Hoje chegamos ao final da nossa semana
dedicada a Paper Mario, e se começamos esta semana temática falando um pouco
sobre o primeiro jogo da franquia, nada faria mais sentido do que terminá-la olhando para a sua mais recente iteração – Paper Mario: The Origami King.
Dando uma olhada aos vários trailers do jogo, este novo
título aparenta estar mais próximo dos seus predecessores imediatos do que dos
clássicos RPG. No entanto, não seria justo meter Origami King no mesmo saco de Sticker Star e Color Splash, visto que são várias as alterações à fórmula que Origami King
traz para se distanciar destes títulos.
Esta demarcação é imediatamente visível
na história. Em vez das típicas maquinações de Bowser, a nossa missão é impedir
os planos malévolos de um vilão inédito, o Rei Olly. Este monarca planeia transformar
todo o Mushroom Kingdom em origami, tendo já provocado esta transformação na
Princess Peach e em muitos dos servos do Bowser. Antes de Mario o conseguir
deter, o Rei Olly envolve o Castelo da Peach em serpentinas mágicas e move-o para
o topo de um vulcão. Como tal, o protagonista tem de atravessar o reino para
destruir estas fitas de papel, com a ajuda de Olivia, a irmã de Olly.
Este mundo recaptura o estilo visual
esplêndido de Color Splash, mas com melhor iluminação e ostentando áreas bastante
mais vastas. Para além disso, estas regiões não apenas são acompanhadas de apelativas
faixas musicais, mas também de um excelente uso do HD Rumble, especialmente
sentido quando usamos a mecânica 1,000-Fold Arms. Em vez de estar recortada em
níveis, esta versão do Mushroom Kingdom é coesa e é como tal mais orgânica, mas
esta mudança significa também que há mais tempo morto no nosso progresso, em que
simplesmente caminhamos de um lado para o outro, enquanto que em Color Splash éramos
constantemente movidos de um local único para outro.
Felizmente, para os mais intrépidos, Origami King está recheado de colectáveis
que enriquecem a travessia do mapa. Estão escondidos por todo o lado Toads que
foram dobrados noutras formas pelo rei Olly, e existem inúmeros buracos que
temos de preencher com confetti. Também em locais mais recônditos do mapa
encontramos Collectible Treasures, pequenos troféus com descrições à la
Smash Bros.. Nenhum dos colectáveis nos dá prémios significativos, mas esta é
uma empreitada que é recompensadora em si mesma (para não falar da satisfação
visceral que sentimos com a notificação de que uma área foi 100% explorada!).
De facto, a recompensa que tipicamente
recebemos ao encher os buracos do mapa é um punhado de moedas. Tal como os dois
jogos anteriores, Origami King não tem pudor em atirar-nos moedas por tudo o
que fazemos, mas pelo menos desta vez dá valor a elas. Para além de itens de
combate, nós podemos comprar vários acessórios para nos auxiliar nos combates
ou exploração, bem como algumas caríssimas Collectible Treasures e passes
necessários para avançar a história. Vejo aqui um salto enorme em relação a
Sticker Star e Color Splash: mesmo nunca tendo sido necessário parar a minha
jornada para obter mais moedas, houve vários momentos em que a minha contagem
de moedas caiu para valores perigosamente baixos.
E quem diria, moedas e confetti são
precisamente as únicas recompensas que obtemos por combates. Era frequente eu
abordar um inimigo simplesmente para obter mais confetti, dando assim mais propósito
aos combates. É possível recolher confetti martelando os objetos do mundo, mas
derrotar os inimigos ollygami é uma forma mais divertida de o conseguir, para além de nos
dar também moedas. No entanto, para quem apenas quiser terminar a história sem
reparar todos os buracos, continuará a ser mais vantajoso simplesmente ignorar os
confrontos e participar apenas nos combates mandatórios.
Honestamente, quem ignorar as
batalhas não perde muito. O combate em Origami King divide-se em duas fases: a manipulação
da arena redonda e as ações do Mario. A primeira componente é interessante,
funcionando como um quebra-cabeças em que tentamos, com tempo limitado, agrupar
os nossos adversários em formações 2 por 2 ou 4 por 1. Mas infelizmente, ao
longo de toda a experiência, esta mantém-se estagnada, sem quaisquer novas
mecânicas para a revigorar, e apenas dois tipos de inimigos apresentam twists
que condicionam a nossa resposta aos puzzles.
As nossas ações, por seu lado,
representam uma dimensão praticamente inútil do sistema. Só há um curso de ação
lógico: usar o salto nos inimigos dispostos em 4 por 1 e o martelo nos 2 por 2.
Mesmo os itens de batalha que podemos comprar são essencialmente melhorias dos
nossos ataques básicos ou variações ligeiras destes. Não há qualquer semblante
de estratégia ou liberdade de escolha, e como o sistema de batalha nos dá os
turnos necessários para derrotarmos todos os inimigos antes sequer de eles terem
hipótese de retaliar, só sofremos dano se falharmos no puzzle
inicial.
Os bosses são outra história. Em
vez de organizarmos os inimigos à nossa volta, nós somos colocados na periferia
da arena e temos de construir um caminho para alcançar os capangas de Olly. Não
só estes bosses têm diferentes características que exigem que optemos por
ataques específicos, mas também são capazes de interferir com a arena
obrigando-nos a repensar a nossa abordagem. São especialmente merecedores de
louvor os guardiões finais de cada fita de papel: estes consistem em várias ferramentas
usadas para construir origami, e é genial o modo como as suas propriedades da
vida real são traduzidas nas suas vulnerabilidades e no modo como atacam e interferem
com o ringue.
O jogo apresenta também uma
inovação própria: combate em tempo real, totalmente integrado na exploração do
mapa. Em locais específicos, é possível encontrar versões gigantes de inimigos comuns,
denominadas Paper Macho. Para os derrotar, temos de nos desviar dos seus
ataques e, quando houver uma abertura, acertar-lhes com o martelo. Esta é uma adição
muito bem-vinda que encaixa como uma luva no estilo de jogo, e que eu diria
até que faz mais sentido em Origami King do que o combate por turnos sem
estratégia.
É raro sentir-me desafiado por
qualquer um destes tipos de combate, mas o que Origami King não tem em
dificuldade é compensado em variedade. Não só os cenários que visitamos são originais,
diversos e intrigantes, mas também apresentam uma miríade de quebra-cabeças
imaginativos, especialmente nos intrincados templos. Para além disso, em vários
momentos são introduzidos novos e variados estilos de jogo divertidos. E claro,
como não podia deixar de ser, o brilhante humor que caracterizou o seu
predecessor regressa, estando presente na maioria dos diálogos (embora eu ache
que o jogo da Wii U tenha piadas mais originais e diversas). Tal como em Color
Splash, eu sentia ânimo em avançar na história só para descobrir as peripécias
que me aguardavam.
Para além das batalhas, há um pormenor
que me desgastou particularmente à medida que progredia: o handholding. A
todo o momento, a nossa parceira Olivia tece comentários excruciantes, nomeadamente
explicando acontecimentos que acabamos de assistir ou a orientar-nos para
locais que nós já teríamos tendência natural para visitar. É natural que se
procure manter o jogo acessível para os mais novos, mas muitos destes
comentários da Olivia poderiam estar relegados às ajudas que ela dá quando premimos
X.
Agora, a questão que se impõe:
estamos perante um jogo para os fãs dos clássicos? Acredito que Origami King dá
alguns passos na direção certa, mas não foi suficientemente longe. O
jogo apresenta uma história simples mas eficaz, com um vilão com presença na
nossa aventura e impacto nas regiões que atravessamos, e mesmo com alguns
momentos surpreendentes e tocantes. Embora as personagens continuem a ser
genéricas, a adição de parceiros e a inclusão do exército do Bowser como aliado
injetam personalidade no elenco desta aventura.
Os parceiros em particular eram
uma adição há muito solicitada pela comunidade, mas em Origami King eles não assumem os contornos desejados pelos fãs. Se nos jogos clássicos eles valiam pelas suas
habilidades em combate, neste título ocorre exatamente o contrário. Nas
batalhas, não os podemos controlar e muitas vezes falham os seus ataques, pelo
que não podemos contar com eles no planeamento das nossas ações. Por outro
lado, eles acompanham-nos na história e não só participam diretamente na
história como influenciam o seu rumo. E claro está, o sistema de combate é uma
desilusão, especialmente quando comparado com os refinados sistemas de Paper Mario 64 e The Thousand-Year Door. Como tal, esta é uma experiência ótima, mas para quem estiver aberto
a novas experiências e não estiver exclusivamente à procura de um novo The
Thousand-Year Door.
Conclusão:
Paper Mario: The Origami King é
uma divertida e rica aventura com imensa variedade, um acutilante sentido de
humor e uma história que é descomplicada mas claramente recebeu a atenção
cuja falta foi severamente sentida nos jogos anteriores.
Contudo, esta experiência é
manchada pelo básico e supérfluo sistema de combate, que sai completamente ao
lado. Mesmo assim, este não deve servir de desculpa para quem quiser vivenciar
aquele que é de resto um ótimo título.
O melhor:
- Exploração melhor do que nunca;
- História e humor estimulantes;
- Bosses imaginativos;
- Visuais de encher os olhos;
- Uso excelente do HD Rumble.
O pior:
- Combates continuam a ter pouco valor
prático;
- Sistema de batalha decepcionante;
- Dose excessiva de hand-holding.
Nota do GameForces: 8.0
Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a Nintendo Switch, através de um código gentilmente cedido pela Nintendo Portugal
Título: Paper Mario: The Origami King
Desenvolvedora: Intelligent Systems
Publicadora: Nintendo
Ano: 2020
Autor da Análise: Tiago Sá
Título: Paper Mario: The Origami King
Desenvolvedora: Intelligent Systems
Publicadora: Nintendo
Ano: 2020
Autor da Análise: Tiago Sá
[Análise] Paper Mario: The Origami King [NSW]
Reviewed by Tiago Sá
on
julho 27, 2020
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