A capacidade de um videojogo em nos transportar para um mundo alternativo e fazer-nos ponderar aspectos essenciais da nossa vida é uma dos melhores benefícios que esta experiência nos pode trazer.
Life is Strange é uma série que desde a sua génese apostou forte numa temática madura, procurando abordar questões da nossa existência através de um uma narrativa profundamente associada à exímia caracterização de personagens e mensagem a ser transmitida.
Em True Colors, considerada como a terceira temporada nesta série de renome, seguimos os eventos que decorrem em Haven Springs após a chegada de Alex Chen, uma rapariga que desde cedo aparenta ser mais do que é. Alex apresenta poderes empáticos, conseguindo ver a aura das pessoas à sua volta e, se concentrar-se o suficiente, ouvir o que estão a pensar naquele momento. É uma mecânica interessante que ajuda a promover uma irregularidade num enredo que de outra forma seria bastante menos cativante e envolvente (ainda que fique um pouco aquém das excelentes mecânicas temporais da primeira temporada).
Desde cedo somos arrebatados pelo grafismo e á falta de melhor termo “fotografia” do jogo. As cenas, a forma como as camara prossegue a nossa aventura, os momentos de introspecção, os pensamentos de Alex, tudo funciona em harmonia para criar uma experiencia mágica e que nos faz envolver completamente neste mundo. Notamos que a prestação do jogo, quando no modo de fidelidade em com Ray Tracing ligado denota alguma dificuldade em manter uma taxa de fotogramas estável.
Infelizmente toda a experiencia preparada falha num ponto que achamos tornar-se essencial. Enquanto na primeira temporada conseguíamos visitar inúmeras localidades de Arcadia Bay, ou na segunda temporada ficamos a conhecer inúmeras da estradas abertas do oeste Norte Americano, aqui ficamos reduzidos a uma pequena vila onde somente conseguimos visitar a Rua principal e meia dúzia de lojas. Fora um segmento na mina, onde muitos dos habitantes de Haven Springs trabalham, é somente este local que temos disponível para explorar. Reconhecidamente que a caracterização dos cenários é do melhor existente, denotando um grande cuidado em obter uma localização que potencia a interiorização da experiencia, mas não conseguimos deixar de sentir uma saturação de percorrer frequentemente os mesmo locais e falar com as mesmas personagens.
Estas mesmas personagens apresentam um óptimo nível de caracterização e que certamente ajuda a criar uma ligação com o enredo e narrativa preparada. É de louvar, em particular, o cuidado que a produtora teve em refinar e aprimorar a linguagem corporal, com vista a transmitir numa maneira mais abrangente o seu estado emocional. Ainda assim, considerando as interacções passadas desta série (e respectivo “elenco”), não podemos deixar de sentir que para além de Alex e Steph, são todas bastante estereotipadas e mais supérfluas. O facto de somente interagirmos com menos de 10 outras personagens também não ajuda.
Estes aspectos levam ao sentimento de que Life is Strange: True Colors poderia ser mais. Poderia muito bem alongar um pouco mais a história e respectiva área de exploração. Ao acabar a sua história, o sentimento de necessidade de quer mais desta experiencia foi algo que nos assolou, ao ponto de nos fazer seguir para o DLC disponível “Wavelenghts”.
O primeiro ponto que salientamos ao jogar o DLC é que este poderia encaixar muito bem na experiencia base e que, embora seja uma carta de amor para os fãs da primeira temporada e dos eventos de Arcadia Bay, achamos que seria uma óptima intro ao jogo principal. Em Wavelenghts seguimos durante 3 a 4 horas as “aventuras “ de Steph Gingrich, uma das personagens secundárias mais adoradas dos fãs de “Before de Storm”, que aqui é promovida a uma das principais do enredo. Basicamente relata a sua chegada a Haven Springs, uns meses antes do inicio da história de Alex, onde teremos de gerir a loja de discos e fazer de locutora da radio local. Este DLC promove um entendimento muito mais profundo de Steph, assim como a sua história desde que saiu de Arcadia Bay (inclusive alguns dos seus pontos de vista relativos ao que aconteceu na primeira temporada).
Outro ponto bastante positivo é a banda sonora e efeitos de som. Quer no jogo base, quer no seu DLC, contamos com um conjunto de temas do melhor observado na indústria. Certamente é uma das componentes que define e distingue este título dos demais. Alias, se até agora enumeramos alguns dos aspectos onde True Colors ficou aquém de títulos anteriores, a sua banda sonora é definitivamente a mais elaborada e melhor integrada na história e enredo que vimos até agora. Uma componente tão importante que arriscamo-nos a afirmar ser o seu ponto mais forte e distinguível dos restantes lançamentos.
Apostar numa banda sonora perfeitamente implementada e central com a experiencia não foi a sua única boa novidade. Diversos mini jogos foram introduzidos, permitindo desanuviar um pouco de um título que por vezes poderá ser emocionalmente desgastante. Nomeadamente, podermos experimentar algumas das máquinas de arcada existentes, assim como os matraquilhos no apartamento de Alex. São três mini jogos que (confessamente) passamos mais tempo a jogar do que esperávamos… e adoramos!
Salientamos, de igual forma, a sequência onde são misturadas mecânicas de Life is Strange, com as de um RPG por turnos. Este é um evento incorporado na história principal que quebra o ritmo de jogo de uma forma positiva, evitando o desgaste. Ainda que a um nível mais simples, este segmento faz-nos relembrar o que aconteceu na demo gratuita da segunda temporada, intitulada “The Awesome Adventures of Captain Spirit”. Aqui navegaremos por Haven Springs, enquanto participamos num jogo de aventuras e onde teremos de lutar com algumas das reconhecidas personagens. Misturando imaginação do nosso companheiro com os poderes de Alex, teremos aventuras bastante interessantes, que ajudam imenso a providenciar uma experiencia bem diferenciada.
Por fim resta-nos deixar uma menção dos problemas sociais abordados, assim como à mensagem transmitida por este título. Um dos elementos distintivos da série Life is Strange passa pela sua capacidade em abordar alguns dos problemas sociais mais preponderantes da época em que são lançados. Neste título, não vamos particularizar quais são (para evitar spoilers), mas efectivamente notámos uma redução da sua associação com os eventos políticos a decorrer nos Estados Unidos da América.
A mensagem é notoriamente menos profunda que as mensagens das duas temporadas anteriores, mas que no panorama geral dos vídeo jogos apresenta uma melhor associação aos jogadores que 90% dos títulos existentes. Infelizmente, True Colors falha em conseguir criar situações de divisão emocional, como as anteriores temporadas conseguiam. As escolhas críticas (típicas da série) não revelaram-me, a título pessoal, grande ambiguidades e sempre soube imediatamente o que escolher. Este aspecto era sempre algo que nos faziam ficar largos minutos numa introspectiva de qual a nossa opinião neste assunto. Ainda assim, é de louvar o facto da existência de um impacto singificativo das escolhas por nós efectuadas ao longo da aventura. Ficamos agradavelmente surpreendidos que algumas das nossas opções iniciais tenham tidos efeitos muito mais perto do final da história.
Life Is Strange: True Colors é uma experiência marcante para qualquer jogador. O seu grande problema é efectivamente o seu legado e necessidade em conseguir manter-se ao nível dos excelentes títulos da série lançados anteriormente. O sentimento de uma experiência aquém das expectativas é palpável, muito devido às nossas expectativas, uma história mais reduzida que o habitual e menos localizações para explorar. Ainda assim conta com alguns trunfos: uma banda sonora mais envolvente; uma personagem principal melhor caracterizada que nos títulos anteriores; um grafismo e ambientação mais surpreendentes.
Se por ventura nunca jogaram um título desta série, vão ficar certamente apaixonados! Se por outro lado, são fãs de Life is Strange, recomendamos entrarem nesta experiência com expectativas moderadas e certamente não se arrependerão!
O Melhor:
- Grafismo, arte e cenários envolventes;
- Banda sonora;
- Minijogos;
- Caracterização de personagens profunda...
O Pior:
- ... Mas não tão boa como entradas anteriores da série;
- Reduzida quantidade de cenários;
- História demasiado simplificada e de curta duração.
Pontuação do GameForces – 8.5/10
Desenvolvedora: Deck Nine, Square Enix
Publicadora: Square Enix
Ano: 2021
Life Is Strange: True Colors [PS5] - Luz Verde Para Crescer
Reviewed by Carlos Silva
on
outubro 14, 2021
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