Ao
contrário do que acontece com outros meios da arte e entretenimento, na
indústria dos videojogos não é tão habitual sabermos o nome de muitos dos
diretores ou produtores das obras que experimentamos. No entanto, Yuji Naka é
um nome certamente reconhecido por muitos, ora não fosse uma das mentes por
trás de séries tão adoradas como Sonic the Hedgehog, Phantasy Star
ou Nights Into Dreams. Agora longe da SEGA, Naka tenta lançar mais um
jogo de sucesso – Balan Wonderworld. Sendo fãs de muito do trabalho de
Naka, é com curiosidade que olhamos para este seu novo projeto e experimentamos
o seu demo. Estaremos perante uma potencial maravilha, ou um mundo para
esquecer?
Balan
Wonderworld é um jogo de ação e plataformas em 3D no
qual assumimos o papel ou de Leo Craig ou de Emma Cole, dois jovens aparentemente
perdidos na vida que decidem ir assistir a uma peça musical composta pelo
titular Balan. Quando este maestro recebe os jovens, acaba por enviá-los para
uma espécie de país das maravilhas, habitado por várias criaturas felpudas
chamadas Tims. Neste novo mundo, teremos de atravessar vários níveis que
exploram histórias de pessoas caídas no desespero e possuídas por uma entidade
malévola, utilizando fatos especiais que nos conferem habilidades específicas
para combater a mesma. Parece ser uma premissa algo criativa e com potencial,
mas que, por motivos que já abordaremos, talvez poucos quererão ver como
termina.
Assim
que o jogo nos coloca em controlo, a primeira impressão não é má de todo. As
animações são fluídas, as cores são vívidas e vibrantes, e apesar de a nossa
personagem parecer algo básica, o design visual parece bastante apelativo. Mas assim
que nos mexemos, percebemos que algo está errado. A movimentação da nossa personagem
é lenta, e o salto tem um alcance curtíssimo, bem como uma altura baixíssima,
para o tempo que se fica no ar. Mas o pior veio quando me apercebi que todos os
botões da face do comando – X, quadrado, triângulo e círculo – servem todos
para a mesma ação: saltar.
Para
ser honesto, esta questão não me surpreendeu, dado o que se passou mesmo antes
de dar início ao demo. No menu principal do jogo, fui fazer o que faço sempre e
verifiquei o que havia nas definições em relação a legendas e vozes no jogo. Abri
as definições, fui à secção de áudio, e ao ver que estava tudo como queria, carreguei
no círculo para saír, e nada aconteceu. Estranhei, mas vi uma opção para
regressar ao menu anterior, levei lá o cursor e saí para o menu geral das
definições. Carreguei novamente no círculo, à espera de regressar ao ecrã principal,
e dei por mim novamente nas definições de áudio. Com alguma confusão, olhei
melhor para o fundo do ecrã e foi quando reparei que todos os quatro botões de
face serviam para confirmar. Não foi propriamente a melhor maneira de passar os
primeiros minutos da minha experiência com este demo.
Ainda
assim, e apesar da preparação que este episódio das definições, não fui poupado
à sensação de desilusão com esta decisão mecânica. Ao apanhar o meu primeiro
fato, que nos permite um salto em rodopio que serve simultaneamente de ataque,
percebi que perdi a capacidade de saltar normalmente. A dada altura, adquiri outro
fato que permite flutuar um pouco no ar e, ao experimentar os seus limites caí
num fosso, perdendo acesso ao fato. Ao voltar ao sítio onde o tinha encontrado,
o fato já lá não estava, o que me impediu automaticamente de explorar muito do
que o nível tinha para oferecer. Mas o pior foi quando adquiri um fato de
dragão, cuja única habilidade era cuspir fogo, sofri dano ao ponto de perder os
restantes fatos que tinha armazenados e fiquei sem qualquer possibilidade de saltar…
num jogo de plataformas.
No
total, podemos armazenar três fatos e ir rodando entre eles, o que não torna a
experiência mais prazerosa. Alternar entre fatos gera uma animação de vários
segundos, e aconteceu-me ter de trocar de fato para uma ação muito específica e
curta, para ter de imediatamente regressar ao fato que tinha previamente
vestido. Esta perda de tempo é frustrante, ainda para mais quando é possível
acumular o mesmo fato duas vezes ou acumular fatos com habilidades redundantes –
os fatos de dragão e do rodopio, por exemplo, servem ofensivamente o mesmo propósito,
mas o que nos permite saltar é claramente mais útil.
De
resto, Balan Wonderworld apresenta-se como qualquer outro jogo de
plataformas à base de colecionáveis. O objetivo em cada nível é encontrar
estatuetas douradas antes de chegar ao fim do mesmo e avançar para um novo
nível. Quando se coleciona um número suficiente de estatuetas, desbloqueiam-se
novos níveis. Ocasionalmente, enfrentamos um boss ou miniboss, que no caso do
demo não foram particularmente desafiantes, telegrafando muito claramente como
iam atacar – o que é normal, visto que se trata dos primeiros inimigos destes
calibres do jogo.
Nos níveis podemos ainda colecionar várias joias em forma de gotas,
que servem para alimentar as tais criaturas – as Tims. O propósito disto não
cheguei a perceber, visto tudo o resto me ter deixado profundamente desapontado
ao ponto de não ter vontade de experimentar os níveis que eventualmente
desbloqueei. Por fim, podemos também encontrar o maestro Balan e participar num minijogo que envolve carregar no botão X na altura certa para levá-lo a partir umas rochas. Para além de algo monótono, este minijogo parece ter caído um pouco do céu, não tendo nada a ver com o resto da experiência, ao mesmo tempo que nada acrescenta à mesma.
Resumindo,
é com grande pesar que este demo matou todo e qualquer entusiasmo que tinha por
Balan Wonderworld. A única coisa que me passou pela cabeça o tempo todo
que estive com este demo foi o quão melhor a experiência seria se pudéssemos atribuir
a habilidade de cada um dos fatos armazenados a um dos botões de face, em vez
deste sistema de habilidade única. A ideia por trás do jogo não é nada má, mas
a implementação e execução de praticamente tudo o que diz respeito às mecânicas
de jogo é terrível. A sensação de jogo é péssima, tanto na movimentação como no
salto, e o design de níveis aqui demonstrado deixa muitíssimo a desejar. Tendo
crescido a jogar vários dos jogos da série Sonic the Hedgehog e a adorar
os mesmos (inclusive os maus), queria muito que Balan Wonderworld fosse
bom, mas não vai ser. Se avançarem com o lançamento no dia 26 de março, receio
bem que este fique marcado como um dos piores jogos deste ano.
Não
retiro qualquer prazer em escrever estas palavras, e muito menos o faço para
conseguir cliques. Se os leitores tiverem chegado a este ponto e ainda tiverem
dúvidas quanto ao jogo, faço apenas um apelo: experimentem o demo antes de
gastarem o vosso dinheiro. Até pode ser que gostem da experiência – afinal de
contas, uma das belezas desta indústria é a disparidade de experiências que
diferentes pessoas podem ter com o mesmo jogo. Infelizmente, para mim as falhas
aqui apresentadas são demasiado graves, e não conseguirei sequer motivar-me
para passar por todos os níveis que o demo oferece, muito menos para investir
no jogo final.
Artigo
por: Filipe Castro Mesquita
Primeiras Impressões – Balan Wonderland Demo [PS5]
Reviewed by
Filipe Castro Mesquita
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fevereiro 11, 2021
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