F.I.S.T.: Forged In Shadow Torch [PS5] – Cerrar o Punho Para Conter a Frustração


Se há género de videojogos com o qual a produção independente costuma andar de mãos dadas é o metroidvania. Entre o imaculado Hollow Knight, o soberbo Axiom Verge ou o inovador The Messenger, este subgénero de jogos de ação e plataformas em 2D tem atingido níveis de qualidade incríveis nas mãos de produtores indie. Agora, surge F.I.S.T.: Forged In Shadow Torch, um novo título dos produtores chineses Bilibili que tenta ombrear com os melhores. Mas será este título uma mão cheia de qualidade, ou apenas um murro no estômago?
 

Em F.I.S.T.: Forged In Shadow Torch entramos num mundo cujos cidadãos são todos animais antropomórficos e assumimos o papel do coelho e antigo soldado chamado Rayton. Quando uma legião de máquinas conquistou Torch City, o nosso protagonista retirou-se do combate pela resistência, na esperança de viver uma vida pacata. Mas quando o seu melhor amigo é raptado pelas máquinas, Rayton volta a envergar a única peça da sua antiga armadura mecânica que funciona – o seu enorme punho metálico. Assim, o veterano volta à frente de combate, mergulhando num profundo enredo sobrenatural na tentativa de salvar não só os seus aliados, mas todos os seres orgânicos que ainda vivem em Torch City.
 
No cerne desta proposta está a temática de dieselpunk, temática essa que influencia todo o design do jogo. Não só encontramos um mundo visualmente coerente, com uma identidade muito distinta, ou inimigos com designs apelativos, mas a própria narrativa incorpora este conceito. A narrativa acaba por tocar em assuntos intelectualmente estimulantes, como o transumanismo e o seu impacto na identidade, mas acaba por não ser muito atrevida ou provocadora, tornando-se algo superficial. Para tal, contribuem também um final algo abrupto e demasiado inconclusivo, bem como um conjunto de personagens muito monocórdicas – apesar do trabalho bastante competente dos atores de voz. Mesmo com a bela direção artística e design visual meticulosamente trabalhado, tudo o que revolve esta temática geral acaba por ser o primeiro grande aspeto do jogo cheio de potencial desperdiçado.
 

Como já foi aludido, F.I.S.T.: Forged In Shadow Torch é um jogo de ação e plataformas em 2.5D, com um sistema de progressão metroidvania. Temos então uma Torch City dividida em várias áreas interligadas entre si. Cada área tem um estilo visual muito distinto, e rapidamente conseguimos identificar onde nos encontramos com um mero vislumbre. As interligações entre áreas acabam por não ser tão complexas como seria de esperar, com várias áreas a estarem conectadas apenas a uma outra ou acessíveis unicamente via fast travel
 
Portanto, este não é o mapa mais bem desenhado que se pode encontrar neste subgénero de jogos, mas felizmente a contrapartida é a enorme quantidade de áreas escondidas. Cada uma destas contém algo de útil, seja recursos para adquirir novas capacidades e ataques, seja um item que nos permite aumentar a nossa vida, barra de ataques especiais ou barra de utilização dos equipáveis. Uma boa dose destas áreas secretas está, de facto, bastante bem escondida, sendo sempre divertido e gratificante desviarmo-nos do caminho certo e sermos recompensados.
 
Mas esta diversão não pode ser meramente atribuída à sensação de “eureka,” mas também à excelência das mecânicas de navegação pelo mundo. Se no início do jogo Rayton apresenta um leque de movimentos e de habilidades extremamente limitados, não tarda muito até começarmos a encontrar upgrades que nos permitem trepar paredes, executar um duplo salto ou impulsionarmo-nos em qualquer direção. Saltitar de plataforma em plataforma, alcançar zonas elevadas que à primeira vista pareciam inatingíveis, e manobrar Rayton à volta de inimigos ou bosses de modo a ganhar vantagem em combate – tudo isto é sempre prazeroso.
 

Mesmo as armas novas que vamos adquirindo ao longo da aventura podem ser utilizadas para facilitar a navegação – a broca facilita e torna mais apelativas as secções subaquáticas, enquanto o chicote nos permite “voar” a alta velocidade em vários momentos do jogo. Todas estas mecânicas de movimentação são sempre responsivas e precisas, não sendo exagero apontá-las como o ponto mais elevado de toda a experiência. Ao ponto de termos adiado progredir na história sempre que adquiríamos uma nova habilidade de movimentação, preferindo sempre regressar a regiões já exploradas para descobrir que novas áreas escondidas passavam então a estar ao nosso alcance.
 
E passamos do ponto mais alto, para o mais baixo do jogo – o combate. Com três armas diferentes e um bom leque de habilidades desbloqueáveis para cada uma, é possível fazer combinações complexas, longas e bastante gratificantes quando tudo corre bem. E no "correr bem" é que está o problema. Nem conseguimos contar a quantidade de vezes que o jogo não leu o nosso input, deixando Rayton parado a meio de uma combinação de ataques. Ou até a frequência com que inimigos nos atacavam a partir de fora do ecrã, quebrando o nosso ritmo de ataque sem qualquer hipótese justa de nos ajustarmos a esses ataques. Isto para não falar da quantidade de encontros onde a combinação de inimigos ou um único boss são capazes de nos prender numa sequência de ataques inescapável que termina apenas quando a nossa barra de vida fica vazia – algo que nos é impossível de fazer à vasta maioria de inimigos. A única maneira de evitar esta frustração é encontrar um combo curto e simples que desfira dano o suficiente e repeti-lo vezes sem conta até ao fim do jogo, o que significa mais um enorme desperdício de potencial deste jogo.
 
Entre graves problemas de leitura das nossas ações e opções de design pavorosas, a única palavra que encontramos para descrever a maioria dos encontros de combate é frustração. Mesmo os inimigos que enfrentamos não são propriamente estimulantes ou criativos. À medida que avançamos na campanha, vamos encontrando os mesmos designs de inimigos pelo mundo, mudando apenas a cor que estes apresentam e uma pequena habilidade. Também a grande maioria dos bosses acaba por virar inimigo comum, com a diferença de que se apresentam mais fracos do que quando estes ostentavam uma grande barra de vida para esvaziar. Portanto, nem por aqui nos sentimos estimulados, sendo mais comum suspirar e tentar despachar as sequências de combate o mais rapidamente possível para podermos voltar para a exploração.
 

Um aspeto do design que temos de louvar é a sensação de progresso. Como já mencionámos, começamos F.I.S.T.: Forged In Shadow Torch sem grandes habilidades para além do salto básico e dos ataques simples, mas isto muda muito rapidamente. Adquirimos novas possibilidades de movimentação e novas capacidades de combate bastante cedo, com o próximo upgrade a estar sempre praticamente ao virar da esquina. As melhorias e as habilidades estão muitíssimo bem espalhadas pelo jogo, sendo adquiridas sempre a um ritmo bastante satisfatório. Isto faz com que tenhamos uma verdadeira sensação de desenvolvimento de Rayton, e a impressão de que estamos a ser constantemente recompensados pelo nosso esforço. Pouquíssimos outros metroidvania conseguiram, até à data, igualar este título neste aspeto, demonstrando aqui muita qualidade de design.
 
Olhando, por fim, para aspetos mais técnicos, voltamos a esbarrar em alguma desilusão. Se é verdade que este mundo se apresenta visualmente bem conseguido, também não podemos deixar de apontar a quantidade de texturas cujo carregamento se atrasa, saltando à vista pelo seu aparecimento repentino no ecrã. Embora a música e os desempenhos de voz sejam de elevada qualidade, não conseguimos ignorar a falta de cuidado na hora de sincronizar as animações das falas com os seus áudios. E não é possível ignorar a miríade de bugs e outros problemas, como o ficarmos presos em elementos do ambiente, animações que não decorrem como deviam ou a frequente quebra no ritmo de fotogramas por segundo. Tudo isto evidencia uma falta de polimento gritante para o que se exige nos dias de hoje – sobretudo numa consola de nova geração.
 

Conclusões
F.I.S.T.: Forged In Shadow Torch é um metroidvania geralmente interessante e apelativo, mas com demasiados problemas e opções de design frustrantes. Este título apresenta uma jogabilidade variada e sequências de plataformas de elevadíssima qualidade, mas o combate inconsistente e frustrante prejudica demasiado o prazer da experiência. A evidente falta de polimento resulta em imenso potencial desperdiçado, tornando este título recomendável apenas para os mais ávidos fãs deste género.
 
O Melhor:
  • Uma história cativante com reviravoltas interessantes
  • Bom leque de habilidades que conferem uma sensação de progresso gratificante
  • Excelentes mecânicas de navegação, movimentação e plataformas
 
O Pior:
  • Combate maioritariamente frustrante e muitas vezes injusto
  • Demasiadas ocasiões onde o jogo não respondia adequadamente ao input
  • Demasiados bugs e problemas de desempenho
 
Pontuação do GameForces – 6/10
 
Título: F.I.S.T.: Forged In Shadow Torch
Desenvolvedora: Bilibili
Publicadora: TiGames
Ano: 2021
 
Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a Playstation 5, através de um código gentilmente cedido pela Bilibili.
 
Autor da Análise: Filipe Castro Mesquita

F.I.S.T.: Forged In Shadow Torch [PS5] – Cerrar o Punho Para Conter a Frustração F.I.S.T.: Forged In Shadow Torch [PS5] – Cerrar o Punho Para Conter a Frustração Reviewed by Filipe Castro Mesquita on outubro 02, 2021 Rating: 5

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