[Análise] Secret of Mana [PS4]





Durante a época dourada dos JPRGs de 8 e 16 bits, diversos foram os títulos que surgiram e conseguiram destacar-se pela sua originalidade e capacidade de transportar o jogador para outros mundos. Secret of Mana, originalmente denominado por Seiken Densetsu 2, foi uma das poucas experiencias que conseguiriam ter um moderado sucesso ao ponto de transpor a barreira de fronteiras, linguagem ou mesmo cultura e serem lançados no ocidente. Este é um feito notável, na medida que na altura nem todos os jogos tinham este tratamento, existindo uma fragmentação clara das experiencias de videojogos orientais das ocidentais. 

Algo que o caracteriza e diferencia dos demais títulos do género na altura foi a sua capacidade em combinar elementos de RPG com acção em tempo real, bem diferente do sistema de batalhas por turnos frequentemente considerado nestes lançamentos. Longe de ser o percursor deste género ou sequer um marco na sua implementação, na altura foi com certeza uma brisa de ar fresco a um género que procurava uma nova linha de evolução. Com o lançamento de um remake do título em questão, grandes eram as expectativas, fundamentadas pela solida base do original. 




As aventuras seguem as peripécias de três companheiros, de seu nome Randi, Primm e Popoi, inicialmente na sua demanda por restabelecer o equilíbrio ao mundo e evitar a criação de fortalezas voadoras. Estas monstruosidades voadoras funcionam à base de mana, a magia que liga tudo no mundo que nos rodeia, o que leva ao enfurecer dos deuses e consequentemente soltar bestas mitológicas sobre a humanidade no sentido de abater a sua ousada criação. A caracterização das personagens é relativamente interessante, principalmente entre os três membros da equipa, mas por algum motivo denota-se um elevado descuidado com os restantes NPCs do jogo, onde desconsiderando 2 ou 3 elementos de maior relevo, pouco conseguimos extrair. 

Para além da descuidada dinâmica entre as personagens principais e as demais, também a consideração de uma fraca qualidade de animação não ajuda a interiorizar esta experiencia. Fundamentalmente estamos perante o conceito de uma transição mimica, ou quase virtual, de uma experiencia 2D para uma 3D. Este aspecto não favorece a qualidade transmitida, pois enquanto existe um charme inerente aos títulos RPG a 2D, com belas artes pixelizadas e caricatas animações limitadas pela tecnologia da altura, o mesmo não se pode sentir nesta versão 3D. Desde personagens sem qualquer sincronização de lábios, até às animações observadas dentro do jogo, a sensação base é de que estamos perante um processo automático de transição, sem qualquer esforço extra de adicionar conteúdo diferenciável e mais alinhado com as mecânicas actuais do design de vídeo jogos. 

Este aspecto assume uma preponderância maior quando passa das animações para as próprias mecânicas de jogo. Aspectos simples e expectáveis, como por exemplo a existência de um mapa útil, navegação nos menus intuitiva ou reformulação para um combate mais dinâmico estão completamente ausentes. De facto, ocorre o inverso e frequentemente vemo-nos a batalhar por realizar as mais simples acções. O mais problemático passa definitivamente pela falta de um mapa que funcione, pois embora o jogo nos forneça essa valência, no final não tem utilidade alguma devido a ser demasiado genérico e sem referências. Aspecto agravado pela quantidade de viagens que temos de realizar devido à falta de um processo de fast travel que somente bastante tardiamente surge no jogo. 




Ainda assim, esse título consegue por vezes surpreender e apresentar situações ou grafismo interessante que nos captura e nos ajuda a interiorizar esta experiencia. Nomeadamente no que diz respeito ao grafismo do mundo que nos rodeia e dos monstros, existe um cuidadoso trabalho em seguir o original, mas no fundo sem arriscar em desenvolver mais sobre a obra base. A banda sonora está bastante competente, ajudando a manter o ritmo da aventura ainda que definitivamente não memorável. Contudo, mais uma vez, falha ao apresentar um voice acting insipido e completamente desfasado das personagens associadas. 

Fundamentalmente estamos perante um remake que peca por não arriscar mais em sair fora do âmbito do material original e da sua zona de conforto. Não sendo propriamente um problema, passa a sensação de que poderia ser muito mais e, convenhamos, uma experiencia definitivamente melhor. O título apresenta algumas premissas interessantes, englobando o grupo mais restrito dos poucos RPGs que podemos jogar em modo cooperativo local (o que é um dos melhores aspectos do jogo), mas no final simplesmente transmite a ideia de ser uma oportunidade desperdiçada. 




Conclusão 

Secret of Mana apresenta óptimos ambientes com uma história tradicional no que toca a JRPGs. Contudo passa a sensação de ser uma oportunidade perdida para apresentar uma experiencia diferenciada, devido à falta de novos elementos e apoiar-se demasiado no material original. Para os fãs da saga, será sempre uma aquisição a considerar, contudo existem melhores opções do mercado para quem simplesmente quer passar umas horas a jogar um JRPG de acção. Fundamentalmente trata-se de um título que considera uma transposição directa das dinâmicas e soluções dos RPGs da década de 80 e 90, para um grafismo mais actual. 



O melhor: 
  • Novo grafismo e qualidade dos cenários e personagens. 
  • Modo cooperativo local. 


O Pior: 
  • Mecânicas de jogo desactualizadas com as dinâmicas actuais dos vídeo jogos; 
  • Animações de fraca qualidade perante os standards actuais; 
  • Voice acting insipido; 
  • Falta de novos elementos diferenciadores da experiencia original. 


Pontuação do GameForces – 5.0/10 



Título: Secret of Mana 
Desenvolvedora: Square Enix 
Publicadora: Square Enix 
Ano: 2018 



Autor da Análise: Carlos Silva


[Análise] Secret of Mana [PS4] [Análise] Secret of Mana [PS4] Reviewed by Carlos Silva on setembro 10, 2020 Rating: 5

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