Análise | Made in Abyss: Binary Star Falling in Darkness - O Fundo do Poço




Os fãs de anime e manga certamente já conhecerão o tópico que vamos abordar nesta análise. Estamos a falar da galardoada obra de Akihito Tsukushi, Made in Abyss. Esta conta com uma manga lançada em 2012, um anime de 2017 e um posterior filme que compila as aventuras de Riko. Agora, a juntar-se a este conjunto, foi lançado um videojogo que consegue enriquecer a história, personagens e conceito deste mundo de uma forma bastante interessante e que vamos aqui discutir.

Efectivamente, a palavra chave aqui é mesmo “interessante”. Não é um título propriamente revolucionário e certamente os seus problemas são marcantes (já lá iremos!), mas o conceito do mundo, caracterização das personagens e originalidade dos cenários revela esta como uma experiencia que certamente encherá as medidas ao fãs.



O enredo de Made in Abyss segue uma das premissas mais interessantes que notamos nos anos mais recentes no que se refere a RPGs japoneses. No mundo desta história existe um abismo imenso, no qual aventureiros arriscam a sua vida a explorar as suas profundezas. Naturalmente, à medida que vamos descendo no abismo começamos, para além de ter de lidar com monstros cada vez mais difíceis, começamos a sentir alguns efeitos nefastos à saúde. E somente uma mão cheia de pessoas consegue chegar aos níveis mais fundos.

Ainda assim, o grande problema não é descer, mas sim… subir de volta! Numa mecânica bastante bem ponderada, teremos de controlar a nossa fome, saúde e resistência física para conseguir navegar no abismo. Isto porque, cada vez que tentamos subir e fugir do fundo do abismo, somos afrontados por mal estar, desgaste e falta de capacidade de realizar qualquer acção. Deste modo, existe um contador de profundidade no ecrã que se diminuir demasiado rápido, a personagem começa a sofrer diversos efeitos que impedem o nosso retorno ao topo (aumentado drasticamente a nossa fome e cansaço).



Este aspecto leva a outro que é incomum encontrar num RPG actual. Em Made in Abyss, teremos de gerir muito bem o nosso inventário. O espaço na nossa mochila é bastante limitado e no inicio de cada expedição às profundezas do abismo, temos de ponderar a necessidade de armas (pois a armas desgastam-se e partem-se), alimentos, produtos para curar, etc. Posteriormente, é necessário durante a expedição realizar diversos “craftings” para criar mais items e libertar espaço na mochila. É uma gestão que os fãs de survival horror já se encontram bem habituados, levando a uma experiencia que mistura de uma forma interessante o desenvolvimento de personagem e exploração de um RPG, com a gestão de inventário de um jogo de sobrevivência.

Efectivamente existe uma grande enfâse na exploração, um pouco em demasia até. Ainda que os cenários sejam simplicistas, estes apresentam um design bastante interessante e diversificado entre si. Contudo, o jogo tende a forçar em demasia a exploração, ao invés de deixar o jogador descobrir por si próprio os encantos deste mundo. São inúmeras as missões principais que nos obrigam a explorar com objectivos desinteressantes. Existem, inclusive, missões de “Explora esta área”, sem qualquer tipo de assistência ou indicação para onde ir. Também a quantidade de missões principais que solicitam o coleccionar este ou aquele item, em áreas tão expansíveis, corta imenso ao ritmo do enredo e aquilo que pretendemos efectivamente… o desenrolar da história principal, que é extremamente cativante.



Relativamente à história, o título encontra-se dividido em duas partes: Hello Abyss e Deep in Abyss. Em Hello Abyss, acompanhamos as aventuras de Riko, seguindo os eventos do anime até cerca de meio da primeira temporada. Este é um modo que serve, fundamentalmente, para introduzir o mundo, a jogabilidade e algumas das personagens.

É em Deep in Abyss, que vamos passar a maior parte do tempo. Aqui seguimos as aventuras de uma nova personagem, alguns dias após a excursão de Riku. Aos exploradores do abismo é fornecido um ranking de “apitos”, sendo os vermelhos reservados aos estudantes do orfanato que funciona como academia que forma exploradores. A nossa personagem começa no nível mais baixo e vai subindo à medida que cumpre objectivos e efectua explorações bem sucedidas, retornando com relíquias que servem para fornecer pontos de experiencia e subir de nível. A sua história é portanto, completamente nova, face ao anime e manga, sendo possível interagir com as personagem já reconhecida de ambos.



É então importante abraçar o conceito de “explorador”, pois é ao concretizar missões, coleccionar relíquias ou efectuar expedições, que a nossa personagem irá “crescer” e ter capacidade de investigar as maiores profundezas do abismo. Contudo, a exploração não é simples e a navegação pelos cenários algo confusa. O controlo não é o mais aprimorado e existem diversos bugs gráficos a perturbar o bom decorrer da experiência. Adicionalmente, para os mais desprevenidos, é possível encontrarem-se em situação de bloqueio, onde: não tem comida para saciar a fome e voltar para o topo do abismo; ou não tem items para armas/cordas para prosseguir com a exploração. Foram diversas as vezes que tivemos de reiniciar do ultimo checkpoint ou save game, para fugir à justa da excursão e conseguir subir de novo ao topo do abismo.

Nota-se um esforço efectivo por parte da editora em abrandar ao ritmo de exploração e forcarem-se no elemento de sobrevivência. Para os fãs de RPGs, habituados a reunir centenas de itens, armas e poções, aqui sentirão um embate significativo sempre a contrariar este sentimento que ocorre tão naturalmente.



Outro aspecto que fica aquém do esperado é o combate. Como mencionamos, as armas são quebráveis e temos sempre de ponderar que temos material suficiente para um determinado boss. Este é um aspecto interessante, mas na prática é esbatido pela movimentação e controlo da personagem que tendem a ser lentos e pouco desafiantes na globalidade.

Para finalizar, deixamos uma nota à banda e efeitos sonoros. Na globalidade são bastante básicos, cumprindo o mínimo, mas sem nunca se revelarem verdadeiramente reformulantes ou marcantes. A interpretação de Riko Azuna da música final “Light” (escrita por Rei Tanaka), é de louvar, mas é somente uma gota de inspiração naquilo que foi um mar de marasmo criativo neste campo.





Conclusão
Made in Abyss é um interessante título que apresenta uma premissa e enredo que seguem fielmente a experiência do anime e chegam a revelarem-se verdadeiramente cativantes. A forma de como mistura os elementos de desenvolvimento de personagem com gestão de inventário está bem implementado e introduzindo uma diferenciação saudável. Principalmente o conceito da variação de profundidade afectar a jogabilidade, é um aspecto que nos coloca num mind set diferente de todos os outros jogos.

Contudo, o pacing do título funciona contra si próprio, pois encontra-se repleto de momentos que cortam o desenrolar natural da história. De salientar em particular a quantidade de missões de enchimento de conteúdo, que poderia ser evitadas ou reformuladas. Fundamentalmente estamos perante um título que permite aos fãs do anime interagirem com os seus personagem preferidos e viver a sua própria aventura enquanto exploradores do abismo! Tudo isto enquanto visitando as cativantes e intrigantes áreas das profundezas!



O melhor
  • Enredo e World Setting bastante cativantes
  • Mistura interessante de mecânicas de diversos géneros
  • Excelente voice acting e caracterização das personagens.



O pior
  • Demasiadas missões principais irrelevantes para o enredo.
  • Navegação difícil em algumas áreas;
  • Controlo da personagem muito rígido





Nota do GameForces: 6.5/10





Título: Made in Abyss: Binary Star Falling into Darkness
Desenvolvedora: Spike Chunsoft Co., Ltd
Publicadora: Spike Chunsoft Co., Ltd
Ano: 2022



Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a Nintendo Switch, através de um código gentilmente cedido pela Spike Chunsoft.
Análise | Made in Abyss: Binary Star Falling in Darkness - O Fundo do Poço Análise | Made in Abyss: Binary Star Falling in Darkness - O Fundo do Poço Reviewed by Carlos Silva on setembro 21, 2022 Rating: 5

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