Portanto, os fãs mais fiéis de Sonic
the Hedgehog vão encontrar aqui vários elementos familiares. Mas esta é uma
familiaridade boa e aconchegadora… na maioria do tempo. Comecemos pelo que Sonic:
O Filme 2 faz de mais positivo. As interações entre Sonic, Tails, Knuckles
e Eggman são sempre incrivelmente divertidas, sem dúvida nenhuma os pontos
altos do filme. A confiança bem-humorada de Sonic, a gentileza de Tails, a
determinação de Knuckles, e a malvadez exagerada de Eggman interligam-se
impecavelmente bem, sendo um genuíno prazer ver qualquer combinação dos quatro
no grande ecrã. Arrisco-me até a dizer que as várias interações entre os quatro
se apresentam aqui muito mais interessantes e apelativas do que em qualquer um
dos variadíssimos jogos lançados ao longo dos já 30 anos de história do franchise,
o que é uma conquista louvável.
Claro que nada disto seria possível sem
um excelente elenco a assumir estes papéis. Ben Schwartz volta ao papel de
Sonic, encarnando o herói velocista na perfeição, tanto na entrega das piadas como
nos momentos de introspeção e superação. Colleen O'Shaughnessey faz uma
transição perfeita com Tails das consolas para o grande ecrã, encarnando impecavelmente
a sua bondade e insegurança ao longo de todo o filme. Idris Elba consegue uma excelente
estreia de Knuckles, conferindo-lhe toda a sua destemidez e divertida rigidez de
pensamento. Mas claro que o destaque tinha de ser uma vez mais o incomparável Jim
Carrey, que volta a ser um Eggman exageradamente engraçado, conseguido agora
dar-lhe muito convincentemente um maior travo de malícia. Um elenco de luxo,
com uma química impressionante, que traz para este filme uma representação destas
personagens tão queridas como nunca imaginei ser possível.
Outro fator que ajuda bastante a todo
este positivismo, é a direção visual do filme. Os designs de Tails e de Knuckles
são muitíssimo bons, indo exatamente ao encontro do que os fãs de Sonic the
Hedgehog quereriam ver. Mesmo Eggman se apresenta aqui bastante mais
próximo daquilo a que os jogos nos habituaram, com o seu icónico bigode e
careca a marcarem presença. Também os designs de vários robôs são inspirados em
inimigos que vemos nos jogos, o que tudo junto leva a uma tradução tão próxima
quanto possível da direção artística dos jogos para este filme. Isto para não
falar dos efeitos visuais presentes durante as várias sequências de ação, cada
qual recheada de explosões de cor e animações impecáveis. Há vários momentos genuinamente
empolgantes, e a qualidade dos designs, animações e efeitos visuais elevam-nos
bastante.
Agora, o menos positivo. Sonic: O Filme
2 volta a cometer o pecado de fugir demasiadas vezes, e durante demasiado
tempo, de ser um filme de Sonic, focando-se excessivamente em personagens que,
mesmo depois de dois filmes, me continuam a dizer pouco ou nada. James Marsden
e Tika Sumpter regressam aos papéis de Tom e Maddie Wachowski respetivamente,
assumindo agora papéis mais parentais para com Sonic. As suas prestações são
bastante medianas, não fazendo nada de brilhante nem de exasperante, mas a
insistência em inserir estas personagens no meio de uma narrativa tão inspirada
nos jogos é sempre sentida como forçada.
Sobretudo porque a maioria das cenas em
que ambos entram inclui uma fala que explicita, quase soletra, quais os arcos
narrativos de Sonic neste filme. O facto de terem falas onde definem o que é
heroísmo, ou a apontar o quão peixe fora de água o protagonista se sente no mundo humano, não
acrescenta nada ao filme. Bem pelo contrário, evidencia alguma incapacidade em
transmitir convincentemente estas mensagens através de ações e acaba por
desacelerar desnecessariamente o ritmo do filme. Não será exagerado dizer que
se algumas das cenas com estas e outras personagens humanas que não têm
qualquer ligação aos jogos fossem cortadas ou reduzidas, que a qualidade do
filme sairia a ganhar.
Convém também mencionar que Sonic: O
Filme 2 se esforça bastante para ser uma experiência agradável para todas
as idades. Isto não é necessariamente positivo ou negativo, e ajuda a explicar
um pouco o porquê de algumas das cenas com falas redundantes mencionadas
anteriormente – embora não as desculpe completamente. De facto, creio que é de
louvar o equilíbrio humorístico que o filme tenta ter, variando bem entre
piadas exageradas, referências contemporâneas e claros piscar de olhos à secção
mais madura da audiência.
E uso o verbo tentar, porque nem sempre
estes momentos humorísticos acertam o alvo. Há falas brincalhonas de Sonic que são
meramente prepotentes e que nem a excelência de Ben Schwartz conseguiu salvar, há
momentos humorísticos dados a personagens secundárias francamente insignificantes,
e há uma miríade de clichés básicos que são usados em comédias românticas e
desenhos animados há décadas. Mas nem tudo é mau, havendo referências subtis ou
entregas de piadas que sinceramente funcionam melhor do que deviam, e que
conseguiram tirar de mim alguns sorrisos inesperados. Mesmo no meio de tanta inconsistência,
há qualidade nesta vertente do argumento, ao ponto de proporcionar uma
experiência divertida para audiências de várias idades.
Uma palavra também para a vertente sonora
do filme. A banda sonora, mais uma vez composta por Tom Holkenborg, cumpre suficientemente
bem o seu propósito. A melodia varia bem entre o suave nos momentos mais
pessoais e introspetivos, e o acelerado nas sequências de ação mais frenéticas,
contribuindo para o impacto que cada cena teve. Não sei se haverá uma trilha
particularmente memorável, mas é um trabalho bastante competente. E posso dizer
o mesmo dos efeitos sonoros. Os sons metálicos dos robôs de Eggman contribuem
bastante para a credibilidade ou para o humor de várias cenas e as explosões
sonoras acompanham bem o impacto dos confrontos entre personagens e as
sequências de ação.
Conclusões
No geral, ver Sonic: O Filme 2 é uma experiência positiva. Os momentos altos são bastante cativantes, os desempenhos de Schwartz, O'Shaughnessey, Elba e de Carrey são de elevadíssima qualidade, e a quantidade de referências levará os fãs dos jogos a esboçar diversos sorrisos ao longo do filme. Mas os momentos baixos afundam também o prazer desta experiência, havendo algumas cenas cujo corte poderiam ter beneficiado muito o filme. Não é de todo uma ida obrigatória ao cinema, mas foi uma melhoria em relação ao primeiro filme, resultando numa experiência divertida, para miúdos e graúdos. Está mais perto de ser um filme de Sonic, ao invés de um filme com Sonic, mas ainda não está lá.
No geral, ver Sonic: O Filme 2 é uma experiência positiva. Os momentos altos são bastante cativantes, os desempenhos de Schwartz, O'Shaughnessey, Elba e de Carrey são de elevadíssima qualidade, e a quantidade de referências levará os fãs dos jogos a esboçar diversos sorrisos ao longo do filme. Mas os momentos baixos afundam também o prazer desta experiência, havendo algumas cenas cujo corte poderiam ter beneficiado muito o filme. Não é de todo uma ida obrigatória ao cinema, mas foi uma melhoria em relação ao primeiro filme, resultando numa experiência divertida, para miúdos e graúdos. Está mais perto de ser um filme de Sonic, ao invés de um filme com Sonic, mas ainda não está lá.
O Melhor:
- Desempenhos de elevadíssima qualidade para as 4 personagens icónicas
- Momentos de ação visualmente empolgantes
- Miríade de referências que certamente entusiasmarão os fãs
- Personagens originais continuam a ser bastante intrusivas
- Demasiadas cenas irrelevantes focadas em personagens desinteressantes
- Uso e abuso de clichés usados há décadas e décadas
Pontuação
do GameForces – 6.5/10
Título: Sonic: O Filme 2
Produtora: Paramount
Pictures Studios
Realizador: Jeff Fowler
Elenco: Ben Schwartz; Colleen O'Shaughnessey; Idris Elba; Jim Carrey; James Marsden; Tika Sumpter
Ano: 2022
Realizador: Jeff Fowler
Elenco: Ben Schwartz; Colleen O'Shaughnessey; Idris Elba; Jim Carrey; James Marsden; Tika Sumpter
Ano: 2022
Nota: Esta crítica foi realizada devido à assistência de uma sessão antecipada, após o gentil convite da BA&N e da NOS Audiovisuais.
Autor da Crítica: Filipe Castro Mesquita
Sonic 2: O Filme [Crítica] – Na Direção Certa, Mas Sem Chegar Ao Destino
Reviewed by Filipe Castro Mesquita
on
março 29, 2022
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