Existe jogos que marcam um ano,
outros conseguem marcar mesmo uma geração, mas existe ainda um grupo mais
restrito de verdadeiros marcos na vida dos jogadores e na cultura generalizada dos
videojogos. Todos conseguimos identificar a sua qualidade, tendo ou não
afinidade com o título ou género em questão, reconhecendo a sua importância no
espaço e tempo em que foram lançados.
Naturalmente que o factor tempo é
essencial para discernir o impacto na industria e como se encaixa no panorama
global da industria. Neste sentido, Final Fantasy VII, inicialmente lançado
para a Playstation original, ganhou um lugar de dominância ao introduzir novos
e diferenciadores elementos a grande escala nos videojogos. Desde todo um
elenco profundamente caracterizado, passando pelos “Full Motion Videos” de
grande qualidade para a época e o indiscutível cativante sistema de jogabilidade, foram alguns dos elementos que o elevaram ao
estatuto de marco na história dos videojogos.
O mundo de Final Fantasy VII tem vindo
a ser expandido ao longo dos anos, com novos jogos (por exemplo Crisis Core ou
Dirge of Cerebus) ou mesmo filmes (Advent Children), mas o desejo disseminado
pela comunidade gamer de ver um remake do original parecia que nunca seria possível
no panorama actual dos videojogos. Existia essencialmente muito elementos no
título original que simplesmente não funcionariam nas mecânicas actuais e com
os quais os fãs de longa data teriam grandes dificuldades em aceitar a sua reformulação.
O processo de apresentação do
remake deste acarinhado título foi concretizado com pompa e circunstância
durante a E3 de 2015 na conferência da Sony. Desde cedo se apercebeu que seria
um título que objectivava a grandiosidade do original. Facto que ficou mais
claro com as apresentações posteriores e a controversa decisão por parte da
Square em dividir o jogo em vários lançamentos, num formato episódico.
Efectivamente, agora que finalmente tivemos a oportunidade de experimentar em
primeira mão este lançamento do Remake de Final Fantasy VII, não podemos deixar
de concordar com esta decisão (por muito que nos entristeça ter de aguardar
mais alguns anos para os próximos capítulos).
A história, já bastante conhecida
pela comunidade, é agora estendida e aprimorada. A narrativa decorre na
totalidade na cidade de Midgar, seguindo muito aproximadamente os passos do
original no qual esta secção durava entre 8 a 9 horas. Contudo a quantidade de conteúdo
incluída no remake apresenta cerca de 45 a 50 horas de jogo, que são fundamentalmente
resultantes de um maior cuidado com a exposição do enredo, melhor caracterização
das personagens primárias e secundárias (Jessie, Biggs, Wedge, etc.) e um
conjunto de side quests mais profundas. Também existem diversos minijogos,
remetendo à dinâmica do original, onde podemos relaxar das mecânicas constantes
das batalhas e evolução do enredo da história principal. Não querendo expandir
muito esta análise sobre as diferenças narrativas notadas entre original e
remake, denotamos que no global o conteúdo incluído é bastante cativante, ainda
que minado com ocasionais sidequests tediosas que poderiam ter sido melhor trabalhadas.
Outro elemento caracterizador do original
passava pelo sistema de combate por turnos combinado com uma mecânica de
evolução de magias, denominadas de “materia”. No caso do remake o combate assume
molde de “action RPG”, mantendo a dinâmica de evolução de “Materia” e também de
upgrade das armas existentes. Ainda que o sistema não tenha a mesma profundidade de outros RPGs actuais é uma boa homenagem ao original e que no fundo se enquadra bem no global da experiência, onde efectivamente é objectivada a facilidade de acesso às mecânicas do jogo a um público mais vasto.
Indo por partes, o sistema de
combate está bastante bem implementado onde existe uma clara evolução sobre o
observado em Final Fantasy XV, ainda que mais pausado na sua dinâmica. Inicialmente
torna-se frequente passar as lutas por simplesmente carregar no botão de ataque
simples consecutivamente, contudo como o decorrer da história os adversários tornam-se
cada vez mais específicos e rapidamente interiorizamos a necessidade de fazer
scan aos inimigos e utilizar as suas fraquezas para conseguir ultrapassar as
lutas standard o mais facilmente possível e minimizando o impacto em termos de
custo de vida (HP) e magia (MP) durante as missões mais longas. Também torna-se
importante o combinar das habilidades das várias personagens com o decorrer da
batalha e o estado dos inimigos. Somente através de um ponderado sistema de
combinação das habilidades das várias personagens será possível ultrapassar os
adversários mais difíceis. Efectivamente as lutas com os vulgos “Bosses” são possivelmente
a componente mais cativante de todo o jogo, pois toda a mecânica de combate está
vocacionada para uma constante gestão dos nossos recursos e obrigatoriedade em
abordar uma postura de completa concentração, para em tempo real conseguirmos
tomar as decisões certas na altura certa. Nem sempre atacar será a melhor
opção, por vezes é necessário guardar os preciosos ataques de maior danos
(Limit Breaks e Summons) para uma altura que o adversário esteja mais
debilitado, ou outras vezes temos de focar em recuperar a equipa ou objectivar
o aumenta da barra de “Staggering” do inimigo.
Efectivamente a componente de
batalha cresce significativamente ao longo do jogo, mas também a narrativa e
grafismo assume um papel de significativa importância. Graficamente o jogo está
bastante bem conseguido, apresentado cenários com uma profundidade extraordinária
e caracterização de personagens com um nível de detalhe impressionante. Por
toda a sua extraordinária componente gráfica, felizmente não se denotam quebras na taxa de fotogramas significativas ou que incomodem a experiência, ainda que a Square recorra bastante à utilização de zonas de transição (corredores estreitos, muitas escadas verticais, etc.) para poder carregar os gráficos das áreas seguintes. Fundamentalmente a Square consegue apresentar um mundo rico, apelativo e vivo e ao ponto de não somente capturar a atenção dos jogadores, como também deixa-los verdadeiramente rendidos a toda a envolvência criada.
A animação das personagens está
bastante realista em particular nos seus movimentos que, embora seja um
cativante “eye candy”, em termos de jogabilidade levanta alguns problemas de
controlo da personagem. É frequente que a sua movimentação não permita a activação
de elementos no cenário (através do botão triangulo), pois torna-se necessário
que a personagem esteja directamente de frente e num angulo exacto para activar
essa opção. Também nas secções onde necessitamos ter um controlo mais refinado
dos movimentos da personagem, a animação de movimento não permite um controlo
intuitivo. São fundamentalmente detalhes contínuos ao longo do jogo que cortam
um pouco a imersão e que facilmente poderiam ser evitados.
A banda sonora incluída neste
remake remete o título original, devidamente actualizada aos padrões actuais da
industria, sendo facilmente um dos aspectos mais brilhantes e nostálgicos do
jogo. Musicas como “Those Who Fight Further” impõem um ritmo electrizante nas
lutas mais difíceis e pequenos e deliciosos detalhes como o Barret a cantarolar
o “Victory Fanfare” no final de algumas batalhas providenciam momentos
memoráveis e que qualquer fã não esquecerá durante anos.
São estes detalhes que tornam
Final Fantasy VII Remake diferenciável da vasta maioria do que existe no
mercado. Algo que em conjunto com um enredo que nos arrebata e faz com que as
horas passem sem apercebemos e no final desta aventura ficarmos com uma
sensação de falta e ansiedade. É efectivamente no final que finalmente conseguimos
“dar um passo atrás” e conseguir objectivamente avaliar aquilo que fomos
submetidos: Uma história verdadeira, na qual as nossas acções nem sempre tem o
resultado pretendido e onde as personagens ganham vida própria e as suas
decisões tem impacto em facetas do enredo que não conseguimos controlar.
Resumo
A Square Enix consegui em Final Fantasy Remake fazer
o impensável, reformulando um título de referência aos padrões de hoje e
imputando um novo patamar no panorama dos RPGs actuais. Não sendo
verdadeiramente revolucionário como o original é uma óptima homenagem e mais
que isso, um jogo que se eleva por si próprio.
Sendo denotados alguns detalhes que poderiam ser melhorados, não são na sua globalidade de todo significativos ou pejorativos ao ponto de questionar toda a experiencia que somos submetidos.
Estamos perante um título que claramente denota o empenho e carinho que a equipa lhe empenhou e mais que isso, tornando-o numa experiência memorável para não somente os fãs de longa data da franquia, como para os mais recentes.
Final Fantasy parece finalmente ter encontrado o seu lugar no panorama actual dos videojogos. Ansiosamente, ficamos a aguardar pelo próximo capitulo!
Sendo denotados alguns detalhes que poderiam ser melhorados, não são na sua globalidade de todo significativos ou pejorativos ao ponto de questionar toda a experiencia que somos submetidos.
Estamos perante um título que claramente denota o empenho e carinho que a equipa lhe empenhou e mais que isso, tornando-o numa experiência memorável para não somente os fãs de longa data da franquia, como para os mais recentes.
Final Fantasy parece finalmente ter encontrado o seu lugar no panorama actual dos videojogos. Ansiosamente, ficamos a aguardar pelo próximo capitulo!
O Melhor:
Mecânicas de combate desafiantes;
Grafismo e banda sonora do melhor que existe
actualmente;
Enredo, personagens e cenários cativantes.
Enredo, personagens e cenários cativantes.
O Pior:
Problemas de controlo das personagens.
Algumas side quests adicionam pouco valor
acrescentado à experiência.
Pontuação
do GameForces – 9,5/10
Título: Final
Fantasy VII
Desenvolvedora:
Square Enix
Publicadora: Square
Enix
Ano: 2020
Autor da
Análise: Carlos Silva
[Análise] Final Fantasy VII Remake [PS4]
Reviewed by Carlos Silva
on
abril 20, 2020
Rating:
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