Por mais que os lançamentos da
Nintendo Switch se tenham mantido entusiasmantes ao longo dos anos, ainda há
quem olhe para trás e diga “nada supera 2017”. Pois bem, esta afirmação não caiu
em ouvidos moucos: desde 2022, a Nintendo aparenta estar a procurar recapturar a
magia desse ano inaugural da consola. No ano passado, a Nintendo cativou os fãs de
Xenoblade Chronicles 2, Splatoon 2, Mario + Rabbids: Kingdom Battle e Mario
Kart 8 Deluxe lançando Xenoblade Chronicles 3, Splatoon 3, Mario + Rabbids:
Sparks of Hope e uma DLC para o jogo de corridas que duplica o número total de pistas.
Ainda assim, a melhor surpresa
ficou reservada para 2023: o jogo de
lançamento da Switch que ajudou a veicular o conceito híbrido da consola, que
reinventou a forma como experienciamos videojogos e quiçá foi
responsável por arrancar uma das melhores gerações da história da Nintendo
recebeu uma sequência! Falo, obviamente, de Everybody 1-2 Switch!, uma nova
experiência de festa no estilo de 1-2-Switch.
Esta nova experiência parece ter
sido empurrada para debaixo do tapete antes mesmo de sair do berçário: foi
anunciada no começo de junho através de uma única arte promocional e uma
descrição básica no site da Nintendo, recebeu o seu trailer principal na
véspera da grande Nintendo Direct desse mês, e foi finalmente lançada na mesma
data de MASTER DETECTIVE ARCHIVES: RAIN CODE, outro título que também foi distribuído
pela Nintendo. Agora, chegou a hora de nós avaliarmos se o jogo merece de
facto ficar debaixo da carpete sem nunca mais ver a luz do dia, ou se deve ser
de lá resgatado, limpo e orgulhosamente exposto no hall de entrada!
No jogo de lançamento da Nintendo
Switch, a nossa atenção não é dedicada ao ecrã da televisão, mas sim ao nosso
adversário, em minijogos para dois jogadores que utilizam todas as
funcionalidades dos Joy-Con, como o giroscópio, HD Rumble e sensor IR. Como o nome
do sucessor indica, Everybody 1-2-Switch! almeja expandir o alcance da ”diversão”,
permitindo que mais jogadores participem na festa. Até 8 jogadores podem participar
no modo Joy-Con… ou 100 no modo smartphones! No entanto, este redator só
conseguiu arrastar 3 coitados para as partidas de teste, tendo sido com esse total
de 4 participantes que testou as várias vertentes da experiência.
Independentemente do número de
participantes, todos competirão em duas equipas no modo principal do jogo: Team
Contest. Cada partida de Team Contest dura cerca de 20, 40 ou 60 minutos,
consoante a opção de duração escolhida pelo jogador, e envolve unicamente a realização
sequencial de minijogos. Os diferentes minijogos presentes envolvem algumas atividades
familiares para os fãs de outros jogos de festa (como Mario Party e Wii Party U),
como contar o número de objetos que surgem no ecrã e encontrar o comando que
outros jogadores esconderam algures na sala.
Salvo algumas exceções, os minijogos presentes são pelo menos decentes e estão acompanhados de apelativos ambientes audiovisuais… mas este não é um elogio forte quando Everybody 1-2-Switch! conta com um mísero total de 17 minijogos. Não se deixem enganar pela interface do jogo: a maior parte dos 40 espaços da lista de minijogos corresponde a variações de dificuldade dos minijogos base, e os dois modos extra no menu principal (Bingo Party e Quiz Party) são basicamente versões estendidas de dois minijogos comuns, sem novidades significativas. Portanto, em Team Contests de 40 e 60 minutos que sejam minimamente renhidos, é garantido que vão ter de repetir vários minijogos antes da coroação de um vencedor.
Nestes períodos de jogo, os
minijogos ainda poderiam ser repetidos mais vezes se não fosse a quantidade
absurda de palha auditiva em que estão embrulhados. Sempre que iniciam um Team
Contest, e sempre que terminam um minijogo, lá vem o apresentador Horace palavrear
um pouco. É compreensível a inclusão de um “animador e anfitrião de festas” em
partidas que podem ter até 100 participantes; contudo, quando as suas deixas se
alongam e atrasam a progressão entre minijogos, este revela-se um empecilho e
um verdadeiro inimigo do pacing das partidas.
Os minijogos em si sofrem da mesma maleita, sendo acompanhados de longos tutoriais e de desnecessárias
falas de contextualização, que são extremamente intrusivas numa experiência que
supostamente promove a interação direta entre os participantes. É comum
decorrerem vários minutos entre o começo e conclusão de vários minijogos, mas apenas
termos dedicado uma dúzia de segundos a efetivamente jogá-los. Sinto que
estamos perante o conceito inverso de WarioWare: em vez de termos microjogos
imaginativos e experienciados a um ritmo estonteante, encontramos minijogos básicos e
indevidamente arrastados no tempo.
E quando vários destes minijogos
são simplesmente adaptações de jogos populares da vida real, como o jogo das
cadeiras e o jogo das estátuas, é inevitável perguntarmo-nos “Porque é que eu
não retiro a Switch da equação e desfruto destes jogos com os meus amigos, sem
um intermediário?”. Em última instância, os maiores pontos positivos da participação
nestes jogos através de Everybody 1-2-Switch! são a existência de uma “desculpa”
para sequer realizá-los e a existência de um juiz imparcial, concretizado no
código do jogo. Este segundo ponto poderá ser mais impactante para crianças – o
que torna questionável a ausência de uma localização para português num título em
que as indicações auditivas assumem especial importância.
Sem substância e sem ser capaz de rivalizar outras propostas do gênero ou mesmo a simples e económica realização analógica dos seus minijogos na vida real, Everybody 1-2-Switch! esgota completamente o seu valor de entretenimento em escassas horas. Acredito que esta experiência poderia ser mais aliciante se a sua proposta fosse aprofundada com uma quantidade mais robusta de minijogos, um ritmo global mais acelerado e adequado para uma verdadeira festa, e mais eventos e elementos de jogo que evoluam as partidas para além de um sortido básico de minijogos.
O meu interesse em ver uma versão
melhorada desta experiência decorre principalmente do quão bem conseguida está a
componente smartdevice. Basta cada jogador fazer scan a um código
QR (mantendo uma ligação internet ativa) para se juntar à sala e jogar a partir
do telemóvel. Implementando bem a câmara, giroscópio e ecrã de toque nos minijogos,
incluindo funções de comunicação como emojis e mensagens curtas, e ostentando várias
transições, panos de fundo e efeitos sonoros que encaixam nos desenvolvimentos
das partidas, esta aplicação web pode até parecer demasiado sofisticada vinda
da Nintendo, uma empresa com a cabeça enterrada na areia no que toca aos desenvolvimentos
das infraestruturas online. Nem tudo é perfeito: por exemplo, notamos um
ligeiro atraso na concretização de certas ações que não existe com os Joy-Con;
no entanto, a influência dos pequenos problemas desta applet nas partidas
é muito diminuta.
Conclusão
Com uma seleção de minijogos
anémica e insuficiente profundidade para diversificar as partidas, Everybody 1-2
Switch! esgota completamente o seu apelo em duas ou três horas. Na atual
consola suprema do multijogador local, esta proposta é incapaz de chegar aos
pés das inúmeras alternativas superiores presentes no vasto catálogo da
Nintendo Switch, o que é uma pena dado ser, no seu cerne limitado, uma
experiência acessível e intuitiva para todos e mais direcionada para a
interação humana direta.
O melhor
- Boa implementação de smartphones
nos minijogos.
- Apresentação atrativa da
experiência;
- Seleção globalmente decente de
minijogos centrados em interação humana…
O pior
- …mas em quantidade
insatisfatória;
- Pacing das partidas inadequado
para um party game;
- Partidas resumidas à realização
sequencial de minijogos;
- Inexistência de localização
para português aliena as crianças, que poderiam extrair mais proveito deste
pacote.
Nota do GameForces: 5.0
Desenvolvedora: Nintendo
Publicadora: Nintendo
Ano: 2023
Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a Nintendo Switch, através de um código gentilmente cedido pela Nintendo Portugal.
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