Nintendo 3DS - 10 Anos de Excelência

É difícil acreditar que já passaram 10 anos desde que a Nintendo 3DS chegou às lojas europeias a 25 de março de 2011, para substituir a família de consolas Nintendo DS. Ainda me lembro perfeitamente da doce antevéspera de Páscoa em que adquiri a minha Nintendo 3DS. Aproveitei a agora defunta promoção Nota 20 para deitar as mãos a um bundle da consola com Super Mario 3D Land, e finda a transação atirei-me para o primeiro banco que vi sem demoras e mergulhei na nova geração de portáteis.

Antes mesmo de abrir 3D Land, já a consola me lançava o seu charme. Desde a breve demonstração do efeito 3D sem óculos, em que o logótipo da consola se aproximava e quase roçava o meu bigode pré-púbere, aos jogos pré-instalados, às memoráveis animações e composições dos menus, havia muito para descobrir e nos deslumbrar nesta inédita máquina. Até à data, este é o sistema da Nintendo com mais personalidade e conteúdo, lado a lado com a Wii. Esta identidade própria da 3DS torna-se ainda mais notória quando a comparamos com a da Switch: um sistema estéril com uma apresentação minimalista e com funcionalidade reduzida ao essencial.

Com a riqueza do software de raiz da consola, quase conseguimos vislumbrar o entusiasmo dos desenvolvedores em mostrar-nos as capacidades da nova portátil, como a sua maior potência, o giroscópio e o efeito 3D sem óculos – a novidade que ocupava o centro do marketing inicial da 3DS, e que batizou a consola. Apesar de a portátil ter sido lançada num período de maior entusiasmo em relação a esta tecnologia, o uso de 3D já era um anseio de longa data para a Nintendo. Os fãs da empresa já certamente conhecerão a tentativa fracassada de a utilizar com a Virtual Boy, mas esta não foi a única vez que a Nintendo tinha tentado implementar esta tecnologia antes da 3DS: em 1987, a gigante japonesa lançou Famicom 3D System, um acessório para a NES, e mais de uma década mais tarde tentou adicionar funcionalidades 3D à GameCube e à Game Boy Advance SP, mas acabou por descartá-las. No caso da GameCube, fê-lo pelo aumento de custos que a tecnologia implicaria; no caso da Game Boy Advance, a ideia foi rejeitada por a sua aplicação não atingir o nível de qualidade desejado.

Finalmente, em 2011, a Nintendo conseguiu introduzir ao público uma forma prática e portátil de jogar em 3D com a Nintendo 3DS. Esta opção é deslumbrante inicialmente: só olhar para as demonstrações dos jogos em 3D no menu da consola é de cair o queixo, e jogar recorrendo a esta funcionalidade ainda mais revolucionário era. Em títulos como Super Mario 3D Land, The Legend of Zelda: A Link Between Worlds e Luigi’s Mansion 2, este efeito enriquece a experiência, tornando mais fácil percebermos a nossa posição em relação a outros elementos. Numa vasta porção de jogos, como Mario Kart 7 e Kid Icarus Uprising, esta não tem efeito significativo na nossa jogabilidade, mas ela adicionava (literalmente) uma camada de detalhe aos mundos que visitávamos. Em contrapartida, títulos como New Super Mario Bros. 2 praticamente permanecem inalterados em modo 3D.

Embora eu jogue quase permanentemente em 3D, muitos dos donos da 3DS rapidamente abandonaram a funcionalidade: no modelo original da consola, era necessário mantermo-nos perfeitamente imóveis para apreciarmos devidamente o efeito – algo que limitava as circunstâncias de jogo e entrava diretamente em conflito com o uso de controlos por movimento obrigatório em vários títulos. De qualquer modo, esta não era uma funcionalidade necessária para o sucesso da consola: todos os jogos são perfeitamente jogáveis em 2D, e esta tecnologia inovadora não estava perto de ser o maior ponto forte dela.

Isto foi algo que eu descobri assim que coloquei o cartucho de Super Mario 3D Land na minha 3DS. A mais-valia da consola é o seu impressionante catálogo de jogos, marcado pela sua variedade e qualidade. A maior parte das experiências de valor da 3DS veio de estúdios da Nintendo, que ao longo de nove anos trouxe as suas prestigiadas séries para a consola. Mario, Zelda, Pokémon, Kid Icarus, Fire Emblem, WarioWare e incontáveis outras marcaram presença na 3DS, com títulos aclamados pela crítica e pela comunidade. Também outras desenvolvedoras, como a CAPCOM, Level-5, Atlus e Square-Enix, esmeraram-se para trazer séries de peso à consola, tais como Bravely Default, Professor Layton, Monster Hunter, Persona Q, Shin Megami Tensei e Ace Attorney. Estas experiências apenas roçam a ponta do icebergue no que toca ao número de aventuras que chegaram à família de sistemas.

Se a qualidade foi uma constante ao longo da vida da consola (apenas com raros percalços), o foco da empresa em 3D foi-se esbatendo com o tempo. Vários jogos da consola foram lançados sem 3D, tais como Wario Ware Gold e Mario & Luigi: Superstar Saga + Bowser’s Minions. Mas o momento em que esse distanciamento foi especialmente evidente correspondeu ao lançamento das novas consolas da família. Um ano após a Nintendo 3DS XL, uma versão maior e com mais bateria da Nintendo 3DS, chegar às lojas em 2012, a Nintendo lançou a Nintendo 2DS: uma consola mais barata, com uma nova forma e sem funcionalidades 3D.

Estas não foram as únicas revisões da consola: em 2015, a New Nintendo 3DS e New Nintendo 3DS XL chegaram à Europa. Estas versões foram apresentadas como melhorias dos dois primeiros modelos, visto que tinham melhorado os ângulos de perceção das imagens 3D, adicionado botões ZL e ZR e um novo analógico, e incorporado suporte a NFC, ajuste automático de brilho e mais potência, o que permitiu à consola rodar jogos mais exigentes como Xenoblade Chronicles 3D e Fire Emblem Warriors, bem como jogos clássicos de SNES. Por fim, em 2017, após o lançamento da Nintendo Switch, foi lançada a última revisão da consola, a New Nintendo 2DS XL: um modelo com todas as funcionalidades adicionadas nas outras versões New, mas sem funcionalidades 3D.

Esta última revisão é ilustrativa da intenção da Nintendo de prolongar a vida útil da família 3DS por vários anos após o lançamento da sucessora da Wii U. A pequena portátil continuou a receber novos títulos, principalmente na forma de ports/remakes de consolas antigas, até a Nintendo cessar o desenvolvimento de jogos para a consola com o lançamento de Kirby’s Extra Epic Yarn a 8 de março de 2019.

Quando a Nintendo colocou um ponto final na vida da 3DS, a atenção geral já se tinha desviado completamente para a Switch. Com uma consola mais potente e também portátil no mercado, muitos não viam interesse em manter a família de consolas agarrada ao suporte de vida. Porém, não me consigo imaginar a largar a minha confiável New 3DS XL tão cedo.

Apesar de ser inferior à Switch em inúmeros aspetos, a consola continua sem rival em vários outros. Embora a Switch seja portátil, o seu tamanho torna-a menos fácil e prática de transportar em relação à 3DS. Em adição, os seus jogos estão melhor projetados para sessões de jogo curtas, sendo por isso mais adequados para os tempos mortos do dia-a-dia. E por fim, a consola tem um rico catálogo de experiências retro que a Switch está longíssima de possuir, incluindo jogos de NES, Game Boy (Color), Game Gear e SNES (esta última apenas para modelos New).

E mesmo quem já tem a consola esquecida numa gaveta dificilmente negaria a importância desta geração. Foi esta família de sistemas que trouxe nova vida a universos como Fire Emblem, Kid Icarus e Luigi’s Mansion, e que permitiu o salto de várias séries outrora exclusivas de consolas de mesa para o formato portátil, com o lançamento do primeiro Mario 3D original portátil e das primeiras iterações portáteis de Super Smash Bros. e Paper Mario. Além disso, inúmeros jogos outrora exclusivos de consolas de mesa como Ocarina of Time, Yoshi’s Woolly World e Xenoblade Chronicles receberam versões portáteis – talvez indiciando já a ideação da Nintendo de nos proporcionar uma experiência de consola de mesa em qualquer lugar. A própria consola incluiu evoluções ao nível do sistema operativo, como um multitasking eficiente através do HOME Menu que transitou para a Switch e um robusto leque de funcionalidades base (como notas de jogo e um detalhado registo de atividade) cuja falta é sentida na sua sucessora. 

Pelo seu excelente repertório de jogos, pelo seu vasto leque de funções, pelo seu legado, vale a pena assinalar o aniversário de uma fantástica portátil que me proporcionou centenas de horas de diversão. Eu por cá despeço-me: este era todo o tempo de que dispunha, eu tenho de voltar para Animal Crossing: New Leaf na minha Nintendo 3DS.



Nintendo 3DS - 10 Anos de Excelência Nintendo 3DS - 10 Anos de Excelência Reviewed by Tiago Sá on março 25, 2021 Rating: 5

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