Horizon Zero Dawn, aquando o seu lançamento, arrebatou elogios generalizados de toda a comunidade. Quer seja pelo seu enredo diferenciado, profundidade do mundo criado ou direcção artística, diversos foram os motivos que o colocaram numa posição de destaque devidamente merecida.
Agora, cinco anos passados, ficamos finalmente a conhecer o desenrolar da história da luta de Aloy com as famosas máquinas, na sua tentativa de salvar todo o planeta. Efectivamente, a sensação principal com que ficamos é que este título é uma clara evolução em todos os aspectos do primeiro… Ainda que possamos afirmar, por ventura, que arrisca pouco em sair da sua zona de conforto. Não obstante, Horizon Forbidden West apresenta-nos uma experiência principalmente vocacionada para os fãs.
O enredo segue os eventos imediatamente a seguir à grande batalha final do primeiro título. O jogo efectivamente faz um resumo da história no início, mas é algo tão fugaz e superficial, que quem não jogou o primeiro título irá certamente ficar bastante perdido com o conceito, world setting e personagens que envolvem a narrativa. Desta forma, a nossa recomendação passará por, idealmente, jogarem o primeiro título antes de avançarem para este… ou em alternativa confirmar no Youtube alguns resumos mais abrangentes dos eventos.
Se, por ventura, já jogaram o primeiro, então vão sentir-se em casa! Horizon Forbidden West, consegue expandir e melhorar todos os aspectos que fizeram do primeiro o excelente título que é. Podem contar com mais máquinas, uma IA mais agressiva e inteligente, um mundo maior e significativamente melhor aprestado e um desenvolver do enredo que assenta perfeitamente na experiencia anterior. Principalmente, é agradável confirmar a forma de como a Guerilla deu continuidade à personagem da Aloy (a grande imagem de marca da série), denotando um crescimento da sua personalidade bem delineado e suportado pelos eventos que vão ocorrendo.
Tal como mencionado os eventos seguem os acontecimentos finais do primeiro título. Desta vez, Aloy acabará por descobrir que o futuro da raça humana a levará a ter de se aventurar nas terras proibidas a Oeste. Aqui encontrará novas tribos, assim como desenvolvimentos surpreendentes da história dos “anciões” e humanos de um milénio atrás. Efectivamente, a forma de como a história é expandida é um dos melhores atributos deste título e algo que deixará os fãs bastante agradados.
Salientamos, e de igual forma positivamente, a quantidade de actividades extra que o título nos apresenta. Quer sejam aventuras, pedidos, contractos, desafios ou coleccionáveis, todos eles estão perfeitamente introduzidos na narrativa. A sua quantidade é abismal, mas todos eles estão devidamente caracterizados e relevantes para o mundo em questão. Inclusive, diversos irão provocar diferenças significativas do ambiente e das relações que outras personagens terão conosco quando nos vêem.
Este aspecto traduz-se em passarmos inúmeras horas a realizar actividades alternativas e algo divergentes do enredo principal. Mas quem nos pode recriminar, quando as corridas de obstáculos ou o mini jogo Ataque são tão divertidos? A verdade é que, apesar disto, esta quantidade de actividades tende a cortar em parte o ritmo da história. Consequentemente, a Guerilla implementou, suavemente (ou não), elementos que nos obrigam a ir jogando a missão principal. Exemplificando, a eliminação dos fosforatos ou flores de aço, assim como a navegação subaquática somente são desbloqueados com o evoluir da história principal. Ainda assim, existe uma clara evolução lenta do enredo ao longo de todo o jogo. Felizmente, a Aloy avisa-nos sempre que temos uma habilidade em falta e que está na hora de seguir com a aventura!
Mas não somente da história e Aloy vive este título. Uma das suas imagens de marca é a profundidade do mundo existente, assim como a sua direcção artística. Também aqui existe um crescimento claro. Denotando uma área claramente maior, a Guerilla não descuidou a atenção ao detalhe de toda a área existente. Não somente os cenários estão bastante bem aprestados de elementos, como o layout e design das áreas é desenhado ao pormenor. Exemplificando, os caminhos pouco percorridos apesentam um layout mais “rugoso” de navegar e as ervas crescem mais desmesuradamente.
Outro exemplo generoso da qualidade da modelação do estúdio, passa pela diferença de biosesferas. Onde nas montanhas a norte teremos uma navegação mais lenta de progredir, como resultado da neves e terrenos mais acidentados, já nas planícies do sul, com o seu sol abrasador a navegação é mais rápida e directa. Outro exemplo será as zonas tropicas que inserem uma verticalidade inexistente, a esta escala, no primeiro título. Por fim a adição da possibilidade de mergulhar abaixo de água insere novos desafios e áreas de exploração. É efectivamente aquilo que podemos denominar de um admirável mundo novo!
Para suportar devidamente os conceitos associados a este novo mundo, a direcção gráfica e qualidade artística foram levados aos patamares superiores do catálogo da consola. Em Forbidden West, somos brindados com cenários verdadeiramente belos, com um excelente cuidado na sua modelação e um jogo de luzes visualmente bastante atractivo. Um dos aspectos de louvar, em particular, passa pela modelação da água e respectivo comportamento que apresenta reflexos e dinâmicas do mais realista que notamos até à data. Ainda assim, denotamos em diversas localizações que existem bugs no sistema de iluminação, principalmente ao entrar em algumas cavernas ou mergulhar debaixo e água. Estes eventos são bem recorrentes e cortam alguma da imersão que o jogo tão eximiamente consegue criar.
Outra situação que corta alguma da imersão criada passa pela utilização do foco. Durante todo o jogo, a narrativa claramente impõe a importância deste pequeno elemento. Quer seja para permitir comunicação à distância entre pessoas, quer para aceder a registos antigos, é uma peça essencial no enredo da história. Ainda que este aspecto seja tão eximiamente introduzido ao jogador, na prática e após diversas horas de jogo, começa-se a denotar que a sua utilização exaustiva tende a revelar-se exagerada. Não existe puzzle ou zona de exploração que não necessite da sua utilização. Exemplificando, o que fazemos quando chegamos a uma nova área?... Carregar no R3. O que fazer quando estamos perante um puzzle ou presos?... Carregar R3. Primeira coisa a fazer ao enfrentar uma máquina?... Carregar R3. Queremos trepar uma parede?...Carregar R3. A quantidade de vezes que utilizamos esta mecânica é significativa, inclusive chegando a longo prazo a reduzir a imersão que o jogo tão bem consegue criar. Certos elementos, acreditamos que poderiam dispensar desta necessidade e ajudar o jogador a focar-se mais na sua percepção da realidade que o rodeia. Será que Aloy necessita mesmo de indicadores de onde trepar as paredes, ou quais plantas são para apanhar?
E falando em problemas gráficos, não podemos deixar de salientar outro significativo. Passa pelas expressões faciais das personagens. A quantidade de cenas onde os olhos e expressão de Aloy estão bastante desregulados, ao ponto de parecer que esta está com aspecto “alucinado”, é enorme. A sensação transmitida é de existir um exagerado movimento dos olhos que, interessantemente, não se verifica com as demais personagens. Este é um aspecto que esperamos ver reduzido a longo prazo, pois a caracterização das personagens é eximia por toda a experiência.
Abordando um pouco a questão da jogabilidade, continuamos com aproximadamente o mesmo estilo do anterior. Ainda que tenham sido adicionados mais ferramentas/armas , mais ataques corpo a corpo e diversas habilidades “especiais”, no global a experiencia revela-se bastante similar. A melhor opção continua a ser por apostar em ataques silenciosos, com vista a fragilizar as imponentes máquinas, antes de um confronto mais directo. Principalmente, porque agora existem mais máquinas de maior porte (para além do trovejante e ave das tormentas do título anterior) que exigem um cuidado extra na forma de como as enfrentamos em combate. O uso de armadilhas, assim como a capacidade em despoletar reacções explosivas ou elementares, passa a ser quase essencial. Também o comportamento das máquinas é mais agressivo, onde denotamos uma inteligência mais perspicaz (algo devidamente justificado no enredo).
Contudo, o mesmo problema do título anterior continua presente. Nomeadamente no que se refere ao combate corpo a corpo. Com diversos outros jogos existentes actualmente, comparativamente este revela-se com mecânicas algo confusas, demasiado complexas e simplesmente com resultados pouco significativos no global do combate. Com o decorrer da aventura, acabamos por relegar esta vertente somente para combates com outros humanos e em última alternativa. Existiu um claro esforço do estúdio em aprimorar o combate, ao inserir novas técnicas, mas no fundo não se revelaram significativas o suficiente no global da experiência.
Por fim deixamos algumas palavras sobre a navegação e exploração. O mapa disponibilizado apresenta um nível de detalhe excelente, potenciando a sua fácil interpretação. Num mundo cuja dimensão e quantidade de actividades é tão expansiva, este era um elemento essencial que felizmente não foi descurado. A possibilidade de navegação rápida (fast travel) está presente desde o início da aventura, facilitando a concretização das diversas tarefas. De igual forma, desde o início que temos a habilidade de converter arietes para servirem de montada e deslocarmo-nos mais rapidamente entre destinos que ainda não desbloqueamos ou simplesmente pretendemos explorar. Salientamos, contudo, que a navegação recorrendo a este animal tende a revelar-se menos conseguida do que a realizada a pé. Neste caso é frequente sermos travados por elementos do cenário irrelevantes (como pequenos trocos ou pedras) e o controlo em velocidade não é tão bem refinado.
Conclusões
A equipa da Guerrilla Games conseguiu criar uma experiência que se caracteriza, claramente, como uma evolução natural do primeiro jogo. Em Horizon Forbidden West somos premiados com aquilo que exactamente todos os fãs da série pretendiam: aprofundamento da caracterização da Alloy; uma expansão do mundo pós apocalíptico; desenvolvimento conciso do enredo; grafismo verdadeiramente belo; e claro, mais máquinas para caçar! É notório a capacidade, segurança e convenhamos até comodismo, por parte do estúdio, em fornecer uma experiência que vai de encontro aquilo que pretendíamos.
Não obstante da grandiosidade daquilo a que somos agraciados, o título apresenta alguns problemas que poderiam facilmente ser evitados. Um exagerado uso do foco tende a diminuir a imersão que o jogo tão eximiamente nos consegue entregar, ou talvez uma reformulação do combate corpo a corpo poderia ter sido considerada. Contudo estes são pontos de menor, naquilo que é um jogo que em tudo transpira perfeição. Ponto assente é que este é um título no qual os jogadores tenderão a perder-se, revelando que a aventura de Aloy é somente uma das muitas e interessantes histórias que poderemos desfrutar nele. Um título obrigatório para qualquer fã do primeiro jogo, e claramente recomendado para os demais!
O melhor:
- Imersão dos cenários e todas a experiência no global;
- Comportamento das máquinas aprimorado;
- Aspecto visual e direcção artística;
- Expansão perfeita do enredo do primeiro título.
O Pior:
- Dependência excessiva da utilização do foco;
- Combate corpo a corpo pouco refinado;
- Expressões faciais algo desajustadas.
Pontuação do GameForces: 9.0/10
Título: Horizon Forbidden West
Desenvolvedora: Guerilla Games
Publicadora: Sony
Ano: 2022
Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo, através de um código para a PlayStation 5, gentilmente cedido pela SIE.
Horizon Forbidden West [PS5] - Admirável Mundo Novo
Reviewed by Carlos Silva
on
março 14, 2022
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