Análise | Lies of P - A verdade da mentira



Era uma vez um velho carpinteiro, de seu nome Gepeto, que vivia sozinho e sonhava em ter um filho. Um dia, ele decide criar um boneco de madeira que ganha vida, graças à magia de uma fada. Batizado de Pinóquio, o boneco tem o desejo um dia se tornar um menino de verdade e tem a ajuda do grilo falante para o ajudar nessa contenda. (Já agora ficam a saber que o nome original do grilo era Jiminy Cricket sendo inicialmente apenas um anagrama para a expressão Jesus Cristo! (Jesus Christ), vá se lá saber bem porque. 

Acredito que até aqui, esta história não é novidade para ninguém. Agora imaginem esta narrativa ser passada numa cidade com um estilo gótico, numa época da nossa história designada por Belle Époque que decorreu entre 1890 e 1914 cheia de glamour, bailes e vestidos de senhora pomposos e espampanantes. Onde a tecnologia dava o seu salto evolutivo com os primeiros carros, cinemas, e telefones a marcarem o momento.  

Mas em vez de vermos toda essa alegria e vivacidade, damos de caras com uma aura sombria, negra, sangrenta e marionetas macabras sugestivamente com interesse em nos destruir. 

Bem vindos a Lies of P.



Aqui as nuances entre a história original que conhecemos de Pinóquio, são deliciosamente alteradas, e conhecemos o nosso personagem P, uma marioneta que misteriosamente ganha vida. Desde cedo é compelido a salvar a cidade de Krat, que se torna um verdadeiro pesadelo, praguejada de marionetas que tal como o nosso personagem ganharam vida, mas foram compelidas a aniquilarem grande parte das pessoas que viviam nesta então outrora cidade cheia de vida (e com uma industria baseada na criação de marionetes). Onde o Pinóquio original ficaria com o nariz maior por mentir, P destaca-se de todas as outras marionetas, pois mentir não traz qualquer alteração física. Mas, como na vida real, a mentira tem consequências e é interessante sentir o poder de deliberação que dá ao jogador tomar certas decisões, fazendo um culminar interessante, mesmo que seja só numa fase final do jogo.


Lies of P é, em toda a sua essência, um jogo Souls. A jogabilidade, o sistema evolutivo da personagem, a maneira como morremos e podemos recuperar os pontos, o seu grafismo presente na tela, o local onde certos inimigos estão escondidos, as armadilhas... alguém que conheça o género está completamente familiarizado e preparado. Até a dificuldade associada a esta categoria é a esperada, não havendo qualquer opção de fácil/difícil, deixando ao critério do estúdio as dificuldades que os jogadores irão vivenciar. Sentimos que é uma dificuldade justa, mas para novos jogadores, poderá ser implacável. 



Apesar disso, logo no inicio da aventura temos que tomar a opção que mais caracteriza o nosso estilo, onde podemos escolher entre um focado em destreza, outro em poder, ou um mais balanceado, sendo que em cada um, os atributos com que o nosso personagem começa são diferentes. A verdade é que durante o nosso gameplay, descobrimos que este Soul premeia não tanto a esquiva (como o dodge roll sobejamente conhecido de outros títulos) mas sim a eficácia com que defendemos. Tirando ataques especiais, tudo pode ser defendido. Onde numa defesa normal perdemos stamina e vida (esta pode ser recuperada se atacarmos rapidamente o inimigo que nos atacou)  uma defesa perfeita perdemos somente stamina, obrigando o jogador a acertar os timings em que pressionamos o botão para defender. Ajuda bastante os movimentos serem bastante fluidos quando carregamos nas teclas, um pormenor bastante necessário neste género de jogos e que Lies of P faz com mestria.

Mas o título não se deixa ficar por aqui. Acrescenta algumas opções que trazem algo interessantes, envolvendo o enredo de uma maneira bastante sublime. P, sendo uma marioneta, tem um braço mecânico, como se fosse uma arma secundária, que podemos alterar consoante o nosso estilo de jogo e evoluir com o nosso desenvolvimento. Também as armas principais tem uma componente nova. Estão classificadas  entre 2 aspetos, a lamina e o punho sendo possível fazer combinações entre todas as laminas e todos os punhos das armas que formos obtendo para o nosso arsenal. Este aspecto trás uma diversidade imensa ao jogador, criando inúmeras possibilidades para decidirmos qual melhor se adequa ao nosso estilo. Adicionalmente é introduzido um sistema em árvore do nosso pequeno coração mecânico, onde podemos escolher certas melhorias para o nosso personagem, usando itens específicos.



Todo o ambiente sombrio da cidade de Krat está bem caracterizado, dando ao jogador um sentimento de alerta, culminado com uma roupagem gráfica que apesar de não ser brilhante, faz o que lhe é pedido: não manchar a pintura de Lies of P. Talvez num momento menos bom, podemos destacar que as nódoas no fato, que o nosso personagem ganha durante os eventos de combate com os diversos inimigos, são um pouco estranhas ou talvez um pouco exageradas. Já em termos de sonoplastia, não é algo de encher o ... ouvido, mas é competente na sua perspectiva e faz aquilo que se propõem. 



Apesar desta mediana abordagem, tenho que destacar um pormenor soberbo. Durante o nosso gameplay, iremos recolher discos de vinil, que podemos tocar na nossa base, e que nos ajuda a tornar mais humanos. Não sei se P se torna  realmente mais humano, mas a mim como jogador, certas musicas escolhidas transportaram-me para a época, e admito que parei de jogar e fiquei somente a viajar na minha mente a ouvi-las. Recomendo vivamente, e deixo aqui o link para todas as musicas que podemos recolher. Penso que, se o estúdio tivesse tomado a decisão de as por a tocar durante o gameplay, traria uma energia que preencheria as lacunas que a componente audiovisual  denota.

Em detalhes mais técnicos podemos escolher dois modos gráficos, o modo centrado em perfomance que mantem o jogo a 60 fotogramas por segundo com uma resolução de 1080p e o modo centrado na qualidade que melhora ligeiramente a iluminação e as sombras, com uma resolução de 1440p, mas fixando a taxa de fps nos 30. Se tivermos um ecrã que tenha uma refresh rate de 120hz, dentro do modo de performance, podemos escolher adicionalmente a opção de High Frame Rate, que permite usufruir desta taxa superior. Durante o modo performance, que foi o escolhido para 99% do nosso gameplay, não houve qualquer quebra, portanto é o que recomendo.


 



Conclusões

É um nicho quem gosta de jogos soulslike. Não é para todos e Lies of P é uma experiência cruel para os mais relaxados, mas tem vários pormenores tão bem feitos que recomendo a quem quiser embrenhar-se por um novo universo alternativo da história de Pinóquio e companhia. Não tem o destaque de, por exemplo Elden Ring, mas tem a sua própria identidade que, não mentido, deixa o jogador envolver-se e sentir um misto de emoções positivas (e algumas menos positivas quando morremos) durante o tempo que tem o comando na mão.


O Melhor:

  • A sua história e enredo;
  • Sistema de armas;
  • A playlist dos vinis;

O Pior:
  • Alguns detalhes gráficos não tao bem conseguidos
  • Detalhes sonoros durante o gameplay pouco detalhados


Pontuação do GameForces – 8/10


Título: Lies of P
Desenvolvedora: NEOWIZ e Round8 Studio
Publicadora: Fireshine
Ano: 2023


Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a PlayStation 5, através de um código gentilmente cedido pela ICO Partners.


Autor da Análise: Filipe Martins 
Análise | Lies of P - A verdade da mentira Análise | Lies of P -  A verdade da mentira Reviewed by Filipe Martins on setembro 25, 2023 Rating: 5

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