Faz este ano 35 anos de existência de Final Fantasy. Uma saga que, mesmo para quem não aprecie, o seu nome sonante diz algo. Já no meu caso, estas fábulas são das minhas prediletas. Desde que tenho memória que Final Fantasy faz parte da minha vida. Acompanhando a sua evolução, principalmente o XV e agora o XVI, o rumo que leva começa a deixar-me hesitante. É expectável que a saga tenha que ter um novo dinamismo para acompanhar a evolução dos tempos, e que até o faz bastante bem em Final Fantasy XV, mas que começa a fugir ao que se pede (ou que no fundo eu procuro) de um título cujo nome tem Final Fantasy.
Mas comecemos pelo principio e pelo que de espetacular este jogo nos oferece.
Clive. Este é o nome do protagonista principal da nossa aventura, caracterizado como um homem amargo, traumatizado e com um senso de vingança que apela a qualquer jogador. Estas características fazem dele uma personagem exuberantemente caracterizada, um ponto forte a destacar em Final Fantasy a par de toda a sua narrativa. Esta decorre num mundo medieval, onde o uso de magia é rotineiro para todos e as lutas politicas por poder, das fações que controlam o globo são uma constante e dão o mote para toda a história. Final Fantasy XVI é, desde o seu inicio é impiedoso, pesado e violento, onde posso admitir que, a nível pessoal, me emocionou como raramente algum jogo o consegui fazer.
Carlos Silva
Nesta caracterização do World Seeting e situação politica/social, Final Fantasy XVI, recorrentemente conseguiu fazer-me reverter a uma associação com uma das séries mais emblemáticas dos últimos anos: A Guerra dos Tronos. Os jogos de poder constantes, traições, sacrifícios e implicações no desenvolvimentos das diversas personagens consegue ser um dos melhores aspectos que esta experiência transmite ao jogador. Contudo, muito à semelhança do que aconteceu com a série televisiva...
Carlos Cabrita
Há bastante tempo que os jogos de Final Fantasy não continham este ambiente pesado repleto de drama, traições e com um protagonista realmente focado em vingança. Todos esses aspetos são bastante importantes para a imagem de um protagonista forte e relevante e Clive Rosfield é sem dúvida, um protagonista que ficará, talvez no meu top 3 de protagonistas da série.
Infelizmente os picos emocionais da história vão-se diluindo, onde no conteúdo secundário é praticamente deixado de lado, salvo uma ou outra excepção. O foco está somente na história principal, tudo o resto, como a exploração, quests secundárias e todo o seu lore é aborrecido, previsível e não beneficia quem tem o gosto de explorar este lado mais secundário de um jogo. Reconhecidamente algumas aventuras secundárias tem potencial e deveriam inclusive serem ponderadas em ser obrigatórias para melhor compreender a evolução do enredo, mas são tão poucas e tão espaçadas que a sua importância acaba por ser desvanecida no global da evolução da história.
Mesmo a criação e evolução de armas e itens é de uma simplicidade desanimadora. Exemplificando, não houve nenhum momento em que tivesse que decidir por um item em prol de outro por um ser melhor no ataque mas o outro melhor na defesa. Há somente uma evolução durante a jornada de itens melhores que os anteriores e ponto final. A única escolha passa por determinar os itens que melhorem as habilidades que escolhemos ter ativas.
Contudo, os momentos altos, são de uma excelência única. Cada pico da história traz-nos momentos empolgantes, bem escritos e que nos fazem (quase) esquecer os momentos enfadonhos que passámos para chegar lá.
E, nessas ocasiões, inevitavelmente temos uma batalha impar, nomeadamente as batalhas entre Eikons, os monstros gigantes que para quem conhece a saga eram anteriormente conhecidos por Summons. Estas batalhas são cinematograficamente um deleite de presenciar, mesmo com os insípidos e previsíveis momentos de Quick Time Events, (onde temos que simplesmente carregar numa botão especifico rapidamente ou várias vezes noutro), não tirão a emoção a esses momentos.
Infelizmente só estas batalhas para mim se tornaram prazerosas. O sistema de combate foi reformulado para um estilo mais de ação. Perdeu-se completamente o conceito de equipe, onde assumidamente o foco e papel principal somente é associado à nossa personagem. Podemos dizer que, para quem conhece, que o estilo de combate assemelhasse a Devil May Cry (que tem lógica, pois Ryota Suzuki, director de Devil May Cry 5, fez parte da equipa de desenvolvimento). Estas opções de design, na minha opinião, transformou os combates em momentos repetitivos, entre esquivas e o uso de habilidades.
Carlos Silva
Não posso deixar de destacar opção de design em substituir o sistema de luta que tem vindo a ser desenvolvido em Final Fantasy XV e refinado em Fintal Fantasy VII Remake, em prol do existente neste lançamento mais recente. Existia claramente uma evolução desse estilo, que até era desafiante, revelava alguma estratégia e diversas possibilidades de abordagem ao desafios impostos. Em Final Fantasy XVI, os combates são dos mais aborrecidos em toda a série, onde somente as lutas com os Eikons apresentam verdadeiro desafio ao jogador. Mas essas ocorrem demasiado esporadicamente e contam-me pelos dedos de uma mão...
Carlos Cabrita
O sistema de combate dos jogos da série têm vindo a sofrer inúmeras alterações, desde o combate mais estratégico em Final Fantasy XV, até ao combate mais complexo de Final Fantasy VII Remake, contudo o de Final Fantasy XVI conseguiu revolucionar tudo o que foi visto desde a criação da série. Desde às Boss fights completamente arrepiastes e frenéticas, o combate baseado em Devil May Cry sempre rápido e com a necessidade de acertar certos timings faz com que aquele toque especial de Final Fantasy desapareça e se torne baseado na qualidade da história e não nos elementos de jogabilidade.
Já na vertente auditiva, não tenho qualquer falha a apontar. É simplesmente fantástica, onde cada nota, som ou acorde é um deleite ouvir, levando-me inclusive a adicionar banda sonora completa na minha playlist no Spotify. Sabendo que os arranjos musicais eram dos títulos anteriores, a sua evolução orquestral é digna de tocar enquanto efetuamos qualquer tarefa, ou mesmo estarmos parados a ouvi-la.
Em termos gráficos, como já mencionado, há momentos com um grafismo excelente, nomeadamente na primeira parte do jogo (onde considero o demo mais cerca de uma a duas horas após ele) e as batalhas já mencionadas, mas depois há reversamente momentos que foram descuidados. Mesmo a caracterização visual de alguns NPC's e de Clive (enquanto fazemos quests secundárias) parece ter sido deixado para segundo plano. Estes aspectos ajudam a tornar uma experiência que começa bastante empolgante, revelar-se ...desanimadora.
Em termos técnicos tivemos algumas quebras de frames em batalhas mais complexas mas nada que deixe memórias negativas. Continuamos, como já se torna comum em jogos na PlayStation 5, com as opções de uma melhoria visual em prol de uma taxa de fotogramas por segundo mais baixa ou o oposto. Testando as duas, não notando uma melhoria visual significativa que compense a diferença dos 60 para os 30 fotogramas por segundo durante o jogo.
Carlos Silva
Final Fantasy XVI apresenta um virar da página que não consigo ainda discernir se será definivo ou se a Square decidirá arrancar a folha e escrever de novo. É um óptimo jogo, mas perdeu demasiado rápido muitos dos elementos caracterizadores do que uma experiência "Final Fantasy" era. Sou completamente a favor do reformulação da série, mas numa perspectiva de um crescimento sustentando (como tem sido os últimos títulos principais da série) e não numa completa viragem de 180º, alterando elementos somente pela vontade de mudar. Final Fantasy é mais do que simplesmente meter chocobos, uma personagem Cid e um herói principal com uma espada grande!
Carlos Cabrita
De uma forma figurativa e para concluir, se fosse visitar um amigo meu à casa dele e o mesmo estivesse a jogar Final Fantasy XVI, nunca na vida adivinharia que seria esse o jogo. Acho que é isto que descreve Final Fantasy XVI. Se Final Fantasy XVI fosse uma adaptação para filmes ou para uma série, acho que o produto final seria tão ou melhor do que nos foi apresentado em jogo. Gameplay cansado, repetitivo e um combate que aborrece passadas poucas horas, faz com que este jogo sobreviva graças à história, à nostalgia, banda sonora e às boss fights.
Conclusões
Final Fantasy XVI é um virar de uma página. Melhor, é o inicio de um livro novo. Se apesar de haver algumas coisas que ainda trazem à memória o peso que o nome carrega, a Square Enix vai por um caminho completamente diferente em quase tudo em que esta experiência nos proporciona. É uma história boa, com os seus picos excepcionais, mas onde a subida até lá é bastante aborrecida e difícil de digerir. Sinto que a partir do meio da história começou a haver momentos de desleixe que prejudicam imenso tudo o que de bom que este Final Fantasy nos poderia proporcionar. Aceito que as mudanças tiveram que acontecer, mas deixa um sabor agridoce (pessoalmente mais para o "agri" do que para o "doce").
O Melhor:
- A sua história e enredo;
- Batalhas entre Eikons;
- A vertente audiovisual excepcional;
- Caracterização da personagem principal.
- O novo modelo de combate;
- Pouca profundidade dada à exploração e a todo o universo secundário;
- Desleixe visual em certos momentos a partir da metade da narrativa;
- Falta de personalização mais profunda do jogador e sua evolução.
Pontuação do GameForces – 7.5/10
Título: Final Fantasy XVI
Desenvolvedora: Square Enix
Publicadora: Square Enix
Ano: 2023
Autor da Análise: Filipe Martins com comentários de Carlos Silva e Carlos Cabrita
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