Um título que consegue evocar uma condição que nos leva a ponderar aspectos fundamentais da nossa condição humana é sempre uma experiência de excelente valor e que traduz na perfeição o motivo dos videojogos serem já considerados uma forma de arte.
Xenoblade Chronicles é integrante da meta série "Xeno", que desde a sua génese, sempre objectivou a ponderação de temas essenciais a todos nós. Em particular, Xenoblade Chronicles 3, consegue apresentar uma reflexão em temas tão fulcrais como o grande debate entre o nosso intrínseco desejo em evoluir, versus a comodidade do status quo.
Para seguir com esta direção, somos brindados com um enredo sólido que consegue capturar o jogador durante as dezenas de horas que reflectem a sua duração. Ainda que acabe por resvalar para o típico problema da série, a sua repetividade mid game, este acaba por ser colmatado por um crescimento natural da importância dos eventos e sólido desenvolvimento das personagens principais.
Efectivamente, as personagens apresentam uma caracterização que se associa perfeitamente, não somente ao enredo, como também à jogabilidade e importância das aventuras secundárias. Em Xenoblade Chronicles 3, é notório o esforço da Monolith Soft em criar aventuras secundárias de valor acrescentado e que melhor se integrem na jogabilidade e mundo existente. Certamente ainda existem as que são, principalmente, para encher quota de conteúdo, focalizando-se demasiado na típica dualidade "Colecionar itens/Eliminar Monstros". Contudo, as Hero Quests com ícones "dourados" apresentam um óptimo contributo para a história e caracterização de personagens.
Nestas somos brindados com importantes desenvolvimentos que nos introduzem heróis. Estes são personagens secundárias (não confundir com genéricos), que se juntam à nossa demanda pelos mais diversos motivos e que poderemos adicionar à nossa equipa. Cada um destes herois irá não somente contribuir para complementar a caracterização das personagens principais, assim como para refinar a nossa prestação em combate.
O combate em si apresenta uma simplicidade significativa face aos titulos anteriores, mas que no fundo funciona bastante para o seu benefício. Em Xenoblade Chronicles 3, temos um dos combates mais intuitivos da série, apresentando uma clara associação ao desejo da editora em agradar a ambos jogadores casuais, como veteranos. Fundamentalmente estamos perante o típico sistema de classes (atacante, defensor e médico) que teremos de gerir da forma mais correcta para evitar uma equipa demasiado desbalanceada e propícia a ser derrotada facilmente. Neste âmbito, os heróis adquiridos nas aventuras secundárias ajudam não somente a complementar alguma necessidade, como tambem a aumentar a gama das classes existentes disponíveis.
Claro que todos estes elementos não seriam significantes se o enredo não acompanhasse o nível de envolvimento do restante jogo. Felizmente, como mencionamos anteriormente, a Monolith conseguiu criar toda uma história que nos mantém captados durante a duração do jogo. Esta considera uma guerra interminável entre duas facções antagónicas, durante a qual quis o destino que membros de duas equipas de forças especiais destas tivessem de colocar as suas divergências de lado para um bem maior. Este é um tipico plot line de muitos outros jogos, mas que aqui encaixa perfeitamente para o grande esquema geral do enredo, que somente teremos a ampla compreensão na recta final do jogo (ainda que seja perceptível a sua evolução, decorrente de diversas alusões aos titulos anteriores).
Abordando agora um pouco a questão gráfica e world setting de Xenoblade Chronicles 3, ficamos perante uma situação bipolar. Enquanto os gráficos apresentados são dos melhores da série e puxam pelo hardware da Nintendo Switch, o world setting é dos mais fracos. Não querendo dizer que este seja fraco, pois efectivamente estamos perante um mundo e realidade cativante, contudo não se nota a originalidade, profundidade e genialidade dos anteriores. Este aspecto leva a uma falta de incentivo à exploração por nós próprios. Adicionalmente, não existem áreas verdadeiramente únicas e memoráveis como nos títulos anteriores.
Tecnicamente o jogo não apresenta grandes falhas. Correndo a 1080p em modo TV e 720p em modo portátil, apresenta uma prestação estável na maioria das situações em ambos os modos. A sua taxa de fotogramas, por seu lado encontra-se bloqueada aos 30fps durante a maior parte do tempo, que para o jogo em questão cumpre os objectivos minimos. Estes aspectos, combinados com o facto de serem uma melhoria significatica face a Xenoblade Chronicles 2, contribuem para uma experiência significativamente mais agradável visualmente.
Ainda no que se refere à componente audiovisual, a banda sonora apresentada contribui significativamente para engrandecer a experiência apresentada. Sob a tutela de Yasunori Mitsuda (series Chrono, Xeno e Shadow Hearts), ainda que nunca se revelando verdeiramente reformulante ou dissimilar de outras da série, consegue contribuir para capturar o jogador e mexer com a sua percepção da experiência nas diferentes estâncias desta.
Xenoblade Chronicles 3 é uma sólida entrada na série que, ainda que não seja propriamente reformulante, consegue evoluir em pontos essenciais.
O Melhor:
- Uma história envolvente e bem associada às personagens;
- Sistema de combate mais intuitivo;
- Melhores gráficos da série na Nintendo Switch.
- World setting não tão inovador quanto títulos anteriores, levando a...;
- ... Pouco incentivo à exploração;
- Algumas sidequests importantes estão dependentes da conclusão de inúmeras mais triviais.
Título: Xenoblade Chronicles 3
Desenvolvedora: Monolith Soft
Publicadora: Nintendo
Ano: 2022
Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a Nintendo Switch, através de um código gentilmente cedido pela Nintendo Portugal.
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