A série Pokémon
continua tão popular como sempre, e é natural que os jogadores de outras consolas
que não as da Nintendo tenham desejos de experiências semelhantes. Nos últimos
tempos, temos visto algumas dessas experiências alternativas a chegar à
PlayStation, incluindo Nexomon: Extinction no ano passado.
Após uma boa receção desse título, os produtores decidiram lançar o primeiro
jogo desta série, dando aos jogadores a oportunidade de conhecerem toda a
história deste universo. Mas será Nexomon uma experiência capaz de nos
capturar, ou apenas uma cópia barata?
Em Nexomon,
encontramos um mundo onde a humanidade vive em paz com várias criaturas
chamadas Nexomon, paz essa obtida quando, séculos antes, um domador lendário
derrotou o temível rei dos monstros e os seus filhos. Mas agora, essa paz está
a ser ameaçada, quando o novo Nexolord, o domador mais poderoso do mundo,
começa a raptar inúmeros cientistas e os obriga a trabalhar para um objetivo
sombrio. É aqui que entramos. Assumindo o papel de um(a) jovem que
inadvertidamente se torna um(a) domador(a), sentimo-nos compelidos a investigar as
intenções do Nexolord e pôr um termo nos seus planos devastadores. A premissa
parece algo séria e simples, mas pese embora os contornos narrativos acabem por
ser ligeiramente mais pesados dos que costumamos encontrar neste subgénero de
RPGs, estamos perante um argumento genuinamente engraçado, que quebra expectativas.
Neste aspeto, é daqueles jogos nos quais vale a pena ler todo o texto, inclusive
os oferecidos pelos NPCs espalhados pelo mundo.
De resto, Nexomon
é praticamente igual aos jogos da série principal de Pokémon em tudo o
resto. Temos vários monstros para capturar, treinar e fazer evoluir. O sistema
de combate é por turnos, com cada monstro a apresentar um máximo de quatro
ataques. Apenas podemos trazer connosco 6 nexomon de cada vez. Cada nexomon
apresenta uma natureza, cada qual forte ou fraca contra algumas das outras. O
mundo apresenta-se em 2D e a navegação pelo mesmo decorre visto de cima, com movimentos apenas a poderem ser executados na vertical ou na
horizontal. Os nexomon encontram-se escondidos nos vários bocados de relva
espalhados pelo mundo, ou dentro de grutas e outros espaços específicos.
Existem até líderes em cada grande área do mundo, que teremos de combater e
derrotar por estarem associados ao antagonista da narrativa, associação essa o
único detalhe que os distingue minimamente dos líderes de ginásio encontrados
em Pokémon.
Portanto sim,
Nexomon é um clone de Pokémon, e não o tenta esconder. A verdade
é que as mecânicas já descritas estão testadas pelo tempo e são comprovadamente apelativas, e quando aplicadas a Nexomon esse facto mantém-se. Capturar e evoluir novos monstros é sempre divertido,
descobrir aleatoriamente um monstro lendário é entusiasmante, e algumas das
batalhas oferecem momentos verdadeiramente desafiantes. Mas a verdade é que Nexomon
é um jogo notavelmente menos polido do que os da série que o inspiram. A
estatística da velocidade dos monstros parece ser irrelevante, já que os nossos
nexomon atacam sempre primeiro, sem exceção. As aflições como veneno ou confusão
afetam-nos duas vezes por turno (uma ao atacar, e outra depois do ataque
adversário). E mesmo alguns dos ataques parecem ser aprendidos por todos os
nexomon consoante a sua natureza, havendo aqui pouca variedade.
Mesmo em
comparação com a sequela Nexomon: Extinction podemos encontrar algumas
diferenças. Para começar, existem menos duas naturezas de nexomon, pelo que a componente
estratégica deste título se apresenta muito menos profunda, sobretudo se
tivermos em conta a pouca variedade de ataques já aludida. Depois, o método de
captura é muitíssimo mais básico, havendo apenas uma armadilha base e uma com
100% de eficácia, não havendo grande controlo sobre as probabilidades de
captura para além do tentar reduzir a vida do monstro selvagem. Mesmo a interação com os elementos do mundo apresenta-se mais básica, não havendo habilidades que nos permitam
destruir detritos ou navegar pela água, sendo que a maneira que o jogo tem de
nos impedir de ir por caminhos errados é através de mensagens de texto ou de
falas de uma personagem que nos acompanha na aventura.
No entanto,
há alguns aspetos positivos que destacam esta experiência, tanto da sua sequela
como da série Pokémon. Em Nexomon, os ataques que os nossos monstros
aprendem nunca são completamente perdidos, podendo ser equipados consoante
o momento do jogo em que nos encontramos e os nossos objetivos imediatos. Temos
a destacar a variedade de monstros que podemos encontrar e combater. No total,
são 310 nexomon, a vasta maioria dos quais são únicos a este título. Para além
dos lendários, que também estão presentes em Extinction por motivos
narrativos, são pouquíssimos os monstros que se apresentam em ambos os jogos
desta série. Para terminar este ponto, é impossível não destacar o pós-jogo de Nexomon. Este apresenta uma narrativa igualmente cativante, as batalhas mais desafiantes do
jogo, algumas mecânicas novas que nos ajudam a tornar os nossos monstros mais
poderosos e a apanhar todos os nexomon presentes neste título.
Olhando para
aspetos mais técnicos, comecemos pela vertente gráfica de Nexomon. O
jogo apresenta uma direção artística apelativa e colorida que assenta
muitíssimo bem no tom desta aventura. Os designs das várias centenas de monstros
são também muito bem conseguidos, evidenciando um nível de criatividade
louvável. As animações programadas e cinemáticas que ocorrem no mundo estão
igualmente muito bem conseguidas, mas o jogo falha um pouco nas animações de
combate. Os monstros mexem-se de forma demasiado repetitiva e formatada,
enquanto os ataques apresentam animações demasiado básicas e simplistas para se
destacarem.
Mas no que
toca à vertente visual do jogo, o maior pecado acaba por ser cometido pela
interface de utilizador. Tratando-se este de um jogo adaptado de um lançamento
mobile, não podemos deixar de reparar no reflexo que este facto tem na
interface do jogo. Tanto em combate como no mundo, o ecrã apresenta vários ícones
que parecem estar a pedir para serem clicados. O acesso aos itens tem um ícone
específico separado de todas as outras opções úteis que se encontram contidas
num menu. Mas o pior é em batalha, quando a seleção de ataques é feita através
de um cursor cujo posicionamento tapa a stamina dos nossos monstros, informação
importante que, tal como em Extinction, aqui substituem o sistema de PP dos
ataques presente em Pokémon. Fica a clara impressão de que a adaptação
da interface de utilizador foi simplesmente descuidada e desatenta, talvez até apressada.
Por outro
lado, temos a vertente sonora do jogo, que apresenta um nível de qualidade
elevadíssimo. Cada região do mundo tem o seu tema distinto, alguns dos quais
nos ficaram na cabeça durante algum tempo. Embora seja a mesma presente em Nexomon:
Extinction também temos de considerar que a música de batalha está bem
produzida ao ponto de nunca se tornar aborrecida. Para terminar este ponto, há
que referir que os rugidos dos nexomon e vários outros efeitos sonoros do jogo
apresentam uma qualidade consistente, desempenhando as respetivas funções de
forma bastante satisfatória.
Já no que
diz respeito ao desempenho do jogo, não há aqui nada a apontar. Não nos
deparámos com um único soluço no que à taxa de fotogramas por segundo concerne.
As animações das sequências cinemáticas e nas batalhas foram sempre suaves, e o
jogo respondeu sempre bem e atempadamente a qualquer input. Mesmo os tempos de
carregamento foram sempre curtos, como seria de esperar de um jogo tão pouco
exigente. Se há algo a lamentar, por muito minucioso que seja, é o facto de a
versão PS5 de Nexomon não ter incorporado qualquer funcionalidade
específica do DualSense, o que poderia ter sido interessante, por exemplo, na busca
por monstros ainda por capturar para completar a nossa base de dados.
Terminemos com o endereçar da situação algo estranha na qual nos
encontramos. Jogar Nexomon depois da sua sequela não é o ideal, uma vez
que Extinction se apresenta como bastante mais único e como uma evolução
significativa do original. Assim, somos colocados numa posição onde as
comparações foram inevitáveis, mas injustas para com este título. Porque este é
um jogo de qualidade e que proporciona uma experiências divertida e prazerosa,
ficando aquém da sua sequela sobretudo devido à experiência ganha e ao feedback
obtido com este trabalho.
Assim, concluímos com dois apelos: primeiro, que não deem tanto peso à
nota aqui atribuída, que terá de ter em conta a comparação com a sequela e que,
obrigatoriamente, tem de ser inferior à que atribuímos a Extinction há mais
de um ano. Se gostam de Pokémon, experimentem este jogo,
independentemente das classificações finais que virem, aqui ou noutro lado. O
segundo apelo é que joguem também a sequela de Nexomon, para que possam
apreciar a evolução que esta série está a evidenciar melhor do que nós fomos
capazes.
Conclusões
Nexomon apresenta-se como uma alternativa interessante à série Pokémon,
pese embora seja claramente de qualidade inferior. As mecânicas de captura e
batalha de monstros serão familiares e quase tão divertidas como as dos jogos
mais popular, com este jogo a apresentar algumas ideias refrescantes e uma
narrativa bastante cativante. A falta de polimento em várias vertentes da experiência
prejudica este jogo, mas se é um clone de Pokémon que procuram, são pouquíssimas
as ofertas tão fiáveis como esta.
O Melhor:
- Narrativa
bem conseguida, bem escrita e apelativa, e com um pós-jogo robusto
- Mais de 300
criaturas para capturar e treinar, quase todas diferentes das presentes na
sequela
- Direções
artística e sonora de elevada qualidade
O Pior:
- Interface de
utilizador mal adaptada a consolas
- Jogabilidade
praticamente idêntica à da série Pokémon, mas menos polida
- Pouca profundidade
estratégica para o género
Pontuação do
GameForces – 6.5/10
Título: Nexomon
Desenvolvedora: VEWO Interactive
Publicadora: PQube
Ano: 2021
Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a PlayStation
5, através de um código gentilmente cedido pela PQube.
Autor da Análise: Filipe Castro Mesquita
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