Análise | AEW: Fight Forever - Devagar se vai ao longe (talvez)


Antes de passarmos para a análise em si, gostaria de explicar um pouco o que é a All Elite Wrestling (AEW)... algo que o próprio jogo faz questão de nos contar logo no primeiro momento em que o iniciamos. Em 2018 Cody Rhodes e os Young Bucks, pertencentes à quase falida Ring of Honor, juntaram-se para fazer um evento denominado de ALL IN. O objectivo era conseguirem juntar 10000 pessoas para um evento de wrestling com diversos atletas de inúmeras companhias. Contra todas as expectativas, os bilhetes esgotaram em cerca de 30 minutos e, assim, o evento ocorreu e teve uma audiência de quase 12000 pessoas! Assim sendo e após esse enorme sucesso, em 2019 surgiu a All Elite Wrestling, uma companhia de wrestling que prometia boas oportunidades e uma enorme liberdade criativa. Quatro anos se passaram e foi lançado o primeiro jogo da aclamada companhia que prometeu e cumpriu o seu plano de revolucionar a indústria. O título foi apresentado pela primeira vez no ano passado, contudo, e após alguns atrasos, finalmente foi lançado... se foi um sucesso? Veremos.

 


AEW Fight Forever segue muito as mecânicas dos jogos da série WWE Smackdown VS. Raw, algo que não surpreende uma vez que é produzida pela Yuke's, a mesma companhia que produziu grande parte dos jogos de wrestling. Começando pelo combate, este é bastante semelhante aos títulos mais recentes da WWE2K, no qual os nossos lutadores conseguem realizar ataques leves, pesados e agarrar os inimigos, permitindo assim concretizar os mais variados combos. Para além disso o jogo inclui todo um conjunto de mecânicas às quais sempre fomos habituados em todos os jogos de wrestling,  como usar as cordas para fazer ataques aéreos, saltar dos cantos do ringue ou até utilizar armas (estas que estão disponíveis debaixo do ringue ou até mesmo no público). Quanto a estas últimas, vale mencionar que a variedade de armas presentes neste jogo é absurda e demonstra realmente o rumo que os produtores quiseram levar o jogo. Para além das típicas cadeiras, mesas e bastões que sempre presenciamos, o jogo apresenta também armas bastante extravagantes como bolas, cones de trânsito, bombas e até um skate. Muitas destas armas representam bem o que é AEW Fight Forever: um jogo dentro do universo do wrestling, com diversas mecânicas de arcade, que fazem lembrar os jogos mais antigos do género. Portanto, um título mais focado na diversão do que no realismo em si. 

Para além dessas mecânicas já mencionadas temos ainda a que permite defendermos-nos de socos e agarres. Este seria um bom aspecto, não fosse o facto dos dois “reversals” simplesmente não funcionarem, levando a um resultado final um pouco catastrófico. Posso dizer que em cada 10 agarres se me consegui defender de 1 foi bastante. Quanto aos socos a percentagem de sucesso é um pouco maior contudo, longe de perfeita. 



Outro aspeto negativo da jogabilidade, que já não viamos desde 2007 na franquia rival, é a possibilidade de “correr” pressionando apenas um botão, que coloca a nossa personagem a correr em linha reta. Para além de difícil de utilizar não é muito apelativo para quem procura efetuar combates repletos de combos. Por fim, e para terminar estes aspetos negativos, gostaria de realçar a pouca lógica que os ataques especiais (finishers) têm neste jogo. Ao efetuarmos bastantes combos e termos uma boa performance durante a luta, uma barra que se encontra por baixo do nome do nosso lutador irá preencher-se, sendo que, assim que esta estiver preenchida, podemos decidir entre utilizar o signature ou o finisher. O primeiro pode ser utilizado as vezes que quisermos, contudo o finisher só pode ser utilizado uma vez, pois a barra esvazia-se após a utilização deste ataque. Muitas vezes eu efectuava, talvez sem exagero, 3 signatures e 1 finisher em um lutador e o mesmo conseguia resistir ao meu pin (manobra utilizada para terminar a luta). De forma incoerente, e após isso, bastava eu dar um simples soco no inimigo e voltar a efetuar o pin e ganhava o combate. O dano que os ataques causam nas personagens não têm qualquer relevância e isso viu-se desde os primeiros combates de treino. Adicionalmente, o jogo apresenta inúmeros bugs, como a nossa personagem voar, não conseguirmos acabar combos porque atrapalham-se na hit-boxes dos lutadores e até mesmo a inteligência artificial dos inimigos que muitas vezes fica ridícula ao ponto deles repetirem o mesmo ataque 10 vezes seguidas… 


Para além dos típicos combates 1VS1 e tag team 2VS2, o jogo tem também combates de 3 e 4 lutadores (todos contra todos), o modo "Casino Battle Royale", "Ladder Match" e o "Exploding Barbed Wire Death Match" sendo este último algo novo e bastante diferente do que já vimos outrora. Neste modo de luta 1VS1 teremos de derrotar o nosso inimigo num ringue no qual as cordas foram substituidas por arame farpado elétrico, todas as armas contêm também arame farpado e de X em X tempo irá ser efetuada uma explosão na qual o lutador mais perto das laterais irá sofrer mais dano. É neste tipo de combate que se consegue perceber alguns detalhes bastante interessantes e relacionados com o realismo que os produtores colocaram nos efeitos de sangue. Ao contrário dos jogos da WWE, nos quais os lutadores apenas ficam com sangue na cara, aqui se atacarmos alguém com uma arma forrada com arame farpado, este irá ficar com sangue e feridas na zona onde é atacado. Por último, o jogo contém também alguns minijogos que nada têm a ver com os combates, mas sim para talvez termos um bom momento em família ou com amigos. Apesar dos diversos aspectos positivos que estes modos de combate apresentam, temos de referir que avariedade de modos de luta é bastante limitada.

Algo que também é bastante limitado são todos os aspectos sobre os lutadores e a criação de novos. Para terem uma ideia, a AEW na vida real atualmente tem cerca de 195 lutadores, contudo o jogo apenas nos oferece a possibilidade de jogar com 52... e mesmo assim estão todos bastante desactualizados e longe das feições ou aspectos que têm actualmente. Quanto à criação de lutadores, a minha opinião foi um pouco mista. Por um lado, achei bastante reduzida a quantidade de opções de personalização que o jogo oferece tanto em termos físicos como de vestuário. Por outro lado, todas as opções de criação de entrada e de movimentos está bastante completa, com bastantes movimentos que podemos utilizar como finisher ou signature e inúmeras opções de escolha para as entradas (incluindo até entradas de lutadores que não estão presentes no jogo e de outros que nem sequer lutam na AEW). Esta vertente ajuda bastante quem procura criar esses lutadores e incluir ao seu elenco. Um aspecto de melhoria que gostaria de referir, é a possibilidade de introduzir um motor de pesquisa para procurarmos pelo movimento que queremos, algo semelhante ao que temos nos jogos da WWE onde podemos pesquisar por filtros.



Para concluir os modos de jogos disponíveis, gostaria de falar do modo Road to Elite... este modo que tinha TUDO para ser incrível... mas não é. Este modo, que por outras palavras trata-se de um modo carreira, consiste em escolhermos um lutador ou criarmos um novo e fazermos o nosso caminho pela AEW até ao evento principal, o DOUBLE OR NOTHING. De uma forma resumida, o nosso lutador frequenta o evento semanal da AEW (o AEW DYNAMITE), que acontece todas as semanas num local novo dos EUA. Antes do dia do evento temos sempre 4 dias de preparação, dias esses que podem ser utilizados a efectuar diversas actividades como treinar, passear por locais históricos, participar em mini-jogos e até comer a comida típica da zona onde estamos. Todas estas actividades influenciam certos aspectos na nossa personagem. Se treinarmos demasiado podemos ter uma lesão, que pode ser recuperada através de uma cirurgia e "perdemos" 2 dias. Porém se preferirmos passar os dias a passear e a comer enchemos a barra da felicidade, mas não ficamos em forma física para o combate. O maior problema que consegui verificar neste modo carreira é sem dúvida o desenrolar da história. Independentemente da personagem que usamos, a história é sempre a mesma, onde a única variação são algumas personagens que lutamos lado a lado ou contra que podem variar. Contudo, no final vai dar sempre à mesma conclusão. Outro aspecto negativo são as fracas histórias que o jogo apresenta: numa semana somos amigos de um lutador, na semana a seguir já somos os maiores inimigos. Num segundo somos campeões por equipas com outro lutador, na semana a seguir já não somos sem qualquer justificação. Sem esquecer de referir que cada "modo carreira" contém entre 10 a 15 lutas, um número bastante pequeno para o que é.

Quanto ao desempenho do jogo, este funciona bastante bem, sem qualquer queda de fotogramas ou até mesmo bugs visuais. O design das arenas e das personagens, apesar de ser bastante fraco, tem personagens bastante grandes em comparação à realidade, que por um lado até assenta bem com o estilo arcade que o jogo adoptou, por outro deixa um pouco a desejar. O mesmo pode-se dizer das entradas que, apesar de durarem cerca de 5 a 10 segundos (basicamente só vemos o inicio das entradas dos lutadores) fazem bastante jus à realidade.




Conclusão

AEW Fight Forever está longe de ser um jogo da companhia de wrestling "rival", com alguns bugs, um modo carreira muito fraco, um número limitado de modos de lutas e uma quantidade muito reduzida de lutadores. Tudo isto faz com que este pareça um jogo incompleto. É triste ver que estão presentes as músicas de entrada e as entradas de certos lutadores, contudo os lutadores em si não estão presentes no jogo e, em alguns casos, os mesmos surgem como DLC no dia de lançamento do próprio jogo! Apesar de eu considerar que é um jogo bastante divertido, não houve um único momento em que me senti realmente agarrado ao jogo e, muito menos, entusiasmado por jogá-lo. Não é que seja mau, só não está lá. Talvez seja este o inicio de uma grande franquia de jogos, mas esta entrada inicial não entra para a história dos melhores sem dúvida.



O melhor:

  • Diversas armas e objetos que podem ser utilizados durante os combates;
  • Um combate em estilo arcade que não é perfeito mas "dá para o gasto";
  • A existência de um modo de carreira (Road to Elite)...



O pior:

  • ... mas que ficou MUITO aquém das expectativas;
  • Diversos bugs;
  • Diversas mecânicas no combate que não funcionam;
  • Poucas opções na criação de lutadores;
  • Entradas e músicas de personagens presentes no jogo, contudo as personagens em si não.



Nota do GameForces: 5/10


Título: AEW Fight Forever
Desenvolvedora: Yuke's
Publicadora: THQ Nordic
Ano: 2023

Nota: Esta análise foi realizada com base na versão física do jogo para a PlayStation 5.



Análise | AEW: Fight Forever - Devagar se vai ao longe (talvez) Análise | AEW: Fight Forever - Devagar se vai ao longe (talvez) Reviewed by Carlos Cabrita on agosto 10, 2023 Rating: 5

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