Com a perspectivada eminente chegada da
nona geração de consolas para o final do ano, muito se tem falado relativamente
à retrocompatibilidade das novas consolas.
Admitidamente este é um tópico
recorrente aquando o lançamento das novas plataformas e algo que os jogadores
expressam o seu entusiasmo, mas será este um factor determinante? Como se
enquadram os planos empresariais das grandes produtoras com esta possibilidade?
Neste artigo pretendemos abordar um pouco este tema, procurando objectivar a
verdadeira importância sobre esta possibilidade e face aos vários
intervenientes nesta indústria.
Começando pela valência principal e grande
maioria dos nossos leitores, os jogadores, com certeza vêem esta possibilidade bons
olhos. Quer seja por motivos económicos, de preferência ou simplesmente de
facilidade de acesso, a possibilidade de poder os seus jogos antigos numa
consola actual é uma mais-valia que impacta na percepção da respectiva
plataforma. Contudo é uma factor eliminatório ou decisivo na hora da escolha da
compra? Bem, a resposta é “sim”, mas com alguma tendência para o não…
Aquando a compra da consola existe sempre
um sentimento de nostalgia associado à experiencia vivida na sua plataforma
actual e desejo de a prolongar na nova plataforma. Com esta possibilidade em
aberto, existe um factor de facilitismo para as novas gerações, que potencia a adesão
cedo dos jogadores.
Contudo com o evoluir da geração tem-se tornado
cada vez menos importante este factor devido ao aumento de títulos criados de
raiz para as novas plataformas e redução do interesse no geral da comunidade em
voltar a jogos que providenciam uma experiência mais condicionada às
tecnologias de outra época. Não queremos com isso dizer que o retro gaming está em declínio, muito pelo contrário, pois as indicações mais recentes indicam um crescimento desse mercado associado muito com o amadurecimento da comunidade em si. Contudo na generalidade da população de jogadores (entenda-se a grande parte que aprecia somente um leque mais restrito dos jogos da moda) a tendência será de perder interesse nos jogos anteriores em detrimento das experiências mais recentes.
Certamente esta ambiguidade é um dos
grandes factores que deixa as produtoras de consolas num limbo relativamente a
este tema, mas que não é o único. Com o significativo crescimento do mercado de
jogos “Remastered”, “Remaked” ou “Rebooted” é cada vez mais difícil conceder
que grandes multinacionais dêem prioridade a um factor que fundamentalmente apresentava um retorno de capital diminuto e somente circunscrevido ao início da geração.
Este aspecto é bem visível na altura da
Playstation 3, onde os primeiros modelos da consola conseguiam correr os jogos
da plataforma anterior nativamente. Contudo a Sony decidiu (acertadamente) simplificar a consola, incluindo
o remover desta funcionalidade e com isso reduzir o preço, o que levou a um
exponencial aumento das vendas.
Por outro lado, mais recentemente tem-se
observado um cada vez maior factor de conscientização associado à qualidade de produto
oferecido (principalmente promovido pela Microsoft) ao disponibilizar os seus
títulos antigos e recentes em várias plataformas actuais. Este tipo de
publicidade positiva potencia a criação de um ecossistema digital que em
conjunto consegue potenciar a assimilação de novos clientes.
Possivelmente devido a este aspecto,
denotou-se recentemente uma mudança de paradigma das duas outras grandes
produtoras de consolas. Nomeadamente, a Sony, anunciou recentemente a retrocompatibilidade
inicial da sua nova Playstation 5 para uma biblioteca de 100 títulos, número que
eventualmente foi expandido pela Sony para “centenas” de títulos
(blog.us.playstation.com). Contudo conseguir este feito não é uma tarefa
simples ou isenta de custos.
Conseguir adaptar um emulador simples de
utilizar e capaz de correr a maioria dos jogos é um desafio. Normalmente estes
são programas com código aberto que crescem e evoluem com a contribuição de
distintos e independentes colaboradores da comunidade, levando a haver diversas
ramificações para o mesmo fim. Ter algo que consegue carregar todos os diferenciados
títulos sem modificação de software é uma tarefa perto do impossível. E é aqui
que entra a colaboração por parte dos developers.
Conseguir convencer um developer a alterar
o seu título implica que exista um retorno de investimento para esta operação e
neste sentido torna-se essencial ter uma plataforma estável e com boa perspectiva
de adesão e interesse da comunidade. Desta forma, é fundamental que para o bem
dos jogadores exista a colaboração e contribuição de todos os agentes da comunidade
dos videojogos.
Sim, efectivamente também os jogadores
aqui terão a sua responsabilidade chamada à acção (para além das palavras). Sem
mercado nunca haverá abertura desta possibilidade de retrocompatibilidade
generalizada. Este aspecto só por si significa uma mudança de um outro
paradigma associado ao mercado em segunda mão e respectivas consolas.
Quem é coleccionador conhece as
dificuldades em conseguir adquirir títulos e consolas antigas em boas
condições. Por outro lado, o facilitismo de jogar títulos antigos numa plataforma
da geração actual poderá muito bem deitar por terra o mercado do hardware de
retrogaming (desde consolas originais, passando pelas consolas comemorativas
até às consolas dedicadas ao retrogaming que emulam diversas plataformas
antigas).
Resumindo e para responder à questão
inicial. Será o retogaming um factor determinante nos dias de hoje? A resposta
é certamente sim, mas o rumo e impacto na industria ainda estará para se
observar. Principalmente serão os jogadores a ditar o destino desta nova
postura da indústria.
Artigo Por: Carlos Silva
Factor Retrocompatibilidade nas Novas Gerações
Reviewed by Carlos Silva
on
março 28, 2020
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