Análise | Under the Waves - Suster a Respiração



Existem experiências, as quais entramos nelas, com uma boa dose de expectativa que acaba por revelar-se defraudada. Depois existem aqueles títulos que ao joga-los ficamos com a impressão de algo no começo da experiência, que depois acaba por não se concretizar. Under the Waves, da reconhecida produtora "Quantic Dreams" (Detroit Become Human, Heavy Rain, Beyond: Two Souls, de entre outros) consegue enquadrar-se numa intersecção de ambas as situações.

Contudo, ainda que na esmagadora maioria das vezes as situações mencionadas tendem a afectar negativamente aquilo com que ficamos ao finalizar o jogo, ocasionalmente existem aquelas situações que estes aspectos funcionam para beneficio do jogador. É nesta particular categoria que Under the Waves se encaixa.




Quem jogou os títulos anteriores da Quantic Dreams poderá criar expectativas em termos narrativos, de jogabilidade e gráficos, mas Under The Waves consegue surpreender em abanar um pouco esses alicerces e apresentar algo mais diferenciado. Desde cedo que existe uma sensação de que esta é uma experiência diferente, desde o seu grafismo, passando pela temática e jogabilidade, todos os aspectos foram ora simplificados ou refinados, o que se traduz numa experiência bastante fluída, cativante e envolvente para o jogador. Mas vamos por pontos.

Antes de abordar a questão do enredo, existem dois grandes aspectos associados a jogos da Quantic Dreams que devem ser discutidos: gráficos de topo e... jogabilidade tosca. Quem jogou os seus anteriores títulos, facilmente reconhece o objectivo destas palavras. Felizmente, Under the Waves apresenta uma das melhores jogabilidades que experimentei num jogo subaquático. Explorar, nadar ou pilotar consegue apresentar uma imersão e resposta ideal para o conceito: explorar todo um fundo submarino. Quer seja a explorar cavernas ou a pilotar o pequeno submarino para rectificar falhas nas condutas submarinas, os controlos são intuitivos, com uma boa resposta e de rápida interiorização. Já no que se refere ao grafismo, desta fez o foto-realismo foi substituído por uma estética mais cartonesca que funciona perfeitamente para o conceito do jogo, onde a particular refracção da luz em ambientes subaquáticos é uma realidade.




Portanto, estamos perante duas arriscadas alterações por parte da produtora que funcionaram em pleno, levantando a questão: será que o enredo, história a caracterização de personagens continua ao nível elevado das suas experiências anteriores? Numa palavra... Sim, bem pelo menos na sua generalidade.

Em Under the Waves controlamos o destino de Stan, um experiente nadador que aceita uma posição numa duvidosa empresa petrolífera para poder encontrar paz para lidar com uma situação da sua vida pessoal. Esta posição implicará que deverá passar uma temporada numa base subterrânea no mar do norte, onde deverá realizar diversas actividades de manutenção e limpeza nas suas redondezas.

Para isso, teremos à nossa disposição um conjunto de ferramentas que facilita e permite a exploração deste deslumbrante cenário. Em particular destacamos o pequeno submersível "Moon" que servirá de transporte para as longas distâncias e ajudar a balancear a necessidades de oxigénio que usamos quando mergulhamos sozinhos no imenso oceano. Evitando complicações desnecessárias, o seu controlo, operação e manutenção são simples, permitindo ao jogador focar-se na componente de exploração.




Efectivamente, é nesta fase que o jogo verdadeiramente brilha. O espaço aberto é enorme, onde existem inúmeros recantos para explorar a bordo do Moon, ou em mergulho isolado. A recompensa passará por recolher diversos materiais, coleccionáveis, entradas no livro de registos, etc. Tudo, permitindo a Stan conhecer um pouco mais sobre este mundo, o que existe no fundo do mar e as actividades menos licitas da empresa para a qual trabalha.

É notório o esforço da editora em preparar uma experiência envolvente, com o protagonista frequentemente a apresentar cativantes interjeições de acordo com os eventos que ocorrem no ecrã. A sua caracterização está bem conseguida e permite a fácil associação a esta personagem, a sua condição e desafios que enfrenta a nível pessoal.



Contudo, creio que se lembram ter afirmado que neste jogo existe um sentimento no inicio que acaba por não se concretizar, certo? Pois bem, desde o inicio existe a sensação de algo sobrenatural ou alienígena a trabalhar por detrás das cortinas, algo que nos faz constantemente ficar à espera de uma revelação nessa âmbito. Contudo, a produtora teve a coragem em apostar numa revelação bem mais enquadrada com a realidade dos nossos dias e que no longo prazo permite ao jogador experimentar uma ponderação bem mais realista (e possivelmente mais assustadora). Esta foi, certamente, uma novidade muito bem introduzida, que louvamos e esperamos ver mais vezes nos seus lançamentos.

Este aspecto ganha nova dimensão quando existe uma colaboração única entre Parallel Studio, Quantic Dream e Surfrider Foundation Europe. A fundação Surfrider forneceu documentos de pesquisa e feedback à equipa de desenvolvimento do Parallel Studio, o que lhes permitiu adicionar contexto à aventura de Stan. Destacamos principalmente os registos sobre o ambiente ou determinados troféus/conquistas dedicados. Este aspecto permite passar mensagens informativas de uma forma integrada com a experiência e sensibilizar para a protecção dos oceanos e da costa, causa dedicada liderada pela Surfrider em todo o mundo!



Por fim, não posso deixar de abordar a componente audio-visual. Como relatamos, aqui o grafismo apresenta um aspecto diferente dos restante lançamentos da Quantic Dreams, mas que no fundo cumpre bem como propósito, sem comprometer a prestação gráfica. Verdade que existem alguns bugs gráficos, nomeadamente sobreposição de modelos ou efeito de "Pop-up" de alguns peixes, mas nada que verdadeiramente impacte a experiência no seu global.


No que se refere à sua banda sonora, esta é verdadeiramente memorável e perfeitamente enquadrada com os eventos que vão surgindo ao longo do jogo. Também os efeitos sonoros ajudam a interiorizar e envolver a já cativante componente de exploração.




Conclusão

Em Under the Waves não encontrei o grafismo de Detroit Become Human ou o enredo que Heavy Rain desenvolve, mas encontrei uma experiência mais sólida e envolvente na sua globalidade. Simplificando alguns elementos e refinando outros, estamos perante uma sólida narrativa que cativará os jogadores e facilmente permitirá associarmos-nos à luta da personagem... a nível pessoal ou profissional.

A aposta da produtora em aliar-se a uma organização com conhecimento "in loco" da realidade e dificuldades que os nossos oceanos atravessam foi uma aposta ganha e que vejo como um exemplo a seguir por parte de outras editoras.




O melhor
  • A caracterização e envolvimento de todo o ambiente sub-aquático;
  • O controlo e jogabilidade;
  • Caracterização das personagens;
  • Introdução bem conseguida de questões ambientais no enredo e jogabilidade.


O pior
  • Alguns bugs gráficos;
  • Certas áreas tornam-se complicadas de descobrir qual a orientação a seguir.

Nota do GameForces: 8.0/10


Título: Under The Waves
Desenvolvedora: Parallel Studio
Publicadora: Quantic Dreams
Ano: 2023

Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a PlayStation 5, através de um código gentilmente cedido pela Quantic Dream.
Análise | Under the Waves - Suster a Respiração Análise | Under the Waves - Suster a Respiração Reviewed by Carlos Silva on setembro 11, 2023 Rating: 5

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