[Análise] Super Mario Sunshine (3D All-Stars) [NSW]


Depois do esmagador sucesso da primeira aventura em 3D do nosso canalizador favorito, a Nintendo aproveitou o balanço e o lançamento de uma nova consola para criar Super Mario Sunshine. Lançado originalmente em 2002 para a Nintendo GameCube, esta foi a tentativa de pegar na fórmula do antecessor e oferecer uma experiência mais sólida e com algumas surpresas à mistura. Agora, em 2020, todos os donos de uma Nintendo Switch têm a oportunidade de experimentar esta aventura única com a coleção 3D All-Stars. Mas será este um brilhante raio de sol, ou uma tempestade tropical?
 

Em Super Mario Sunshine, Mario e a princesa Peach, bem como Toadsworth e outros Toad, estão a viajar para a Isle Delfino a fim de tirar umas merecidas férias. Mas a perspetiva de um retiro tropical rapidamente cai por terra, pois quando chegam à ilha deparam-se com uma figura sombria a sujar a mesma com tinta. O pior, é que esta figura se parece com Mario, e os habitantes locais rapidamente prendem o nosso herói e sentenciam-no a ter de limpar toda a sujidade. Para tal, Mario junta forças com uma máquina chamada F.L.U.D.D., capaz de disparar jatos de água de várias formas. À medida que Mario vai limpando a ilha, e recuperando Shine Sprites (a fonte energética da mesma), Peach acaba por ser novamente raptada e parece que o Bowser volta a estar metido ao barulho.
 
Apesar de uma reviravolta ou outra, a premissa base volta apenas a estar presente para justificar a nova aventura de Mario e algumas das mecânicas de jogo. A maioria das habilidades introduzidas em Super Mario 64 (o triplo salto, ou a pirueta para trás) é aqui retida, notando-se logo a falta do salto longo. Adicionalmente, a presença de F.L.U.D.D. permite a Mario derrotar alguns inimigos específicos, flutuar durante uns segundos e até interagir de novas formas com o mundo e com a população desta ilha, sendo o grande aspeto criativo que diferencia esta aventura das restantes que envolvem o nosso protagonista.
 
Todas as mecânicas acrescidas por F.L.U.D.D. são simples de utilizar e de dominar, mas à primeira vista poderiam ser mais intuitivas. Tendo em conta as minhas sensibilidades mais modernas, é estranho, por exemplo, ter um gatilho para disparar mas o outro não servir para um apontar mais refinado. A primeira impressão é de que este aspeto poderia ter sido revisto para esta remasterização, mas a verdade é que uma ou duas horas depois já estava mais do que acostumado à jogabilidade única de Super Mario Sunshine.
 

À medida que conquistamos níveis e recolhemos Shine Sprites, vamos tendo alguns confrontos com a figura que se faz passar por Mario. Isto pode acontecer tanto fora dos níveis como dentro destes, sendo um dos critérios para se desbloquear o nível final. Estes encontros são sempre bastante repetitivos: temos de perseguir este “Mario Sombrio” e borrifá-lo com água até este desistir. Quando isto acontece fora dos níveis, vamos desbloqueando novas ferramentas para F.L.U.D.D. – um propulsor para correr a alta velocidade, e um impulsionador para saltos elevadíssimos – e até um companheiro Yoshi. Estes “power ups” acabam por não ser tão interessantes como a maioria do que se encontra em jogos anteriores, nem em jogos futuros. Mesmo o sempre adorável Yoshi não altera por aí além a jogabilidade, acrescentando apenas a capacidade de consumir inimigos e de destruir perigos ambientais muito específicos. Tudo isto faz com que sinta que tantos encontros repetitivos com o arqui-inimigo de Super Mario Sunshine não tenham valido muito a pena, mas felizmente o resto dos encontros com bosses deste jogo são sempre bastante mais interessantes e divertidos.
 
Continuando a tendência começada em Super Mario 64, e que se verifica em jogos mais modernos tanto neste franchise como noutros títulos de plataformas em 3D, há vários tipos de colecionáveis em Super Mario Sunshine. Os principais colecionáveis são os já mencionados Shine Sprites, sendo possível encontrar, uma vez mais, 120 dos mesmos espalhados pelos níveis e pela ilha onde se encontram as entradas para os níveis. E para além das moedas normais, Super Mario Sunshine retém ainda as moedas vermelhas e as moedas azuis, embora lhe dê diferentes funcionalidades. As moedas vermelhas apenas poderão ser encontradas em missões específicas de cada nível, enquanto que as azuis serão retidas para mais tarde serem trocadas por mais Shine Sprites. A caça às moedas azuis será certamente o que tomará mais tempo aos jogadores que queiram completar totalmente este jogo, servindo de incentivo para dominar todas as mecânicas e explorar cada milímetro disponível.
 

Como já foi levemente mencionado, este jogo retém o sistema de missões do seu antecessor, com a diferença de que a missão escolhida altera visivelmente a área de jogo de cada nível. Isto significa um grau de liberdade menor em cada nível, já que em cada missão não será tão possível explorar aleatoriamente e encontrar um Shine Sprite diferente do indicado pela missão. E digo não tão possível porque cada um dos sete níveis principais contém dois Shine Sprites escondidos e outro desbloqueável apenas através da coleção de 100 moedas. Já a qualidade dos níveis tem algo que se lhe diga. Em Super Mario Sunshine, encontramos níveis francamente bons e outros terrivelmente maus, numa amplitude de qualidade como nenhum outro título desta série alguma vez apresentou. Felizmente, a grande maioria apresenta uma qualidade incontestável, colocando-nos em áreas amplas e bem recheadas de inimigos, puzzles ambientais e armadilhas que tiram bastante proveito de todas as mecânicas de jogo. Ou seja, a maior parte dos níveis, e suas missões, proporciona bastante diversão, conseguindo entreter e motivar-nos a explorar tudo para encontrar os vários Shine Sprites.
 
Em contrapartida, há níveis/missões onde colecionar o Shine Sprite é um processo doloroso e frustrante. Estas são, sobretudo, aquelas missões onde o jogo tenta fazer algo de mais distinto. Em cada nível, há pelo menos uma missão onde o Mario Sombrio nos rouba F.L.U.D.D., e teremos de utilizar as nossas capacidades de plataformas mais habituais. É estranho verificar o quão problemáticas algumas destas missões são, sobretudo por algumas armadilhas onde a gravidade está mal implementada e pode funcionar de forma muito contraintuitiva. Fica a impressão de que Super Mario Sunshine não foi desenhado com estes níveis em mente, com o resultado apresentado a ser muito pouco polido que nos transporta para autênticos exercícios de resistência à frustração.
 
Mas nada funciona tão mal como alguns dos níveis secretos que se encontram pela ilha, dos quais se destaca o passado num Pachinko. Para além dos problemas da gravidade mal implementada, senti que Mario estava sempre a ser empurrado em direções diferentes das que eu tentava comandar, ou que pequenos gestos o levavam a movimentos excessivamente bruscos. Também em níveis onde se está num pequeno barco controlável através da direção do nosso jato de água, senti que as curvas da embarcação eram sempre exageradas. Ou seja, fica a sensação de que muitos dos níveis ou missões apresentam bugs no que respeita à implementação das mecânicas físicas, levando a alguns dos piores e mal desenhados níveis de todo o franchise.
 

Se há algo que ajuda a tornar os bons níveis ainda melhores e os maus níveis um pouco mais suportáveis, é a excelente direção artística que confere a Super Mario Sunshine uma identidade muito própria e única neste franchise. Os ambientes são sempre coloridos e utilizam extremamente bem os efeitos luminosos, dando muita vida a ambientes que podem, por vezes, parecer algo semelhantes. O design das criaturas é também bastante vibrante, e uma evolução notável quando comparado com o que se encontra em Super Mario 64. E nesta versão, o trabalho de remasterização ajuda a realçar toda esta vertente gráfica, com melhorias notáveis na resolução da imagem e da clareza da maioria das texturas.
 
No que ao desempenho diz respeito, não há nada a apontar a esta versão de Super Mario Sunshine. O jogo corre consistentemente a 30 fotogramas por segundo, não tendo alguma vez sentido qualquer fraquejo neste aspeto. Também o facto de o rácio de imagem ter passado para os 16:9 dá ao jogo um aspeto mais moderno e permite-nos estar mais cientes das nossas redondezas. Comparando com o jogo anterior, aqui o trabalho de remasterização é mais louvável, sendo apenas de lamentar os já referidos bugs referentes às leis da física que denotam um polimento abaixo das expectativas e que mancham uma boa porção da experiência.
 
Por fim, toda a vertente sonora e musical volta a ser absolutamente brilhante. Quem estiver a revisitar Super Mario Sunshine receberá certamente uma injeção de nostalgia, e aqueles que estejam a experimentar o jogo pela primeira vez ficarão com várias músicas na cabeça. Se a música parece ser uma evolução natural da composição esperada para jogos Super Mario, o mesmo acontece com os efeitos sonoros. A maioria é já icónica e extremamente reconhecível, enquanto todos os novos efeitos implementados devido a F.L.U.D.D. são tão naturais que parecem ter estado nestes jogos desde o início do franchise. De referir que este jogo experimentou um pouco com a ideia de dar vozes e falas a várias personagens. Em retrospetiva, esta apresenta-se como uma decisão bizarra, mas que, de certo modo, dá algum charme a toda a experiência e a ajuda a tornar mais única.
 

Conclusões
Super Mario Sunshine continua a ser das entradas mais únicas deste aclamado franchise. Com um misto de familiaridade e de mecânicas completamente distintas, este continua a ser um jogo divertido e prazeroso. A remasterização gráfica é competente, sendo algo desapontante ver que alguns dos níveis que tentam ser diferentes continuam recheados de problemas. Ainda assim, é uma experiência recomendável e uma adição valiosa a esta coleção e à biblioteca de jogos da Nintendo Switch.
 
O Melhor:
  • Jogabilidade inovadora e criativa, com controlos fáceis de aprender
  • A maioria dos níveis está bem desenhada e é divertida
  • Excelente direção artística, sobretudo com as melhorias gráficas
  • Música e design sonoro voltam a ser memoráveis
O Pior:
  • Mecânicas de física mal implementadas em níveis que se tentam distinguir
  • Alguns dos piores (e mais frustrantes) níveis alguma vez desenhados no franchise
 
Pontuação do GameForces – 8/10
 
Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a Nintendo Switch, através de um código gentilmente cedido pela Nintendo Portugal.
 
Título: Super Mario Sunshine (3D All-Stars)
Desenvolvedora: Nintendo
Publicadora: Nintendo
Ano: 2020
 
Autor da Análise: Filipe Castro Mesquita
[Análise] Super Mario Sunshine (3D All-Stars) [NSW] [Análise] Super Mario Sunshine (3D All-Stars) [NSW] Reviewed by Filipe Castro Mesquita on outubro 09, 2020 Rating: 5

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