Ghost of Tsushima: Director’s Cut [PS5] - Uma Experiência Excelente Com Melhorias Pouco Afiadas


Há pouco mais de um ano, os jogadores da PlayStation 4 foram brindados com Ghost of Tsushima, o último grande exclusivo da geração. Na altura, regozijámos com o jogo, enaltecendo as mecânicas de combate e a sempre prazerosa exploração do seu belíssimo e imersivo mundo aberto. Agora, e com o lançamento da Director’s Cut do jogo, fomos compelidos a regressar à ilha de Tsushima e a voltar a encarnar Jin Sakai, o samurai que terá de fazer tudo para parar uma invasão mongol. Será Ghost of Tsushima: Director’s Cut a versão definitiva de uma excelente experiência, ou arrepender-nos-emos de regressar onde já fomos felizes?

Resumidamente, a experiência de Ghost of Tsushima: Director’s Cut pode ser dividida em três. Primeiro, temos o jogo base que acompanha a aventura original de Jin Sakai e do seu conflito com as forças invasoras mongoles lideradas pelo imponente Khotun Khan. Depois, temos a expansão da campanha a solo, que levará Jin a enfrentar uma nova ameaça na ilha de Iki. Por fim, temos o modo Legends, uma experiência multijogador cooperativa com contornos sobrenaturais que já havia sido introduzida previamente sem custos adicionais. Assim, o objetivo desta análise passará por perceber como a experiência base foi aprimorada para a PlayStation 5, e como os conteúdos adicionais da ilha de Iki e do modo Legends impactam o prazer geral deste jogo.
 

Ghost of Tsushima – Melhorias Inconsistentes que Não Mancham a Excelência da Experiência
 
Embora tenhamos jogado Ghost of Tsushima há pouco mais de um ano, temos de afirmar que foi um prazer reviver a história de Jin Sakai. As suas batalhas implacáveis contra os mongoles, o seu desenvolvimento para lá dos limites do código samurai e os seus conflitos identitários que o colocaram em rota de colisão com a sua família. Tudo isto levou a uma história estupendamente bem conseguida, que se mantém bastante sólida e apelativa um ano depois. A caracterização de todas as personagens, em particular no que diz respeito aos desempenhos de voz exímios, continua a ser um fator de elevação desta excelente narrativa.
 
Também a jogabilidade se mantém a um nível muitíssimo elevado. O combate continua a ser variado, com uma série de opções furtivas ou confrontativas, e o choque de espadas continua a exigir a mesma precisão e timing que tornaram os confrontos tão interessantes e cativantes. E claro, os “standoffs” continuam a ser uma das mecânicas de combate mais imediatamente gratificantes que se pode encontrar em jogos de ação na terceira pessoa. Mas a cereja no topo do bolo volta a ser o mundo aberto, no qual nos voltámos a perder, no melhor sentido possível da palavra. O sistema de orientação pelo vento, ou de descoberta de novos locais com atividades secundárias seguindo pássaros e raposas com que nos vamos deparando relembrou-nos o porquê de Tsushima ser um dos melhores mundos abertos que já tivemos o prazer de explorar.
 

Mas se o bom continua a ser bom, significa que os problemas também se mantêm? Infelizmente, a resposta é sim. A navegação na vertical continua a ser algo trapalhona. Escalar um penhasco ou a saltar entre secções de plataformas para chegarmos a um qualquer objetivo ainda é algo frustrante e muito pouco fluido. E a qualidade de imagem nas sequências cinemáticas das missões secundárias continua a ser visivelmente inferior à que encontramos nas missões da narrativa principal. Embora nada disto seja particularmente surpreendente, é uma pena não se ter dedicado um pouco mais de atenção a estes aspetos com o lançamento desta edição do jogo.
 
Com tudo isto, o que mudou então? De um ponto de vista do desempenho, a ação do jogo desenrola-se agora a 60 fotogramas por segundo, acrescentando ainda mais fluidez às animações e mais vida ao mundo. Esta fluidez é ainda enaltecida pelos tempos de carregamento praticamente instantâneos, graças aos quais não sabemos se o “tempo de espera” de jogo chegou sequer à marca dos sessenta segundos durante as cerca de 70 horas que passámos com Ghost of Tsushima: Director’s Cut. As funcionalidades do novo DualSense também foram implementadas nesta versão da experiência. Andar e cavalgar em diferentes pisos fornece uma sensação distinta no comando, e os gatilhos dão-nos o sinal de quando uma flecha está devidamente puxada para trás e pronta a disparar. Embora se possa ver esta implementação como algo superficial, é mais um elemento que consegue acrescentar alguma sensação de imersão neste mundo.
 
Também a vertente visual apresenta melhorias, com os cenários e os modelos das personagens mais nítidos, e com efeitos luminosos aprimorados, que dão um nível de realismo ao mundo ainda mais substancial… quando funcionam bem. Infelizmente, estas melhorias são algo inconsistentes, com vários bugs relacionados com a luminosidade a fazerem-se notar durante a experiência, e com a maioria das sequências cinemáticas a não se apresentarem a 60 fps. Esta inconsistência leva-nos a questionar se a atualização do jogo para a versão PlayStation 5 vale o preço extra para quem for detentor do jogo para a consola anterior, sobretudo porque os detentores da PS5 poderão usufruir da maioria destas melhorias com as mais recentes atualizações da versão PS4.
 

Ilha de Iki – Uma Expansão no Verdadeiro Sentido do Termo
 
A expansão vê-nos levar Jin para uma nova região explorável - a ilha de Iki. Esta ilha está em risco de ser dominada por uma tribo de mongoles que segue uma líder conhecida como a Águia. A Águia utiliza um novo tipo de veneno que afeta psicologicamente as suas vítimas, e ao sentir que isto coloca em perigo as vidas dos habitantes de Iki e, eventualmente, as dos habitantes de Tsushima, Jin viaja para esta região. Mas esta não é uma viagem que o protagonista faz de ânimo leve, já que foi durante um conflito com salteadores na ilha de Iki que Kazumasa Sakai, pai de Jin, foi morto. Juntando flashbacks que exploram as memórias e emoções relacionadas com o seu pai, com a necessidade presente de se aliar aos responsáveis pela sua maior perda de modo a pôr fim a uma ameaça maior, o resultado é mais uma narrativa bastante pessoal e emotiva. Ao explorar aspetos levemente mencionados, mas pouco explorados, no jogo base, esta é uma narrativa de qualidade que os fãs deste mundo, deste mundo e desta história quererão viver.
 
Embora seja mais pequena, a ilha de Iki tem também muito para explorar. Entre o adicionar de mais instâncias das atividades favoritas dos fãs, como a elaboração de Haiku, a introdução de novas atividades, como tocar música em altares de animais, e a introdução de novas missões secundárias, esta expansão oferece mais uma boa mão cheia de horas de conteúdo. O melhor de tudo é que a exploração desta ilha volta a ser um dos pontos altos da experiência, com a pequena região de Iki a conter uma variedade impressionante de fauna e flora que não se encontra na ilha de Tsushima. Assim, a ilha de Iki em si mesma apresenta-se como esteticamente diferente de todas as regiões exploráveis no jogo base, dando alguma frescura a esta expansão.
 

Mas as novidades não se ficam por aqui, já que a expansão de Iki acrescenta ainda mais elementos de jogabilidade. Para começar, a tribo da Águia apresenta um novo tipo de inimigos – o xamã. Estes aproveitam o veneno que conquistou a mente do exército desta tribo, manipulando os nossos inimigos de modo a torná-los mais poderosos e mais resistentes ao dano. Isto obriga-nos a ter de prestar mais atenção à constituição das hordas de inimigos e planear melhor quem derrotamos primeiro, tanto em combate como nos momentos furtivos, senão corremos o risco de ter perante nós uma batalha bastante mais complicada. De resto, esta expansão acrescenta ainda uma nova técnica, que nos permite abalroar inimigos quando estamos montados no nosso cavalo, e várias novas armaduras e outros equipáveis que podem ser utilizados para nos conferir diferentes vantagens no jogo.
 
No fim de contas, a expansão da ilha de Iki acrescenta muito à experiência base de Ghost of Tsushima, tanto em quantidade como em qualidade. Mas, infelizmente, deparámo-nos também com alguns bugs que roçaram o irritante. Foram algumas as situações em que nos cruzámos com mongoles enquanto viajávamos por Iki e nas quais, depois de iniciarmos uma situação de combate, vimos alguns inimigos pura e simplesmente a desaparecer perante os nossos olhos. Este erro bizarro foi apenas suplantado por uma das instâncias de uma nova atividade secundária, um desafio de arco e flecha, se ter inicialmente apresentado como impossível de completar. Neste caso, por muito que se ajustasse a mira, os objetos que temos de quebrar para completar os desafios não se partiam, mesmo quando reiniciávamos a atividade. A única solução foi mesmo fechar e reiniciar o jogo, o que quebrou bastante o ritmo do mesmo, tornando este o maior bug presente em toda a experiência de Ghost of Tsushima: Director’s Cut.
 

Modo Legends – Uma Adição Surpreendentemente Viciante… Com Amigos
 
E chegamos a Ghost of Tsushima: Legends, o modo cooperativo online com um twist sobrenatural. Este modo é enquadrado como versões lendárias da história de Jin, contadas a partir da perspetiva de um contador de histórias. Para este contador, o fantasma não era apenas uma pessoa, mas quatro guerreiros com habilidades diferentes, guerreiros esses que se juntaram para combater uma entidade demoníaca e as suas hordas trazidas para Tsushima graças aos mongoles. Estes quatro guerreiros são a base para as classes que podemos assumir neste modo: Samurai, o combatente mais resistente e proficiente; Caçador, mais eficaz com arco e flecha, e outras armas de longo alcance; Ronin, classe de suporte capaz de reviver e curar aliados; e Assassino, especialista em furtividade e eliminar inimigos a partir das sombras.
 
Após um tutorial algo redundante para quem já experienciou a narrativa principal, teremos de escolher uma das quatro classes para começar, o que, algo bizarramente, bloqueia as restantes três. Utilizando as nossas habilidades únicas (algumas das quais sobrenaturais), teremos de nos juntar a outro jogador para participar numa nova narrativa onde enfrentamos o demónio Iyo e travamos a sua invasão de Tsushima. Incorporando alguns elementos de mitologia japonesa, esta curta história de nove missões apresenta-se como apelativa e com cenários muito bem desenhados. As mecânicas base de Ghost of Tsushima misturam-se bastante bem com os novos elementos sobrenaturais, resultando numa jogabilidade simultaneamente reconhecível e refrescante para quem acabou de vir da aventura de Jin.
 
Para além deste modo história, temos imediatamente disponível um modo de sobrevivência, onde nos juntamos a outros três jogadores para conquistar três zonas de um pequeno mapa e temos de os manter durante 15 ondas de hordas de inimigos. Mesmo na dificuldade mais simples, este modo pode ser extremamente desafiante caso a equipa de jogadores não trabalhe devidamente em conjunto. No que foi uma adição recente, podemos participar em confrontos (indiretos) contra outros jogadores no modo rivais, onde temos de derrotar inimigos e colecionar recompensas que podem ser usadas para perturbar o jogo dos adversários. Por fim, temos também um modo de raids, com três capítulos que completam a narrativa do confronto com o demónio Iyo, capítulos esses que se apresentem como as missões mais variadas, interessantes e desafiantes do jogo.
 

Para desbloquear a possibilidade de participar nas raids, temos de ir colecionando equipamento mais raro e poderoso. Sim, este modo apresenta um sistema de loot, com cada atividade cooperativa e competitiva a recompensar-nos com peças de equipamento. Estas serão mais poderosas consoante o nível de dificuldade das atividades: bronze, prata ou ouro. Para chegar às raids, temos de ter um nível de equipamento de 100, o que nos obrigará a completar instâncias da mesma atividade inúmeras vezes. Felizmente, aumentar a dificuldade mistura um pouco as atividades, para além de aumentar o poder dos inimigos - por exemplo, no modo de história surgem vários objetivos secundários para realizar. Isto impede que este modo se torne demasiado repetitivo, embora tenhamos de admitir alguma fadiga quando finalmente desbloqueámos as raids.
 
Assim, é este o loop que o modo Legends propõe aos jogadores: ir jogando as várias instâncias de cada atividade em bronze, depois prata e, por fim, ouro, enquanto se vai colecionando equipamento cada vez mais poderoso para poder ir participando em atividades mais desafiantes. Para adicionar a este colecionar de equipamento, vamos podendo subir a nossa classe de nível, desbloqueando-lhe novas habilidades e, eventualmente, outras classes para experimentar e para nivelar. Há aqui muito conteúdo para explorar, com vários desafios diários, semanais e permanentes para conquistar de modo a ir ganhando novos itens cosméticos para cada classe, e vários níveis desenhados propositadamente para cada modo de jogo.
 
Com a jogabilidade tão bem adaptada para modos competitivos e cooperativos, este modo pode tornar-se viciante, desde que jogada com amigos. Jogar com pessoas aleatórias pode ser uma experiência frustrante. Mesmo com a narrativa de cerca de 30 horas do jogo base (que pode chegar às 50 horas com a expansão e todo o conteúdo secundário), o número de jogadores que simplesmente se atiram para o meio do combate, desprezando a furtividade e as noções de precisão e timing que a jogabilidade exige é estonteante. Juntando a isto jogadores meramente focados em serem quem mais inimigos despacha – o que não confere qualquer bónus nas recompensas finais -, ficamos com a impressão de que a maioria dos jogadores com os quais nos cruzamos vão ser um fator detrator para esta experiência. E é uma pena que assim seja, porque o modo Legends é um triunfo no que toca a aproveitar filosofias de design a solo para modos multijogador. Por isso mesmo é que reiteramos a recomendação: joguem este modo com amigos, e sem dúvida que se divertirão.
 

Conclusões
Ghost of Tsushima: Director’s Cut é a derradeira versão deste excelente jogo. A ação e a exploração mantêm-se incrivelmente apelativas, a expansão acrescenta imenso à narrativa de Jin e ao conteúdo do jogo em geral, e o modo Legends adapta estupendamente as mecânicas do jogo base a ambientes cooperativos online. Para os detentores da versão PS4, talvez as melhorias não valham voltar a pagar um preço completo pelo jogo. Mas para quem nunca experimentou o jogo, Ghost of Tsushima: Director’s Cut é um dos mais obrigatórios exclusivos PlayStation.
 
O Melhor:
  • A jogabilidade continua a apresentar uma qualidade elevadíssima, tanto em combate como na exploração do mundo aberto
  • Expansão da ilha de Iki acrescenta uma narrativa e uma nova área bastante bem conseguidas
  • O modo Legends adapta muitíssimo bem as mecânicas a ambientes online
  • Várias melhorias gráficas e técnicas
 
O Pior:
  • Vários pequenos bugs gráficos e de jogabilidade
  • Não resolve os problemas mecânicos da versão base
 
Pontuação do GameForces – 9/10
 
Título: Ghost of Tsushima: Director’s Cut
Desenvolvedora: Sucker Punch
Publicadora: Sony
Ano: 2021
 
Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a PlayStation 5, através de um código gentilmente cedido pela PlayStation Portugal.
 
Autor da Análise: Filipe Castro Mesquita

Ghost of Tsushima: Director’s Cut [PS5] - Uma Experiência Excelente Com Melhorias Pouco Afiadas Ghost of Tsushima: Director’s Cut [PS5] - Uma Experiência Excelente Com Melhorias Pouco Afiadas Reviewed by Filipe Castro Mesquita on setembro 06, 2021 Rating: 5

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