Se atualmente Shantae é uma série
de renome, a verdade é que o seu título inaugural e a história por trás dele não
prediziam o seu sucesso. Uma nova IP, lançada para a Game Boy Color, um ano após
a chegada ao mercado da Game Boy Advance… digamos que não era a melhor receita
para um êxito comercial. Em consequência, Shantae tornou-se um dos jogos mais
raros da consola, levando a que por mais de uma década os novos fãs da série não
pudessem descobrir como esta se estreou.
Felizmente, o título recebeu uma
versão Virtual Console na 3DS e mais tarde um relançamento na Nintendo Switch –
quase 20 anos depois do seu lançamento original. 20 anos que certamente poderão
mudar a nossa perceção de Shantae, um jogo que, em 2002, impressionou a crítica. O que era deslumbrante em 2002 pode já não o ser em 2021, tão inexorável é o tempo perante tudo o que reside na terra.
Independentemente do quanto o jogo tenha envelhecido, não conseguimos deixar de admirar a ambição desmedida de Shantae. Estamos a recuar até à era da pequena Game Boy, e mesmo assim já encontramos no título todos os elementos que caracterizam a série. Estamos diante de um metroidvania plenamente realizado, com um mapa composto por regiões diversificadas e recheado de inimigos únicos. O grafismo e animações são muito avançados em relação ao restante catálogo da consola, existem vários minijogos espalhados pelo mapa, e a jogabilidade é tão rica como a dos jogos futuros – desde o icónico ataque de chicote com o cabelo da protagonista, aos ataques adicionais que podemos comprar na loja, e às transformações em animais que nos permitem alcançar novas áreas do mapa.
Avançar em Shantae é como percorrer
um pequeno museu, em que assistimos à estreia de cada uma das peças que define o seu mundo. Por exemplo, é intrigante descobrir a forma primordial das cidades:
imagens panorâmicas com NPCs com quem podemos conversar e vários edifícios com diferentes propósitos. Do mesmo modo, podemos
descobrir mecânicas únicas do jogo que não regressaram nos seus sucessores,
tal como o ciclo de dia e noite, que condiciona a resistência dos inimigos.
Não só o jogo é fascinante como
uma relíquia histórica de Shantae, mas também se mantém bastante divertido 20
anos depois. Continua a ser motivante conduzir Shantae ao longo do mundo,
descobrir os seus segredos e desbravar as suas dungeons. Estas dungeons
são indubitavelmente a melhor porção da aventura: a sua escala mantém-se ampla
apesar das limitações da Game Boy Color, as suas mecânicas são devidamente exploradas, e a alternância entre desafios de combate e puzzles foi executada
na ponderação correta.
No entanto, toda esta ambição exigiu alguns sacrifícios. A título de exemplo, as sprites
de Shantae são belos para o seu console visto que as personagens ocupam uma
porção significativa do ecrã. Em consequência, o nosso campo de visão é
frustrantemente limitado, implicando que tenhamos de realizar constantemente
saltos às cegas que frequentemente resultam em mortes ou dano impossíveis de
evitar.
Do mesmo modo, o reduzido tamanho
da tela reduz a memorabilidade e valor dos cenários que atravessamos. Afinal de
contas, quando apenas vemos uma porção minúscula da região de cada vez,
acabamos por a atravessar sempre de modo cauteloso, apenas tendo em mente os
obstáculos imediatos. Caso a câmara estivesse mais afastada de Shantae,
poderíamos ponderar formas mais interessantes de atravessar as regiões, dando
mais valor aos diferentes movesets que as transformações em animais nos concedem.
Também teríamos mais prazer
em utilizar estas transformações caso o processo para as utilizar não fosse tão
moroso. De cada vez que queremos ativar uma transformação, temos de realizar a dança correspondente através um pequeno minijogo em que premimos uma combinação de botões ao ritmo
da música. Embora aprecie o modo como este processo valoriza o ato de dançar,
eu repudio o seu impacto negativo no ritmo da jogabilidade (que já de si é mais presa do
que a dos jogos que se seguiram a Shantae).
O outro grande ponto negativo de Shantae reside no seu sistema de mapa… Ou melhor dizendo, na sua ausência. A ausência de um mapa faz-se sentir especialmente por estarmos diante de um metroidvania, ou seja, um jogo que exige backtracking e que bloqueia várias rotas por trás de melhorias que só obtemos à medida que avançamos na história.
Talvez por todos estes
inconvenientes, a WayForward disponibilizou-nos a opção preterida dos puristas:
save states. Em adição, foram incluídos alguns bónus que certamente agradarão aos
fãs de longa data. Nomeadamente, temos à nossa disposição a versão da Game Boy
Advance do jogo, que aumenta a claridade da imagem e desbloqueia uma transformação
extra, e uma galeria de imagens com várias artes concetuais do título.
Como tal, Shantae acaba por ser um título que recomendamos caso tenham jogado os restantes títulos da série anteriores. Embora o jogo continue a ser divertido, Chronos não foi generoso para ele. Em consequência, Shantae é especialmente apreciado por aqueles que querem conhecer o seu impacto e legado – e, sendo otimista, ainda mais gente o apreciará quando eventualmente a WayForward fizer um remake que atualize esta excelente porém envelhecida aventura.
Conclusão
É impressionante que a WayForward tenha conseguido espremer um jogo da dimensão de Shantae na pequena Game Boy Color, que contém as peças centrais do seu gênero e das sequelas, e se apresenta como uma das melhores aventuras da sua plataforma original.
No entanto, já estamos bastante longe da era Game Boy Color, e não podemos deixar de notar as suas limitações. Mais do que uma experiência para qualquer jogador, vemos em Shantae uma entusiasmante janela para o passado da série que os seus fãs acérrimos quererão conhecer.
O Melhor:
- Todos os ingredientes dos jogos Shantae;
- Dungeons intrincadas e cativantes;
- Gráficos e jogabilidade impressionantes...
O Pior:
- ... para a sua época;
- Ausência de sistema de mapa;
- Campo de visão limitado.
Nota do GameForces: 7.0
Desenvolvedora: WayForward
Publicadora: WayForward
Ano: 2021
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