Quando se fala em jogos Remastered existem sempre opiniões divididas. Uma opinião recorrente passa por condenar as companhias que os produzem, alegando falta de originalidade para criação de jogos novos, aliada à necessidade de quererem fazer dinheiro com um jogo que já teve o auge na altura que foi lançado. Particularmente, preocupo-me com aquilo que os jogos nos transmitem, para ser mais específico, que os jogos me tragam a nostalgia e emoções que vivi na altura em que os joguei originalmente. E se forem com gráficos melhorados tanto melhor!
Com o Crysis não foi excepção. Na altura, tive que fazer um upgrade ao sistema operativo do meu computador para simplesmente pode jogar Crysis 2 ou o 3 (confesso que não consigo recordar-me qual deles me fez ter que fazer tal proeza por um jogo!). Mas será que hoje em dia vale a pena jogar as versões remasterizadas de Crysis? Vamos dividir esta análise em cada um dos jogos para percebermos as diferenças entre os 3 e aquilo que de novo consideram nesta versão.
Crysis (1)
Neste título controlamos Nomád, um dos membros de uma força especial dos Estados Unidos denominada Raptor. O jogo começa connosco dentro um helicóptero a caminho de uma ilha, com a missão de salvarmos uma arqueóloga, que fez uma descoberta relativa a uma nova fonte de energia com a capacidade de revolucionar o mundo. E porque motivo tem uma força especial ir resgatar uma arqueóloga? Porque a Coreia do Norte está metida ao barulho.
O nosso esquadrão conta com 4 operativos, o nosso personagem, 2 colegas (Pshyco e Jester) e o nosso comandante Prophet. É interessante observar que todos estes acabam por nos acompanhar de maneiras bem distinas durante os 3 jogos, criando elos de ligação bem destacáveis e devidamente associados a cada narrativa isolada. Este é um dos pontos fortes da trilogia, promovendo um sentimento de ligação profunda entre o jogador e as personagens da história. Todos os membros foram alterados fisicamente, tendo sido implantado a cada um algo semelhante a uma nova pele, como que um "fato" feito de nanoparticulas tornando-nos em autênticos super soldados.
É sobre este aspeto do enredo (e as suas características), que os 3 jogos vão basear os diversos modos de combate possíveis de utilizar para enfrentarmos inimigos. A título de exemplo, temos super força que é bastante útil para assaltos frontais, fazendo com que consigamos saltar bastante mais alto que o comum mortal ou esmurrar um inimigo para um KO instantâneo. Ou em alternativa é possível recorrer a uma invisibilidade, que permite uma abordagem mais stealth. É ainda uma opção recorrer a uma barreira defensiva que permite nos proteger disparos inimigos (não só disparos comuns mas também granadas e rockets), para uma abordagem mais mista dos combates. Todas estas habilidades gastam energia quando ativas, (energia essa que se regenera quando nenhuma habilidade é usada), potenciando o fator estratégico devido à necessidade de planeamento nas fases de combate conforme o objetivo e habilidades ao dispor.
A jogabilidade segue muito proximamente o enredo criado. Com o evoluir da história, dois grupos de inimigos bastantes distintos irão surgir: os do exército da Coreia do Norte (desde a soldados a tanques de guerra e helicópteros); e inimigos alienígenas (os mais simples são pequenos seres com formato de polvo e os mais complicados são naves enormes). Todo o enredo baseia-se em chegarmos à fonte de energia primeiro que a Coreia, ao mesmo tempo que eliminamos inimigos de ambos os lados. Compreensivelmente, que para os dias que correm, este argumento poderá passar como sendo bastante corriqueiro, mas no ano de 2007 quando saiu era bastante apelativo. O que não se tornou apelativo foi o grafismo que encontrámos. Infelizmente sentimos que voltámos ao ano de lançamento. Não houve melhorias gráficas visíveis dignas do termo Remaster.
De igual forma a jogabilidade não parece ter sofrido grandes alterações. A mudança de arma é lenta, parecendo pouco polida e o movimento para vermos pela mira da arma é desajeitado. Devido ao grafismo antiquado torna-se mesmo difícil distinguir os inimigos de árvores e o Aim Assist não parece funcionar plenamente, tornando a tarefa ainda mais difícil. Outro problema passa pelas estruturas das missões e enredo do jogo que se revela bastante simples e straightforward: Ir do ponto A ao ponto B, derrotar um ou dois tipos de inimigos e repetir.
A banda sonora está em sintonia com o ambiente vivido, trazendo uma certa adrenalina aos conflitos o que facilita a imersão na experiencia (apesar do grafismo já mencionado anteriormente). Complementando a nível audiovisual, os efeitos sonoros estão bastante interessantes, com o som do mar e do vento a ter um papel preponderante na ambientação dos cenários e onde também se ouve claramente quando um inimigo sabe a nossa localização a chamar pelo restante plantel.
Crysis 2
Com a experiencia do Crysis 1 a deixar-nos com o pé atrás ficámos um pouco hesitantes com o que viria em seguida. Para nossa surpresa os gráficos deram um salto imenso. Salientamos, particularmente, as feições bem definidas e pormenores mais detalhados dos ambientes circundantes do nosso personagem. Este aspeto tornou-se ainda mais notório quando foi incluído o Patch Day-One, introduzindo melhorias gráficas e texturas 4K. Infelizmente fomos confirmar e não existiu essa atualização para o Crysis 1 (uma clara oportunidade de melhoria para a editora!).
Crysis 2 começa exatamente como o seu antecessor. Somos parte de uma força dos exército dos Estados Unidos, mais precisamente os Marines. Desta feita com o nome de código Alcatraz, encontramo-nos novamente num helicóptero, mas agora a sobrevoar Nova York. Onde até aqui parece haver muitas semelhanças com o anterior, subitamente somos atacados e o nosso veiculo despenha-se no Rio Hudson. Temos alguns flashs onde vemos naves alienígenas a sobrevoar e a disparar, enquanto que vamos perdendo a consciência. O ultimo momento antes de desmaiarmos e alguém com o nanosuit a tirar-nos da água a salvar-nos.
Acordamos com o nosso sistema a reiniciar, o visão do nosso personagem altera-se com dados e percebemos que nos foi colocado o fato de nanoparticulas. Ao olharmos em volta, deparamo-nos com Prophet que acabara de nos instrui para encontrar Ghoul e que somos a ultima esperança da humanidade. Em seguida toma uma decisão que cimenta novamente o foco entre o nosso personagem e os npcs, um ponto deveras positivo deste enredo.
Como podem adivinhar, todo o contexto e enredo estão bastante cativantes, recorrendo a vários plot-twists desde o inicio, para nos deixar agarrado à experiencia. Salientamos a cativante forma de como a consciência do Prophet conecta-se à nossa própria, com vista a que consigamos discernir o que ele passou desde que tomou a decisão de se afastar das ordens do exército. Mesmo o discurso apresenta-se narrado de um modo bastante emotivo o que novamente ajuda-nos a sentir na pele todo o enredo. O ambiente sonoro também parece melhorado, com uma qualidade de som mais polida e limpa com os trechos musicais a afinarem ainda mais a experiencia.
Em termos de jogabilidade a diferença para o primeiro também é abismal. Movimentos fluidos, a substituição das armas encontra-se bem executada, tal como as animações dos recarregamentos. Os próprios poderes dos fatos estão mais delineados, fluem melhor na sua execução e podemos agora melhorá-los ao adquirirmos as partículas que os inimigos alienígenas deixam cair ao morrer. A exploração, apesar de ser bastante linear e contando com mapas não muito extensos, apresenta adicionalmente alguns caminhos secundários onde existem vários colecionáveis para apanhar (desde mapas a dog-tags, aquelas chapas que os militares usam).
Em Crysis 2 contamos com os inimigos extraterrestres e com os inimigos da empresa que criou os fatos que usamos e que nos querem capturar, imitando aqui Crysis 1 onde em alguns mapas temos mesmo os dois tipos para enfrentar. Tudo isto está aliado a um grafismo claramente superior o que torna Crysis 2 uma experiencia completamente diferente, como da noite para o dia, do seu antecessor.
Crysis 3
E se Crysis 2 deixou-nos com água na boca, a experiencia de Crysis 3 sobe novamente a parada. Temos a opção de assistir a um prelúdio que permite compreender o que aconteceu durante os dois jogos anteriores (para quem não os jogou) e no espaço temporal entre o Crysis 2 e o Crysis 3. A temática continua bastante semelhante aos antecessores, mas com alguns elementos agora definidos e clarificados. O inimigo extraterrestre agora são denominados de Ceph e a empresa que criou os fatos é intitulada Cell. Esta última recorreu à tecnologia alienígena para dominar o mundo, tendo inclusive já destruido Nova York. Continuamos aqui então com os mesmos tipos de inimigos, humanos e extraterrestres, mas com comportamentos bastantes distintos em combate. Os primeiros são mais cautelosos e tentam sempre uma abordagem afastada com armas. Já os segundos, de uma maneira mais primitiva e selvagem, vão rapidamente ao nosso encalço para nos atacar. Com esta situação precisamos de ter várias abordagens de ataque diferentes "preparadas" para nos defender e assim novamente usar as habilidades que o nanosuit nos proporciona de uma forma diferenciada.
O grafismo está excelente, contando com cenários lindíssimos e perfeitamente aprestados, revelando uma boa profundidade da sua caracterização. A vertente audiovisual está ainda melhor, considerando a inclusão de trechos musicais que se enquadram, tanto nos momentos mais dramáticos, como nos momentos de maior acção. Os poderes do nosso fato continuam iguais, sendo a única diferença o modo como conseguimos melhorar o nosso fato. Agora torna-se mais complexo, mas bastante mais interessante. Esta evolução já não é realizada através de partículas alienígenas, mas sim com upgrades espalhados pelos vários mapas que temos que explorar (onde estão novamente também alguns colecionáveis).
A jogabilidade continua bastante envolvente, tal como os movimentos do nosso personagem, onde o uso das armas está bastante interessante e fluido com os diferentes usos de miras ou de munições. Novamente a vertente audiovisual interliga-se com a jogabilidade, nos disparos, barulhos dos inimigos ou mesmo no ambiente que nos rodeia. Um ponto que também mostrou bastante evolução foi os diálogos e interação dos NPC's, não só com o nosso personagem mas entre si. Está claramente percetível as emoções que eles sentem, num contexto em que o mundo poderá estar a acabar.
Talvez os momentos mais negativos que podemos apresentar são com o controlo de veículos terrestres. Estes não apresentam a mesma fluidez que sentimos durante o resto do jogo. É difícil controlá-los e a camara de visão não ajuda a termos a noção de espaço em volta do nosso veiculo.
Outro ponto negativo que podemos salientar é que, durante os vários checkpoints existentes no jogo, acontece um pequeno travamento de imagem. Visto haverem diversos esta quebra poderá "irritar" um pouco o jogador. Este fenómeno apresenta-se durante os 3 jogos.
Salientamos, no que se refere à prestação gráfica que durante os 3 jogos não há qualquer quebra da taxa de fotogramas (tirando a mencionada dos checkpoints). Nomeadamente, o primeiro título corre a 30 FPS e os restantes a uns estáveis 60 FPS. Novamente aqui pedia-se os 3 jogos com o mesmo nível de qualidade, objetivando uma experiência mais equivalente ao longo de todos os capítulos da história. Em termos de opções gráficas, o primeiro título, apesar de ter modos de Qualidade, Performance ou RayTracing em nenhuma das 3 encontramos diferenças na visualização. Já no segundo e terceiro temos somente a opção de ligar/desligar o HDR, algo que a PS5 liga automaticamente caso seja possível. Consequentemente, considerando as limitadas opções gráficas disponíveis, associado a uma prestação sólida, recomendamos que experimentem este conjunto com as configurações predefinidas.
Já por outro lado, os modos de dificuldade alteram significativamente o comportamento do AI nos 3 jogos. Nos níveis de dificuldade superiores é evidente o acréscimo da sua prestação, onde os inimigos tornam-se muito mais agressivos e cientes da nossa localização (o que os torna bastante mais letais). Salientamos o modo Delta em Crysis 1, fazendo com que os inimigos falem Coreano (o que não parece que aumente a dificuldade do jogo em si) e remove os indicadores de granadas. De igual forma, em Crysis 3, existe o modo SuperSoldier onde não temos mira, aim assistance e nos níveis onde somos acompanhados por algum NPC eles não nos servem de ajuda.
Conclusão
A Crytek define Crysis Remastered como uma experiencia singleplayer épica. Tanto o Crysis 2 como o 3 estão ao mesmo nível de jogos de tiro na primeira pessoa mais recentes, conseguido uma óptima associação ás personagens e introduzindo um enredo e temática cativante. É realmente pena não terem tido o mesmo cuidado em refinar o primeiro título para deixar esta vivência completa. Uma clara oportunidade de melhoria neste conjunto. Não obstante, é essencial a sua inclusão neste pacote.
Aconselhamos vivamente se pretendem reviver esta saga épica que tenham jogado na altura dos seus lançamentos. Se forem fãs de tiros na primeira pessoa e com foque em campanhas single-players, é de igual forma uma experiência a contemplar.
O Melhor:
O Pior:
- Enredo bastante envolvente;
- As várias vertentes tácticas que as habilidades do fato nos possibilitam;
- Grafismo muito interessante do Crysis 2 e 3.
O Pior:
- A falta de melhoramentos do Crysis 1;
- Condução de veículos com pouca coerência e jogabilidade ;
- Travamento de imagem durante os vários checkpoints.
Pontuação do GameForces – 7.5/10
Desenvolvedora: Crytek, Electronic Arts,
Publicadora: Crytek
Ano: 2021
Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a PS5, através de um código gentilmente cedido pela Crytek .
Crysis Remastered [PS5] - Nostalgia e mais!
Reviewed by Filipe Martins
on
outubro 28, 2021
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