Análise | Pikmin 4 - Quem Espera Sempre Alcança

Graças a Deus, Alá, Brama, Zeus, Odin e todas as outras divindades! Habemus Pikmin 4!

Ao longo da Quinzena de Pikmin, espero que tenha ficado claro não só o quão singular e fenomenal esta série é, mas também o profundo apreço que tenho por ela. Não estava a brincar quando disse que Pikmin 4 era o meu jogo mais aguardado de 2023. Mesmo neste momento, é surreal e gratificante ver o jogo instalado na minha Switch, ao lado de Pikmin 1, Pikmin 2 e Pikmin 3 Deluxe. Porém, esta alegria não significa necessariamente que a sequência correspondeu às minhas expectativas! Se leram o nosso artigo de primeiras impressões, sabem que saí da demo com imensos receios.

A começar pela história: o Capitão Olimar fica encalhado no planeta inexplorado PNF-404 após uma aterragem acidentada e envia um pedido de ajuda intergaláctico. Esta comunicação é recebida pela Brigada de Resgate, cujos membros de elite fazem jus à sua reputação… despenhando-se imediatamente no planeta. A sorte deles foi terem deixado para trás a nossa personagem, um recruta inexperiente da Brigada, que se dirige prontamente a PNF-404.

Após a aterragem, o protagonista rapidamente descobre que não foi apenas a Brigada de Resgate que ficou presa no planeta. Imensas pessoas, desde um desempregado a uma turma de escola, todos concorrentes favoritos para o Darwin Award, gravitaram para PNF-404 como traças para a luz e dependem de nós para regressar a casa. Assim, o nosso estagiário assume a missão de explorar o planeta e salvar todos os sobreviventes. Para isso, ele precisa de encontrar os astronautas espalhados pelo planeta e de recolher tantos dos tesouros quanto possível, para deles extrair o combustível Sparklium e poder aceder a novas áreas, uma de cada vez.

Não querendo confirmar todas as minhas suposições prévias, apenas digo: esta é uma reimaginação de Pikmin 1, e não é evidente se esta conduzirá ou não aos eventos de Pikmin 2 e 3. Fico extremamente perplexo e um pouco desiludido por a Nintendo ter decidido descartar o enredo simples estabelecido pelos predecessores. Sim, esta decisão garante que o jogo pode ser desfrutado por qualquer um, mesmo quem nunca jogou um Pikmin, mas isso não foi um problema nos 3 títulos anteriores!

Neste reboot, uma das principais novidades é Oatchi. Ao chegarmos ao planeta, encontramos este cão espacial, que é uma ajuda preciosa durante toda a aventura, antes mesmo de descobrirmos os pequenos Pikmin. Nas campanhas da série, nós progredimos através do uso eficiente dos Pikmin: dependendo do local para onde enviamos estas criaturas alienígenas pequenas e fiéis, elas automaticamente realizarão ações por nós, seja atacar inimigos e obstáculos, transportar objetos úteis ou construir pontes. Para cada tarefa, convém escolher o Pikmin ideal: por exemplo, os Pikmin vermelhos têm mais poder de ataque e são resistentes a ataques de fogo, enquanto os inéditos Pikmin de gelo conseguem congelar corpos de água e inimigos.

Ora, Oatchi é uma segunda personagem jogável que funciona como um híbrido entre um capitão e um Pikmin, sendo por um lado capaz de comandar os pequenos ajudantes, e estando por outro apto para realizar todas as ações de um Pikmin comum! Isso significa que, durante a jogabilidade, temos sempre nas mãos a decisão libertadora de decidir se Oatchi é mais bem empregue a realizar tarefas simples como um Super-Pikmin, a liderar o seu próprio exército Pikmin ou simplesmente a acompanhar o nosso recruta. Somando a isto algumas diferenças elementares entre o capitão humanóide e o cão, que restringem as áreas que cada um pode visitar, temos todas as peças para puzzles interessantes no estilo de Luigi’s Mansion 3!

…Porém, sem a opção de os resolver a dois como na aventura de caça de fantasmas. No modo cooperativo de Pikmin 4, o jogador não controla um capitão, mas sim um ponteiro com o qual atira pedrinhas e itens para barreiras e inimigos, enquanto reflete nas escolhas erradas que fez durante a vida. Este papel diminuído do segundo jogador é uma deceção imensurável, especialmente após o irrepreensível modo multijogador de Pikmin 3 Deluxe.

Se acharem que um defeito pode anular outro, talvez gostem de saber que nas várias áreas da superfície não existem puzzles…? Em PNF-404, a Nintendo opta por um level design mais naturalístico em que a exploração e o combate são o nosso foco. A travessia dos mapas continua a ser divertida como sempre, sendo um prazer aproveitar ao máximo cada dia da missão (com duração de 15 minutos) para farejar os tesouros e limpar a eito as áreas em busca dos 100%… mas se havia uma boa sequela para apostar em puzzles, era esta. Afinal de contas, uma das grandes mudanças neste título é a passagem de um planeta pós-apocalíptico para um recheado de construções humanas intactas. Pouco me espantaria se, durante a investigação de uma casa imaculada, de repente um humano se atirasse para o sofá para ver Netflix.

Esta radical mudança de paradigma era a desculpa perfeita para os desenvolvedores converterem itens do nosso dia a dia em mecânicas variadas, e não foi minimamente aproveitada. Se eu critiquei Tinykin por este mesmo problema, sendo que a sua campanha já nos coloca a interagir com eletrodomésticos e itens do nosso quotidiano a todo o santo momento, a minha desilusão aqui é imensurável. É verdade que não aprecio o que estes ambientes recheados de pegadas humanas implicam para o worldbuilding da série mas, desde que joguei a demo, já passei pela negação, raiva, negociação, depressão e aceitação com o facto de estarmos perante um reboot.  Por isso, no meu recém-atingido estado de conformismo, só esperava que os novos alicerces da série fossem aproveitados ao máximo. Algo está errado quando a história de Pikmin 3 Deluxe, que decorre em regiões desoladas, nos coloca a acender lâmpadas com a eletricidade dos Pikmin amarelos e a equilibrar as criaturas em balanças para resolver puzzles, enquanto o jogo recheado de objetos humanos nunca faz algo parecido. Consequentemente, os sinais humanos só servem para enriquecer a apresentação da aventura.

Mas que efeito têm na apresentação! Nunca antes houve um mundo tão rico em detalhes na série Pikmin. Esta abundância de pegadas humanas torna a pequenez das personagens mais impactante do que nunca, seja quando passamos debaixo de um banco ou quando nos vemos sob a grelha de uma churrasqueira. A nova câmara deixa-nos ver o mundo do ponto de vista das nossas personagens, e pinta os predadores locais como colossos imponentes. As novas habilidades de Oatchi e do recruta permitiram a criação de um mapa com relevo complexo, deixando para trás os locais praticamente planos de Pikmin 1 e 2.

Isto para não referir que todos os elementos à nossa volta são de um detalhe e beleza assoberbantes. Para além do esplendor que oferece aos ambientes, esta qualidade dá aos “tesouros” que encontramos uma sensação tangível. Sendo estes na verdade objetos comuns da Terra, é comum vermo-nos intrigados por artefactos doutros tempos ou curiosos para estudar o detalhe de itens do nosso quotidiano. Os diversos efeitos físicos são igualmente impressionantes, seja no modo como a luz atravessa os locais, ou como um Pikmin gera ondas capilares ao caminhar na água. Dou por mim incrédulo com a capacidade do hardware da Nintendo Switch de renderizar estes ambientes a uns inabaláveis 30FPS. Não há qualquer dúvida de que este é um dos jogos mais lindos da consola e, se juntarmos a isto a riquíssima paisagem sonora, um dos mais envolventes.

É em parte por isto que tolero a mudança de paradigma ambiental. Outro grande motivo para eu a engolir reside nas caves! Tal como em Pikmin 2, encontramos várias entradas para áreas subterrâneas na superfície das regiões do jogo, onde os sobreviventes se refugiaram. Estas têm até vinte pisos e nelas não podemos cultivar ou chamar mais Pikmin, o que nos obriga a focar na sobrevivência em detrimento da gestão de tempo.

Estas caves são um gigante passo em frente em relação às de Pikmin 2: nenhuma é proceduralmente gerada, e a maioria respeita um tema específico e inclui quebra-cabeças simples, compensando pela ausência destes na superfície! Por exemplo, numa cave gelada, todos os Pikmin exceto os de gelo param frequentemente a tremer de frio em vez de nos seguirem, até resolvermos a causa da baixa temperatura. Noutro complexo subterrâneo, apenas podemos usar os Pikmin azuis, mas temos de atravessar vários pisos preenchidos por inimigos de fogo, eletricidade e veneno (se isto vos soa familiar, são automaticamente meus compadres na vida e no PTSD). Ainda existem inimigos e rochas a cair do céu do nada como na segunda aventura da saga, mas em Pikmin 4 é mais fácil adaptarmo-nos a estas armadilhas: temos mais tempo para antecipá-las, e esta nunca surge às seis de uma vez. Com todas estas alterações, as caves passaram de um suplício para um ponto forte e memorável do jogo!

Existem ainda algumas caves especiais, onde o nosso objetivo é salvar sobreviventes que foram transformados em folhanos, ou seja, humanóides com a cabeça coberta por folhas e obcecados por estratégia, em diferentes tipos de missões. Se jogaram Pikmin 3 (Deluxe), poderão ter ficado alarmados pela ausência do Mission Mode no menu principal da sequência. Este era o modo em que as nossas capacidades de planeamento e multitasking eram verdadeiramente colocadas à prova: em cada missão, temos um limite de tempo para tentar recolher tantos tesouros quanto possível e, no final, recebemos uma medalha com base na nossa performance. Alcançar a medalha de platina é muito desafiante e viciante e permite-me desafiar o mito de que os homens só conseguem fazer uma coisa de cada vez! Para meu alívio, estas missões existem em Pikmin 4 e foram simplesmente integradas na história, na forma de Dandori Challenges, em que temos de provar as nossas habilidades a um folhano!

Noutras caves, enfrentamos o folhano diretamente em Dandori Battles. Nestas batalhas, temos de recolher mais tesouros do que o oponente, e podemos interferir diretamente com ele roubando os tesouros que está a transportar ou usando itens para matar os seus Pikmin! As Dandori Battles não estão no mesmo nível das Bingo Battles de Pikmin 3, mas este não deixa de ser um modo versus de excelência e, tal como no predecessor imediato, pode ser jogado em multijogador a partir do menu principal.

Os folhanos que salvamos em Dandori Challenges e Battles precisam de ser curados para voltarem à sua forma normal e para isso, pela primeira vez na série, precisamos de explorar durante a noite! …Quer dizer, não é bem explorar. Após o sol se pôr, temos de proteger lampireiros imóveis, para extrairmos destes a seiva pirilâmpica necessária para a cura. As criaturas selvagens são mais agressivas à noite, e, para nossa inconveniência, são atraídas pela luz do lampireiro, pelo que as temos de derrotar antes de destruírem a estrutura. A nossa carta na manga é os Pikmin pirilampos, que não só são resistentes a fogo, água, veneno e eletricidade, mas também são capazes de se teletransportar entre o nosso capitão e Oatchi.

Embora seja uma boa adição que adensa a experiência, esta ainda se encontra num estado rudimentar: o comportamento das criaturas selvagens não é suficientemente diferente do que assumem de dia para alterar significativamente o combate, e o modo só não se torna repetitivo com o passar do tempo por ser relativamente curto. Ao longo das várias missões noturnas, os únicos parâmetros que se alteram são o número (um ou dois) e posição dos lampireiros e os inimigos na ofensiva, algo insuficiente em secções em que o combate é a nossa única tarefa. Em virtude da escassez de novidades, nunca vi motivo para alterar a estratégia básica que defini numa fase inicial.

Portanto, vamos recapitular: áreas na superfície, caves, expedições noturnas, Dandori Battles, Dandori Challenges. É impressionante a quantidade de conteúdo incluída em Pikmin 4, que vos garantirá pelo menos 35 horas de prazer em PNF-404. Nenhum segundo deste tempo é monótono ou redundante, tal é o nível de qualidade e variedade da experiência do início ao fim. Porque este é também o Pikmin com o maior número de áreas superficiais; o maior número de tipos de Pikmin integrados na história (todos os principais); o maior número de colectáveis para recolher; o maior número de inimigos e bosses únicos (ultrapassando substancialmente a quantidade já impressionante de Pikmin 2); o maior conjunto de melhorias, se somarmos as habilidades de Oatchi e as ferramentas extremamente úteis. Não consigo frisar o suficiente o nível de ambição presente neste título, que torna evidente o carinho e dedicação da equipa de desenvolvimento a Pikmin 4.

Ambição essa que também se vê na inclusão das listas de inimigos e tesouros, dado que todos os objetos e criaturas têm descrições únicas. Eu sei que, nas minhas primeiras impressões, critiquei os textos “redigidos” pelas personagens Nauzer e Dalmo mas, agora que tenho todos os registos desbloqueados, posso admitir que estava completamente… certo! É louvável o modo como os dois têm dezenas e dezenas registos redigidos, e mesmo assim sei menos sobre eles do que sobre o peixe do meu dentista. Inicialmente, só tinha interesse na Piklopedia pelas novas funções de inspecionar tesouros e de interagir ou combater com os monstros num ambiente seguro, mas a minha estima por estas listas mudou completamente graças à inclusão mais tardia de registos extra redigidos por outros exploradores. Estes textos elevam a Piklopedia e Tesouropédia aos padrões de Pikmin 2 e fazem delas um prazer de devorar, algo que nem a localização para português do Brasil conseguiu estragar!

Eu fico contente por todas as pessoas que finalmente podem compreender os textos em Pikmin graças a esta tradução completa dos textos. Todavia, não considero injusto querer ter a opção de mudar a linguagem para inglês dentro do jogo, algo que a Nintendo nunca possibilita nos seus lançamentos. Como disse no passado, esta tradução concilia o ocioso, o ridículo e o inadequado ao contexto europeu, e eu não deveria precisar de mudar a linguagem do sistema para escolher a linguagem de um único título.

Opções é, no geral, o que falta para elevar o jogo para uma obra-prima. As minhas preferências linguísticas são o menor dos males, em comparação com a dificuldade desajustada de Pikmin 4. Já se tinha verificado uma queda monumental na exigência da aventura entre Pikmin 2 e 3, e Pikmin 4 introduz uma nova em relação a Pikmin 3.

O meu maior ponto de frustração reside na nova mira automática, que trivializa a maior parte dos combates. Oponentes básicos como Dwarf Bulborbs em Pikmin 1, 2 e 3 ajudavam-nos a treinar a nossa mira; em Pikmin 4, basta premirmos A nas suas imediações e eles morrem imediatamente, dando tanto trabalho como o avanço de uma caixa de texto numa visual novel. Para além disso, esta mira ocasionalmente escolhe alvos que nós não desejamos focar, sendo profundamente irritante ver a fluidez do nosso movimento afetada porque temos de combater a mira até a levarmos para o objeto pretendido, seja manobrando a minha personagem pela área de jogo ou usando ZR para alternar entre alvos. Do mesmo modo, charge envia todos os Pikmin de uma vez para um inimigo, tal como em Pikmin 3, e com esta ação podemos matar a maior parte dos inimigos antes de eles pensarem em ripostar – alguns deles bosses!

E é criminoso recriminar um cão por ser um aliado incansável, mas Oatchi é simplesmente demasiado útil. Depois de alguns upgrades, ele é um tanque com a força de 100 Pikmin e uma dentada capaz de deixar os inimigos a ver São Pedro. Por vezes, simplesmente envio o Oatchi para os outrora imponentes (Orange) Bulborbs em vez de os enfrentar diretamente e, enquanto adianto outras tarefas, o cão rasga os inimigos e volta para mim alegremente como se não tivesse cometido crimes de guerra. Noutros momentos, mantenho-o comigo para abusar do seu charge ainda mais poderoso contra inimigos mais fortes. E, se não achar isso suficiente, posso sempre ir buscar os Pikmin de gelo e usá-los para congelar as criaturas selvagens.

As Dandori Challenges não são imunes a este problema. Nas últimas dez, a dificuldade é intensa. Obrigando-me a repetir recorrentemente os desafios até delinear a trajetória perfeita para obter uma medalha de platina, adorei cada segundo que dediquei a estas missões. No entanto, em todos os outros desafios consegui a cobiçada medalha na primeira ou segunda tentativa, pelo que estes níveis são menos um teste às nossas habilidades e mais um treino de ciclismo em bicicleta com rodinhas.

Estes problemas de balanço verificam-se também ao nível estrutural: desde logo, não há um limite de dias. Um limite rígido de tempo não funcionaria nesta campanha, dado o seu volume de conteúdo, mas um limite dinâmico como o de Pikmin 3 seria capaz de imprimir a devida urgência no progresso da história. Como já discuti nesta Quinzena de Pikmin, a inexistência de um prazo é deletéria para a jogabilidade de Pikmin, por invalidar a necessidade de realizar multitasking ou de priorizar/equilibrar tarefas e por promover estilos de jogo lânguidos, prudentes e aborrecidos. Se bem que o título já cospe na noção de planeamento quando nos permite recuar no tempo a partir do menu, anulando o impacto dos erros que cometemos.

É uma pena que estas duas decisões nulifiquem a importância da estratégia porque, na minha opinião, é nesta aventura que somos confrontados com o conjunto de variáveis mais entusiasmante para o nosso planeamento. As pontes e paredes escaláveis criadas pelos Pikmin são construídas com pedras amorfas, que podem ser encontradas um pouco por todas as áreas. É também com elas que compramos ferramentas, por isso é estimulante decidir quantas pedras amorfas vamos “perder tempo” a recolher e quais construções e ferramentas queremos criar!

Além disso, quando começamos a aventura, apenas podemos extrair um máximo de 20 Pikmin para o terreno. Um baixo número de Pikmin condiciona as tarefas que podemos realizar, mas existe uma solução: Onions especiais que, uma vez recolhidos, nos permitem extrair 10 Pikmin adicionais. Estes Onions tornam-se assim um colectável que temos de priorizar! Para além do comando Go Here introduzido em Pikmin 4, podemos indicar ao capitão inativo que realize tarefas diferentes, como procurar Pikmin inativos ou ir ter com o outro capitão. Por fim, o evidente: o colossal número de tesouros para recolher aumenta a complexidade da definição de uma rota. Este é o jogo Pikmin onde temos mais escolhas! ...mas no qual estas menos peso têm.

De certa forma, diria que o jogo quer sobrepor-se às nossas decisões: quando entramos ou abandonamos uma cave, podemos ajustar a nossa equipa de Pikmin; contudo, fazemo-lo com ponto de partida num grupo pré-definido pelo jogo. Quando atiramos Pikmin para um item, somos brevemente impedidos de continuar a fazê-lo após dispensarmos o número exato de Pikmin necessários para o transportar, o que significa que temos de esperar caso queiramos enviar mais Pikmin. Por fim, só podemos ter 3 tipos de Pikmin connosco na superfície. Visto que em cada área precisamos de usar precisamente os 3 tipos recomendados pelo jogo para a concluir a 100%, esta limitação só serviu para me desencorajar de aproveitar ao máximo os diferentes tipos de Pikmin normais.

“Velho do Restelo, se gostas tanto de otimizar o teu trajeto, precisas mesmo de razões fortes ingame para o fazer?” Não, mas convém não ter entraves. Este é o primeiro título da série desde os da GameCube que não nos deixa recuar nos dias de jogo ingame, algo agravado pelo autosave. Quando eu disse que Pikmin 2 não tinha motivo para ter dias, estava enganado. Cada um funciona como um checkpoint lógico no nosso avanço e, se eu quisesse treinar um dia em específico para melhorar a minha performance, podia fazê-lo com facilidade. Em Pikmin 4, apenas podemos repetir e treinar um dia específico se recorrermos a artimanhas como duplicar os ficheiros de jogo no menu inicial do jogo ou manter dados de gravação específicos na cloud, sendo ambos os procedimentos demasiado trabalhosos para serem recomendáveis.

E, já que estamos a falar de aspetos negativos, deixem-me apontar alguns nitpicks, daqueles que vos deixarão a perguntar-se se não tenho mais em que pensar: várias das habilidades mais úteis do jogo são desbloqueadas tardiamente, quando já têm pouca ou nenhuma utilidade. Os inimigos da superfície não voltam após morrerem, o que significa que, eventualmente, as regiões tornam-se em descampados. Ao menos Pikmin 2 tinha a decência de adicionar mais inimigos à medida que o tempo passa, em vez de tirar os que já lá estão! Pikmin 4 não possui um minimapa, apesar de um ter sido introduzido em Pikmin 3 Deluxe. Resgatamos tanta gente, incluindo uma Brigada de Resgate, mas só o recruta inexperiente e o cão exploram as áreas. Mais uma vez, são os internos a segurar a operação de pé, enquanto os manda-chuvas reivindicam os bons resultados! Esta quantidade de pessoas e a tranquilidade que permeiam a jornada contrariam os sentimentos de urgência que Pikmin 1 e 3 possuíam, o que torna a história menos marcante.

Por mais que Pikmin Bloom vos possa querer enganar, Pikmin nunca foi uma banal série feel good, mas Pikmin 4 parece querer mudar isso. Porém, esta queda da dificuldade está longe de arruinar a experiência para mim, porque esta foi mitigada de algumas formas pelos desenvolvedores. Mesmo com o autoaim e charge, alguns dos bosses tardios são desafiantes, o que confere a Pikmin 4 a curva de dificuldade mais polida e gradual da saga. A inexistência de um limite de dias na história principal é desapontante, mas a Nintendo atirou-me um osso na forma de uma surpresa carnuda, que me fez reviver os tempos de Pikmin 1! Não posso em boa fé negar que adoro este jogo quando, após o terminar, recomecei imediatamente a aventura num novo ficheiro de gravação, ignorando os suspiros de exasperação do meu backlog gigante.



 

Conclusão

A espera de 10 anos por um novo Pikmin foi excruciante. Pelo menos, se é certo que nem todo este tempo terá sido investido em Pikmin 4, certamente parece que foi. A quantidade de modos, áreas, missões, Pikmin e inimigos neste pacote é impressionante, mas não tão impressionante como a sua consistente excelência. 

Se nunca jogaram uma aventura de Pikmin, esta iteração bela, viciante e divertida é sem dúvida a melhor para conhecerem a série... até porque é a mais fácil. Mesmo com algumas oportunidades desperdiçadas ao nível da dificuldade, modo cooperativo e puzzles, Pikmin 4 sagra-se como um dos melhores jogos dentro do catálogo da Nintendo Switch.

 

O melhor

- História massiva e de qualidade consistente…;

- … com o maior número de áreas, Pikmin, inimigos e colectáveis de qualquer título da série;

- Bastantes modos distintos apelando a diferentes estilos de jogo, todos integrados na campanha principal;

- Melhoria substancial das caves em relação a Pikmin 2;

- Regresso da Piklopedia e Treasure Hoard;

- Introdução de Oatchi como personagem jogável;

- Novos comandos e ferramentas muito úteis;

- Visuais e paisagens sonoras deslumbrantes;

- Inclusão de inúmeras variáveis para capacitar decisões estratégicas…

 

O pior

- …desencorajadas por vários princípios mecânicos do jogo;

- Retrocesso inaceitável no funcionamento do modo cooperativo;

- Dificuldade baixa na maior parte da aventura;

- Negligência de puzzles na superfície;

- Impossibilidade de alterar a linguagem dos textos a partir do menu de definições;

- Outras pequenas minúcias detalhadas no corpo da análise.

 

Nota do GameForces: 8.5


Título: Pikmin 4
Desenvolvedora: Nintendo
Publicadora: Nintendo
Ano: 2023

Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a Nintendo Switch, através de um código gentilmente cedido pela Nintendo Portugal.


Se foi precisamente Pikmin 4 o gatilho para iniciarmos esta semana de Pikmin, faz todo o sentido que seja a análise deste muito aguardado título a encerrá-la! Espero que tenham gostado tanto destes sete textos como nós gostamos de os preparar. Até à meia-noite, ainda poderão conhecer alguns factos curiosos da série se nos visitarem de hora em hora. Se perderam os artigos, podem encontrá-los procurando "Pikmin" na nossa caixa de pesquisa ou simplesmente clicando nos seus links dispersos pela análise! Sinto é que me esqueci de dizer algo... Ah, "Hey! Pikmin"!

Autor da Análise: Tiago Sá
Análise | Pikmin 4 - Quem Espera Sempre Alcança Análise | Pikmin 4 - Quem Espera Sempre Alcança Reviewed by Tiago Sá on julho 31, 2023 Rating: 5

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