Tetris Effect: Connected [NSW] – Uma Experiência Sensorial Sem Igual

Já lá vão quase 40 anos desde que se viu Tetris pela primeira vez, quando este foi lançado exclusivamente na União Soviética. Mas foi na primeira consola portátil da Nintendo, em 1989, que este viciante jogo de puzzles alcançou um sucesso estratosférico, com a sua jogabilidade simples de compreender, mas difícil de dominar, a combinar perfeitamente com a acessibilidade do GameBoy original. Depois de inúmeras iterações, a obra-prima de Alexey Pajitnov tenta agora apresentar-se revitalizada na mais recente consola híbrida da Nintendo. Será Tetris Effect: Connected música para os nossos ouvidos, ou terá apenas um efeito nefasto no legado desta fórmula lendária?

Se fôssemos apostadores ávidos, poríamos dinheiro em como não há um único jogador que não tenha experimentado, visto ou, pelo menos, ouvido falar de Tetris. É um jogo que dispensa apresentações nesta altura do campeonato – mas cá vamos nós. Numa espécie de tabuleiro vertical, várias peças compostas por quatro quadrados vão caindo, sendo o nosso objetivo manipular essas peças de modo a preencher completamente todos os espaços na horizontal de modo a ir eliminando linhas. Todas as mecânicas clássicas estão aqui presentes em Tetris Effect: Connected, sendo possível ir rodando, mexendo ou manipulando a velocidade das peças antes destas se fixarem.
 
Trata-se, portanto, de uma fórmula já bastante experimentada e que se tem mantido apelativa ao longo de décadas. Em Tetris Effect: Connected, esta jogabilidade base mantém-se tão simples, viciante e rejogável como sempre. Ir empilhando os sete tipos diferentes de peças requere sempre muita atenção à composição do tabuleiro, à peça que está a cair e à peça que vem de seguida, de modo a maximizar a eficácia do nosso jogo. Limpar quatro linhas de uma vez (ou seja, fazer um “tetris”) ou ir eliminando linhas em jogadas consecutivas é sempre gratificante. E por mais simples que o conceito do jogo pareça, jogar sem atenção pode muito facilmente deixar-nos numa situação apertada, podendo levar-nos a um game over quando as peças ultrapassam o teto do tabuleiro.
 
Ou seja, há um equilíbrio perfeito entre a simplicidade da jogabilidade e o desafio da mestria mecânica, com o resultado a ser uma experiência sempre divertida. Mas tudo isto é certamente familiar, o que evoca a questão: em que é esta entrada se distingue de tantos outros títulos Tetris?

Para começar, Tetris Effect: Connected é uma experiência audiovisual absolutamente divinal. Sempre que mexemos, rodamos ou encaixamos uma peça no tabuleiro, a música de fundo vai reagindo adequadamente a cada acontecimento. Também a limpeza de linhas vai fazendo com que o cenário visual vá reagindo, com pulsações, explosões de cor ou mudanças mais drásticas do pano de fundo. Tudo isto faz com que esta seja uma experiência sensorial riquíssima e sempre apelativa, sobretudo no modo “journey.” Trata-se de uma espécie de campanha a solo deste título com sete atos, cada qual composto por 3 a 5 níveis, nos quais o objetivo é eliminar um determinado número de linhas.
 
É neste modo que encontramos uma maior responsividade de todo o ambiente visual e sonoro do jogo consoante o nosso desempenho, bem como uma maior variabilidade dos cenários e de tons musicais. Tanto que concluir este modo em qualquer um dos três níveis de dificuldade desbloqueia a opção de “teatro.” Esta permite-nos apreciar meramente os espetaculares efeitos audiovisuais encontrados neste modo sem qualquer tabuleiro de jogo, sendo uma adição curiosa, mas bem-vinda, que pode proporcionar uma pausa relaxante do ritmo frenético que, por vezes, jogos Tetris conseguem atingir.
 
Outra das mudanças diz respeito à jogabilidade. Em Tetris Effect: Connected temos a nosso dispor a possibilidade de parar o tempo de modo a ir preenchendo linhas sem o risco de ultrapassarmos os limites do tabuleiro. Para tal, temos de ir limpando linhas até preencher uma pequena barra. Assim que esta barra estiver preenchida, podemos carregar em ambos os gatilhos simultaneamente (ZL e ZR) para ativar esta paragem. Esta pequena mecânica pode mudar completamente o decorrer de um jogo, permitindo salvar uma situação aparentemente impossível ou até amealhar uma quantidade exorbitante de pontos. A utilização desta paragem pode ser extremamente gratificante, acrescentando a todos os modos de jogo uma maior profundidade estratégica quando comparamos este título ou outras ofertas Tetris.
 

A outra diferença é mais ligeira, mas importante sobretudo no que à acessibilidade diz respeito. Durante os jogos, é possível manipular a nossa visão do tabuleiro. Podemos ampliar ou recuar a câmara, e movimentar o ponto de vista a partir do qual jogamos. Se para o jogador médio estas possibilidades apenas serão usadas para apreciar melhor a decoração à volta do espaço onde o tabuleiro se encontra, jogadores com dificuldades de visão poderão ter aqui opções importante para poderem usufruir melhor desta experiência.
 
O já referido modo “journey” será certamente o primeiro que os jogadores experimentarão, mas Tetris Effect: Connected está recheado de outros modos de jogo de grande qualidade. Este título apresenta um modo de desafios – aqui chamado modo “Effect.” Neste, poderemos encontrar 15 opções de jogo diferentes, cujos objetivos variam entre o limpar linhas o mais rapidamente possível (com ou sem game over), obter a maior quantidade de pontos possível, sobreviver a um ritmo de queda de peças amplamente acelerado, ou até participar em níveis normais com músicas e cenários diferentes dos encontrados no modo “journey.”
 
Por fim, Tetris Effect: Connected inclui alguns modos multijogador, entre os quais encontramos um cooperativo e alguns competitivos. O modo cooperativo acaba por ser aqui a estrela da companhia. Neste modo, juntamo-nos a mais dois jogadores para enfrentar um adversário controlado pelo computador. Cada linha limpa por qualquer jogador leva ao preenchimento de uma barra que, quando ativada, não só para o tempo como nos modos a solo, mas junta também os três tabuleiros controlados por jogadores. Isto significa que cada jogador colocará, à vez, uma peça num tabuleiro agora enorme e todo interligado, podendo fazê-lo mesmo numa zona que ficaria fora do seu próprio tabuleiro. O entendimento e o planeamento estratégico entre os jogadores são essenciais, contribuindo para que este seja um modo bastante criativo e único.
 

No que diz respeito aos modos competitivos, temos aqui algumas opções por onde escolher, mas nenhuma delas é extraordinariamente distinta. Podemos desafiar outros jogadores para confrontos onde limpar linhas prejudica o tabuleiro adversário, onde a opção de usar a mecânica de parar o tempo está disponível ou não. O único modo competitivo que se distingue é o clássico, onde não é possível guardar uma peça para usar mais tarde nem fazer as peças cair instantaneamente. Juntando a isto uma estética que faz lembrar o lançamento de Tetris no primeiro GameBoy, esta opção recria fielmente as mecânicas originais, conferindo um desafio diferente para novos jogadores, ou uma sensação de nostalgia profunda para os fãs mais antigos destes jogos. Apesar disto, é uma pena não haver um modo competitivo tão criativo como o cooperativo, e ficamos com a impressão de ter havido aqui algum potencial desperdiçado.
 
Estes modos multijogador têm todos uma grande força e uma grande fraqueza. A sua força, é o facto de Tetris Effect: Connected apresentar funcionalidades de crossplay. Isto permite-nos jogar com ou contra amigos e desconhecidos independentemente da plataforma na qual estes se encontrem. Esta funcionalidade funciona bem. Experimentámos jogar simultaneamente com mais uma pessoa numa Switch e com outra pessoa numa PlayStation, tendo havido apenas um único soluço que pode muito bem ter-se devido a uma desconexão por inatividade de um dos jogadores. A grande fraqueza diz respeito à variedade audiovisual nestes modos. A música acaba por ser demasiado repetitiva, variando muito menos consoante as nossas ações, e o ecrã acaba por estar tão preenchido com vários tabuleiros que há pouco ou nenhum espaço para os efeitos visuais deslumbrantes dos modos a solo. A componente multijogador é, sem dúvida, muitíssimo bem-vinda, mas não se apresenta tão envolvente como o resto do jogo.
 
Para terminar, resta-nos apenas olhar para aspetos mais técnicos desta experiência. Como já referimos, os efeitos visuais e auditivos são absolutamente sublimes, resultando numa experiência sensorial única. Os efeitos de partículas, a utilização de cores e a transição entre cenas são impecáveis, tanto no modo televisão como no modo portátil. Não reparámos num único bug visual ou auditivo, nem em qualquer quebra no ritmo de jogo (com a exceção daquele soluço quando testámos o crossplay). Tetris Effect: Connected até tira bastante partido da funcionalidade de HD Rumble dos joy-cons, melhor do que a grande maioria dos jogos atualmente na Switch. O único senão a apontar é o facto dos tempos de carregamento do jogo e de um novo ato no modo “journey” demorarem um bom bocado. É certamente um problema menor face a tudo o resto, e mesmo sendo algo notável não mancha o que é, no geral, uma experiência de excelência.

Conclusões
A maneira mais simples que temos para descrever Tetris Effect: Connected é como sendo uma experiência sensorial sem igual. O envolvimento das vertentes visuais e auditivas com cada ação que tomamos é sublime, e é sempre um deleite ver todo o ecrã a reagir ao nosso jogo. Com tantos modos de jogo para explorar, há aqui conteúdo para dar e vender. Esta é uma das experiências mais bem conseguidas do ponto de vista audiovisual na Switch, e muito possivelmente e melhor experiência de Tetris atualmente no mercado.

O Melhor:

• A mesma jogabilidade base sempre apelativa e desafiante de Tetris
  
• Componentes audiovisuais extraordinárias, sobretudo no modo “journey”
• Mecânica de parar o tempo é um acréscimo bastante gratificante
• Modos multijogador, em particular o cooperativo, bem conseguidos
• Longevidade praticamente ilimitada

O Pior:

• Ocasional lentidão no carregamento do jogo e de alguns modos
• Músicas e cenários muito menos variados nos modos multijogador
• Falta de mais modos competitivos

Pontuação do GameForces – 9/10

Título: Tetris Effect: Connected
Desenvolvedora: Resonair, Stage Games, Monstars
Publicadora: Enhance Games
Ano: 2021

Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a PlayStation 5, através de um código gentilmente cedido pela Enhance Games.

Autor da Análise: Filipe Castro Mesquita