- Modo de carreira com problemas do passado e novidades irritantes
- Modo VOLTA cheio de erros no acesso às partidas
- Sistema de faltas incompreensível
Pontuação
do GameForces – 6/10
Título: EA Sports FC 24
Desenvolvedora: EA Sports
Publicadora: EA
Ano: 2023
Autor da Análise: Filipe Castro Mesquita
Análise | EA Sports FC 24 – Nova Era Começa com Uma Falta Feia
Reviewed by Filipe Castro Mesquita
on
outubro 05, 2023
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