[Análise] Brothers: A Tale of Two Sons [PS4]




Ainda que os videojogos não sejam considerados uma das sete artes tradicionais, muitos são os que suportam que conseguem transmitir tanta ou mais emoção e crescimento pessoal como qualquer espectáculo de música, dança, teatro ou cinema. O impacto que os videojogos causaram na comunidade internacional levaram a que a lista original tenha sido expandida para compreender as obras criadas nesta industria como a 10ª Arte.

Efectivamente existem títulos onde é notória a dedicação e inspiração de quem neles trabalhou, a importância da mensagem transmitida ou mesmo a subjectividade da experiência. Brothers: A Tale of Two Sons, é um título que procura transmitir uma simples mensagem da forma mais pura desta arte: “Dar a importância à viagem que é a nossa vida, com quem nos cruzamos e as dificuldades que ultrapassamos. Pois no final o destino é igual a todos e por muito que lutemos não o podemos mudar.”

Quando falamos que Brothers apresenta uma forma “pura”, no panorama dos videojogos, é porque cumpre escrupulosamente aquilo a que se propõem: apresentar uma mensagem, recorrendo a um conto interactivo, suportado por alguns elementos característicos associados aos videojogos num ecrã completamente limpo e sem assistências sobre o destino, mapas, menus, etc. Fundamentalmente somos remetidos a uma experiência tripartida entre um ecrã, um jogador e um controlo, nada mais.
Naturalmente que estes elementos, expostos assim tão “cruamente” poderão passar por insuficientes para muitos jogadores, que poderão depreender (incorrectamente) alguma preguiça por parte dos produtores. Desenganem-se. Brother apresenta a longevidade, jogabilidade e interactividade ideal e equilibrada para aquilo que procura fornecer.



A história acompanha as aventuras de dois irmãos que procuram por um medicamento para o seu pai acamado. Desde o primeiro instante nota-se que a vida das jovens deveria ser maioritariamente pacata até recentemente. Contudo um conjunto de eventos, desde o falecimento da mãe afogada, ao acamamento do pai, despoleta um conjunto de alterações psico-comportamentais por parte dos protagonistas. No decorrer da aventura nota-se um amadurecimento por parte dos irmãos, principalmente do mais novo, até ao derradeiro final onde nos apercebemos que aquela pessoa que ali se encontra já abandonou todos os quesitos de criança e é agora um jovem adulto. Efectivamente, acima de uma simples aventura estamos perante um conto de crescimento e amadurecimento.

A jogabilidade procura implementar um esquema de controlos algo variado dos demais títulos do género. Em Brothers, o analógico esquerdo e botão L2 servem para controlar o movimento e acções do irmão mais velho, enquanto o analógico direito e R2 tem as mesmas funções para o mais novo. Isso implica que temos de controlar simultaneamente duas personagens, um desafio interessante e uma reviravolta refrescante no que toca a esquemas de controlo. Por outro lado, este aspecto também se reflecte em que as personagens não conseguem ter acções muito complexas e algumas actividades (como por exemplo a simples actividade de saltar) são realizadas automaticamente.



O género de jogo mistura um pouco o estilo de aventura narrativa com jogo de puzzles, onde temos de usar ambos os irmãos para irmos passando os vários obstáculos e derrotar os vários inimigos. Basicamente o irmão mais velho é mais alto e forte, enquanto o mais novo, mais pequeno e ágil. Isto indica que por vezes temos de os separar para conseguir aceder novas áreas. Exemplificando, o mais novo consegue esgueirar-se por entre barras de um portão, para poder abrir do outro lado para o mais velho passar.  De igual modo, o mais velho tem mais força para certas alavancas ou carregar certos objectos.

O facto de não ter nenhum menu, nenhum elemento no HUD ou sequer mapa torna-se um desafio para o jogador onde temos de depreender a partir da interacção dos irmãos com os cenários e NPCs o que fazer e para onde seguir. Felizmente os produtores fizeram um trabalho exímio em dar a entender o que devemos fazer por todo o jogo. De facto somente numa das cenas ficamos parados algum tempo a tentar perceber o puzzle, mas que agora olhando bem, as pistas estavam todas lá.

Este conceito de jogabilidade levantou alguns problemas de controlo de camara. O Jogo tenta recorrentemente girar a camara de modo a que o irmão mais velho fique do lado esquerdo e o mais novo do lado direito do ecrã, de modo a que mais facilmente associem ao analógico esquerdo e direito respectivamente. Parece uma boa ideia e faz sentido naturalmente. Contudo, isso leva a que por vezes a camara não tenha o angulo melhor para visualizar a área envolvente. É possível controlar a camara com os botões L1/R1 mas esta constante necessidade torna-se aborrecida em alguns níveis.



O título em si está dividido por capítulos sequenciais, onde o decorrer da história e mudança de ambientes entre eles ocorre de uma forma natural. Graficamente o jogo apresenta uma arte conceptual bastante interessante e cativante. Os cenários e criaturas são simplesmente místicos (à falta de melhor palavra). O ambiente procura inspirações na cultura nórdica, muito provavelmente no folclore Norueguês ou Islandês, sendo notória no traço do artista a sua implementação.

Uma das opções dos produtores que levanta um desafio adicional (mais um) passa pela utilização de uma língua inventada para esse jogo, mas baseada no Turco (pais de origem do director do jogo), pelo que algumas palavras são bastante iguais a essa língua. Para a vasta maioria dos jogadores, e nós Portugueses em particular, podemos caracterizar que estamos perante um título onde a linguagem corporal das personagens e repetividade de alguns sons leva-nos a começar a compreender cada vez mais facilmente a frases trocadas, ao ponto de que no final conseguirmos compreender perfeitamente o final.



Por fim, a banda sonora está magistral e profundamente bem implementada no jogo. Claramente denota-se uma cuidadosa composição para cada ambiente e situação que decorre no jogo. São músicas memoráveis que facilmente complementam o já por si excelente trabalho de interiorização da experiência.

Torna-se claro que os produtores eram uma equipa inexperiente com alguns problemas de jogabilidade e controlo de personagens e camara. Os puzzles tendem também a ser na sua vasta maioria simples e sem grande desafio… assim como os “bosses” que surgem. Nesta vertente o jogo poderia ser um pouco mais desafiante. Contudo, pelas palavras do próprio director do projecto, o objectivo do jogo não era ser um jogo de puzzles, mas sim algo narrativo e inspirador.



Conclusão 
Se pretendêssemos caracterizar “Brothers: A Tale of Two Sons” numa única frase, diríamos que “Estamos perante uma fugaz e intensa experiência, que consegue criar um impacto duradouro no jogador.” Efectivamente a campanha não é extensa e a repetibilidade algo reduzida, mas o objectivo deste jogo não é esse. Aliás, talvez “jogo” não seja a palavra mais indicada para caracterizar esta aventura. Chamemos-lhe uma aventura ou talvez uma pequena lição de vida.




O melhor 
  • Experiência e mensagem transmitida;
  • Grafismo e arte verdadeiramente belos;
  • Ambientação e Banda Sonora memorável.


O pior 
  • Os poucos puzzles surgem são demasiado simplicistas;
  • Problemas de controlo simultâneo de ambas as personagens, incluindo o controlo da camara.



Nota do GameForces: 8.0/10



Título: Brothers: A Tale of Two Sons
Desenvolvedora: Starbreeze Studios
Publicadora: 505 Games
Ano: 2013




Autor da Análise: Carlos Silva

[Análise] Brothers: A Tale of Two Sons [PS4] [Análise] Brothers: A Tale of Two Sons [PS4] Reviewed by Carlos Silva on maio 14, 2020 Rating: 5

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