O mercado de RPGs baseados na captura e combate de monstros tem sido absolutamente dominado pela série Pokémon. Tratando-se aquele de um dos maiores franchises de sempre, talvez haja bastante relutância em
oferecer alternativas tanto por parte dos grandes estúdios como por parte dos
independentes. Mas eis que surge Nexomon: Extinction, o primeiro jogo da
série a chegar às grandes plataformas depois de atingir o sucesso no mercado
mobile. Este jogo propõe-se a dar aos jogadores da PlayStation uma experiência
capaz de rivalizar com as da série exclusiva da Nintendo. Mas conseguirá
capturar a nossa atenção, ou estará condenado à extinção?
Em Nexomon: Extinction encontramos um mundo partilhado por humanos e por várias criaturas apelidadas de Nexomon. Mas a convivência entre ambas as espécies está longe de ser pacífica ou amistosa. Várias gerações depois da humanidade derrotar o temível rei dos monstros, estas criaturas encontram-se em guerra pelo trono. Este conflito colocou a humanidade à beira da extinção, com a guilda dos domadores a ser a grande linha de defesa contra os poderosos Nexomon tiranos. E é aqui que entramos: chegados a uma idade adequada, escolhemos um Nexomon para ser nosso parceiro (de entre 9 possíveis) e partimos numa aventura que nos levará a juntar à guilda, e a domar estas criaturas de modo a conseguir combater os tiranos e defender o que resta da civilização humana.
Os fãs da série Pokémon olharão para esta premissa e ficarão com a sensação de que se trata de uma narrativa um pouco mais séria do que o habitual para este género. E essa impressão é acertada - desde os primeiros minutos que percebemos que estamos perante um mundo hostil e uma história com um tom mais sombrio. Felizmente, estamos também perante um argumento impecavelmente construído, capaz de nos surpreender com algumas reviravoltas interessantes, de nos deixar tensos com situações aparentemente desesperantes, e até de nos fazer rir com um sentido de humor inteligente, sarcástico ou apenas parvo. Tudo isto faz com que este seja o maior ponto positivo a destacar, uma vez que o argumento nos fornece uma narrativa genuinamente cativante e nos apresenta um mundo onde queremos conhecer cada recanto.
Agora, vamos diretos ao assunto: Nexomon: Extinction é um clone Pokémon, e assume-o sem qualquer vergonha. Ao longo da aventura vamos navegando na vertical e na horizontal para explorar o mundo e capturando, treinando e combatendo diversas criaturas, cada qual com um de 9 elementos. Cada monstro tem um elemento atribuído, com cada elemento a ser forte contra uns e fraco contra outros. Apenas podemos trazer connosco seis monstros de cada vez, e cada monstro apenas pode ter um máximo de quatro habilidades ou ataques. Pelo mundo, vamos encontrando monstros por domar na relva ou dentro de grutas, e vamos também encontrando alguns domadores que podemos desafiar para combater. Estes combates darão a cada Nexomon utilizado um determinado valor de experiência, que levarão a subidas de nível, à aprendizagem de novos ataques e, eventualmente, à evolução. São mecânicas de jogo sólidas e testadas pelo tempo, mas não consigo deixar de olhar para a sua implementação como demasiado próxima da série que inspira este jogo, apesar de haver diferenças que notaremos de seguida.
A primeira grande diferença encontra-se em momentos de batalha, e trata-se da presença de um sistema de stamina, que vem substituir os valores de PP de cada ataque. Ou seja, cada Nexomon tem uma barra de stamina que vai sendo consumida com cada ataque utilizado, sendo mais uma variável a ter em conta enquanto se enfrenta outros monstros. É uma ideia de design interessante, e ao não limitar diretamente quantas vezes podemos usar o mesmo ataque dá uma componente estratégica algo distinta. No entanto, esta implementação está longe de ser perfeita, uma vez que a stamina é sempre bastante limitada e se esgota rapidamente. Isto implica que estejamos sempre a sentir a necessidade de voltar a trás no progresso para curar os nossos monstros ou a ter de carregar connosco sempre uma grande quantidade de itens de recuperação.
A meio da minha experiência com Nexomon: Extinction, o jogo recebeu uma atualização que acrescenta ao mundo rochas especiais que curam totalmente a nossa equipa quando quebradas. Esta implementação foi bem-vinda e acaba por aliviar um pouco este problema, sobretudo durante as primeiras horas de jogo, mas teria sido bem pensado ter os Nexomon a recuperar stamina automaticamente. Tal poderia ocorrer entre combates ou após realizar um combate sem utilizar um monstro mais “cansado”, por exemplo. Para além de incentivar a rotatividade da equipa, evitaria recuos aborrecidos que continuam a ser inevitáveis e bastante numerosos.
A segunda grande diferença prende-se com o treino das nossas criaturas, onde Nexomon: Extinction apresenta uma opção de design peculiar. Neste jogo, cada inimigo derrotado não dá uma quantidade fixa de experiência, sendo o valor variável consoante a diferença entre o nível do nosso monstro e o do adversário. Ou seja, se o nosso Nexomon se encontrar vários níveis abaixo do seu adversário, uma vitória vai gerar um ganho de experiência notavelmente superior do que quando combatemos criaturas a um nível igual ou inferior ao nosso. Visto que a dificuldade dos encontros selvagens e dos embates com outros domadores vai aumentando com cada grande missão de história cumprida, este design permite-nos rapidamente voltar a colocar-nos a um nível adequado para ir progredindo a um ritmo agradável. Por outro lado, se estivermos interessados em nivelar rapidamente uma criatura para a fazer evoluir (e um par delas apenas evoluem em níveis bastante elevados), esta decisão torna todo o processo um pouco mais doloroso. No geral, é uma implementação que acaba por garantir que o jogo recai num nível ótimo de dificuldade, nunca se tornando demasiado fácil nem demasiado difícil, e que o progresso é muito mais gratificante do que frustrante.
Quanto a diferenças na jogabilidade ativa, há que olhar ainda para as mecânicas de captura. Como esperado, os Nexomon são domados quando capturados por armadilhas, sendo a captura mais provável quando enfraquecemos ou causamos algo efeito (paralisação, sono, por aí fora). O primeiro aspeto interessante é que em Nexomon: Extinction temos outras maneiras de aumentar a probabilidade de sucesso. Podemos atirar itens de comida às criaturas selvagens para as deixar mais dóceis, com cada uma a apresentar preferências por itens específicos, ou ainda adquirir armadilhas especializadas que facilitem capturar Nexomon de elementos específicos. Existem ainda uma série de itens de efeito passivo que, quando presentes no nosso inventário, facilitam a captura de criaturas de elementos ou espécies distintas. Ao atirar uma armadilha somos confrontados com um minijogo que assenta em carregar numa série de botões rapidamente, com o sucesso a significar também um ligeiro aumento da probabilidade de sucesso. Por fim, e talvez o pormenor mais interessante, antes de atirarmos uma armadilha o jogo indica-nos explicitamente a probabilidade de sucesso, permitindo-nos uma gestão mais controlada e estratégica das nossas ações.
Para além dos já indicados itens que afetam a captura, há uma grande variedade de outros itens passivos que vamos podendo
adquirir ao longo do jogo. Estes geram efeitos que variam, por exemplo, entre
ganhar mais dinheiro por batalha, descontos nas lojas, o aparecimento de monstros
novos e mais raros, ou melhorias aplicáveis aos nossos Nexomon. Estes itens são
encontrados ao explorar o mundo de Nexomon: Extinction ou ao cumprir
vários pedidos e pequenas missões secundárias dadas por NPCs, como a troca de
itens, de criaturas capturadas ou a conclusão de objetivos que nos desviam
ligeiramente da narrativa. De referir ainda que estes objetivos secundários por
vezes também nos dão núcleos, itens que podemos equipar nas nossas criaturas.
Estes itens fornecem melhorias às estatísticas dos nossos parceiros ou até
bónus de experiência ou de dinheiro no final de cada batalha. Nada nestes
sistemas é propriamente revolucionário, mas os efeitos destes itens são sempre
sentidos, incentivando-nos (ainda mais) a querer explorar cada centímetro que
este mundo tem para oferecer.
Como se pode depreender pelo facto de termos um mundo extenso e repleto de missões secundárias (e pelo facto de estarmos perante um RPG, claro), Nexomon: Extinction é um jogo cheio de conteúdo. No total, temos 381 criaturas que podemos encontrar, combater e capturar o que ajuda a manter a experiência interessante e refrescante ao longo das cerca de 30 horas que a narrativa dura. Os que ambicionam completar totalmente o jogo e conquistar o sempre ilustre troféu de platina, podem esperar acrescentar outras 30 horas, dependendo um pouco da sorte. Mas isto não significa que o pós-jogo seja particularmente complexo ou inovador. De facto, as únicas missões novas que recebemos quando terminamos a narrativa prendem-se com a captura dos Nexomon lendários, dos dragões e dos tiranos. Não sendo excessivamente complicado, isto consumirá certamente bastante tempo devido à raridade do encontro com estas criaturas.
Outro aspeto que não pode deixar de ser mencionado prende-se com a ausência de qualquer modo multijogador. Ao contrário do que vemos mesmo nos primórdios da série Pokémon, não é para já possível desafiar amigos ou estranhos para confrontos entre equipas de Nexomon, tal como não é possível realizar trocas que diminuam o investimento de tempo necessário para completar no nosso catálogo das criaturas. A falta destes modos limita bastante a longevidade geral de um jogo como este, não havendo qualquer incentivo em treinar várias equipas de Nexomon até ao nível máximo ou em formular estratégias mais complexas como as que naturalmente surgem em ambientes mais competitivos.
Toda a experiência de Nexomon: Extinction é-nos apresentada de uma forma visualmente competente. À primeira vista, a direção artística aparenta ser algo genérica, mas à medida que avançamos na história vamos conhecendo novos locais com elementos distintivos. Por exemplo, os locais devastados pela guerra entre a humanidade e os tiranos apresentam-se meticulosamente montados, conseguindo transmitir uma sensação de fadiga e desespero. Também as criaturas apresentam, na generalidade dos casos, designs extremamente interessantes. Embora uma ou outra criatura nos faça rapidamente lembrar alguns Pokémon, o estilo visual do design destes monstros é distinta o suficiente para conseguir dar uma identidade muito própria a este mundo.
Quanto ao design sonoro, podemos considerar que este jogo apresenta um trabalho adequado. As diferentes músicas associadas a cada área contribuem para a distinção mencionada anteriormente, e a música de batalha mais comum apresenta variações suficientes, conseguindo cair mais para o agradável do que para o irritante. O mesmo não pode ser dito pelos efeitos sonoros, que se apresentam demasiado genéricos. Também de notar a ausência de um efeito sonoro explícito para quando se captura um Nexomon com sucesso, que acaba por prejudicar um pouco o prazer desses momentos.
Por fim, olhemos para como Nexomon:
Extinction se comporta no que ao desempenho diz respeito. Regra geral, o
jogo corre de forma extremamente estável, tanto quando estamos a correr pelo
mundo como quando estamos em batalha a escolher o nosso próximo ataque. Os
problemas começam quando abrimos qualquer menu do jogo, o que acontece com
alguma frequência. Quando estamos a reorganizar a nossa equipa ou a equipar
núcleos nos nossos monstros, o jogo torna-se inexplicavelmente muito pouco responsivo,
demorando vários segundos a registar e agir sobre um comando, por vezes nem o
registando de todo. O mesmo acontece nas batalhas: quando abrimos o menu dos
itens a resposta a cada comando é muito mais lenta e pode ver-se as animações
das criaturas em pano de fundo a ocorrerem numa frame rate lentíssima.
Estes problemas técnicos são a maior mancha na experiência toda, especialmente
por ocorrerem num jogo que nos obriga tantas vezes a abrir menus para curar as
nossas criaturas ou para ajustar estratégias.
Conclusões
Nexomon: Extinction assume-se como um clone de Pokémon sem qualquer pudor. Embora não se desvie o suficiente da fórmula estabelecida pela Game Freak, este título acaba por apresentar algumas ideias próprias que o tornam memorável. A história é mais madura e com um sentido de humor delicioso, e a variedade de criaturas bem desenhadas dá ao jogo um elemento de surpresa até ao fim. Alguns problemas técnicos e arestas por limar limitam um pouco o prazer da experiência, mas estamos perante uma excelente base para se construir algo de especial dentro deste género.
Conclusões
Nexomon: Extinction assume-se como um clone de Pokémon sem qualquer pudor. Embora não se desvie o suficiente da fórmula estabelecida pela Game Freak, este título acaba por apresentar algumas ideias próprias que o tornam memorável. A história é mais madura e com um sentido de humor delicioso, e a variedade de criaturas bem desenhadas dá ao jogo um elemento de surpresa até ao fim. Alguns problemas técnicos e arestas por limar limitam um pouco o prazer da experiência, mas estamos perante uma excelente base para se construir algo de especial dentro deste género.
O Melhor:
O Pior:
Título: Nexomon: Extinction
Desenvolvedora: VEWO Interactive
Publicadora: PQube
Ano: 2020
- Boa variedade de criaturas interessantes e bem desenhadas
- Mundo genuinamente interessante cuja exploração é um prazer
- História interessante com um argumento cativante e bem-humorado
- Sistema de itens passivos motiva ainda mais a exploração de cada recanto do mundo
O Pior:
- Mecanicamente demasiado semelhante aos jogos Pokémon
- Lentidão dos menus torna as várias interações com os mesmos algo frustrante
- Sistema de stamina vai travando demasiado o progresso
- Sente-se a falta de uma componente multijogador competitiva
Pontuação do GameForces – 7/10
Desenvolvedora: VEWO Interactive
Publicadora: PQube
Ano: 2020
Nota: Esta análise foi
realizada com base na versão digital do jogo para a Playstation 4, através de
um código gentilmente cedido pela PQube.
Autor da Análise: Filipe Castro Mesquita
[Análise] Nexomon: Extinction [PS4]
Reviewed by Filipe Castro Mesquita
on
setembro 26, 2020
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Sem comentários: