Sonic 2: O Filme [Crítica] – Na Direção Certa, Mas Sem Chegar Ao Destino


Este ano de 2022 promete ser um dos maiores na história de Sonic the Hedgehog. Não só temos um novo jogo original e uma compilação de jogos clássicos a chegar a todas as consolas modernas, como temos para daqui a poucos dias a estreia de mais um filme protagonizado pelo ouriço-cacheiro mais famoso do mundo. Depois de um primeiro filme bastante positivo, sobretudo tendo em conta o primeiro trailer que tantos pesadelos induziu nos fãs, volvidos dois anos a sequela promete ainda mais. Será este filme um sprint para o sucesso, ou uma travagem brusca nas aspirações cinematográficas de Sonic?


Em Sonic: O Filme 2, voltamos a Green Hills para acompanhar mais uma etapa do crescimento de Sonic. Alguns meses após derrotar Dr. Robotnik, também conhecido como Eggman, o ouriço-cacheiro velocista pretende solidificar a sua reputação enquanto herói no mundo humano. Até que o seu Némesis regressa do exílio, e com um novo poderoso aliado – Knuckles. Quando é revelado que ambos estão em busca da lendária esmeralda do caos, Sonic tem de se aliar a Tails e partir numa perigosa aventura para impedir que o génio do mal consiga o poder dessa esmeralda e o use para dominar o mundo.

Como se pode perceber, e ao contrário do que aconteceu com o primeiro, este é um filme que integra vários elementos da série de videojogos Sonic the Hedgehog. A esmeralda do caos, a introdução de Tails e Knuckles, alguns dos designs das máquinas de Eggman, e mais uma ou outra coisa que não estragarei aqui – tudo isto contribui para uma narrativa também ela mais próxima do que esperamos encontrar nos jogos. Sim, a já familiar simplicidade de Eggman ter um plano maléfico para conquistar o mundo, com Sonic a ser o único capaz de o parar, marca aqui a sua presença. Também os arcos narrativos são bastante previsíveis para quem acompanha os videojogos do famoso ouriço-cacheiro, mas tal não diminui a qualidade do filme. Antes pelo contrário, o desenvolvimento das personagens ao longo da história é credível e coerente com os acontecimentos, e mesmo sabendo de antemão o material que serviu de base para esta interpretação das personagens não prejudicou o prazer deste aspeto.


Portanto, os fãs mais fiéis de Sonic the Hedgehog vão encontrar aqui vários elementos familiares. Mas esta é uma familiaridade boa e aconchegadora… na maioria do tempo. Comecemos pelo que Sonic: O Filme 2 faz de mais positivo. As interações entre Sonic, Tails, Knuckles e Eggman são sempre incrivelmente divertidas, sem dúvida nenhuma os pontos altos do filme. A confiança bem-humorada de Sonic, a gentileza de Tails, a determinação de Knuckles, e a malvadez exagerada de Eggman interligam-se impecavelmente bem, sendo um genuíno prazer ver qualquer combinação dos quatro no grande ecrã. Arrisco-me até a dizer que as várias interações entre os quatro se apresentam aqui muito mais interessantes e apelativas do que em qualquer um dos variadíssimos jogos lançados ao longo dos já 30 anos de história do franchise, o que é uma conquista louvável.

Claro que nada disto seria possível sem um excelente elenco a assumir estes papéis. Ben Schwartz volta ao papel de Sonic, encarnando o herói velocista na perfeição, tanto na entrega das piadas como nos momentos de introspeção e superação. Colleen O'Shaughnessey faz uma transição perfeita com Tails das consolas para o grande ecrã, encarnando impecavelmente a sua bondade e insegurança ao longo de todo o filme. Idris Elba consegue uma excelente estreia de Knuckles, conferindo-lhe toda a sua destemidez e divertida rigidez de pensamento. Mas claro que o destaque tinha de ser uma vez mais o incomparável Jim Carrey, que volta a ser um Eggman exageradamente engraçado, conseguido agora dar-lhe muito convincentemente um maior travo de malícia. Um elenco de luxo, com uma química impressionante, que traz para este filme uma representação destas personagens tão queridas como nunca imaginei ser possível.

Outro fator que ajuda bastante a todo este positivismo, é a direção visual do filme. Os designs de Tails e de Knuckles são muitíssimo bons, indo exatamente ao encontro do que os fãs de Sonic the Hedgehog quereriam ver. Mesmo Eggman se apresenta aqui bastante mais próximo daquilo a que os jogos nos habituaram, com o seu icónico bigode e careca a marcarem presença. Também os designs de vários robôs são inspirados em inimigos que vemos nos jogos, o que tudo junto leva a uma tradução tão próxima quanto possível da direção artística dos jogos para este filme. Isto para não falar dos efeitos visuais presentes durante as várias sequências de ação, cada qual recheada de explosões de cor e animações impecáveis. Há vários momentos genuinamente empolgantes, e a qualidade dos designs, animações e efeitos visuais elevam-nos bastante.


Agora, o menos positivo. Sonic: O Filme 2 volta a cometer o pecado de fugir demasiadas vezes, e durante demasiado tempo, de ser um filme de Sonic, focando-se excessivamente em personagens que, mesmo depois de dois filmes, me continuam a dizer pouco ou nada. James Marsden e Tika Sumpter regressam aos papéis de Tom e Maddie Wachowski respetivamente, assumindo agora papéis mais parentais para com Sonic. As suas prestações são bastante medianas, não fazendo nada de brilhante nem de exasperante, mas a insistência em inserir estas personagens no meio de uma narrativa tão inspirada nos jogos é sempre sentida como forçada.

Sobretudo porque a maioria das cenas em que ambos entram inclui uma fala que explicita, quase soletra, quais os arcos narrativos de Sonic neste filme. O facto de terem falas onde definem o que é heroísmo, ou a apontar o quão peixe fora de água o protagonista se sente no mundo humano, não acrescenta nada ao filme. Bem pelo contrário, evidencia alguma incapacidade em transmitir convincentemente estas mensagens através de ações e acaba por desacelerar desnecessariamente o ritmo do filme. Não será exagerado dizer que se algumas das cenas com estas e outras personagens humanas que não têm qualquer ligação aos jogos fossem cortadas ou reduzidas, que a qualidade do filme sairia a ganhar.

Convém também mencionar que Sonic: O Filme 2 se esforça bastante para ser uma experiência agradável para todas as idades. Isto não é necessariamente positivo ou negativo, e ajuda a explicar um pouco o porquê de algumas das cenas com falas redundantes mencionadas anteriormente – embora não as desculpe completamente. De facto, creio que é de louvar o equilíbrio humorístico que o filme tenta ter, variando bem entre piadas exageradas, referências contemporâneas e claros piscar de olhos à secção mais madura da audiência.


E uso o verbo tentar, porque nem sempre estes momentos humorísticos acertam o alvo. Há falas brincalhonas de Sonic que são meramente prepotentes e que nem a excelência de Ben Schwartz conseguiu salvar, há momentos humorísticos dados a personagens secundárias francamente insignificantes, e há uma miríade de clichés básicos que são usados em comédias românticas e desenhos animados há décadas. Mas nem tudo é mau, havendo referências subtis ou entregas de piadas que sinceramente funcionam melhor do que deviam, e que conseguiram tirar de mim alguns sorrisos inesperados. Mesmo no meio de tanta inconsistência, há qualidade nesta vertente do argumento, ao ponto de proporcionar uma experiência divertida para audiências de várias idades.

Uma palavra também para a vertente sonora do filme. A banda sonora, mais uma vez composta por Tom Holkenborg, cumpre suficientemente bem o seu propósito. A melodia varia bem entre o suave nos momentos mais pessoais e introspetivos, e o acelerado nas sequências de ação mais frenéticas, contribuindo para o impacto que cada cena teve. Não sei se haverá uma trilha particularmente memorável, mas é um trabalho bastante competente. E posso dizer o mesmo dos efeitos sonoros. Os sons metálicos dos robôs de Eggman contribuem bastante para a credibilidade ou para o humor de várias cenas e as explosões sonoras acompanham bem o impacto dos confrontos entre personagens e as sequências de ação.


Conclusões
No geral, ver Sonic: O Filme 2 é uma experiência positiva. Os momentos altos são bastante cativantes, os desempenhos de Schwartz, O'Shaughnessey, Elba e de Carrey são de elevadíssima qualidade, e a quantidade de referências levará os fãs dos jogos a esboçar diversos sorrisos ao longo do filme. Mas os momentos baixos afundam também o prazer desta experiência, havendo algumas cenas cujo corte poderiam ter beneficiado muito o filme. Não é de todo uma ida obrigatória ao cinema, mas foi uma melhoria em relação ao primeiro filme, resultando numa experiência divertida, para miúdos e graúdos. Está mais perto de ser um filme de Sonic, ao invés de um filme com Sonic, mas ainda não está lá.

O Melhor:
  • Desempenhos de elevadíssima qualidade para as 4 personagens icónicas
  • Momentos de ação visualmente empolgantes
  • Miríade de referências que certamente entusiasmarão os fãs
O Pior:
  • Personagens originais continuam a ser bastante intrusivas
  • Demasiadas cenas irrelevantes focadas em personagens desinteressantes
  • Uso e abuso de clichés usados há décadas e décadas
 
Pontuação do GameForces – 6.5/10

Título: Sonic: O Filme 2
Produtora: Paramount Pictures Studios
Realizador: Jeff Fowler
Elenco: Ben Schwartz; Colleen O'Shaughnessey; Idris Elba; Jim Carrey; James Marsden; Tika Sumpter
Ano: 2022

Nota: Esta crítica foi realizada devido à assistência de uma sessão antecipada, após o gentil convite da BA&N e da NOS Audiovisuais.

Autor da Crítica: Filipe Castro Mesquita
Sonic 2: O Filme [Crítica] – Na Direção Certa, Mas Sem Chegar Ao Destino Sonic 2: O Filme [Crítica] – Na Direção Certa, Mas Sem Chegar Ao Destino Reviewed by Filipe Castro Mesquita on março 29, 2022 Rating: 5

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